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Os tipos de leilão de carro – qual vale a pena investir?

“Já sei. Vou procurar um Lancer manual. Ele é menos procurado que o Honda Civic, deve estar mais barato”, pensei eu antes de começar a busca. Apesar do projeto mais antigo, ele ainda é um carro interessante, e os modelos mais novos têm menos de três anos completos de uso.

Os preços, no fim das contas, se equivalem aos do Civic — o que me incomodou um pouco. Em termos de qualidade técnica os dois são equivalentes, mas o Lancer nunca foi flex e ele não é tão bem-aceito no mercado de usados como o Civic. Comecei a fazer a filtragem por preços e me espantei com a quantidade de exemplares com passagem por leilão. Leilão de financeira, de seguradora, média monta, pequena monta, “de leilão, mas não consta no documento” e variações do tema.

Aconteceu o mesmo com o Sandero RS, com o Suzuki Swift, Jetta e outros modelos mais novos como o o Polo e o Up TSI. Muitos carros de leilão por valores muito próximos da média anunciada, o que me deixou incomodado a ponto de deixar a busca para mais tarde.

Você certamente já ouviu aquele amigo que manja muito de carro dizer que carro de leilão é uma boa, porque existem vários tipos de leilão e que nem sempre o carro foi batido ou mergulhado. Realmente, nem todo carro com passagem por leilão foi acidentado ou danificado de alguma forma. Isso, porque existem diferentes tipos de carros de leilão. Há os leilões de bancos e financeiras, os de seguradoras, os leilões de departamentos de trânsito e, claro, os leilões de clássicos.

Os leilões de bancos e financeiras são os que embasam a teoria dos carros bons, apesar da passagem pelo processo de leilão. Isso, porque são carros que foram recuperados pelas financeiras por falta de pagamento das parcelas do financiamento. Legalmente os bancos podem iniciar ações de busca e apreensão do bem com menos de 90 dias de atraso nos pagamentos. Normalmente ocorrem tentativas de resolução amigável, com a judicialização somente depois destes 90 dias. E é aí que começam os problemas dos carros de leilão de financeira.

A busca e apreensão é a última etapa de um processo que deu errado para o dono do carro. Se ele não conseguiu pagar as prestações do financiamento, há uma grande possibilidade de ele não ter conseguido pagar outras coisas, como as manutenções preventivas, revisões e afins. E como o processo de recuperação do carro acontece só depois de 90 dias e se estende por outro tanto, você dificilmente irá comprar um carro com menos de seis meses de possíveis negligências no cuidado e manutenção.

É por isso que mesmo os carros com passagem por leilão de financeira têm preços mais em conta — a ideia é compensar esse risco. O problema é que o registro do leilão acompanha o carro permanentemente, então mesmo que o carro esteja em bom estado e que você tenha os cuidados devidos com ele, a incerteza sobre o passado do carro permanece com o registro. E ainda que não apareça em documento algum — como o CRV ou o CRLV —, o histórico do carro fica registrado junto ao Detran e pode ser consultado pelo número do carro no Renavam.

Esse tipo de carro, por outro lado, tende a ter menos rejeição que os outros tipos de carros leiloados justamente pelo baixo risco de ter algum dano crítico como um carro que foi repassado por seguradora. Estes, por sua vez, têm outras questões a serem observadas: o registro de monta. Monta é o termo que designa a extensão das avarias e danos sofridos por um carro acidentado.

Legalmente, no Brasil, existem danos de pequena monta, média monta e grande monta. Essa classificação foi adotada pelo Denatran com o objetivo de coibir a circulação de veículos com sua estrutura comprometida. Pequena monta é a classificação para danos menores em componentes externos ou mesmo estruturais dos veículos.

Quando os danos são mais extensos, como por exemplo uma colisão na qual o carro não sai do lugar por seus próprios meios, mas não há comprometimento da estrutura do veículo, a classificação é média monta. Grande monta é uma classificação utilizada quando há danos estruturais extensos às colunas e/ou teto e/ou assoalho do carro.

Como a classificação visa coibir a circulação de veículos com estrutura comprometida, os veículos com danos de grande monta são proibidos de circular por meio de restrição do VIN e Renavam.

No caso da média monta, é preciso submeter o carro a uma vistoria de segurança — o mesmo tipo de vistoria feita para legalizar alterações das características originais. Se aprovado, ele pode ser licenciado normalmente, porém o registro de média monta permanece no histórico do carro.

Por último, a pequena monta permite que o carro seja reparado e volte a circular sem vistoria. Contudo, assim como as demais classificações, ela permanece no histórico do veículo. E existe a possibilidade de, por falha humana, um dano de média monta ser classificado como dano de pequena monta, daí parte da rejeição a esse tipo de carro — isso, claro, sem contar o fato de ele já ter sido acidentado.

BMW com suspensão quebrada classificado como “pequena monta”

Os leilões de seguradora ainda incluem carros que passaram por alagamentos, que não terão registro de monta, assim como veículos recuperados de furto/roubo. Nestes casos, a passagem por leilão por si indica que ele teve algum problema no passado. Além disso, em alguns casos, os veículos recuperados de enchentes ou de furtos podem ter algum bloqueio junto à própria seguradora, dificultando ou até mesmo impedindo que se faça o seguro do carro futuramente.

Ainda há o leilão de carros clássicos, mas este é um caso completamente diferente, assim como os leilões de órgãos públicos e de empresas frotistas, fabricantes e locadoras.

O leilão de clássicos é uma modalidade em alta no Brasil, porém muito comum no exterior, para se encontrar clássicos de boa procedência e com preço ajustado à demanda — um leilão, afinal, é um acordo público entre vendedor e clientes interessados. Quanto à boa procedência é de interesse do leiloeiro e do organizador do leilão, pois este é seu principal chamariz para o evento.

Já os leilões de frotas são uma forma conveniente de o frotista vender seus veículos no melhor preço possível. Nesse caso, o próprio frotista é o organizador do leilão, que é realizado por um leiloeiro oficial (como todo leilão) e os carros que tiveram algum tipo de monta são identificados desta forma. Os carros de locadoras e do setor público são tradicionalmente vendidos desta forma.

 

Leilões, crise e preços

Agora… a menção ao Mitsubishi Lancer foi meramente casual, por ter sido um dos modelos que me chamou a atenção por ter um volume grande de unidades com passagem por leilão. Não por acaso, a maioria destes exemplares foi vendida entre 2014 e 2016, que foi justamente o período mais severo da crise no setor automobilístico.

Além disso também foi nesse período que houve mudanças na legislação para facilitar a recuperação de bens alienados. Some uma crise econômica a estas mudanças e começará a ficar claro a razão de haver tantos carros com passagem por leilão no mercado.

A questão é: com uma crise financeira que, ainda em recuperação, foi atropelada por uma pandemia que afetou drasticamente o poder de compra da população e até mesmo cessou temporariamente a renda de parte das famílias, a inadimplência dos financiamentos de veículos aumentou consideravelmente nos últimos anos.

Ao mesmo tempo, o aumento dos preços dos carros novos, acabou inflacionando os carros usados. Com poucos carros no mercado de usados e a inadimplência em alta, parece evidente que veremos mais carros com passagem por leilão em um futuro muito próximo. Como será a aceitação destes carros neste cenário?

 


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