Olá pessoal, agora que já conhecem a história por trás do meu Jeep Willys 1966, o Project cars #141, é hora de começar a contar as modificações que foram realizadas no decorrer desses vários anos até agora.
Primeiramente gostaria de agradecer aos inúmeros comentários positivos que recebi — tanto aqui na página do FlatOut como também no Facebook, onde já fiz novos amigos. Alguns pediram ajuda em seus projetos pessoais, outros querem começar projetos com Willys, alguns que conheciam meu carro de vista, e agora me conhecem, e até um outro que me apresentou a ideia de transformar meu V8 em diesel, de acordo com seu projeto da universidade.
Pode parecer bobagem, mas só essa possibilidade de ajudar alguns que compartilham a paixão e sonham com Jeeps e outros carros, assim como eu, já vale todos os esforços, desafios, dificuldades e gastos que tive durante esses anos todos e que ainda terei por muito tempo — já que um Project Cars de verdade nunca fica pronto. Sempre temos algo a melhorar, atualizar ou simplesmente desmontar tudo e começar de novo.
Inicialmente, a ideia era fazer um CJ-5 confiável, mas esse plano de mantê-lo apenas no plano da confiabilidade durou pouco, muito pouco. Logo eu já estava pensando um seis-cilindros turbo, freios que mais parecem âncoras, direção hidráulica e ar condicionado.
Por azar (ou sorte) dinheiro é algo que nem sempre temos disponível e muito menos na quantidade necessária e, como sabemos, um carro antigo e modificado gasta muito, muito, dinheiro.
Pois bem, nesse segundo post eu iria começar contando alguma modificação, mas vou deixar essa parte para o próximo “capitulo”, já que esse pequeno período entre o primeiro post e essa minha 5ª tentativa de fazer esse texto aconteceram algumas coisinhas que demonstram muito bem o que é ter um carro antigo, usá-lo no dia-a-dia e ser o mesmo carro “pra brincar”.
Pois bem, esse tumultuado período começou no dia 9 de julho, quando devido à Copa do Mundo, minha universidade entrou em férias por mais de um mês e, com bastante tempo livre, comecei a rodar muito com o jipão. Qualquer ida à padaria era motivo pra assustar os vizinhos com o seis-cilindros borbulhante.
Até que em um belo dia chuvoso (para um jeepeiro, dia bom é com aquele “pé d’água e muita lama”), saí para uma volta em algumas estradas rurais lamacentas. Existe, porém, um ditado sobre as trilhas: se saem “X” Jeeps pra trilha, pelo menos metade vai quebrar.
E esse ditado é real, não porque o Jeep em si é ruim, mas porque estamos falando de carros com bastante idade — o meu, por exemplo, vai fazer 49 anos — e que são geralmente muito abusados. Além disso carro antigo “tem alma”, é manhoso. E foi esse meu caso.
Lá estava eu brincando tranquilamente, passando algumas poças, subindo alguns morros quando o CJ-5 resolve “morrer” do nada, sem dar sinal algum. Foi simplesmente assim (em uma narração tosca): “VRUUUUUUUUUUUUUUUUUMMMMMMM – pluf”. E morreu.
Para não fugir à regra, quem disse que ele funcionaria? Pra ajudar, lembram qual é a condição climática preferida do jipeiro? Estava caindo uma chuva danada e, pra melhorar mais um pouco a situação, ele encalhou no meio de uma poça gigante de lama que cobria metade das rodas (e consequentemente metade das minhas pernas).
Foram várias horas tentando fazer o velho guerreiro voltar à vida — borrifei WD40 no carburador, testei cada cabo de vela, fiz tudo o que consegui lembrar, e… nada. Até que resolvi desencanar, montei tudo que tinha desmontado, limpei novamente, sequei, fechei o capô, deitei no banco e aproveitei para “pensar na vida”, com um belo aroma de natureza, misturado com o óleo e gasolina, junto com o barulho da chuva. Até que comecei a pensar em toda minha trajetória com o Jeep, quando era criança e admirava o ronco, o cheiro de óleo. Rolou até uma conversinha, tipo o que ocorre em “60 segundos”, entre Memphis Raines e Eleanor.
