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Project Cars Project Cars #147

Project Cars #147: uma restauração com pegada racer clássica para meu Fusca 2.300 1961

Olá, pessoal! Meu nome é Plautos, sou de Curitiba e irei contar o restomod do meu Fusca 1961 2.300. Para começar gostaria de contar um pouco da historia do inicio do meu interesse por essa baratinha. Desde pequeno o Fusca sempre me chamou a atenção pelo desenho dos para-lamas e no único que havia entrado quando era um meninote achei estranhíssimo os bancos com molas e a alça do painel. Mas tudo bem, era criança, tudo novidade…

Em 2002, voltando do trabalho, passei em frente a uma funilaria e vi um Fusca 1972 à venda. Meio que no impulso comprei o carro… não sabia o que estava comprando… achei o preço bom e o arrematei… quase me matei na primeira curva, pois na época nunca havia conduzido um carro antigo e não tinha noção do que ele era capaz ou não. Tudo para mim era uma surpresa, desde a folga no volante, os freios a tambor duros e ineficientes, os malditos bancos de molas, os faróis que não iluminavam nada, o limpador que de repente parava de funcionar, a água que entrava pela porta mesmo com a borracha estando boa, o cheiro de gasolina e entre outras emoções que só um Fusca pode proporcionar ao seu dono.

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Rodei com o carro durante um ano… foi no Fusca que eu realmente aprendi a dirigir… e também aprendi que não podia usar o cinto de segurança pois quando o acelerador travava eu precisaria o puxar com a mão. Aprendi a me virar com o retrovisor vibrando, folgas e barulhos diversos, aprendi sobre mecânica, platinados, escova, dínamo… que o Fusca não pode andar sem a correia do alternador ou dínamo, ou o óleo ferve e a bateria descarrega. Aprendi que a luz do alternador tem que estar apagada para não ficar na rua sem bateria! Também aprendi que a carroceria tem que estar aparafusada no chassis ou coisas ruins podem acontecer.

Depois de todas essas experiências felizes… vendi o carro. Não me arrependo… passei por muitas aventuras que não precisava passar.

Uma vez conversando com amigos sobre Fuscas bateu uma saudade do meu, então comecei a pesquisar sobre as baratinhas e decidi que queria um mais antigo. Pesquisa aqui, fuça lá… foi então que comprei um Fusca 1961 no final de 2007 pelo Mercado Live e apenas por fotos. Estava procurando um modelo ainda mais antigo, aqueles com janela oval, mas infelizmente os valores não batiam com o que eu estava disposto a pagar. Na época por esse exemplar, paguei um preço honesto, o carro era descrito como todo original e realmente era bem próximo disso. Minha única decepção foi com a cor.

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Pelas fotos o carro parecia ser realmente branco, quando o vi pessoalmente era um branco encardido com interior encardido, depois descobri que se chamava Branco Pérola com interior Havana, meio caramelo.

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O carro veio de Londrina/PR para Curitiba/PR por transportadora, e me foi entregue em um pátio a uns 20km de onde moro. Foi lá que a aventura começou.

Não fiquei surpreso que o carro tivesse funcionado, pois foi uma das características descritas pelo vendedor. Logo em seguida caí na estrada… Foi na estrada que percebi certa dificuldade para passar dos 40km/h. O carro começou a falhar a pipocar e por alguns quilômetros não conseguia me manter na rodovia. Depois de vários estouros e pipocos, o carro começou a desenvolver e depois de longos segundos consegui atingir os fantásticos 110km/h. Mas a emoção veio na hora de frear — quando percebi que o fato do carro funcionar não significa que ele conseguiria parar. Ele devia estar parado há muito tempo, os cilindros escravos estavam travados, apenas um de uma roda dianteira e outro de uma roda traseira funcionavam, mas não do jeito que deveriam, então quando pisava no freio o carro queria fazer um X. Mas, encurtando a história, cheguei em casa são e salvo.

Minha ideia inicial era manter a originalidade, mas comigo pensei… Fusca original é Fusca de vovô… então vou fazer do meu jeito. Até então meu jeito seria um motor mais agressivo, mas como não estava satisfeito com a cor o projeto começou a seguir outro rumo.

O levei na oficina de funilaria de um amigo, onde desmontamos o carro por inteiro, removemos a pintura e começamos a pensar qual caminho o projeto deveria seguir. Depois de muito pensar acabei escolhendo pela cor Azul Caiçara, também havia decidido que o interior do carro haveria o mínimo de tapeçaria e o exterior deveria ostentar todos os detalhes originais.

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Durante a desmontagem e a raspagem foram descobertos diversos pontos que precisariam de atenção, pontos já mal reformados, algumas batidas que o carro teve ao longo do tempo e o mais triste… dois dos para-lamas estavam “contaminados” demais por ferrugem… então por mais que eles fossem recuperados, não haveria garantia de que o trabalho fosse durar por muito tempo, resumindo, tive que trocar os quatro para-lamas por versões paralelas.

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Seguindo a ideia de que o interior seria pintado e exposto, o acabamento da funilaria e a própria pintura, deveriam ter a mesma atenção dada ao exterior do veiculo.

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Um detalhe que acrescentei durante a evolução do projeto foi o teto Rag Top e as bananinhas. Achei um kit original do teto no E-Bay a as bananinhas no Mercado Livre. As bananinhas apesar de não serem originais do numero de chassis do meu carro, elas ainda saíram em 1961… foi uma desculpa para mim mesmo para fazer essa alteração.

