Craig Lieberman, que foi consultor técnico da Universal Studios nos três primeiros “Velozes e Furiosos”, está publicando em seu canal do Youtube uma série de vídeos com entrevistas, depoimentos, imagens de época e insights sobre os carros usados nos filmes. É uma ótima oportunidade para conhecermos detalhes obscuros, ou mesmo inéditos, a respeito de alguns dos automóveis mais icônicos do cinema – carros que, há quase duas décadas, eram os mais legais do planeta para muitos de nós. Afinal, a trilogia clássica foi responsável por despertar milhões de entusiastas no mundo todo. Mesmo que o estilo de tuning daquela época seja datado, e até meio ridículo para alguns, o fator nostalgia é forte.
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Em seu vídeo mais recente, Craig conversou com John Lapid, dono de um dos carros favoritos dos fãs: o Mitsubishi Eclipse de Brian O’Conner no primeiro “Velozes”. Os dois já se conhecem há bastante tempo – desde a virada dos anos 2000, quando começaram as gravações. Conforme contamos neste post, publicado há alguns dias, uma das incumbências de Craig foi vasculhar fóruns na Internet para encontrar os carros que seriam utilizados, além de usar sua própria rede de contatos.
Na época, o título de trabalho do filme ainda era Redline, e a Universal promoveu um evento em seu próprio estacionamento com a presença da equipe e do elenco, incluindo Paul Walker e Vin Diesel. O Eclipse de John foi um dos presentes, e foi o escolhido para ser o carro de Brian.
O Eclipse era bem diferente do que vimos na tela. Originalmente, ele era verde escuro “Forest Green”, mas John mandou pintá-lo com o mesmo tom de prata usado nos Mercedes-Benz clássicos. Ele também instalou um novo body kit, uma enorme asa traseira e outros elementos de tuning típicos da época antes de cedê-lo à Universal nos termos que já comentamos antes: uma quantia em dinheiro e a autorização para que a equipe de produção o modificasse como bem entendesse. Ele receberia o carro de volta, mais uma quantia para convertê-lo de volta ao que era antes (caso desejasse), e poderia ficar com todas as peças instaladas pela Universal.
Pareceu um bom negócio, e John topou. Ele conta que, conversando com os produtores antes das modificações, disse que não se importava se eles repintassem o carro, desde que não fosse de verde. Todos sabemos o que aconteceu depois: o Eclipse foi pintado de… verde Kawasaki – um tom bastante chamativo que, com o filtro amarelado usado no filme, ficou ainda mais vibrante. Segundo John, a ideia original dos produtores era usar uma pintura acetinada, inspirada pelos Lamborghini, mas por questão de tempo foi usada uma tonalidade sólida. Ele também diz que não curtiu os elementos envelopados em azul em um primeiro momento, mas que depois se acostumou.
Evidentemente, as modificações não se limitaram à pintura. O carro também recebeu um bodykit RoboCar, uma asa traseira APR GT2, um scoop decorativo no teto, coberto com um pedaço de papelão para não estufar o revestimento interno; faróis do modelo 1997 (o carro foi fabricado em 1996) e rodas Axis Model Se7en de 18 polegadas. A suspensão ganhou molas Tanabe SS, mais baixas, e buchas Energy.
O conjunto mecânico, contrário à crença popular, não consistia em um motor 4G63 turbinado, como é possível ler em alguns artigos sobre o filme. John conta que comprou o Eclipse em 1998, quando fazia faculdade, com dinheiro emprestado dos pais – que ele foi pagando aos poucos. Assim, ele só conseguiu comprar um Eclipse RS, que vinha equipado com o motor Chrysler 420A, naturalmente aspirado, com comando duplo no cabeçote.
Para o filme, o carro teve o motor refeito nos padrões originais e recebeu alguns componentes simples, como um coletor de escape HotShot, cold air intake Injen, novos cabos de vela e um corpo de borboleta mais largo. O restante do que se vê no cofre é meramente decorativo – bem como o kit de óxido nitroso, que foi apenas colocado no lugar, sem conexão com o motor. Com cerca de 150 cv, o Eclipse era capaz de ir de zero a 100 km/h em nove segundos.
As modificações no interior, em sua maioria, já haviam sido realizadas pelo próprio John – os relógios adicionais da VDO (conta-giros, medidor de combustível, termômetro e amperímetro), além da clássica fileira de mostradores na coluna A. O que a Universal fez foi modificar o interior com revestimento de suede cinza, além de capas de pedal e manopla de câmbio Sparco. As luzes de neon verdes também foram instaladas para o filme. Também foram incluídos um rádio Alpine com TV e DVD, e um jogo com dois amplificadores e dois subwoofers Sony.
O Eclipse de John foi o hero car do filme – ou seja, o exemplar usado nas cenas mais tranquilas, tomadas com o capô aberto e com detalhes mais visíveis. Foram feitos outros quatro carros, e nem todos têm seu paradeiro conhecido.
Depois que as gravações terminaram, John manteve o Eclipse como estava e participou com ele de um evento itinerante organizado pela própria Universal, no qual apareciam outros carros do filme. Mas esta fase durou pouco – John não imaginava que o filme faria tanto sucesso entre os entusiastas (em parte, por conta de alguns erros técnicos da equipe, como o infame aviso “DANGER TO MANIFOLD” exibido na tela do laptop de Brian), e por isso vendeu o carro a George Barris. Sim, o mesmo George Barris que criou o Batmóvel da década de 1960, por US$ 50.000 (bem mais que os US$ 15.000 que pagou por ele em 1998).
Barris também comprou o carro nº 2. Segundo John, o famoso customizador começou a realizar algumas modificações duvidosas no Eclipse, colando instrumentos falsos no painel, por algum motivo que nunca ficou claro. Não muito tempo depois, porém, o hero car foi vendido novamente – a um museu chamado The Star Cars Museum, no estado do Tennessee. De acordo com Craig, o carro foi roubado e recuperado recentemente e não está nas melhores condições, mas o museu pretende restaurá-lo e devolvê-lo à configuração com a qual ficou famoso.
John diz que, se tivesse como saber que “Velozes e Furiosos” se tornaria uma série tão icônica, certamente estaria com ele até hoje.