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Car Culture

Pequenos Grandes Roadsters: Fiat 124 Sport Spider

O Fiat 124 foi um marco na história da Fiat. O pequeno sedã, lançado em 1966 para substituir os já “idosos” 1300 e 1500, tornou-se um dos maiores sucessos da marca por seu desenho atraente, praticidade e mecânica robusta, tendo sido fabricado em vários países sob licença e dando origem a um dos maiores ícones automotivos do planeta (ou pelo menos do FlatOut), o VAZ-2101, conhecido por aqui como Lada Laika.

Só que não é do sedã que vamos falar hoje, e sim de um dos seus mais belos derivados. Sim, porque a base do 124 era versátil o bastante para dar origem a outras variações e modelos: a perua 124 Station Wagon, o cupê 124 Coupe, e o conversível 124 Sport Spider, o pequeno grande roadster de hoje.

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Agora, temos que ser totalmente honestos: o “roadster” de hoje é uma licença poética, pois o 124 Sport Spider era, em tese, um 2+2, com um apertadíssimo banco traseiro de dois lugares. Mas era tão pequeno que, na prática, a maioria das pessoas o usava para levar um pouco mais de bagagem. Contudo, era um carro para se curtir a dois, como todo roadster.

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Suas qualidades começam no projeto que lhe serviu de base. O 124 original tinha motor dianteiro, tração traseira, câmbio manual e suspensão com braços sobrepostos na dianteira e eixo rígido na traseira. Não era revolucionário, mas era competente e moderno para a época, garantindo um manejo ágil e estável, e o título de “Carro do Ano” de 1966 pela imprensa automotiva europeia. Com uma carroceria mais leve e um motor mais potente, não poderia dar errado, não é?

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O 124 Sport Spider foi apresentado junto com o sedã e com a perua no Salão de Turim de 1966, mas seu desenvolvimento aconteceu à parte. Além de ter o entre-eixos encurtado em cerca de 15 cm, o Sport Spider tinha desenho totalmente exclusivo. Em vez de simpleslente tirar o teto e duas portas do sedã, a Fiat decidiu fazer como era comum naquela época: contratou um carrozziere italiano para projetar e construir a carroceria do novo carro, nesse caso, a Pininfarina.

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Depois de diversas propostas, a Fiat decidiu-se por um desenho do americano Tom Tjardaa, que tinha no currículo o De Tomaso Pantera e, na época, trabalhava no estúdio Pininfarina — este, envolvido na criação de nove em cada dez modelos da Ferrari. Em vez das linhas retas do sedã e da perua, o conversível era mais esguio e arredondado, evocando um pouco da aparência dos clássicos roadsters britânicos como o Triumph Spitfire, de 1962.

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O motor adotado no Spider era um projeto recente — o lendário motor Fiat Twin Cam, com comando de válvulas duplo no cabeçote, criado por Aurelio Lampredi, ex-projetista de motores da Ferrari (leia a história toda aqui). O quatro-cilindros de 1,4 litro entregava 90 cv, suficientes para levar o carro de 920 kg aos 170 km/h. Os freios eram a disco nas quatro rodas (o sedã tinha tambores atrás).

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O carro foi bem recebido na Europa e, por esta razão, em 1968 foi apresentado nos Estados Unidos, onde se tornaria um sucesso ainda maior. Na verdade, das 198 mil unidades fabricadas entre 1966 e 1985, cerca de 170 mil foram comercializadas nos Estados Unidos. A fama do carro nos EUA fica bem clara neste trecho escrito pela Road & Track em 1976.

É um carro esportivo muito refinado, de estilo apelativo, suspensão e manejo excelente… e desempenho modesto. Não é mais novidade em nenhum aspecto, mas conseguiu sobreviver ao teste dos anos para se tornar um clássico de sua própria época.”

Ao longo de sua longa carreira — justificada, em parte, pelo desenho atemporal de Tom Tjaarda e pelas qualidades dinâmicas que se sobrepunham à potência apenas razoável — o 124 Sport Spider passou por algumas modificações de ordem técnica, sem jamais perder sua essência. Em 1968 veio a primeira, quando um motor opcional, de 1,6 litro e 110 cv graças a um par de carburadores Weber 40 no topo (que exigiam dois ressaltos no capô). Depois de uma segunda modificação no motor, que chegou a 1,75 litro e 118 cv, o fim do Fiat 124 na Europa (substituído pelo Fiat 131) levou à fabricação do 124 Sport Spider apenas para exportação, pois os EUA continuariam ávidos consumidores do roadster esportivo. Em 1974 a Fiat se retiraria definitivamente do país, mas deu à Pininfarina à tarefa de continuar fabricando e vendendo o carro, que passou a se chamar Pininfarina Spider Azzura.

Ou ao menos era o que a Fiat achava. As normas para emissão de poluentes ficavam mais e mais restritas e, por isso, o carro teve sua potência reduzida gradualmente ao longo dos anos — primeiro, para 93 cv e depois, em 1976, para parcos 87 cv. Além disso, naquele ano o carro precisou adotar os para-choques retráteis (que não podiam deixar o carro ser danificado em colisões a até 5 mph, ou 8 km/h) obrigatórios, maculando o atraente desenho do conversível.

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A chance de recuperação veio em 1979, quando um motor de dois litros (semelhante ao usado no Tempra brasileiro décadas depois) foi adotado. De início ele tinha os mesmos 87 cv, porém maior torque. Depois, veio a versão com injeção eletrônica com 102 cv e níveis de poluentes bem menores, mas a redução nas vendas foi inevitável até que, em 1985, o Fiat Sport Spider morreu de vez.

Antes do fim, porém, não faltaram versões ainda mais legais do que a original. Em 1972 a preparadora Abarth, que já tinha uma longa tradição com a Fiat, colocou o Sport Spider para competir com o motor de 1,75 litro equipado com cabeçote de 16 válvulas e dois carburadores Weber 44 IDF, capaz de entregar 210 cv a 7.500 rpm.

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O peso era aliviado com capô e tampa do porta-malas em plástico e portas de alumínio e, para melhorar, a supensão traseira era independente e o diferencial, autoblocante.

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Ao todo, 995 exemplares de rua foram fabricados para fim de homologação (com potência reduzida para 128 cv, mas mesmo assim!).

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Depois do Abarth vieram duas séries limitadas com motor sobrealimentado: o Turbo 2000 Spider, com um turbocompressor IHI e 122 cv e o Pininfarina Spidereuropa, com um compressor mecânico Roots  e 135 cv. Ambas eram séries limitadas — a primeira teve 500 unidades fabricadas e comercializadas nos EUA, enquanto a segunda foi produzida em 700 unidades, estas comercializadas na Europa.

Quando soubemos que a Fiat está preparando um roadster Abarth em parceria com a Mazda, foi impossível não lembrar do 124 Sport Spider — e nós realmente torcemos para que o novo carro dê continuidade à linhagem. Vocês não?