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Project Cars Project Cars #342

Project Boat: a construção do veleiro Samoa e os desafios de todo projeto

Fala, pessoal do FlatOut!!Tudo bem com vocês? Desde meu ultimo post contando a história do Augenblick (este aqui pra quem não lembra ou não leu). Demorei um pouco pra mandar a 2º parte, por conta de estar MUITO enroscado na faculdade, e por estar com a cabeça em outro mundo por conta de minha mãe.

Tenho visto varias desistências do Project Cars aqui no site, muitos por desistirem dos seus projetos, dos seus sonhos, por conta de problemas financeiros ou por perder a esperança em si mesmos em terminar o projeto. Passamos por isso muitas vezes na construção do veleiro, problemas financeiros foram, a maior parte do tempo, os culpados por isso. Mas nunca desistimos! Sonho é sonho, você tem que correr atrás com todas as suas garras, correr atrás daquilo que você quer, não deixar ninguém falar que você não é capaz. A vida é dura, vai querer te derrubar a todo o momento nessa caminhada, atrás daquilo que quer, mas você nunca pode desistir, por mais difícil que seja, é o seu sonho e só você pode correr atrás dele! Não deu pra agora? Joga uma lona em cima e vai acertar tua vida, seu projeto vai estar lá te esperando pra quando você voltar e jogar todo seu amor e persistência em cima dele. Você pode fazer o que quiser, tudo é possível com dedicação e foco!

Agora voltamos a história….

 

Oito anos de poeira e um transporte ousado

Após o nascimento de quem vos fala, meus pais decidiram parar a construção do barco devido a condição financeira e o susto dos custos seguintes do projeto. Como disse no fim do outro post, o custo que nos passaram estava bem longe do real, e meu pai decidiu dar prioridade a família.

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Meus pais acabaram comprando um terreno em Cotia, na Granja Viana. Lá construíram a muito custo o que é nossa casa hoje e onde tenho todas as minhas lembranças, pois quando nos mudamos eu tinha por volta de 1 ano

Meus pais jogaram a lona em cima do casco com convés já fechado por volta do final de 1995. Após 8 anos de repouso, esperando as condições certas para voltar a se desenvolver, tiramos a pesada e empoeirada lona, e decidimos trazer o Augenblick pra casa.

O transporte foi realizado por uma transportadora especializada em retirar maquinas gráficas de seus respectivos locais de trabalho, o que significa aqui em São Paulo que na maioria das vezes será um local ruim, apertado e complicado, exatamente o local onde o Augenblick estava sendo construído.

Retirando o telhado do galpão, o veleiro foi içado pelo munck do caminhão por cima do muro da casas e colocado em seu respectivo local de transporte. Tivemos que pedir uma autorização especial de trafego para traze-lo da Brasilândia até Cotia, no feriado do dia 25 de janeiro, e pagar batedores para acompanhar o transporte, esses quais não compareceram e tivemos que fazer o transporte sem eles. Começamos a carregar as 8h e as 16h o Augenblick já estava em sua nova casa. Toda a mudança foi filmada e aparecemos no canal 21, numa entrevista sobre a história do barco. Segue o vídeo abaixo para vocês poderem acompanhar a empreitada que foi (sim, meu nome e do meu pai saíram errados, mas não tem problema).

 

Novos desafios e a facilidade do projeto no quintal de casa

A primeira coisa que fizemos foi a lavagem geral do veleiro para tirar 8 anos de pó acumulado sobre ele, a pessoa que vos fala aqui já estava ajudando. Logo após foi construído o primeiro barracão da Granja Viana, onde poderíamos trabalhar sobre uma cobertura, evitando o sol e a chuva.

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Com o projeto no quintal de casa, aceso a internet e novos contatos, partimos para a próxima etapa……hora de fibrar o convés!

O processo foi bem “simples”, primeiro se passa uma camada de resina epóxi onde se vai colocar o tecido de fibra de vidro (não a manta), após colocar a fibra e não deixar nenhuma bolha de ar. Após isso passa-se uma nova camada de epóxi por cima. Repetindo esse mesmo processo por todo o convés, e por quantas camadas se achar necessário, no nosso caso foram 2 camadas de fibra de vidro. Tivemos a imensa ajuda do nosso amigo Geraldo, que já era experiente no processo e nos ajudou em quase toda essa etapa da construção. Achamos mais confortável retirar a cobertura do barracão para ter mais mobilidade nesse processo.

Com esse processo de compensado naval + fibra de vidro, o convés passou a resistir a 3t (três toneladas) por m², suficiente para uma onda quebrar em cima dele e nada acontecer.

Nesse meio tempo fomos trabalhando internamente do veleiro também. Itens de acabamento foram comprados, as gaiutas foram instaladas provisoriamente e mantivemos o andamento do projeto em ambos os ambientes, interno e externamente.

 

A doença e a pancada emocional em toda a família

Nesse meio tempo veio uma noticia nada fácil para mim e toda a minha família. Minha mãe foi diagnosticada com um câncer de mama metastático, agressivo e avançado. O luto foi generalizado em minha casa, os amigos se perguntavam do barco, o que seria dele. Minha mãe por sua vez, não abaixou a cabeça e a todo momento falava que o Augenblick iria pra água SIM!

Minha mãe iniciou o tratamento, todo realizado em hospital publico. Aqui fica o meu eterno agradecimento à equipe de oncologia do Hospital Pérola Byington, por sempre tratar de minha mãe com dignidade e nunca abandona-la. Provando que nosso sistema de saúde publico ainda tem salvação!!

