Depois do Mendigo ganhar os cuidados básicos para poder voltar a rodar, como falei no post anterior, chegou a hora de dar uma atenção extra ao interior dele. Acreditem, não era fácil andar no carro e apesar da nova moldura ter dado uma melhorada no visual interno, ele estava bem distante do que eu queria. Então, mãos à obra! Primeiro comecei tentando lavar em casa mesmo, usando água, detergente e uma esponja. Com isso me livrei da camada marrom (de lama) que tinha no painel e nas portas. Mas para minha decepção, o painel não ficou como deveria, o tom marrom deu lugar para um esbranquiçado, tipo queimado de sol. Ok, Não parecia mais que o carro tinha caído num mangue, mas estava longe de ser bonito.
No porta-luvas encontrei ainda algumas folhas de bloquinho com km, valor do litro da gasolina e quantos reais haviam colocado de combustível. A ultima anotação foi feita por volta de 150mil km. Isso mostra que ele já teve um dono cuidadoso e que provavelmente, apenas 25mil km foram necessários até chegar no estado em que comprei.
A busca pela verdadeira beleza interior!
Um belo sábado, meu amigo João Carlos, mais conhecido como Baralho, me chamou para fazer as fotos de uns trabalhos de Detailing, serviço que ele estava começando a fazer na época. Enquanto eu fazia as fotos, o Raí, que já havia me ajudado em algumas missões no mendigo, foi pra dentro do carro com uma escova, uma flanela e o Interior Cleaner da Sonax que o baralho tinha emprestado. Fotos feitas, corri pro Impreza, pra ver se estava tendo alguma melhora no painel e para ajudar na limpeza. Para a alegria geral da nação, depois de algum tempo escovando o painel, o resultado começou a surgir: O branco se foi e o cinza original estava de volta e com uma aparência idêntica a de carro novo.
Ainda sem acreditar que a limpeza no painel tinha ficado tão boa, decidi que era hora de dar um passo adiante, havia enfim chegado a hora de lavar os bancos e o carpete. Se o painel parecia que estava coberto de lama, imagina os resto do interior (exceto o forro do teto, para minha sorte ele é de vinil)! Os bancos resolvi que ia limpar em casa mesmo, na varanda do apartamento. A grana era curta, no que pudesse economizar, melhor. Mas o carpete, não tinha condições, esse eu tinha que pagar para lavarem. Mas nem na hora de tirar o carpete, o Mendigo parava de me trazer surpresas. Por baixo dele encontrei alguns reais em moedas, centenas de milhares de ovos de barata (acho que 1/4 das baratas paraenses nasceram dentro do meu carro) e o melhor de tudo, uma bala de revolver .38. Além de mendigo, era pistoleiro!
Precisei de algumas boas horas para limpar cada um dos bancos, inclusive os traseiros, até parar de sair o caldo preto e eles estarem sem manchas. Sério, como alguém consegue deixar o interior chegar naquele nível? Acho que nem transporte público possui bancos tão imundos. Fiquei tão impressionado, que confesso que tive vontade de mandar esterilizar o interior do Mendigo.
Hora de contar com a ajuda dos veteranos
Eu já estava com o GC havia alguns meses e eu terminei criando uma afeição pelo “mendigo style”, ele me levava para os lugares, chamava atenção nas quintas-feiras no posto e eu realmente não ligava se as pessoas achavam feio ou não. Era meu, estava pago e mais completo e melhor acabado que a maioria dos carros atuais, mas algumas coisas ainda precisavam ser feitas. A primeira delas era trocar os faróis. Os que estavam no meu carro eram do Impreza 97, um deles estava quebrado e ambas as lanternas dianteiras estavam com infiltração. Apesar de os preços de concessionária, até o momento, terem sidos generosos, eu optei por procurar por faróis usados, diretamente no clube Subaru. Em poucas semanas chegavam os novos faróis de Impreza 93-96 com as respectivas luzes de posição. O melhor de tudo, paguei na época, no jogo, o que pediam em apenas um farol no Mercado Livre. Na mesma época, encomendei com outro membro do fórum, um novo cinto de segurança dianteiro esquerdo. O que estava no mendigo estava travado no final, então cinto de segurança e nada, era a mesma coisa.
Um detalhe que sempre gostei nos primeiros Impreza de Rallye, eram os faróis de lente amarela, então decidi fazer o mesmo, sem falar que combinaria muito mais com o estilo mendigo de ser. Como na época usar faróis com lente amarela ainda não eram modinha, a solução foi pintar as lentes com verniz de vitral. Os faróis novos, depois de instalados, dividiram opiniões, alguns gostaram, outros detestaram, mas quer saber? Nem liguei, combinaram com o estilo do carro.
Ah, antes que apareça algum “chato de plantão”, eu sei sim o porque dos faróis serem amarelos no Impreza de Rallye, então poupe seu tempo na hora de comentar.
Outra coisa que precisava de cuidados urgentes, era a suspensão. Obs. Recomendo que os mais puristas pulem este e o próximo parágrafo. O coxim do amortecedor direito estava quebrado, os amortecedores já estavam cansados, passar acima de 50km/h em ondulações e buracos resultava em mudança de faixa, em algumas curvas, a carroceria rolava mais que a dos carros americanos dos anos 70. Foi aí que conversando com o Alisson (lembram dele na primeira parte da matéria?) decidimos recondicionar nós mesmos os amortecedores e aproveitar para deixar eles mais rígidos. Ok, isso com certeza vai deixar muitos de vocês chateados, afinal, querendo ou não, é uma gambiarra, mas continuem lendo, vale a pena.
