Em 1989 a Honda apresentou ao mundo aquele que talvez seja seu modelo mais famoso: o impecável esportivo NSX — que teria sido acertado por Ayrton Senna, e ainda inspirou Gordon Murray a criar sua obra prima, o McLaren F1. O que esperar, então, de um carro que ficou conhecido como “mini NSX” assim que foi mostrado ao público? É o Honda Beat, e nós vamos contar sua história agora.
A verdade é que se você pesquisar “Honda Beat” na internet, vai encontrar duas coisas: uma scooter chamada FC50, fabricada em 1983 e vendida apenas no Japão; e o pequeno roadster com cara de brinquedo que, como o Suzuki Cappuccino, é um verdadeiro ícone para os fãs de kei cars e esportivos japoneses em geral.
O Beat foi apresentado no início de 1991 e começou a ser vendido em maio daquele ano. Projetado por uma equipe de jovens engenheiros — dizem que nenhum deles tinha mais de 30 anos —, o Beat trazia linhas alegres e empolgantes em um pacote realmente diminuto. Na verdade, com apenas 3,29 m de comprimento por 1,3 de largura, dá para dizer que o Beat era o menor roadster de motor central-traseiro do mundo na época — e talvez ainda hoje.
Embora o conceito fosse semelhante ao do Cappuccino, sua concepção era diferente — o motor ficava atrás dos bancos, em posição central-traseira. Era um três-cilindros de 656 cm³ (logo abaixo dos 660 cm³ estabelecidos como limite para os kei cars) que, diferentemente da maioria dos motores usados em keis esportivos, não vinha equipado com um turbocompressor — a Honda raramente usa turbos em seus motores.
Em vez disso, a Honda fez um motor girador com corpos de borboleta individuais, um para cada cilindro — era o sistema MTREC, que significa Multi Throttle Responsive Engine Control System. Além disso, o motor tinha quatro válvulas por cilindro e comando no cabeçote.
O resultado eram 64 cv que apareciam a altas 8.100 rpm, com torque de 6,1 mkgf a 7.000 rpm. O corte de giro ocorria a 8.500 rpm — o que não deixa dúvidas de que o pequenino três-cilindros de código E07A estava à altura dos icônicos motores das famílias B e K da Honda, que os fãs das versões esportivas do Civic conhecem tão bem. O mais legal: só havia câmbio manual, de cinco marchas.
Há outras características muito interessantes no projeto do Beat. Aparentemente a Honda não se preocupou muito em conter custos, e por isso fez de tudo para que o Honda Beat fosse o melhor esportivo que poderia ser. Assim, o carro tem suspensão independente do tipo McPherson na dianteira e na traseira e rodas dianteiras e traseiras de tamanhos diferentes — 13 polegadas na dianteira e 14 polegadas na traseira, com pneus de medidas 155/65 e 165/60, respectivamente. Sendo um carro de tração traseira, dá para entender o motivo. Além disso, o Beat tinha freios a disco nas quatro rodas.
Último carro a ser aprovado pessoalmente por Soichiro Honda antes de sua morte, em 1992, o Beat é realmente minúsculo e tem um visual muito simpático — que, curiosamente, é de autoria do estúdio italiano Pininfarina, que vendeu o design para a Honda. Mas ele não é apenas um carrinho fofo: sua ergonomia é impecável, os instrumentos inspirados nas motos esportivas são muito bons de ler e o espaço interno para duas pessoas é surpreendente.
Como o Capuccino, o Honda Beat teve algumas unidades exportadas para o Reino Unido, ainda que de forma extra-oficial (por esta razão, informações sobre as unidades europeias são bastante obscuras). O que se tem são impressões de gente como Jeremy Clarkson que, além de elogiar o acabamento e comportamento dinâmico do carro (este, graças ao baixo peso de menos de 760 kg e ao acerto da suspensão independente), fica impressionado com o ronco, que é muito alto e contribui bastante para a diversão ao volante.
O tamanho compacto também faz sua parte, garantindo a agilidade no trânsito, e a revista Popular Science o comparou, em 1991, com pilotar uma motocicleta ou um Mini Cooper clássico, apesar de sua configuração de carroceria totalmente diferente.
Cerca de 33.600 carros foram fabricados de maio de 1991 a fevereiro de 1996 — mais de 2/3 destes no primeiro ano. Depois disso, a crise imobiliária no Japão afetou todo o mercado automotivo e, consequentemente, o desempenho do Beat nas vendas caiu muito, ainda que o modelo tenha resistido bravamente (e em menor quantidade) por mais cinco anos — tempo o bastante para se tornar um clássico.
[ Fotos: DaveL59, Yoozigen ]