Depois de quase um ano de espera e ansiedade, chegou a hora de mostrar pra vocês o resultado final da CG Café Racer. Pra quem não se lembra, no capítulo anterior com a moto pronta e montada, por descuido alheio, ela acabou sofrendo duas quedas estando estacionada, em menos de uma semana. A segunda queda, uma motorista numa Hilux, quis terraplanar a moto com a caminhonete, danificando muito principalmente a pintura. As fotos e detalhes vocês podem conferir aqui.
A moto então foi totalmente desmontada e recomeçamos a reforma praticamente do zero. Como o motor estava dando sinais de cansaço, como também citei no texto anterior, deu aquele estalo na mente, e já que estava desmontado tudo aproveitamos também pra abrir tudo e fazer o que precisasse.
As peças de funilaria, mais uma vez foram enviadas pro Ronnie França, em Santa Catarina, para que ele pudesse dar o trato fino. Tanque, placas laterais e rabeta, pra reforma e posterior nova pintura.
Acontece que, depois de toda dor de cabeça de ter que ficar correndo atrás dos responsáveis pelos danos, ficar indo em delegacia pra fazer Boletim de Ocorrência e toda humilhação, por ter que ficar cobrando uma pessoa pra te pagar pelo dano causado, como se eles estivessem certos e eu errado, eu fiquei bem desgostoso da moto. Afinal, quem ficava sabendo das histórias do ocorrido, ria para não chorar. Dois acidentes praticamente seguidos eram muita coincidência, ou muito azar. Devido a isso, minha idéia era abandonar a pintura inspirada nos carros da McLaren e partir pra outro conceito, porém mantendo o estilo café racer.
Enquanto o parceiro Mateus Zampronio estudava o que poderíamos ser feito no motor, eu e o Ronnie estudávamos as possibilidades de qual rumo poderíamos tomar na nova customização.
Várias idéias passaram pela mente, até que o Ronnie surgiu com a solução novamente. A idéia dele era partir pra uma pintura mais clássica, porém mais detalhada ao mesmo tempo, usando a técnica de pintura rendada. Pra quem não conhece, é um tipo de personalização onde é usado um pedaço de tecido rendado como estêncil pra pintura. O tecido é fixado na superfície onde será pintado e aplicado a tinta por cima. Depois de seco, o tecido é removido deixando impresso o mesmo desenho da renda, dando um toque mais refinado pra pintura.
Definido o estilo então, deixei a encargo do Ronnie de escolher as cores pro detalhamento, onde a cor principal ainda seria o branco perolado. Porém dessa vez usamos o mesmo tom do VW Gol GTI bola, que é um pouco mais pigmentado, puxando mais pra cor palha quase do que pro branco em si. O resto das cores foram escolhidos preto, dourado e um marrom metálico, bem puxado pro cobre, como dá pra ver nas fotos abaixo.
Como ia ser uma pintura detalhada, ela ia ter que ser feita por partes, dando a base e depois usando fita pra definir os desenhos onde depois iriam entrar a renda e todo o resto. O trabalho foi todo feito por camadas, tanto pro tanque, quanto rabeta e placas laterais.
O resultado ficou bem legal, distanciando bem do que a moto era antes, com um visual mais Racing, agora puxando mais pra um estilo mais clássico e ao mesmo tempo sofisticado.
Enquanto isso, o motor foi todo desmontado e dado um banho químico pra remoção da tinta e de resíduos de outras substâncias. Nisso, foi revelado uma trinca no bloco, que não afetava o uso, mas que era necessário um trabalho de solda pra reparo.
Assim foram instalados pistões 4mm, um comando 296, além da modificação dos dutos do cabeçote, regulagem de taxa e ponto de magneto da moto. Posteriormente foi refeita a pintura do bloco todo de preto fosco com tinta PU Vinílico e remontado no quadro, aguardando o restante das peças da funilaria.
Junto foram reformadas as peças que foram danificadas e que davam pra recuperar, como a lente do farol que foi refeito o verniz amarelo aro do farol que tinha ralado e amassado, as setas que foram desamassadas e repintadas, o guidão que tinha entortado na queda foi desentortado, evitando mais alguns possíveis gastos, já que o material era de qualidade e não merecia ser descartado.
Rodando pela internet, buscando mais alguma inspiração pra acabamento, deparei com uma idéia que achei muito legal, onde em algumas motos clássicas restauradas, foram adicionados detalhes em couro em algumas peças aumentando ainda mais o nível de detalhamento e beleza das motos, indo de encontro totalmente com a minha idéia de tentar levar esse projeto pra um novo nível, já que ela estava “renascendo” pela segunda vez nessa reforma.
Lembram do Diego Lucas, o mineiro gente fina que conseguiu fazer o milagre no banco da moto? Mais uma vez foi ele quem também me ajudou. Mandei pra ele manetes de freio/embreagem que tinham ralado e haviam sido repintadas, manoplas e o cachimbo da vela de ignição (sim, ele mesmo!) pra que fossem encapados em couro. Na manopla de acelerador, foi usado a técnica de gravação a laser pra gravação de uma frase. Detalhes amigos, detalhes.
Speed Up for Freedom (Acelere para a Liberdade)
Detalhes se acertando e pouco a pouco a moto ia tomando forma novamente.
Logo, o Ronnie terminou o restauro e pintura das peças e resolve me manda a foto pra curtir o resultado.
Poucos dias depois, as peças estavam em mãos e o resultado mais uma vez superou qualquer expectativa. O nível de detalhe dessa pintura é muito grande, e a renda é um detalhe que chama muita atenção. E o mais incrível é que é tudo feito com tinta, nada de adesivo.
Peças todas em mãos era hora de remontar tudo e rodar novamente.
