Olá, gearheads! Retorno a esse espaço para contar a segunda parte da minha jornada com o VW SP2. Estão preparados para conhecer as novas aventuras e desafios da restauração deste amado esportivo brasileiro? Aos leitores que estão conhecendo o meu ProjectCar agora, fica o convite para conhecer a primeira parte desta história, clicando aqui.
A nova rotina do dionísio
No final do post anterior eu avisei a vocês que consegui comprar um carro para o meu dia-a-dia. Naquela ocasião adquiri um Hyundai Accent 1999/2000 de pouquíssima importação para o Brasil e único dono. Como o dinheiro era curto para adquirir outro carro (mas dessa vez voltado para o uso diário), preferi um importado em face da rápida desvalorização e nunca me arrependi da escolha, pois o carrinho jamais me deixou na mão e está na família até os dias atuais.
Como dito, a história do Dionísio é cercada de altos e baixos e desde o início da nossa relação essa premissa sempre perdurou. Contudo, nesse momento da história, este gaúcho passou a reviver um pouco de seus momentos de glamour do passado. Agora ele era um carro de “desfile”, só saía de casa para se mostrar!
Afinal, eu consegui comprar um carro para usar no meu cotidiano, realizando mais essa etapa na vida de um gearhead: ter um carro e distração para o final de semana e outro para “ralar” no dia-a-dia. As preocupações com arranhões e amassados em portas em razão de estacionar em em locais de grande movimento deixaram de ser um problema.
Assim sendo, o Dionísio passou a sair da garagem somente em dias e ocasiões especiais. Todavia, como já falei, eu entendo que “carro foi feito para rodar”, então pelo menos uma vez por semana eu dava uma boa volta com ele. Quando o tempo era escasso, pelo menos uma volta no domingo era uma obrigação que tinha com meu querido carro.
Como o motor do bichão era novo, não tinha medo de encarar viagens de 400km…500km…700km em um único dia, pelo contrário! Ao colocar o carro na estrada sempre se fez presente a sensação de que o carro estava agradecendo pela “amaciada” no motor. Então, o Dionísio passou a ser uma figura carimbada nos encontros automotivos na região da Mogiana e em algumas voltas noturnas pela cidade.
O significado do antigomobilismo
Ao longo dos anos que passei a integrar grupos voltados para a cultura antigomobilista, eu descobri uma coisa: O carro é uma mera desculpa!
Sim! Se tem um ponto positivo que sempre destaco em ser um antigomobilista, são as amizades que esse meio me proporcionou. Não posso citar nomes, pois são muitas pessoas e posso acabar deixando de prestigiar alguém, mas hoje tenho muitas amizades sinceras e saudáveis graças a esse hobby.
As amizades ocasionadas pelo antigomobilismo ultrapassam quaisquer barreiras, posso afirmar que tenho amigos em várias partes do mundo por causa do VW SP2, e isso não tem preço!
Eu acho que o sentido da palavra “família” resume muito bem o que sinto pelo antigomobilismo, pois ela é formada por pessoas das mais diferentes tribos e gostos. Muita embora eu tenha afinidade com a “escola clássica”, tenho diversos amigos que gostam de carros modificados, superesportivos, preparados para arrancadas, hots, rats, e outros… Independente da escola preferida, o gosto em comum por automóveis conseguiu me unir às mais diversas e animadas turmas possíveis.
Atualmente, quando falo para as pessoas que irei participar de um encontro ou da reunião de algum clube, a última coisa que penso é no carro… O antigomobilismo me apresentou uma família da qual jamais quero deixar de fazer parte.
É claro que o carro não é tão segundo plano assim! Mas é muito bom ver o respeito entre todos apaixonados pela combinação “graxa + gasolina”. Como sou uma pessoa em busca constante por novos conhecimentos automotivos, agradeço a paciência e atenção que todos os amigos me proporcionaram e proporcionam em cada oportunidade em que nos encontramos.
