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Project Cars Project Cars #09

Project Cars #09: um bom motivo para continuar a restauração do meu BMW 850i

Já estava pronto para escrever um texto final, de como o carro ficou pronto, da primeira experiência dirigindo depois de tanto tempo, mas, novamente citando o lendário Joseph Klimmer, sim, ter um project car meus amigos, é uma caixinha de surpresa. Parece que foi ontem que recebi as fotos da grandona “viva” pela primeira vez em seis anos. 2016 passou voando, mas não deixou de ser um ano extremamente marcante. Depois da férias reconheço que fiquei mais relapso com ela. Meu trabalho me tomou muito tempo e o pouco que sobrava acabava aproveitando para descansar ou cuidar das outras meninas. Além disso, recebemos novamente a triste notícia que o tumor do meu pai havia retornado, então realmente era de se esperar que a grandona não fosse o foco do momento.

Até o meio do ano pouco havíamos avançado. Alguns detalhes aqui e ali, um upgrade na parte elétrica, mas nada substancial. E eu fui deixando. De vez em quando buscava uma informação com o mecânico, mas logo me perdia no turbilhão, e a grandona permanecia sendo meu carro que tenho mas não “possuo”, minha bewoulf.

Durante vários dias pensei em trazer ela pra casa e ali deixar. Retomar o projeto um dia, dar um tempo nessa montanha russa de emoção que é reformar um carro. Mas insistia. Ia postergando o “dia do guincho”. Até que em meu aniversário, em setembro, tomei a decisão. Ela vem. Chega. 2017 é um novo ano, e eu volto a focar nisso. Cheguei de uma viagem que havia feito decidido, mas, infelizmente, outra notícia me fez parar tudo novamente. Meu pai havia piorado, e muito. Além da fraqueza percebíamos que ele estava cada vez mais ausente. A conversa com a equipe médica infelizmente não foi boa. A Quimio já não ajudaria, e não havia uma alternativa de tratamento pelo estado que ele se encontrava. Era dar tempo ao tempo, e esperar uma melhora, ou se preparar para uma piora.

Durante um mês tudo aconteceu rápido, e ao mesmo tempo todo o resto parecia estar devagar. Infelizmente víamos o estado do meu pai piorando e a doença avançando. Nos unimos como família pois sabíamos que o pior estava por vir. E, infelizmente, aconteceu. Dia 04 de outubro às 18:26 recebi a ligação que eu mais temia do hospital onde ele estava internado. Meu pai havia descansado da doença que tanto o debilitou durante quase três anos.

Não pensava em mais nada, meu grande herói e incentivador tinha partido. Uma situação como essa faz sua vida dar um fade, e tudo mais parece muito pequeno. E nesse contexto a grandona saiu do meu dia a dia, ficando cada vez mais longe.

Sofri muito, e a falta dele obviamente ainda incomoda. Mas a gente vai aprendendo a lidar. Um dia em casa enquanto mexendo no computador me deparei com uma foto nossa em 2014, no trackday organizado pelo fórum que participo. Foi uma das últimas coisas que pudemos fazer como pai e filho, enquanto ele ainda tinha forças, unindo uma paixão que ambos temos. Carros. Naquela hora chorei bastante. Mas também me veio uma grande vontade, algo que admito, já havia perdido em meados de 2014.

Eu vou concluir esse projeto, e fazer o que havíamos combinado desde sempre. O par de vaso. Aos que acompanham o project cars, logo no início da doença do meu pai consegui fazer algo para ele que sempre quis: lhe dar um carro. E desde lá planejávamos o dia que a 8 voltaria para termos o par de vaso v12 em casa.

Era nosso projeto, nosso plano, mais um motivo para olhar em frente em meio a uma situação tão delicada. Foi minha forma de incentivar ele a permanecer forte, não era justo, logo agora, deixar isso de lado.

