Estamos de volta com o oitavo capítulo da minha saga com o Kadett. Você leu certo, amigo, esse é o oitavo post! Para quem está chegando agora, ou se você já conhece o projeto mas perdeu o fio da meada, faço questão de registrar abaixo a sequência de todos os acontecimentos:
Post 1 – Project Cars #16: a transformação de um Kadett GL em um carro de trackdays com motor 2.4
Post 2 – Project Cars #16 – o shakedown do Kadett 2.4 e a evolução nos trackdays
Post 3 – Kadett GL 2.4: tempos mais baixos na pista e um acidente com o Project Cars #16
Post 4 – Project Cars #16: os novos upgrades que estavam guardados para meu Kadett GL 2.4
Post 5 – Project Cars #16: dúvidas na escolha da cor e visual do meu Kadett GL 2.4
Post 6 – Project Cars #16: motor refeito, funilaria atrasada e o andamento da restauração do meu Kadett GL 2.4
Post 7 – Project Cars #16: um novo coração e uma nova cor para o meu Kadett 2.4
Foram dois anos de intensa participação nesse fantástico espaço democrático que a equipe do FlatOut criou para o entusiasta comum, aquele cara que, como eu e você, não tira seu sustento necessariamente do automobilismo, mas que tem graxa na unha nos finais de semana.
Durante esse período aqui, contei uma história que começou em 2011, com um despretensioso Kadett GL 1.8…
… que foi transformado em um carro de trackday;
… que tinha um motor considerado improvável;
… que foi usado e abusado até o último parafuso;
… que me trouxe amigos dentro e fora da pista;
… que foi valente por quilômetros a fio;
… que falhou comigo, me deixando na mão por diversas vezes;
… que testou os meus limites e me fez errar;
… que me tomou tempo e dinheiro que eu não posso confessar;
… que precisou de um ponto final.
Poético?! Melancólico?! Talvez.
A questão é que depois da batida em 2014, decidi que esse carro não iria mais para a pista. Só que eu tinha muita coisa guardada para dar uma levantada na performance e também decidi que isso não iria se perder. Foi aí que resolvi mudar o escopo do projeto: ao invés de continuar um carro de trackday, agora o Kadett passaria por uma restauração incrementada, ou como se diz em inglês, o carro se tornaria um restmod.
A ideia era transformar o visual do convencional Kadett GL para a versão GSI, com apelo esportivo. Eu sei, é claro, que o Kadett GSI tem certos acabamentos e opcionais – como teto solar, por exemplo, que dificilmente seriam implantados no meu carro sem um custo proibitivo. E vamos ser sinceros, por mais que eu conseguisse a façanha de fazer uma modificação extremamente fiel, o carro continuaria sendo um Kadett GL – ao menos filosoficamente. O documento de circulação estaria ali para me jogar isso na cara!
Então, para não ofender os puristas, vamos tratar essa restauração como sendo uma homenagem visual. É isso! Um Kadett GL que faz uma homenagem ao Kadett GSI, uma releitura com apelo no refinamento mecânico desse esportivo com origens no velho continente.
Muito trabalho duro envolvido
Depois que peguei o carro na pintura em dezembro/2015, passei os primeiros 4 meses de 2016 montando o carro cuidadosamente. Fiz questão de limpar toda aquela sujeira de pó de funilaria, renovando peças com visual desgastado, trocando parafusos enferrujados por outros novos em folha, enfim, agindo como seu eu estive restaurando o carro.
Não sei se ficou bem claro nas últimas postagens, mas dessa vez, tirando a retífica e a montagem dos internals, todo o trabalho de subir o motor, câmbio, semi-eixos, linha de combustível, chicote e periféricos ficou por minha conta.
