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Car Culture Projetos WTF?

Por que você precisa de um laptop Compaq velho para ter este McLaren F1 sinistro na garagem?

Um destes objetos é um dos maiores supercarros de todos os tempos — tanto que, mesmo tendo sido lançado há quase um quarto de século, ele continua sendo benchmark de desempenho e idolatrado por milhões de entusiastas pelo mundo todo. O outro é um Compaq LTE 5280, laptop da década de 1990 que foi um dos primeiros a ter dimensões próximas às de um caderno fechado, ajudando, assim, a popularizar o termo notebook para nos referirmos a um computador portátil. E um não vive sem o outro.

Na verdade, é o McLaren F1 que não vive sem o Compaq LTE 5280, visto que o laptop — que era a última palavra em computação há vinte anos, mas hoje pode ser comprado por US$ 300 (cerca de R$ 1.000) no eBay — é vital para a manutenção do supercarro, que teve um exemplar vendido no ano passado por US$ 13,5 milhões, ou por volta de R$ 47 milhões. Ahn?

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Foto: Patrick Gosling

Pensando bem, até que faz sentido: a McLaren usa um computador de duas décadas atrás para cuidar de um supercarro de duas décadas atrás. O que não torna a situação menos surpreendente, concorda?

Quem descobriu esta curiosidade foram os caras do Jalopnik, que fizeram recentemente um tour pelo QG da McLaren Special Operations, divisão da companhia de Woking responsável não apenas por cuidar dos carros dos clientes, mas também por customizá-los e modificá-los (desde que se pague bem, claro). O lugar é um verdadeiro paraíso para qualquer um que seja minimamente interessado por engenharia automotiva e a gente adoraria fazer uma visitinha por lá qualquer dia. Olha só isso:

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Um verdadeiro playground petrolhead. Foto: Patrick Gosling

O prédio da MSO fica a poucos minutos da fábrica da McLaren, e é o mesmo que a companhia usava para cuidar dos monopostos da equipe de Fórmula 1. É o tipo de lugar onde um esbarrão desastrado pode causar um prejuízo de centenas de milhares de dólares. Um lugar onde não se admite erros, e todos os problemas precisam de solução. E, às vezes, a solução está em um laptop tão obsoleto que passa mal para rodar o Windows 95. Fazer o quê…

Hoje em dia, até aquele smartphone de R$ 300 que o seu pai comprou porque “quem paga mais de R$ 1.000 em um celular?” tem mais poder de processamento que um Compaq LTE, mas não tem jeito: quando se precisa fazer ajustes nos módulos eletrônicos do McLaren F1 para garantir que aquele monstruoso V12 de 6,1 litros e 627 cv funcione direitinho, o veterano computador entra em cena.

Mas por quê? Basicamente, pela mesma razão pela qual você às vezes não consegue instalar um game mais antigo no seu computador que roda um sistema operacional moderno: incompatibilidade de software/hardware.

Como o FlatOut é um site sobre carros, e não sobre tecnologia, a explicação básica que um dos funcionários da MSO deu ao Jalopnik deverá ser suficiente:

Nós precisamos destes laptops Compaq em especial porque eles rodam com uma interface feita sob medida. A interface conecta o sistema operacional do computador (que é baseado em DOS) ao carro. Mas estamos desenvolvendo uma nova interface que será compatível com laptops modernos porque estes Compaq velhos estão ficando cada vez menos confiáveis e difíceis de encontrar.

DOS, para quem não sabe, é um sistema operacional básico que funciona através de linhas de comando e serviu como base para o desenvolvimento dos Windows 95, 98 e Millenium Edition (ME). Se você usa Windows quiser saber mais ou menos como é, abra o menu Iniciar, digite “cmd” na caixa de pesquisa, e imagine um sistema operacional que só usa aquela tela preta com letrinhas brancas e nada mais — pois é, o negócio era tenso mesmo há vinte anos. E você aí reclamando porque está sem Whatsapp…

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A McLaren Special Operations está vendendo um McLaren F1 bem especial. Foram fabricados 106 exemplares entre 1992 e 1999, sendo que 100 sobrevivem até hoje. Dos 106, 71 eram carros de rua, enquanto o resto eram os McLaren F1 GTR (iguais àquele que venceu as 24 Horas de Le Mans). E o bichão preto aí em cima é o carro de chassi #69, o que faz dele um dos últimos McLaren F1 de rua feitos no mundo.

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O carro foi totalmente revisado e recuperado pela MSO. OK, tecnicamente ele é igual a todo McLaren F1, mas tem esta pintura preta “Carbon Black” e rodas mais escuras que o normal, o que dá ao supercarro um visual sinistro que lhe cai muito bem.

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O interior também é todo preto, com exceção dos detalhes vermelhos no banco do motorista. Beleza, de vez em quando a gente também acha que o mundo está muito cheio de carros pretos, brancos e prata e também sente falta de cores nas ruas, mas estamos tentados a dizer que este McLaren F1 é um dos mais maneiros que já vimos.

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Ele pode ser seu por… bem, a gente não sabe porque a McLaren Special Operations só revela o preço a verdadeiros interessados, mas podemos apostar que ele não sairá por menos de US$ 10 milhões (R$ 35 milhões em conversão direta), chutando por baixo.

E, se você comprar, lembre-se: os caras vão usar aquele Compaq fuleiro de US$ 300 para cuidar dele. O mundo não é um lugar curioso?

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