Cronologicamente, já estamos no meio de janeiro de 2017, praticamente cinco meses depois dos ocorridos.
A partir daí, não participei de mais nenhum encontro de antigos, e pra tirar a moto da garagem é só pra uma volta ou outra no final de semana ou em alguma situação onde minha esposa teria que usar o carro e eu tenha que usar a motoca de qualquer maneira (isso quando não vou de bike mesmo). Usar pra trabalho, só em último caso. O susto foi grande e não quero ter que passar por todo esse problema de novo. Não pela reforma da moto, afinal isso é uma coisa que dá gosto de fazer, mas o que chateia é como disse no começo do texto, é ter que ficar indo atrás dos responsáveis pelos danos pra arcar com o prejuízo. Quando o dano é causado por você, por descuido seu, aí tudo bem porque a culpa é só sua. Mas quando envolve terceiros, o problema sempre acaba sendo bem maior.
Com essa reforma eu fiquei bem satisfeito com o resultado final, e por mim, o projeto está finalizado. Pra melhorar mais, esteticamente eu acredito que não precisa mais. Quanto à mecânica, o upgrade no motor deixou a moto mais esperta pra andar na cidade, continua econômica e roncando forte. Pra trajetos maiores em estradas, ela vai, mas por ser ainda uma baixa cilindrada, tem que ter paciência e zero de pressa. Essas melhorias renderam à CG um aumento na cilindrada, pulando de 125 pra cerca de 150cc, porém não cheguei rodar 300km desde Janeiro quando tirei ela da oficina.
Esse projeto, pra mim pelo menos que nunca tinha tido contato com as motos, serviu de grande aprendizado, e também me serviu de exemplo pra próximos projetos, usando a idéia de sempre pesquisar ao máximo sobre qual caminho tomar e sempre procurar opiniões de outros que já trilharam por projetos parecidos. Todo conhecimento é válido na hora de comprar o necessário, além de acabar economizando uma grana ao invés de sair comprando qualquer coisa só porque achou bonito e no final das contas gastar dinheiro a toa. Apesar de peças de motos populares e de baixa cilindrada serem baratas, toda economia faz diferença na hora que for colocar na ponta do lápis.
Como puderam ver ao longo desse projeto, a internet foi minha principal parceira na hora de procurar opções e informações e me economizou muito tempo. Grupos no Facebook, blogs, fóruns… estão todos aí recheados de informações, inspirações e gente sempre disposta a ajudar com o que pode.
No final de maio de 2017 tomei a decisão de colocá-la a venda. Estava perfeita, em sua melhor forma e por estar terminada, acreditava que havia chegado a hora de tentar outras coisas ainda no mundo das motos.
De maio, quando comecei anunciá-la para venda, ofertei ela na troca por outras motos de interesse e também recebi ofertas, algumas interessantes outras nem tanto. É incrível a quantidade de coisa que te oferecem quando você coloca alguma coisa a venda. Me ofereceram desde notebooks, bicicletas de quadro em carbono até mesmo uma BMW 2011 com motor desmontado. Nessas horas, pra quem vende e não tem pressa, haja paciência.
Foram quatro meses de espera até que surgisse uma oferta legal. Acabei entregando ela pra um parceiro de equipe de airsoft, por um valor um pouco abaixo do que havia pedido nos anúncios da internet. A moto continuaria na minha cidade, com alguém que cuidaria melhor dela do que eu no momento. Foi um bom negócio pra ambos.
O que aprendi também com a venda de uma moto custom é que, por mais elaborado e preciso que for seu trabalho nela, nunca vai ser valorizada como você acha que vale. Por ser custom, a demora pra venda sempre é maior, mesmo sendo uma moto popular e de baixa cilindrada. Motos originais saem bem mais fácil, por mais baratas que sejam, e sendo assim, as personalizadas acabam encalhando, ou pelos vendedores simplesmente não gostarem talvez do tipo de custom, ou por medo talvez de terem problemas com a transferência, por estarem modificadas, mesmo a documentação estando em ordem. Ou você vende pra algum interessado que também goste do estilo ou perde a paciência e acaba queimando por um valor extremamente baixo, e sorte de quem comprar. Porém acho que tudo isso é um, porém, independente do veículo, se você muda alguma coisa, seja motor ou estética, na hora da venda, nem sempre consegue recuperar o investimento. Fica a dica!
Com a lição dessa experiência, talvez não volte a personalizar outra moto tão cedo. Além de a mascada estar curta como diria o mestre Alcemar, depois fica o fantasma da possibilidade de venda ou não do brinquedo quando precisar levantar uma grana rápido. No futuro, quando as coisas tiverem melhores economicamente falando, e tiver oportunidade de adquirir uma nova moto, talvez compre uma custom de fábrica como as Harleys, por exemplo, ou uma esportiva já com um acabamento legal, pra mexer o mínimo possível.
Agradeço a todos que me ajudaram a tirar essa idéia do papel, aos que me suportaram ao tirar dúvidas ao longo do projeto e aos que colocaram a mão na massa pra fazer virar realidade. Se eu for citar um por um, posso esquecer algum e acabar chateando alguém, então fica o agradecimento geral!
Valeu FlatOut pela oportunidade e ao pessoal que acompanhou!
Por Felipe Queiroz, Project Cars #379
Uma mensagem do FlatOut!
Felipe, uma pena que você acabou afastado da moto. Ela ficou demais, e a mudança do tema Marlboro livery para algo mais clássico não diminuiu em nada o projeto. Uma 125 com preparação leve e bem acertada pode ser sim uma moto bem divertida. Com o visual certo então… Parabéns pelo projeto e esperamos ver o próximo por aqui!