Então fica aqui meu recado para quem está entrando nesse meio agora: Pouco importa se você gosta de carro original ou modificado, que custe uma fortuna ou uma merreca (ou você nem tenha um carro!), que o som dele ocupe todo o porta malas ou você prefira um toca fitas original, saiba que qualquer verdadeiro amante dos automóveis irá recebê-lo de braços abertos! Não tenha medo de entrar naquela “rodinha” se apresentar e passar a fazer parte dela…
Eu sempre fui um dos caçulas nos meios em que participo e isso jamais atrapalhou qualquer coisa. Sempre conheci alguém paciente em me ensinar algo a mais… Sempre consegui fazer verdadeiras amizades com pessoas que tem o dobro e o triplo da minha idade e/ou experiência.
Portanto, diante dos meus quase 10 anos de efetiva atividade antigomobilista posso afirmar tranquilamente que o maior fruto que colhi foram meus amigos, até porque essa lista aumenta cada vez mais a cada encontro/reunião que tenho a oportunidade de aparecer.
Os benefícios da internet
No post anterior fiz um alerta sobre um fato que muito me incomoda: a banalização no preço de peças e autos antigos em face de pessoas má intencionadas com pouco conhecimento técnico que divulgam seus produtos de qualidade duvidosa, inflacionando no preço das mercadorias de boa qualidade.
Agora, gostaria de enfatizar um ponto positivo que a era cibernética trouxe à todos, ou seja, quero falar um pouco da facilitação na troca de informações e experiências entre as pessoas ocasionado pela internet.
Mais precisamente no ano de 2011, o Orkut ajudou a dar uma guinada na rotina dos brasileiros apaixonados por carros. Nessa saudosa rede social existiam algumas comunidades (nacionais e internacionais) sobre o VW SP2 representando uma importante ferramenta de aproximação entre diversos proprietários do mundo todo.
Uma crítica importante que gostaria de fazer é sobre o amadorismo da indústria brasileira com seu acervo histórico. Diferentemente do que acontece em outros lugares do mundo (em especial nos países desenvolvidos) no qual as fabricantes possuem o histórico arquivado de toda a sua produção, no Brasil a história é completamente diferente!!!
Pode-se afirmar, em especial ao VW SP2, que os principais dados que possuímos é graças ao esforço individual de certos entusiastas que “tiraram leite de pedra” em busca de informações técnicas e precisas… E nisso a internet (e o Orkut) se mostraram ferramentas eficientes para a divulgação maciça, ajudando a todos a conhecer melhor a história deste automóvel.
Na onda do Orkut, além da troca de informações técnicas e de experiência de vida, um movimento que começou a ganhar forças na rede foi justamente a tentativa de identificação e cadastramento de automóveis antigos (conforme nosso amigo do PC# 124 está fazendo com o Santa Matilde). Afinal de contas, em quantos nós somos? Quantos carrinhos sobreviveram aos seus 30…40…50 anos de estrada e poeira?
Nesta toada, um carioca chamado André Luis decidiu criar um tópico em uma comunidade do VW SP2 justamente para tentar desvendar o número de proprietários e unidades de VW SP2s existentes e espalhados pelo mundo (independentemente de estar rodando ou em processo de restauração). Alguns minutos após a abertura deste post eu já respondi prontamente me apresentado e colocando alguns dados do Dionísio (tais como ano, cor e número do chassi), e a listagem começou a ganhar coro…
Após o início deste movimento eu e o André acabamos nos aproximando e nos tornamos grandes amigos virtuais. Contudo, não foi somente com ele que a amizade ganhou força, em conjunto com os outros sujeitos que responderam esta chamada, acabamos montando um grupo de e-mails em busca de outros carros… A situação começou a se tornar emocionante e a cada nova descoberta de proprietário/automóvel uma alegria.
Contudo, passado um certo tempo o número de cadastrados estava estagnando na casa dos 40 proprietários. Aí entrou em cena novamente o Tiago Songa (que eu já citei no meu primeiro post). Certamente comovido com nossa boa intenção ele decidiu nos ajudar e deu mais profissionalismo ao negócio.
Para quem está questionando como ele fez isso, é simples: O Songa usou de seu enorme banco de e-mails de antigomobilista e suas noções de marketing para divulgar nossa proposta de uma maneira atrativa e eficaz, criando inclusive um banner para tornar viral a nossa busca.
Com essas ferramentas em mãos, em poucos dias já tínhamos cadastrados mais de 250 automóveis.
Essa lista continua crescendo constantemente, nos dando maior exatidão de quantos sobreviventes existem. Se você tem um SP2 ou conhece alguém que tenha e não está nesta lista, faça seu cadastro aqui.