Até que, após o “bate-papo”, resolvi tentar a ignição, e… não é que ele ligou? Foram alguns “pipocos”, umas tremidas, fumaça preta (de gasolina) e tudo ficou novo de novo! Motor funcionando, era hora de voltar à brincadeira.
Mas a alegria durou pouco. Ao sair da trilha, resolvi tirar mais uma foto de despedida. Consegui o retrato desejado, mas quem disse que o Jeep quis ir embora? Nem sinal do motor de arranque. Nada que uma moderna ferramenta (uma marreta), não pudesse resolver. Depois de algumas pancadas, mais uma transferência de energia entre duas baterias — a minha, uma de 90Ah e de um Fiesta antigo, 60Ah, de um nobre desconhecido que parou pra me ajudar (o único em quatro horas de espera) — eu finalmente consegui chegar em casa.
A bendita foto é essa:
Nada como uma boa noite de sono, pra acalmar, não é? Pois bem, no outro dia, logo cedo, quando fui sair, mais uma “surpresinha”: a partida pegou de primeira, sem demora nem rateio, bom sinal. Mas minha alegria durou pouco. Uns 20 segundos para ser exato.
Após a partida, fui manobrá-lo, quando a cabine começou a encher de fumaça e o Jeep morreu novamente. Saí correndo do Jeep e fui meio assustado abrir o capô. Foi quando vi “uma luz acessa” dentro do motor e, ao levantar o pesado capô, as chamas se ergueram!
Meu Jeep estava pegando fogo! Só que o destino, desta vez, não contava com minha astúcia! Pulei dentro do carro e, milagrosamente, consegui apagar todo o fogo apenas com o extintor de 1 kg.
Para minha surpresa esse fato resultou em uma comoção geral na minha família. Quando achei que seria crucificado, e que todos iriam me obrigar a me desfazer do meu companheiro, tive a maior surpresa: todos me apoiaram! Isso também proporcionou algo inédito em minha convivência com o Jeep: ele andou de plataforma pela primeira vez. Sério.
Por incrível que pareça, graças a enorme competência do meu mecânico, que trabalhou no final de semana, meu Jeep ficou pronto em apenas três dias, chegando na oficina (MCR 4×4, em Maringá) na sexta-feira à tarde e ficando pronto na terça-feira, pela manhã.
Não tive grandes prejuízos, o fogo consumiu fiação elétrica, cabos de velas, linhas de combustível, velas, filtro de ar e combustível, e bateria. Mas agora fica a grande pergunta: o que ocasionou o fogo? Uma trinca em um bendito suporte do carburador que custa R$ 100 e jorrou gasolina no distribuidor. Meu carro quase virou um show pirotécnico.
Passado o susto e arrumado o Jeep, hora de curtir o resto das férias, certo? Sim, por uma semana.
O cabo da embreagem estourou e o jipão me deixou na deixou na mão pela terceira vez em 10 dias. Cabo novo, hora de aproveitar, né? Por dois dias, quando a coluna de direção quebrou seu suporte. Mais um tempinho parado.
Agora, finalmente, hora de curtir o tempo livre a bordo de um conversível, seis-cilindros com câmbio manual.
Uma semana depois a embreagem, que tinha facilmente mais de 20 anos, resolveu acabar.
Depois dessa saga resolvi encostar o Jeep uns dias, até recuperar o fôlego ($$). Essas são as fotos atuais dele ganhando uma embreagem novinha, mais alguns acessórios:
Bom pessoal, esse foi apenas um relato sobre como é a convivência diária com um carro de quase 50 anos, que pode ser extremamente confiável por mais de vinte anos sem nunca te deixar na mão, mas também pode, de uma hora para outra, te deixar na mão todo dia.
Sinceramente, é isso que é apaixonante nesses carros, aquela voltinha quando o carro fica pronto nos faz esquecer cada “pedra no caminho”. Não importa o tamanho do desafio, temos que estar sempre prontos para superá-lo! Até a próxima, pessoal.
Por William Filho, Project Cars #141