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Project Cars Project Cars #91

Polo GTI 2.0 TSi swap, a história: eu e os meus Polos

Sou um fanático por Porsches, e por consequência, Volkswagens, desde a minha infância. Tive meu primeiro carro aos 17 anos, um VW Sedan 1500 Azul Pavão que ainda está comigo – hoje, ele tem motor de Subaru EJ22, rollcage, freios redimensionados, bancos e rodas Porsche, e mais uma firulas.

Trabalho para a Volkswagen do Brasil há seis anos, sou engenheiro mecânico automobilístico formado pela FEI. Já trabalhei nos departamentos de Avaliação do Veículo Completo, na Engenharia do Produto, onde nós realizávamos todos os testes necessários para a validação do projeto do veículo, até minha posição atual, na Engenharia de Manufatura, onde planejo e construo linhas de Pintura Automotiva e Montagem Final. Participo também ativamente de um fórum de entusiastas de Golf (isso mesmo, não Polo), onde tive o prazer de ajudar a fundar junto com meus amigos Arved, Carlos Abel, Rodrigo Mira, Michel Lima e mais alguns membros honorários o VWGolfClub.com.br.

Mas não estou aqui pra falar do que faço. A razão é o Project Cars #91: meu Polo GTI. Ou melhor, meu segundo Polo GTI. E olha, ele é o quinto Polo que tive. Por isso, talvez seja melhor botar as coisas no contexto!

 

Os cinco Polos

Minha história com Polos começou muito antes de eu mesmo ter carteira de motorista ou de ter o próprio Fusca. O primeiro Polo que dirigi na minha vida foi um Typ 6N, ou 6KV, o Polo Classic, em 1998.

Este Polo Classic serviu minha família por alguns anos, e então meu pai o trocou em 2003 pelo Polo 9N 2.0 Comfortline hatch, o mais longevo dos Polos em minha casa. Isso aconteceu na época do lançamento do veículo, e tenho até hoje um livro brochura com capa dura sobre o modelo, que foi entregue aos primeiros proprietários. Este carro ficou em nossa família até 2012. Teve suspensão alterada com kit H&R e mecânica refinada com remapeamento para álcool e aumento da taxa de compressão, o que elevou a potência dos pacatos 116cv originais para inacreditáveis 134cv. Digo inacreditáveis porque nunca achei que remapeamento em motores naturalmente aspirados pudesse trazer resultados tão expressivos, mas o Polinho foi colocado à prova algumas vezes – e o resultado não deixava dúvidas quanto ao potencial do motor EA-113.

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Meu terceiro Polo e também meu primeiro veículo zero km, foi um 9N3 Sportline Branco, que comprei em 2010. Este foi o primeiro e único Polo que tive que recebeu mais adereços estéticos que refinamentos de mecânica, mas tivemos nossos momentos. Como primeiro carro zero será difícil esquecer a reação dos meus familiares, que não acreditavam que em uma semana o carro já tinha recebido o kit H&R de suspensão e rodas mais que especiais na época, as Borbet Ariettas do Polo Gti Cup Edition, aro 17”. Foi neste carro também que dei as primeiras caronas e fiz as primeiras viagens para uma pessoa que seria a mais importante em minha vida: Michely, hoje minha esposa, naquela época, apenas uma conhecida, que logo se tornaria minha namorada.

Eis que, em maio de 2011, a oportunidade bate em minha porta: vejo um Polo Gti 2007 em um anúncio no Mercado Livre. Algumas ligações, o apoio da Michely (apesar de um pouco descrente do negócio – ela não entendia como que eu iria trocar um Polo 2010 quatro portas por um Polo 2007 que tinha duas portas a menos e custava 10 mil reais a mais!), e uma viagem para Curitiba, pronto. Na sexta-feira eu tinha um Sportline zerado, no sábado, estava voltando de Curitiba sentado em belos bancos Recaro, no carro que nem eu sabia ainda, mas que já era o dos meus sonhos.

 

O 1º Polo Gti

O Polo Gti veio ao Brasil em 2006 como modelo 2007. A VW apresentou o veículo no Salão do Automóvel junto com a nova geração, a 9N3, e o carro causou furor. Tinha apenas 1.160 kg, motor 1.8 20V Turbo de 150 cv e chegava aos 100 km/h em 8,2 s. Um belo pocket rocket, recheado com quatro air bags e ESP com ASR.

Respondendo ao furor que o modelo causou no Salão, a Volks trouxe um primeiro lote experimental de 30 carros: 10 unidades Prata Sirius e 20 unidades Vermelho Flash, todos com duas portas, todos sem teto solar e sem bancos em couro nem aquecimento; por R$ 99.800. Se a falta do teto solar entristecia quem estava disposto a desembolsar quase 100 mil reais pelo veículo – 10 mil reais mais caro que o irmão mais velho Golf Gti, já em sua versão MK4,5 e 193cv – os bancos Recaro em tecido eram o grande destaque no interior para os gearheads, com padronagem Interlagos e fartos apoios lombares.

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Infelizmente este lote piloto de 30 carros foi o único que a Volkswagen trouxe ao Brasil. Por isso, este veículo se tornou uma raridade, com baixa desvalorização de mercado até hoje.

Bem, voltando à minha história. Fui à Curitiba buscar meu primeiro Polo Gti, duas portas, vermelho, sem teto solar e com bancos de couro. O QUÊ? BANCOS DE COURO? Pois é: o ex-dono tinha feito o sacrilégio de mandar o tecido xadrez para o espaço, e eu não preciso explicar para vocês qual era minha maior decepção em referência a este carro.