O 1º ENCONTRO MUNDIAL DE VW SP2
Na troca de e-mails entre os apaixonados pelo VW SP2, além da disseminação de informações técnicas e dicas de restauração, foi iniciado um movimento para a realização de um encontro exclusivo do modelo. Afinal de contas, todos queriam se conhecer e compartilhar pessoalmente o gosto em comum
Dicas…palpites…sugestões… e muito blá blá blá e nada de concreto. Utilizando a premissa de que todos tinham um desejo em comum, mas não tinha o conhecimento prático para organizar um evento, o Songa abraçou a causa e montou o “Primeiro Encontro Mundial de VW SP2” na acolhedora cidade de Barra Bonita/SP.
A cidade foi estrategicamente escolhida, pois além de ser uma estância turística (com várias opções de restaurante e hotéis), possui um pavilhão fechado e uma pista de kart pública e o principal, a cidade encontra-se na região central entre todos os interessados na organização do evento.
Diante disso, aproveitamos os meios que dispúnhamos no momento para tentar fazer o máximo de divulgação possível e já antecipo para vocês, o encontro foi maravilhoso!
Ah… e porque você falou que o evento era mundial? Não é muito exagero? Resposta, não! Vendo o empenho e comprometimento do Songa para organizar um evento com uma programação brilhante, fiquei inquieto e queria ajudar de alguma maneira, mas não sabia como.
Então, decidi procurar na internet todos os sites e blogs sobre o SP2 e outros esportivos nacionais e encaminhei um email aos seus responsáveis realizando o convite e fazendo um apelo para que divulgasse o evento.
O retorno foi extremamente positivo e muitos divulgaram o banner do evento em seus canais virtuais, mas a maior surpresa veio da SUÍÇA… Existe um site extremamente rico em informações sobre o VW SP2 que é o “http://www.vwsp2.ch”, a princípio eu imaginei que o site era chileno (induzido ao erro pelas iniciais “ch”) e encaminhei um email em espanhol para seu responsável, eis que recebo a resposta numa bela manhã de domingo de um suíço chamado Beat Baher querendo maiores informações sobre o evento.
Depois de ficar catatônico por alguns minutos, respondi a ele e começamos a trocar alguns e-mails. Aí vem a parte mais legal da história, pois o cara ficou louco para vir para o Brasil, mas ele só fala Alemão e um pouco de inglês e, para piorar, a valor das passagens de última hora não eram nada convidativos.
Morrendo de vontade de viajar, mas sem condições financeiras para arcar com toda viagem, eis que sua namorada lhe deu de presente de Natal a passagem aérea para o Brasil (afinal, ele iria realizar um sonho e ela queria fazer parte disso!), e, aos leitores apaixonados, eu conto com prazer que posteriormente ele não perdeu a oportunidade de casar com essa maravilhosa mulher!
Passagens compradas, faltava somente organizar o cronograma da viagem… Contudo, o Beat não falava nem uma palavra em português, mas isso não foi um problema, pois após a confirmação de sua viagem, coube ao meu grande amigo Cesar Manzione (que está contando sobre a restauração de seu VW SP2 neste blog) ser o melhor anfitrião possível.
Data confirmada, cronograma do evento divulgado…A ansiedade já estava batendo, garanti logo meu kit de inscrição e aguardava pela data do evento. Nesta altura, já existiam pessoas de Brasília, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraíba, Rio Grande do Sul, São Paulo, Santa Catarina e Paraná, Suíça com presença confirmada além da ilustre presença dos projetistas do carro, Márcio Piancastelli e o Jota (José Vicente Novita Martins).
Assim sendo, além do 1º Encontro Mundial de VW SP2 representar um recorde de automóveis/proprietários aglomerados no mesmo local, todos tiveram a oportunidade de conhecer seus criadores.
A PARTICIPAÇÃO DO DIONÍSIO NO ENCONTRO DE VW SP2
Agora uma pequena pausa na história sobre os preparativos do 1º Encontro para contar da minha odisseia pessoal.
Após adquirir o Dionísio me tornei sócio do “Clube do Automóvel Antigo de Franca”, local em que consegui conquistar amigos sensacionais. Entre todos os queridos, criei uma grande amizade e carinho pelo Seu Roberto (aquele mesmo que citei no post 1 que tinha um VW SP2 que eu tentei por algumas vezes comprar sem sucesso).