No outro lado dessa história meu pai começou a se dedicar integralmente ao projeto, se desapegando de vários bens materiais a fim de terminar aquele sonho, dele e de minha mãe. Acompanhei de perto o que o amor de um ser humano por outro pode fazer, ele é capaz de mover montanhas afim de trazer um singelo sorriso no rosto de uma mulher que luta bravamente todos os dias por sua vida. Uma mulher que nunca desistiu de continuar vivendo, mesmo com todas as barreiras impostas por nosso sistema de saúde!

Eu passei a transição de minha adolescência para a vida adulta vendo meus pais lutando por aquilo que sempre sonharam, acompanhei meu pai trabalhando dia e noite no projeto enquanto minha mãe descansava de quimioterapia. Ajudei meu pai a raspar a cabeça de minha mãe quando o cabelo começou a cair, ajudei ele a posicionar, cortar, medir e executar cada nova etapa no projeto, e sabe o que aprendi com isso tudo? Você nunca deve desistir dos seus sonhos, cada barreira vai surgir pra te derrubar. A vida é assim, a todo momento vai querer te jogar no chão mas você não deve desistir, você deve encara-la de frente, com garra, e ir atrás daquilo que sempre quis! Não deixe uma doença te derrubar, você tem o direito a viver, tem o direito de seguir seus sonhos e correr atrás do que quer, você é capaz! Foi isso que aprendi com meus pais nesse momento, e vejo que essa foi a maior prova de amor que eu já verei na vida.

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Nesse meio tempo, carros se foram em prol do barco, dinheiro que não tínhamos foi utilizado. Tudo para colocar o Augenblick na água. Foi nessa hora que surgem os principais amigos, e nesse caso eu deixo um especial abraço para o amigo Marcos Wollmer, que nos presenteou com o que seria a futura pintura do veleiro Augenblick!

 

A pintura do casco

Chegamos a uma parte que animou a todos, tanto quem já conhecia o projeto, como quem passava na rua e sempre via aquele monte de madeira escuro e sem vida. Que comece a pintura!

O processo foi bem trabalhoso, totalizando sete camadas de pintura. Tudo com tinta própria para essa aplicação. E mais uma vez tudo feito por nós, temos um compressor grande o suficiente para o serviço e adquirimos pistolas de pintura para tal feito. Abaixo irei numerar os passos e tipos de tintas utilizados:

-Uma camada de prime de aderência sobre toda a superfície.

-Duas camadas de Prime Epoxi. Entre cada camada foi passado massa de correção nos pontos onde precisava (Em algumas fotos irão notar essa etapa, pois a massa se distingue na cor do branco do prime.)

-4 camadas de P.U. para chegar a cor desejada. No convés foi utilizado P.U. branco, e no caso foi aplicado P.U. verde escuro, cor escolhida pelos meus pais para o veleiro.

Nota-se também a faixa branca no casco onde se delimita a linha d’agua de projeto do veleiro, desta linha para baixo será a parte submersa do casco. Essa linha é algo aproximado, podendo variar ao se colocar o veleiro na água.

Após a pintura, começamos a instalação definitiva das gaiutas, fizemos a fixação dos fuzis dos brandais, chapas de inox de espessura 10mm fixadas no convés ao lado das vigias laterais

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“São os fuzis que farão a fixação dos cabos de aço do mastro, os estais, ao barco, as chapas de inox passa para dentro do veleiro e são fixados ao esqueleto do Augenblick”

Em sincronismo com a pintura, preparamos o púlpito da roda de leme, especialmente projetado por meu pai para aguentar o peso de uma pessoa adulta, caso precise se segurar, e com a manete do motor integrada, algo difícil de se ver em um veleiro. Junto já foi preparado a área para colocar a bússola e o GPS, tudo pensado para a praticidade de quem vai estar no comando do veleiro. Também foi preparado o piso do salão, pensado por minha mãe para conseguir um ambiente relaxante com as faixas brancas, mas ao mesmo tempo aderente, caso entre com o pé molhado.

“A roda de leme é toda hidráulica, com válvula ante retorno no sistema. Isso significa que se pode largar o leme durante a velejada que o veleiro ira manter o mesmo rumo. Em conjunto foi instalado o chuveirinho do cockpit, muito utilizado para lavar o local ou alguém que acabou de sair da água”

 

Outros detalhes e os próximos passos

Citar cada pequeno detalhe feito no barco tornaria esse texto exaustante, por isso certas coisas acabo não citando com tantos detalhes. Nesse meio tempo o painel de instrumentos foi instalado na saída do cockpit para o salão, o escape do motor foi confeccionado, o eixo da hélice junto com a mesma foi instalado e o motor começou a dar as suas partidas com o sistema já montado.

“Nesse vídeo, um pouco antes da pintura do casco, foi feito o teste de funcionamento da hélice em conjunto com o motor. A água saindo do escape é ocasionada pelo tipo de arrefecimento do motor. Ele coleta água do mar para seu arrefecimento, e libera a mesma pelo escape ajudando a também diminuir o barulho do mesmo”

Ainda falta muita coisa para o Augenblick finalmente ver água. Mas no próximo post mostrarei e finalizarei sua construção, até a partida para o litoral. Precisarei voltar uns anos para explicar a saga da aquisição do mastro e comentarei como foi ter que projetar do zero a planta elétrica do veleiro.

Me desculpem mais uma vez o atraso, sei que nada justifica mas peço que entendam a vida de universitário de engenharia mecânica. O próximo post vira lotado de fotos e processos detalhados de construção. E mais uma vez, Barata e Leo, mil desculpas. Sei que a vida do Project Cars não está fácil, mas espero que com essa série de post do Augenblick os outros participantes parem de desistir de seus sonhos. Lembre-se, foram 25 anos de construção desse projeto, várias paradas por falta de verba, tempo ou doença. Não deixe que a vida derrube seus sonhos, eles são mais fortes do que qualquer coisa, basta acreditar!

Por Patrick Galera, Project Cars #342

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