Este Polo já tinha um upgrade de respeito no motor, com direito a uma turbina Garret GT-25 substituindo a original Borg-Wagner K-03S, intercooler frontal de maior vazão, e tudo o que era necessário para alimentar este conjunto. Mas muitas coisas me desagradavam: película escura nos vidros deixavam os dias melancólicos, rodas escuras, e couro. Tudo escuro. O carro não tinha vida. E a preparação não estava do meu agrado. Então vieram os toques pessoais.

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Retirei a película, levei o carro para a oficina Power Class em São Bernardo do Campo, e instalei as rodas Borbet Arietta 17” e os coil overs FK AK-Street, para deixá-lo mais próximo do chão. Também troquei todos os fluidos por novos da marca Motul. O motor recebeu Motul 8100 e condicionador de metais Militec.

O carro seguiu para a Advanced Drag Racing Team, em São Paulo, onde recebeu revisão da preparação geral. Bicos Siemens DEKA de 90lbs tomaram o lugar dos simplórios IWP46 abertos em eletroerosão, uma bomba de combustível Walbro 255 entrou no tanque para aumentar a pressão na linha e suportar o uso de etanol, velas novas, filtro InFlow e MAF de 3” de um Golf VR6, para aumentar o range de leitura, e nova reprogramação. Tudo isso deu vida ao carro, que respondia bem às puxadas com pressão de 1,2 bar, pressurizando desde as 1.800 rpm e chegando a pressão máxima em bons 2.600 rpm. A rotação de corte foi para 7.600 rpm, mas ainda era um carro civil. A potência estimada do conjunto ficou em 310 cv.

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Neste carro eu terminei minha faculdade, participei dos primeiros track days, viajei pelo interior do estado, fui contratado pela Volkswagen, pedi minha mulher em casamento durante uma volta rápida no AIC, e infelizmente, tive de vendê-lo para comprar o teto que me protege neste momento que escrevo a vocês. Não dá pra ter tudo.

Mas este era o fato que iria dar mais cumplicidade para minha vida e de minha esposa…

 

O 2° Polo Gti: Fênix, Project Cars #91

Casamento chegando, grana curtíssima, e eu, gearhead nato, guiando um Gol 1.6 por aí, sempre de olho nos exemplares de Polo Gti que apareciam no mercado. Mas eles nunca estavam ao alcance das minhas economias naquele momento.

Eis que ocorre um incidente com um Polo Gti em Fortaleza que entristeceu muitos entusiastas do modelo: o carro do nosso amigo João Paulo deu uma pane elétrica no compressor do ar-condicionado e pegou fogo. Os estragos eram poucos, mas afetaram o chicote do veículo, e a seguradora não teve dúvidas: decretou a perda total.

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O carro ia à leilão e o preço parecia bom, mas o momento para o arremate não era dos melhores para mim. Com minhas economias todas comprometidas com a festa do casamento e a reforma do meu lar, não havia espaço na minha vida para aquela oportunidade. Apesar disso, conversei com minha esposa e decidimos que iríamos tentar arrematar – aquela talvez fosse a única chance de começar um projeto do carro que eu tanto gostava e que era importante para nós.

E então, começa o leilão. O ex-dono estava no pátio do leiloeiro para acompanhar os lances e garantir que eu venceria o lote. Quatro horas de espera, eu conectado em SBC, ele em Fortaleza. Eu era o único interessado. Dou-lhe uma, dou-lhe duas…. foi para repasse! Como era o único interessado, o leilão pula o lote para tentar aumentar as chances de lucro. O ex-dono não poderia mais acompanhar o andamento das coisas: a partir dali, seria eu “a sós” com o Polo – na verdade, a 2.700 km de distância, acompanhando tudo pela tela do computador.

Mais duas horas de espera. Dou-lhe uma – meu lance inicial ainda era o único dado – dou-lhe duas – serei o proprietário de outro Polo GtiSUMIU! O sistema online parecia ter caído, e depois, meu lance foi apagado!

O leiloeiro justificava não ter atingido o preço mínimo para venda – e mais: ele bloqueou o meu acesso para o novo leilão que aconteceria uma semana depois. Estava acabado. Não iria conseguir comprar, e mesmo uma briga judicial não traria aquele Gti “de volta” para mim.

Pois a sexta-feira subsequente chegou, e a Michely me avisou: “amanhã você tem o leilão para participar”. Perguntei-lhe: Como? E ela respondeu: “com o meu usuário. Está tudo pronto. Compraremos o carro usando meus dados no leilão”.

Sabendo que eu não poderia participar, ela havia se cadastrado sozinha no leilão para que eu pudesse ter a chance de comprar o carro! Ela me deu o melhor presente de casamento que um gearhead poderia ganhar, a tal carta branca que muitos homens brigam por toda vida: vá e construa seu carro, e vamos novamente viajar e participar de track days.

E aqui estou, com muito prazer, compartilhando a minha história com vocês, a história de um carro que pegou fogo, e que minha amada esposa Michely corajosamente comprou, acreditando que aquilo me faria feliz – como o fez! – e me deu para que eu possa brincar de Lego com meu VW.

O Projeto irá incluir muita coisa legal, e a receita disso tudo é história para o próximo post. Até lá!

 

Por Luciano Jaccoud, Project Cars #91

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