Após me tornar sócio, passei a integrar o animado comboio do “Clube do Automóvel Antigo de Franca” que viaja com grande frequência nos finais de semana em busca de encontros de carros antigos na região.
O Seu Roberto é uma figura carimbada nesse meio (certamente muitos leitores devem conhecer essa peça rara), e por muitas vezes nós viajamos juntos para eventos relacionados com carros antigos. Então, se tornou comum ver os nossos carros “lado a lado” nos encontros da região.
Um fato curioso desse senhor é que ele sempre utilizou seus carros antigos para locomoção diária e o VW SP2 era seu carro predileto. Então, ver seu VW SP2 branco parado em algum lugar em Franca se tornou algo extremamente comum e saudosista.
A paixão do Seu Roberto é tão grande pelo antigomobilismo que não é raro alguém contar história de vezes em que ele viajou sozinho para algum canto, com a única finalidade de passear com seus brinquedos.
Quando comentei com ele sobre o Encontro Mundial de VW SP2 que ia acontecer, o velhinho ficou maluco, mas logo em seguida silenciou-se. Percebi que tinha algo errado: como ele já passou de suas 75 primaveras, sua saúde não é das melhores. A visão do Seu Roberto já estava muito ruim e ele começou a se restringir para viagens mais longas que exigissem um maior desgaste físico.
Tomado pelo carinho especial que tenho por ele, fiquei pensando em uma forma de ajudá-lo, e tive um plano! Conversei com meu pai e convidei ele para ir dirigindo meu carro para o evento (sim, sou ciumento e não deixo qualquer um dirigir o Dionísio, mas o meu velho tem credibilidade), ele topou o convite na hora.
Como o Dionísio já tinha arrumado um jeito de comparecer ao evento, chegou a vez de ajudar o Seu Roberto a levar o seu bólido branco. Diante disso me ofereci para dirigir o seu carro, quando fiz essa oferta vocês não imaginam a alegria dele ao perceber que iria participar do encontro!
Carros limpos e revisados, horário, ponto de partida e itinerário definidos, hora de colocar o pé na estrada.
A viagem foi sensacional, os dois VW SP2 trocando posições na rodovia e chamando atenção dos outros navegantes.
Na primeira parada (próximo à Araraquara) uma grata surpresa. De repente chegou um VW SP2 vermelho e parou ali conosco, era um sujeito animadíssimo que estava vindo rodando de Brasília chamado Paulo Mostardeiro e sua adorável companheira Maria Cristina.
Mesmo não nos conhecendo, quando ele desceu do carro, compartilhamos um longo abraço. Minutos depois parou um carro novo e o sujeito já desceu do carro tirando fotos, era mais um proprietário rumo a Barra Bonita.
O restante da viagem foi mais gostoso ainda, com os 3 carrinhos trocando de posição, seguido por um carro de apoio que passou a registrar as fotos do restante da jornada, inclusive registrando nossa chegada no pórtico da cidade.
Chegando em Barra Bonita o coração começou a disparar e ao encostar o carro no pavilhão de exposição e ver aquele monte de gente e carros não aguentei, o olho encheu de lágrimas.
No final das contas nós conseguimos juntas mais de 34 VW SP2s e mais de 60 proprietários que somente não levaram suas preciosidades, porque estavam aguardando a conclusão do processo de restauração que é longo e tortuoso para todos.
O pavilhão ficou sensacional, com todos aqueles carros coloridos espalhados em todo o espaço.
Muitos abraços, conversa agradável e cerveja gelada, poderia ficar melhor? Sim! Oras, todos estavam esperando ansiosamente a chegada dos projetistas que era esperada para o período da noite, quando estivesse ocorrendo o coquetel do evento.
Eu fui um sortudo, tive a sorte de estar hospedado no mesmo hotel que os caras e conheci o Márcio Piancastelli antes que a maioria, pois coincidentemente cruzei com ele no hall do hotel quando ele estava fazendo check in… Fiquei emocionado e dei um grande abraço no gênio.
Vocês imaginam como foi agitada a noite. Presença dos projetistas do carro, vários exemplares e muitos proprietários e admiradores reunidos do mesmo ambiente.