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O motor original era um peso de papel. O bloco estava em péssimas condições então o descartei. Montei a partir do zero um 2.300 com bloco Auto Linea, pistões Mahle de 94mm, cabeçotes com válvulas de admissão de 44mm e escape de 37mm, comando Engle Fk-89 e com dupla carburação Empi 48. O virabrequim de 81mm de curso tem colo Chevy, utilizei polia de alumínio com uma luva de aço para poder usar retentor na carcaça e o volante foi aliviado.

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O sistema de lubrificação durante um tempo foi de cárter seco, bomba Schadek e um reservatório dentro do carro. Mas devido dificuldade de manter pressão na linha e pelo fato do reservatório de óleo esquentar o interior da cabine, optei por desmontar o sistema e utilizar a bomba apenas como circuladora para passar pelo radiador de óleo.

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Durante o andar da carruagem usei dois sistemas de escape, o primeiro utilizando tubos de 1” ¼ e o outro utilizando tubos de 1” 5/8. O primeiro foi feito na inexperiência, ficou bonito, mas restritivo para o motor. Já o segundo conseguiu liberar giro e consequentemente alguns cavalos amarrados, mas mesmo assim ficou a desejar. A saída do sistema que insisto em manter com características originais ainda é restritiva… está assim por enquanto.

Também montei uma caixa de câmbio com relação escalonada da Cavalo de Troia, diferencial curto e blocante da Kaiser. O trambulador é Empi, os encaixes são bem justos e eu particularmente adoro o ronco da caixa de câmbio com dentes retos.

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Decidi usar pneus Cooper Cobra 215/60 r15, montado nas rodas de ferro da Rodabras 5×205 6”, sendo que duas são invertidas para dar diferença de offset na traseira, mantive os eixos mais estreitos na traseira para conservar essa característica original.

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Sobre os freios, inicialmente montei pinças Wilwood na dianteira com discos da Fremax Tuning do Astra GSI e na traseira pinças simples com acionamento de freio de mão e discos dianteiros sólidos do próprio Fusca mas adaptados, porém na prática não deu muito certo… quando acionava os freios a frente esfregava e o carro não parava… assim sendo, montei o mesmo esquema de freios da dianteira na traseira e agora sim o carro consegue frear, por outro lado, perdi o freio de mão.

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Particularmente, acho que essa parte dos freios foi a mais complexa do carro. Pois como quis manter a furação 5×205, tive que fabricar cubos e flanges robustas, esteticamente não ficaram bonitas e também não ficaram leves, mas ficaram muito funcionais e seguras… consegui o visual que queria garantindo a funcionalidade e estabilidade da adaptação.

Quanto à suspensão, queria experimentar o sistema coil over, tanto na dianteira quanto na traseira, então a solução foi montar catracas na suspensão dianteira, onde as molas ficam em carga zero e o peso do carro fica apoiado no coil over. O mesmo principio foi feito na traseira. Andando com o carro, digo que o trabalho não condiz com o resultado… se eu tivesse a escolha de fazer isso mais uma vez não faria, incomodou muito para montar e não fiquei satisfeito com o resultado.

Outro componente trocado na suspensão foram as barras estabilizadoras pelas da Empi, tanto na dianteira quanto na traseira… posso dizer que são bem rígidas e ajudaram a travar o conjunto mas também estão ajudando as portas do carro a abrir quando não devem. Toda a torção que a suspensão deveria ter e agora não tem, mais o furo que tem no teto por causa da Rag Top, diminuiram a rigidez da carroceria — o que faz as portas destravarem em certos momentos. Tenho que ficar meio atento a elas.

Montei também o compensador de cambagem da Empi, mas digo que é uma asneira… só a barra estabilizadora traria o resultado esperado, se aquilo fosse feito para funcionar, ele deveria ser muito mais rígido do que realmente é. Consegui melhores resultados melhorando a fixação da caixa de câmbio no chassi. Então a torção é praticamente nula.

Sobre os instrumentos, montei um velocímetro e conta giros Autometers customizados com a aparência original de época e no porta luvas montei outros instrumentos de monitoramento.

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Confesso que desmontar, redesenhar e montar os autometers foi complicado. Na época a única solução que nos veio na cabeça foi imprimir um novo fundo e colar sobre o fundo original, mas hoje as gravações a laser estão bem precisas e limpas, então acho que esses instrumentos merecem uma nova atenção. O interior do carro, conforme dito, ficou mínimo, somente com os dois bancos concha, cintos de quatro pontos, pedaleiras, alavanca de câmbio e volante! Simples e funcional.

Para montar esses bancos concha, removi os trilhos originais dos assoalhos e utilizei trilhos genéricos em novas estruturas soldadas no assoalho. Nessas mesmas estruturas estão ficados os cintos. Não é o certo, mas estão funcionando momentaneamente.

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Se fosse alterar algo do interior, eu trocaria os bancos, montaria um par mais discreto.

Infelizmente não uso o carro com frequência, para falar a verdade quase nunca, pois quando saio não é sempre que ele me traz de volta para casa. O deixo alegrando a garagem com seu brilho e cor alegre. Com a evolução que teve os Track Days, acabei me empenhando em outros projetos que logo mais vou mostrar aqui no FlatOut. Até a próxima.

Por Plautos Lins, Project Cars #147

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Uma mensagem da equipe do FlatOut!

Plautos, queremos parabenizá-lo pela conclusão desta restauração. Um projeto com esse nível de atenção aos detalhes, qualidade de montagem e preparação e, principalmente desempenho, é o sonho de todo gearhead que começa a trabalhar em um carro para chamar de seu e acelerar por diversão. Mais uma vez, parabéns pela conclusão.