E aí, pessoal!? Essa nossa vida de gearhead não é fácil no Brasil… uma hora temos falta de peças para qualquer outro motor que não seja AP, outra hora falta incentivo para as competições, falta é mão-de-obra especializada e por aí vai. Essa terceira postagem está fora da ordem cronológica – estou pulando os 18 meses que o carro ficou parado na oficina diretamente para o dia que peguei ele de volta. Vocês verão que, apesar de tudo, não podemos desistir!
O desafio do sete de setembro
Eu havia solicitado para o mecânico que o carro ficasse pronto pelo menos para o desfile do dia sete de setembro, do que todo ano eu participo junto com o Clube de Carros Antigos de Limeira, e também porque já fazia 18 meses que o Alfa estava na oficina. Ele me prometeu que entregaria, e assim o fez… no sábado dia 6 de setembro às 22:00. Foi essa a hora que saí da oficina.
Depois de alguns problemas com a direção hidráulica no caminho, parei para abastecer e chegando próximo de casa percebi que o motor começara a grilar com o giro um pouco mais alto. Na porta de casa, manobrando atravessado na rua para guardar na garagem, o motor morreu e girava pesado quando se acionava o arranque. Nisso já era 22:30. A rua de casa é calma, não tem movimento, mas também não tinha ninguém pra me ajudar a empurrar a monstra!
Liguei para o mecânico e relatei o que acontecera, ele me disse que poderia ser bateria. Fui até a minha oficina no fundo de casa e peguei uma bateria nova, montei no lugar, mas o motor continuou virando pesado. Nova ligação para o mecânico: ele falou para dar uma olhada no distribuidor, fui mexer e pimba! Distribuidor solto! Ele acabou adiantando o ponto, o que explica o motor pesado e grilando.
Legal, mas e agora, qual é ponto correto do motor? Recorri as fotos de outros motores 302 e tomando como base a posição do avanço a vácuo, coloquei mais ou menos na mesma posição e fui apertar o parafuso da trava mas… ele não apertou!
Só faltava ter espanado a rosca no bloco! Felizmente não foi o que aconteceu. O problema era um parafuso curto demais, que só pegava uns dois fios de rosca. Mas aí surgiu um novo problema: em casa todos os meus outros carros tinham rosca métrica, o 302 do Alfa (que é um Ford) usa parafuso no padrão americano, medido em polegadas. Revirei minhas latas de parafusos usados e não achei nenhum que servisse. Então lembrei que havia trazido o antigo coletor de ferro fundido pra casa. Por sorte o parafuso que fixava o water neck serviu, e consegui finalmente travar o distribuidor.
Já passava das 23:00 do sábado e eu ainda estava com o carro atravessado na rua. Com o distribuidor no lugar dei partida e o motor girou livre! Oba! Mas não pegou. Foram diversas tentativas e nenhum sinal. Tirei o filtro de ar e com uma lanterna vi que estava injetando gasolina. Combustível não faltou.
No fim tive que pedir ajuda pra minha esposa, que veio meio contrariada ajudar. Pedi pra ela dar a partida enquanto eu verificava se tinha faísca no cabo de vela. Pulou uma faísca azul bonita. Caramba… tem ar, tem combustível e tem faísca… por que diabos esse motor não pega?
Nessa hora que minha esposa deu a partida eu percebi uma coisa que não tinha percebido antes porque estava dentro do carro e ventava na rua: um cheiro mais forte de combustível vindo do escapamento. O motor estava afogado! Entrei no carro, pisei no fundo e acionei a partida sem aliviar o pé, 10 segundos de partida e nada. Parei sem tirar o pé do fundo, dei um tempinho e acionei de novo a partida. Aí ele engasgou, tossiu e roncou! Meus vizinhos devem ter adorado isso, pois já era por volta da meia noite.
Manobrei finalmente o carro pra dentro da garagem e o deixei funcionando alguns minutos antes de testar a partida mais duas vezes pra ter certeza que tinha resolvido. Tudo certo. Fechei tudo e fui dormir, pois o desfile seria no domingo às 9:00 e eu tinha que acordar bem mais cedo para dar um tapa na Alfa, pois ela havia ficado 18 meses comendo poeira na oficina.
Na manhã seguinte caí da cama e já fui levar o carro para lavar no posto de gasolina — era a maneira mais rápida, pois quando eu lavo o carro, não consigo fazer rápido, sempre aparece aquele detalhe que eu não consigo deixar pra trás. Cheguei lá 7:30 e já era o terceiro da fila. Pedi a lavagem com cera líquida, secagem e pretinho no pneu. Feito isso, voltei pra casa para buscar minha esposa e filho.
Parei o carro em frente de casa e dez minutos depois tocou a campainha. Era meu vizinho avisando que estava vazando gasolina do carro. Como assim “vazando gasolina”?
Pois é… faltando meia hora para o desfile me aparece essa. O tanque havia enferrujado e estava vazando na emenda. Peguei o jacaré, ergui o carro e com um pouco de “durepoxi” tentei fazer um reparo que aparentemente havia resolvido.
Cheguei na concentração do desfile em cima da hora. Fiquei como um dos últimos da fila. Enquanto esperava, um amigo do clube me avisou: seu carro está vazando gasolina! Olha que maravilha! O reparo técnico emergencial não resolveu. Nesse ponto não havia mais o que fazer — ou desfilava com a Alfa demarcando território ou voltava pra casa. Decidi desfilar, pois sem gasolina não ficaria. Eu ainda tinha mais da metade dos 100 litros do tanque.
Uns 20 minutos depois nos chamaram para alinhar para o desfile. Como eu estava atrás, nem me preocupei muito. Deixei o pessoal alinhar na frente e quando fosse a minha vez bastaria entrar na fila. Quando chegou essa hora, o motor não ligava. Ele afogou por que o carburador novo ainda não estava totalmente calibrado e eu ainda não tinha as manhas do motor novo.
Tentando ligar o carro a bateria arriou. Não tive escolha: saltei do carro e empurrei rua abaixo. Por sorte era descida, dando tranco com o pé na tábua, pensei comigo: “acho que não é mesmo para eu desfilar”. Mas como seria o primeiro desfile que meu filho iria, eu tinha que continuar tentando. Quando quase acabou o espaço para o tranco o motor pegou, umas aceleradas para limpar a garganta e ele firmou na marcha lenta.
A partir daí foi tranquilo o desfile. O pessoal acenava para o carro “presidencial”. Meu filho fazia farra com minha esposa e minha sobrinha enquanto a Alfa demarcava território com seu vazamento. Percebi que a temperatura do motor ficou elevada — sinal que tudo que havia sido feito ainda não resolvera o problema. Acabando o desfile, fui direto pra casa dos meus pais onde o carro ficaria guardado por uns dias até poder voltar para o mecânico e acertar todos esses detalhes, mas, até agora, por diversos motivos, a Alfa não saiu da garagem e acabei dedicando esse tempo a outros projetos.
O próximo passo é desmontar todo sistema de refrigeração dela para mais uma verificação, trocar todas as mangueiras e talvez até um projeto de um novo radiador maior, preciso também tirar o tanque e verificar como farei para fechar o furo (ou os furos, pois não sei o que mais posso encontrar mais ali) e afinar esse motor. Como disse no começo, essa nossa vida de automobilista não é fácil, mas vale a pena!
No próximo post contarei como foram esses 18 meses de espera e as mudanças que foram feitas na mecânica 302. Até lá!
Por Estevam Cavazin, Project Cars #130