Desde a chegada no pavilhão os projetistas se tornaram as estrelas da festa e foram cercados por todos. No início se assustaram um pouco com a euforia, mas foram extremamente solícitos com todos os presentes e mantiveram o sorriso em todas as fotos e pedidos de autógrafos solicitados.
Não perdi a oportunidade para que meu carro também fosse assinado e também pedi para que o Jotta tirasse uma foto do lado do Dionísio.
Ah… as alegrias da noite ainda não tinham se encerrado para a minha pessoa. Em dado momento descobrimos que o Márcio havia levado alguns desenhos (inclusive originais de época) de suas principais obras automobilistas e eles precisava de um lugar para expô-las. Prontamente, ofereci o Dionísio, que se passou a ser o carro mais fotografado do evento.
Os desenhos e as informações sobre o VW SP2 que o Márcio Piancastelli disponibilizou impressionou todos os presentes.
Como todos sabiam antecipadamente da ocorrência do coquetel (que estava previsto na programação do evento), aproveitei a oportunidade para entregar quatro placas de agradecimento que havia feito para registrar o momento. Assim sendo, entreguei, uma para o Márcio e outra para o Jota em razão das contribuições para toda sociedade (lembrando que o design do VW SP2 é objeto de estudo até os dias atuais pela sua singularidade e beleza) e para o Songa e o André por tonar possível tudo aquilo.
É claro que os presentes se juntaram rapidamente para registrar esse agradável momento.
Na manhã seguinte, todos acordados, ambiente alegre e euforia entre os presentes: havia chegado a hora de desfilar no Kartódromo e perfilar os carros para registrar a foto história com os veículos presentes, quebrando o desafio de bater o número de carros da foto do pátio da fábrica.
Logo de manhã o Kartódromo já estava tomado por grande público e enquanto todos os participantes não chegavam, nós aproveitamos para ficar dando voltas no Kartódromo e a sensação foi muito gostosa!
A bandeira do Brasil fixada nos carros causou mais charme ainda ao longo das voltas.
Carros perfilados, chegou o grande momento de registrar o maior número de VW SP2 reunidos no meus local. O céu claro e o sol forte ajudaram a dar mais vida ainda as cores vivas dos nossos carrinhos, o resultado foi esse:
É claro que não poderia faltar o registro dos criadores com suas criaturas.
As fotos ficaram lindas e se tornaram matéria nos principais meios de comunicação do Brasil e em alguns lugares do mundo!
Mais que isso, esse evento representou um marco na vida de todos os presentes e muitas histórias e contos só foram possíveis, graças a esse importante passo.
A fundação do VW SP2 Club
Certamente o momento mais aguardado na noite do coquetel era a chegada dos projetistas Márcio Piancastelli e Jota. Contudo, uma conversa que ficou consolidada entre os presentes foi a necessidade de fundar o primeiro clube internacional voltado para o VW SP2 (para conhecer o site oficial do VW SP2 Club, acesse aqui).
Aproveitando a oportunidade, foi realizada a assembleia geral para a devida constituição do clube, e para minha alegria fui nomeado o “vice-presidente” da primeira chapa responsável em dirigir o clube. Assim sendo, ao longo das festividades noturnas, aproveitamos para informar aos presentes a fundação do “VW SP2 Club – UM CLUBE ÚNICO PARA UM CARRO ÚNICO”!
Participar do 1º Encontro Mundial do VW SP2 e da história da criação de um clube marcaram minha vida para sempre… São momentos inesquecíveis e de difícil expressão em palavras.
A revitalização do Dionísio
Como já citei para vocês, no milênio atual a beleza deixou de ser um sinônimo do Dionísio… os anos deixaram sérias marcas em sua silhueta. Contudo, no evento não existiu qualquer tipo de vaidade e carinhosamente ele se tornou o patinho feio mais simpático de toda aquela festa.
O final do encontro em Barra Bonita me deu um verdadeiro gás para a restauração do Dionísio. Assim sendo, o desejo que eu tinha de lhe devolver seus dias de glória se tornou uma obsessão e comecei a executar o plano para revitalizá-lo.