Decidi assumir isso como uma oportunidade de aprendizado e também para ter ocasião de conhecer cada parte do carro, além de aplicar um zelo maior no acabamento. Vejam se não ficou bom:
Esse processo também incluiu a reforma dos bancos concha Sparco Sprint V, que antes tinham tecido de veludo azul – cor bem característica da marca. Mas como estavam bem gastos e já com pontos de mofo, resolvi trocar o revestimento por outro da cor preta, com direito a um novo logo bordado e costuras brancas. Ficou fino!
Na mesma toada, mandei trocar o revestimento dos bancos traseiros, que repetiram o mesmo padrão de tecido e design.
E para completar o pacote, troquei eu mesmo o forro do teto, que era original – mas em péssimo estado, por um novo na cor preta. Embora tenha deixado o clima meio “fechado”, achei que combinou mais.
Logicamente, junto com o revival do interior, providenciei uma boa limpeza no carpete, tampões de assoalho novos e uma revisão na elétrica nas máquinas dos vidros e nas travas das portas.
Não poderia deixar de mencionar que instalei o painel digital original do Kadett GSI, adaptando os sensores para a configuração do meu carro. Todos os marcadores funcionam a contento, inclusive o indicador de pressão de óleo no painel, que exigiu a colocação de um sensor no lugar da cebolinha original, que não faz essa leitura.
A cereja do bolo, como eu disse num outro post, ficou por conta do volante Momo Champion, agora devidamente posicionado no lugar, com direito a buzina, um acessório que a versão de trackday não tinha (tudo em nome do alívio de peso, ora!).
Pode parecer um pouco “datado”, um pouco por causa das réplicas xunning que inundaram o mercado e desgastaram o estilo do volante. Mas trata-se de uma peça original e que combina bem com o ano do carro, então, é isso aí mesmo!
Mantive um manômetro de pressão de óleo no lugar onde seria a moldura do rádio, mas estou sinceramente pensando em tirar (já tenho essa informação no painel digital) e pretendo colocar ali um sistema de som básico. Como diz o ditado: “que te viu, quem te vê”.
Na foto acima, ainda podem ser vistos um relógio digital com quartzo verde, típico da linha GM da década de 90. Fiz questão de colocar porque me lembra da minha adolescência aprendendo a dirigir num Monza SL/E que meu pai teve. Não coloquei o computador de bordo do GSI porque ele me lembra outro Monza do meu pai, dessa vez um Classic, cujo mostrador não mostrava nada, porque o quartzo tinha estourado. Momento flasback.
Tem também um mostrador da sonda wideband, modelo ODG Raptor, reposicionado no canto esquerdo do porta-objetos. No setup anterior, ele ficava integrado ao quadro de instrumentos do painel personalizado que eu tinha feito, que na verdade era um grande lixo. E se vocês repararem na foto, vejam que o click ocorreu no momento estequiometricamente perfeito!
Espelhamento
Antes do acidente, eu tinha comprado uma pancada de coisa para fazer o polimento-espelhamento-detalhamento do Kadett, só que os planos mudaram depois do estrago feito.
Se você leu corretamente, deve ter percebido mais uma das minhas habilidades. Isso mesmo, car detail!
Desde a época do saudoso Marea Turbo, eu já tinha uma politriz roto-orbital, linha completa de polidores Meguiars, boinas de todo tipo e toda aquela “coiserada” para deixar o carro brilhando. No meu breve curriculum constam alguns carros de amigos e parentes, e sempre que podia ali estava eu dando um trato nos possantes.
Com o passar do tempo, mudanças de planos me tiraram do foco – inclusive perdi alguns produtos por deterioração em função do tempo longo de armazenamento e falta de utilização, mas não perdi a “mão da coisa”.
De uns meses para cá, comprei alguns itens que faltavam, atualizei alguns produtos e eis-me aqui de volta detalhando o Kadettão.