Retomei com toda força possível o projeto. Precisava concluir, seria uma homenagem a ele, do meu jeito. Comecei a pentelhar meu mecânico de formas nunca antes vistas, e, infelizmente a coisa não andava. Muitas promessas e poucas ações. As desculpas acumulavam e o carro não ficava pronto nunca. Enfim, retomei a decisão. O carro vem pra casa. Nem que seja para ficar encostado em casa até achar alguém que tope o projeto. E foi isso que aconteceu ao início de Março. Combinei com um amigo que tem uma plataforma de tirar ela do interior e trazer para Curitiba. Nesse interim já estava falando com outros amigos para ver quem topava assumir a bronca de reviver a Lil Frankie.

Felizmente nem precisei procurar muito, e, antes mesmo da cegonha sair de Curitiba ela já tinha destino. Fiz um pente fino com o mecânico antigo, que serviria para facilitar o já difícil processo de “de-para” num projeto como esse. Fui informado que o carro já estava nos finalmente, toda elétrica e adaptações de injeção, pedais, borboletas e acessórios feita, o único problema era que, ao girar o motor pela primeira vez, constatou-se falta de lubrificação. Com isso, para não arriscar, seria bom abrir o motor e ver o que causava antes de finalmente dar a partida.

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Combinei a retirada em uma quinta feira, mais precisamente dia 09 de março. Eu e o novo “sócio” estávamos na total expectativa, já havia combinado com meu amigo que ia buscar de me mandar fotos tão logo subisse na plataforma. Eis que, a primeira notícia não muito animadora. Sim, algum simpático resolveu dar ré no carro e o para-lamas do motorista já veio carimbado. Esse era um presságio da treta toda.

O carro chegou no mesmo dia, a noite, e já foi direto para a nova oficina. Recebi uma mensagem do meu amigo falando “Olha, eu esperava que tivesse meio confuso, mas cara…. o treco tá sinistro”. Minha idéia de levar uma garrafa de champagne no sábado para comemorar foi substituída por duas caixas de lenço. Uma pra mim e outra pra ele. Combinei então de sábado ir lá e “arrumar” a zona toda.

Sábado logo cedo saí de casa com minhas luvas e uma lanterna. Ver ela de fora da garagem, mesmo sem o para choque, já me dá uma alegria. Algo que foi rapidamente substituída por uma ira descomunal. Começamos a mexer e vimos que quase nada do que havia sido “feito” era verdade. Infelizmente boa parte das “evoluções” eram muito bonitas via whatsapp mas não passavam disso. Além disso parecia que um furacão tinha passado dentro do carro. Uma infinidade de peças soltas por tudo que é lado. Separamos tudo, tiramos uns dois sacos de lixo (inclusive um coxim de Maverick que até hoje não sei que que estava fazendo ali no meio). O ponto alto do sábado foi ver um tuktuk original (da Índia mesmo). Só não fui dar uma volta porque tanto eu quanto meu amigo (que assumiu o projeto) somados pesamos mais que o treco todo, então nem sair do lugar acho que sairia.

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Enfim, o recomeço. Voltamos a estaca 1/2 (quase zero), o carro irá passar por um pente fino elétrico, revalidando o pouco já feito e concluindo o que se deve, especialmente referente a injeção eletrônica, pois é aparentemente o que menos foi feito. Falando nela, seria uma FT500 originalmente (e que acreditava ser, pois paguei por ela), mas na verdade é uma Injepro S8000. Não vai impactar o projeto, porém, só dá a base do que efetivamente estava passando. Considerando isso, obviamente vamos rever o resto (coxins, cardã, elétrica de periféricos). Até a instalação do câmbio iremos revisar pois tem um naco faltando na capa seca — coisa que já veio quando comprei – mas que agora entendemos que pode comprometer o volante num futuro).

Agora pelo menos o carro está perto de mim, então terei muito mais controle sobre o processo, bem como sua evolução. E, para quem já mudou de projeto oito vezes, o que é mais uma mudança, não é mesmo? Com forças renovadas, recomeço. E com o melhor motivo de todos: homenagear ele.

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Por Marco Centa, Project Cars #09

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