O primeiro passo (e o mais difícil) seria escolher um funileiro bom e competente. Como os leitores acompanham pelos outros ProjectCars essa é uma escolha extremamente difícil e vital para a sobrevida do seu amado carro e a conclusão satisfatória de seu projeto.
Para evitar problemas, comecei a procurar por uma oficina com procedência de algum conhecido. Achei que seria fácil, mas me enganei! Nenhum amigo meu topou a parada de indicar um bom funileiro (todos tiveram problemas com seus nomeados e não queriam indicar algo que poderia se tornar em dor de cabeça).
Em um belo dia um amigo que estava presente em Barra Bonita disse que em sua cidade (Ourinhos/SP) tinha um excelente profissional que havia trabalhado no seu carro e ele achava que seria uma boa indicação para meu carro.
Troquei alguns e-mails com o sujeito, pedi fotos de outros serviços e decidi encarar a viagem de aproximadamente 400km rodando… Essa seria a última viagem do Dionísio com aquela aparência, eu já estava inclusive sonhando com seu retorno vestido como se estivesse indo para uma festa de debutante.
Conheci a oficina do sujeito, que era simples e pequena (o que era bom, pois não teria espaço para ele encher de carros e ignorar o meu serviço) e o funileiro me prometeu exclusividade por 4 meses, 8h por dia.
Na oportunidade, meu amigo reiterou que seria um bom negócio e garantiu a qualidade do profissional. Assim sendo, acabamos fechando negócio.
Caros leitores, ESSA FOI A PIOR DECISÃO QUE TOMEI NA MINHA VIDA! Pago por isso até os dias atuais.
Cheguei a visitar o carro quatro vezes em oito meses. O serviço não rendia e quando alguma coisa era feita, eu achava extremamente grosseira e de péssima qualidade. De cada uma das minhas viagens para Ourinhos eu retornava frustrado com o resultado do que via. Na verdade, eu não estava nenhum pouco satisfeito com o serviço, pois eu estava percebendo que o sujeito estava usando quilos de massa plástica no carro.
Não posso divulgar o nome do picareta aqui para preservar esse espaço e sua imparcialidade, mas os interessados da região podem fazer contato comigo.
Na minha última visita à oficina percebi que o carro estava agonizando, esse dito funileiro, estava enfiando uma estaca no coração do Dionísio retirando seus últimos suspiros de vida. Aquilo que já estava ruim, estava ficando pior.
Como devem imaginar, eu não suportei mais ver e viver esse drama…. Um belo dia tomei a decisão de tirar o carro (algo que deveria ter feito há tempos), apareci na oficina com a plataforma e retirei meu carro de supetão.
Quando o Dionísio chegou em Franca, resolvi ver a profundidade de massa que o funileiro sujeito estava utilizando… Cuidado, imagens fortes serão apresentadas abaixo:
Por isso fica aqui meu alerta para todos aqueles que vão iniciar uma restauração… Mais doloroso do que uma eventual perda financeira, é o sofrimento emocional e a chance de ver fracassado um projeto (essa é uma triste experiência que suportei e não desejo a nenhum de vocês);
O meu sonho se tornou em um pesadelo e mais grave, quase perdi o Dionísio para sempre. Ele foi parar na UTI e passei a me sentir um péssimo dono por descumprir minha palavra de revitalizá-lo.
Depois que retirei o Dionísio das mãos do carniceiro funileiro profissional, fui obrigado a deixá-lo hibernando na garagem dos meus pais no interior (já que o custo para levá-lo a Sampa seria maior), porque eu acabei sofrendo um rombo financeiro considerável e me deparei com uma situação que escapava completamente às minhas condições.
Confesso para todos que todas as vezes que retornava para a casa do meus pais e o via, eu me entristecia e pensei inúmeras vezes em desistir do projeto. Contudo, eu havia feito um pacto com o carro, jurando que iria devolver toda beleza e glamour que ele teve um dia, mas a realidade com a qual passei a me deparar mostrava cada vez mais a dificuldade em cumprir com essa promessa.
Para diminuir a dor e buscar uma solução, diminui minhas visitas a Franca e passei a trabalhar mais em Sampa para reestabelecer meu caixa financeiro. Continuei participando dos eventos (mesmo sem carro), mas meu ânimo nunca mais foi o mesmo…
Uma surpresa
Em um costumeiro dia de trabalho em São Paulo recebi uma ligação no celular, era o Seu Roberto. Achei estranho e atendi ele no mesmo momento!