Devidamente caracterizado
Uma transformação em homenagem ao Kadett GSI não pode ficar só no capô com entradas de ar ou nos parachoques exclusivos. Tem que vir também com os adesivos que identificam a versão. Nesse caso, infelizmente não há mais disponibilidade de decalques originais, então recorri a um fornecedor que vende réplicas perfeitas, basta ver como ficaram nas fotos:
Uma justificativa para essas rodas
Alguém por aí deve estar dando comichão para detonar minhas rodas. É, eu sei. Elas não são as mais bonitas do pedaço, nem combinam tanto com o carro assim. Mas há uma razão.
Bons entendedores já devem ter percebido que essas são as rodas que saíram em algumas BMW série 3 (316i – 323i) e nos Z3 E36 Roadster 1.8/1.9, na Europa.
Segundo esse site aqui, a roda se chama Styling 34, tem aro 15″, tala 7″ e pesa respeitáveis 6kg.
Melhores entendedores também repararam que esse é um modelo de roda muito usado por carros de arrancada no Brasil, principalmente por causa da tala mais larga e do baixo peso. Vejam dois exemplares abaixo, um Gol categoria Turbo-B e um Kadett (que não é o meu, mas parece demaaaais!), com pneus Hoosier.
Minha ideia foi a mesma de todo mundo: tala maior + baixo peso = melhor tração + menor inércia.
Por enquanto é assim que vai ficar. Mas aceito sugestões nos comentários desde que o modelo sugerido atenda aos seguintes requisitos: aro 15″, tala 7″, offset entre acima de 35, baixo peso e orçamento na casa de 2.000 reais.
Ficou difícil né?
E vamos ser sinceros: com esse pneu mais largo, a borda bem definida, somado à profundidade do aro da roda, ficou bem parecido com aqueles projetos eurolook, não ficou?!
O projeto que nunca termina
Conforme o tempo foi passando, o carro começou a se integrar à minha rotina. Como tenho meu daily driver, resolvi usar o Kadett semanalmente, todas as segundas e sextas, para levar meus filhos ao curso de inglês e de lá para a academia.
Nessas idas e vindas, fui refinando o acerto da injeção para o uso urbano. O cabeçote novo e os comandos Kent pediram um acerto ligeiramente diferente daquele que eu já tinha consagrado. Hoje considero que o ajuste está 99%, pois ainda falta um “tapinha” na aceleração rápida e na partida a frio. Quanto ao resto, o carro está bem liso e andando forte – eu chuto uns 20% mais forte.
Só que essas andanças me pediram uma sonda wideband nova, visto que a anterior – com 5 anos de bons préstimos – começou a apresentar lentidão excessiva no aquecimento e na leitura. Joguei no lixo e comprei outra. Simples assim!
Depois disso, percebi que a frente do carro estava visivelmente mais caída para o lado direito, coisa de 3-4cm. Abri a carteira mais uma vez e encomendei amortecedores Bilstein novos, para descartar os “guerreiros” anteriores, que estão ali sofrendo pancada desde 2011.
Uma lavada aqui, outra encerada ali, e olha eu percebendo umas bolhas na pintura do capô, somados aos “pés-de-galinha” que já havia visto no teto.
E dá-lhe um vazamento de óleo na flange do câmbio. E mais um de água na capa da termostática.
Lá vou eu cismando de novo….
Enfim. Neste momento em que vos escrevo, estou recolhendo minhas tralhas para levar o Kadett para São Paulo, até a oficina do camarada que montou o motor, o Daniel Soares, da Home Garage.
Ali pretendo fazer uma revisão profissional pós-montagem (lembram que fui eu que remontei o Kadett?), pensando em tirar todos os defeitinhos que apareceram nesse tempo e eliminar eventuais falhas na minha montagem amadora e que possam comprometer o carro no futuro.
Lá mesmo em Sampa o carro passará por essa extensa revisão, seguida pela aferição de potência em dinamômetro e, quem sabe, por uma sessão de fotos para um book automotivo, que, penso eu, será a coroação desse Project Cars.
Então é isso! Aguardem pelo próximo e último capítulo dessa saga!
Um abraço.
Por Weiler Júnior, Project Cars #16