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Polêmica: sucessão de erros causa acidentes absurdos no Campeonato Brasileiro de Turismo

No último domingo (2) aconteceu a última etapa do Brasileiro de Turismo, categoria de apoio da Stock Car. O jovem Guilherme Salas ficou com o título de 2014 depois de uma corrida de menos de 13 minutos que, para muita gente, nem deveria ter começado devido ao mau tempo. Mas este foi só um vários erros que levaram a um desfecho tão enfadonho — e estão causando muita polêmica no meio automobilístico brasileiro.

Ainda não ficou muito claro o que causou toda a bagunça no Autódromo Internacional de Tarumã, em Viamão/RS, local famoso por abrigar, aos fins de semana, o Racha Tarumã, um dos eventos de arrancada mais populares da região. Mas é justamente no Racha que está sendo depositada boa parte da responsabilidade pelo acidente na corrida do domingo.

Como conta o Grande Prêmio — e pode-se ver no vídeo abaixo, publicado pelo blog Velocidade —, tudo começou quando dois carros, dos pilotos Raphael Abbate e Edson Coelho, passaram reto na primeira curva e bateram na proteção da pista. Comentaristas da prova alertam para o fato de os pilotos não estarem discutindo após o acidente, e sim inconformados com as condições de baixa aderência da pista, que em teoria inviabilizariam a largada e, por isso, a prova não teria nem condições de ter começado.

De início os dedos foram todos apontados para os dirigentes da prova, que foram responsabilizados por liberar o início da corrida sob uma chuva tão forte, o que certamente comprometeria a aderência dos pneus. Contudo, não demorou para que outro fator que supostamente teve sua influência fosse apontado: sobras de VHT na pista.

Como você deve saber (e caso não saiba, vai ficar sabendo agora), VHT é um composto pulverizado sobre a pista antes de eventos de arrancada. Ele funciona como uma pasta pegajosa que ajuda a melhorar a tração e, caso não seja removido, pode permanecer impregnado ao asfalto por dias. O VHT é usado apenas com pista seca — debaixo de chuva, por ser repelente de água, ele torna o asfalto bastante escorregadio, com aderência quase zero.

Em nota oficial divulgada ontem, porém, a administração do Autódromo de Tarumã negou veementemente a possibilidade de qualquer resíduo de VHT no asfalto, afirmando que o produto não é adotado no autódromo pois as provas do Racha são sempre realizadas à noite e, por causa do sereno, a aderência da pista ficaria seriamente comprometida caso o VHT fosse usado:

A Administração do Autódromo Internacional de Tarumã informa que não há, na reta dos boxes, qualquer tipo de produto químico usado em outras pistas para maior aderência em provas de arrancadas. Diferentemente do que está sendo comunicado por pilotos e presentes na etapa da Stock Car não há possibilidade de terem permanecido resíduos no asfalto do produto chamado VHT e que teriam dificultado a aderência dos carros do Brasileiro de Turismo e teriam causado o acidente na Curva 1. O material não é usado no Racha Tarumã pelo fato das disputas serem realizadas à noite, já que o produto perde aderência em função do sereno.”

Apesar da afirmação dos administradores do autódromo, há um vídeo de 2010 que mostra a aplicação do VHT sobre a reta de Tarumã justamente para um evento que aconteceria à noite, além de uma notícia de 2012 exaltando a aplicação do produto na reta principal do circuito.

E esta não é a única evidência: o vídeo abaixo foi gravado no fim de outubro e, aparentemente, a pista apresenta um brilho que pode ser de VHT  (os carros de arrancada geralmente não largam com a pista úmida) — cuja presença também pode ser indicada pela arrancada seca dos carros na pista:

É impossível, porém, afirmar com certeza que havia VHT na pista com base nestas imagens. Agora, com ou sem VHT, houve irresponsabilidade também na hora de socorrer os pilotos. A equipe de apoio chegou com três picapes, que ficaram na beira da pista sem nenhum tipo de bandeira — em tese, a prova continuaria normalmente. Contudo, sem surpreender, outros dois acidentes: Tito Morestoni acertou a barreira de pneus e Fernando Fortes acertou duas das três picapes da equipe de apoio.

Não há como não lembrar do GP do Japão — que, na verdade, ainda está fresco na memória, pois Jules Bianchi permanece em estado grave depois de bater em um trator-guindaste que retirava outro carro que havia sofrido um acidente. Bianchi sofreu traumatismo craniano com o impacto violento, e é óbvio que isto poderia ter sido evitado se a corrida tivesse sido paralisada — mas não foi.

Depois dos acidentes, a prova em Tarumã foi encerrada com a bandeira vermelha e metade dos pontos foi entregue aos pilotos, levando Salas ao título. Por sorte, ninguém se feriu — nem pilotos, nem fiscais de prova ou membros da equipe de socorro.

Vamos nos manter informados e atualizar a página com novas informações assim que elas surgirem.