Fazia um certo tempo que eu não o via, meus compromissos profissionais estavam me tomando bastante tempo e como andava desanimado pelos desgostos automotivos que aconteceram acabei me afastando um pouco da galera que “batia ponto” nos eventos.
Papo vai… papo vem… Subitamente ele me fala: “Você não quer comprar meu carro?”. Na hora me assustei; afinal, ele sempre criava desculpas para não vendê-lo quando aparecia qualquer tipo de interessado e recuei sobre sua oferta.
Diante da situação em que me encontrava, comecei a justificar meu declínio informando que não tinha a mínima chance (oras, eu não estava com condições de cuidar de um carro, imagina dois!)… Contudo, me criou inquietude os motivos que levaram aquela ligação.
O Seu Roberto foi sucinto, mas deixou clara a sua pretensão, ciente da sua idade avançada e dos problemas de saúde, ele queria ter certeza da preservação de seu legado, por isso me ligou… Depois de explicar os motivos da minha recusa, ele deu um sorriso e respondeu que queria que o carro fosse meu (porque sabia que eu cuidaria dele) e como contra-oferta disse para eu passar na casa dele no final de semana buscar o carro logo e dizer quanto e como eu gostaria de pagá-lo. Resumindo, fizemos um negócio de “pai para filho”.
Foi assim que o Robert (VW SP2 1974 – Branco Lotus) passou a integrar a minha história. Diferentemente do Dionísio, a história de vida do Robert foi bem tranquila e amena, sendo um verdadeiro boêmio na região da alta mogiana.
Um detalhe que sempre me atraiu no Robert é o ano de fabricação na placa dele.
Oriundo de família bem abastada da cidade, o Robert sempre frequentou os melhores lugares na cidade em seus tempos da brilhantina. O seu segundo dono também sabia a jóia que possuía e cuidou muito bem do carrinho. Por fim, o Seu Roberto criou uma verdadeira relação com o automóvel por mais de duas décadas de companheirismo e amizade.
Assim sendo, ciente das altas rodas da sociedade que o Robert acostumou a frequentar, realizei duas promessas ao seu antigo proprietário: Preservar sua história e torna-lo o príncipe da festa de gala.
Como eu já conhecia o carro, pois tivemos nosso primeiro elo na viagem Franca-Barra Bonita-Franca eu sabia o que tinha nas mãos e já naquele final de semana resolvi leva-lo para desfilar no encontro de carro antigo que estava acontecendo da terra da festa do peão, Barretos.
Logo de manhã, quando terminei de dar aquele trato, olhei para ele e percebi que aquela chama e amor pelo VW SP2 ainda estava acessa e poderia voltar a flamejar.
Chegando na cidade de Barretos, reencontrei alguns amigos que tenho por lá (inclusive dois proprietários de VW SP2 que estiveram presentes no encontro em Barra Bonita e fazem parte do clube) e mostrei para eles a nova preciosidade que eu tinha adquirido.
Foi muito bom retornar para aquele ambiente que tanto me alegra, mas cometi um pequeno e ingênuo engano, cai na estrada com um carro sem conhecer realmente o estado de sua mecânica. Por um lapso momentâneo imaginei que conhecia o Robert, mas a realidade era outra e eu jamais deveria tê-lo colocado na estrada forçando o seu funcionamento desconhecendo completamente a sua manutenção.
Como resultado, após rodar mais de 250km em alta performance, retornando para Franca o carro misteriosamente parou de funcionar… No momento fiquei um pouco assustado, mas rapidamente telefonei para um amigo que estava no mesmo encontro que prontamente foi me ajudar (ressaltando mais uma vez a importância das grandes amizades formadas no antigomobilismo).
O diagnóstico da inconsequente brincadeira era o platinado…ufa! Conseguimos arrumar o carro e terminar o percurso com segurança. Agora agindo como uma pessoa prudente e responsável, levei o Robert no meu mecânico de confiança para avaliá-lo e revisar tudo que fosse preciso.
Quando o Furlan me viu chegando em sua oficina ele retornou o olhar com um sorriso no rosto seguido de uma expressão assustada… Ele achou que eu tinha pintado o Dionísio de branco,rs! Desentendimento esclarecido, expliquei sobre minha nova aquisição e pedi para ele dar aquele cuidado em toda mecânica.
Na mesma semana ele me ligou para buscar o carro, o motor estava perfeito e preparado para rodar… Como eu gosto disso!
Alguns meses depois o teste de fogo do Robert, encarar uma viagem até Taubaté, pois o VW SP2 Club havia sido convidado para compor uma ala nobre das festividades pelos 60 anos da Volkswagen do Brasil. Contudo, desta vez o carro estava preparado e eu tinha a companhia da minha namorada para encarar essa jornada.
No roteiro deste passeio, estava incluso uma parada obrigatória em Caçapava para visitar o Museu do Roberto Lee (no qual o Marcelo Belatto desenvolve um nobre trabalho de preservação e recuperação da história automobilística e sou agradecido pela carinho e atenção na recepção) e a noite não poderia faltar uma deliciosa pizza no restaurante do meu amigo Luiz Gustavo.
Chegando na pizzaria do Gustavo, uma grata surpresa, ele havia reservado (junto com a prefeitura) o espaço de frente o seu estabelecimento para estacionarmos os nossos carros.
Ao adentrar na pizzaria uma calorosa recepção. Sem falar que o tratamento VIP e as saborosas pizzas que saíram do forno deixou todo mundo com aquele desejo de “quero mais”.
No dia seguinte, bem cedo fomos para a fábrica, representando o maior número do mesmo modelo presente na festividade e no horário do almoço retorno para casa.
O dia ensolarado mais uma vez aumentou o brilho dos carros criando o seguinte efeito:
Dia maravilhoso, estrada quente e o motor funcionando maravilhosamente até o retorno ao ninho. Logo, o Robert foi aprovado com louvor em seu teste de direção.
Agradecimento ao mestre Márcio Piancastelli
Gostaria de encerrar essa postagem registrando essa pequena homenagem ao Márcio Piancastelli que faleceu no dia 20 de junho.
Para quem não o conhecia, o FlatOut fez uma excelente matéria sobre a sua vida que vocês não podem deixar de ler, é só clicar aqui.
Para quem conheceu ele, sabe da dificuldade em descrevê-lo em poucas palavras em face do ser humano maravilhoso que era. Chamado pelos entusiastas de Pai do SP2 e da Brasília, o Márcio foi um sujeito excepcional, de uma humildade sem igual.
Em certa oportunidade, ele chegou inclusive a abrir as portas de sua casa para receber qualquer um que compartilhasse do mesmo gosto e teve a paciência de conversar com todos, tirar fotos, dar autógrafos, sanar dúvidas sobre o projeto e mostrar as intimidades de seu atelier.
Um fato que deixou muito feliz (e emocionado) foi ver a placa que eu dei de presente à ele logo na entrada de seu atelier.
Na verdade, não foi somente as portas de seu atelier que estavam abertas, nós fomos convidados para participar de seu aniversário e integrar aquele maravilhoso ambiente familiar.
A felicidade do Márcio com a nossa presença estava em seus olhos e a todo momento ele repetia que estava muito contente por ter tantos VW SP2s espalhados em seu jardim, porque curiosamente ele nunca teve um modelo do carro.
Ambiente agradável e regrado sempre a boa música (mais uma paixão do mestre). Fiquei impressionado com o carinho e tratamento, pois me senti um membro de sua família… Conhecê-lo dentro de sua intimidade e fazer parte dela me mostrou que o seu legado não se resumia somente aos projetos singulares que desenvolveu, mas me mostrou que eu estava diante de um ser humano sensacional, mostrando gratidão pela nossa paixão pela VW SP2.
Infelizmente o grande gênio nos deixou e o céu ganhou mais uma estrela!
Então, gostaria de alertar a todos os entusiastas que agora nós temos um dever muito nobre de preservar todo esse legado deixado por essa importante figura do cenário automobilístico nacional. Nesse sentido, deixo o recado aqui para suas filhas, Alessandra e Tatiana, que farei o possível para cuidar e lembrar sempre dos feitos e ensinamentos deixados pelo seu pai. Sinto-me honrado por tê-lo conhecido e por fazer parte da minha história e desse ProjectCar.
Por Fred Martos, Project Cars #151