O primeiro passo foi tirar os amortecedores. Como o carro ficaria dias parado, desmontamos na garagem do meu prédio mesmo e deixamos ele cima de preguiças. Mas o que era para ter levado apenas alguns dias, acabou virando um mês e meio. O amortecedor dianteiro direito estava quebrado. A Haste dele estava até folgada e isso me levou a ter que comprar amortecedor novo. Como nós íamos recondicionar os amortecedores, recorri novamente ao clube e encontrei um par de amortecedores dianteiros em bom estado, mas estavam no interior do Espírito Santo. Graças aos Correios, levou semanas até que os amortecedores chegassem.
Amortecedores entregues, começamos o trabalho de recondicionamento. Retiramos o resto do óleo que tinha neles e substituí por óleo 90 (de transmissão), bem mais grosso que o original. Missão concluída, foi só levar num torneiro mecânico que trabalhava com solda elétrica para fechar os amortecedores. Já que estávamos com tudo desmontado, cheguei a pensar em molas esportivas, mas depois de não encontrar as Eibach e ver as H&R custando R$1.800, decidi seguir a receita de alguns donos de Impreza GC e cortamos 1 elo na mola dianteira e meio na traseira. Não foi muita coisa, mas já foi suficiente para deixar o carro na altura ideal para mim.
Suspensão montada e o resultado ficou acima das minhas expectativas. A rigidez da suspensão ficou exatamente como eu queria, a carroceria praticamente não inclinava, curvas acima de 100km/h pareciam retas, em compensação, fiquei “proibido” de passar por buracos e andar em ruas de paralelepípedo tinha que ser devagar. O carro ficou um tanto desconfortável, mas eu não ligava, até por que só usava o carro para sair com os amigos, na época trabalhava a dois quarteirões de casa.
Sessão de fotos que não era para ter acontecido
Uma vez conversando com o Bombril (também falei dele na primeira parte da matéria), ele teve a ideia de fazer uma sessão de fotos com o Mendigo. Eu curti a ideia e marcamos o dia de irmos até o estacionamento de um shopping em Belém para fazer as fotos. Mas definitivamente o mendigo não queria aparecer em fotos “bonitinhas”. Logo quando ia saindo do meu prédio para buscar o Bombril, senti o pedal do freio bastante borrachudo. Quilômetros depois, a luz do nível do fluido de freio acendeu no painel.
Passei num posto, comprei um frasco de Dot 3, completei e segui meu caminho. Chegando na casa do Bombril, enquanto esperava por ele, desliguei o carro para completar de novo o fluido de freio. Na hora de sair para o shopping, fui ligar o carro e o motor de arranque simplesmente torrou! Sim, com direito a fumacinha e tudo. O mendigo estava disposto a fazer tudo para não ir fazer as fotos. Mas já estávamos decididos e querendo ou não, elas iam ser feitas. Com cuidado triplicado, chegamos ao shopping e demos início a sessão, até que chegou o guardinha do estacionamento querendo proibir. Mas lógico que depois de tudo, não íamos desistir assim. Depois de uns 40 minutos esperando para falar com a chefe da segurança, fomos autorizados a fazer as fotos.
Fotos feitas, Mendigo pegando no empurrão, era hora de ir para casa. No dia seguinte levei para a oficina, que trocou o induzido e o porta-escovas do motor de arranque e ficou constatado que o problema no freio, foi a bomba do freio traseiro esquerdo que havia estragado. E adivinhem a quem tive que recorrer para comprar a nova bomba! Lógico ao Clube Subaru! Aproveitando que já estava na oficina, mandei fazer o orçamento para consertar o ar condicionado. Belém é conhecida por ter duas estações do ano, a que chove todo dia e a que chove o dia todo e acreditem, não é legal ficar sem ar condicionado em nenhuma delas. No final da semana, o Impreza saiu com freio e motor de arranque revisados e ar condicionado gelando. Há males que vem para o bem. #Fikadica!
Novos bicos injetores e mudança para Cuiabá
Depois de colocar o ar para gelar novamente, o Mendigo seguiu sem dar muitas dores de cabeça até o final de 2012, quando a embreagem começou a patinar e um dos 2 bicos originais restantes resolveu falhar de forma intermitente. Eu já tinha até comprado 4 bicos de Zetec 2.0 de um membro do fórum, mas como o carro estava rodando normal, fiz a limpeza deles e nunca instalei.
A troca por bicos de Zetec é uma solução mais em conta aos bicos originais, que são caros, difíceis de encontrar e se comprar usado ainda pode ter o risco de travar com nosso combustível maravilhoso. A única coisa a ser feita, é a substituição do “O” ring da ponta do injetor, para que encaixe perfeitamente na flauta do Impreza. O único contra, é que o carro passa a andar com mistura mais rica e no meu caso, ficou rica demais para o clima úmido de Belém. Depois dos 4.000 rpm o carro tinha problemas para continuar subindo rotação. A solução seria colocar um dosador de combustível, mas antes que tomasse essa medida e também trocasse a embreagem, as coisas mudaram de rumo repentinamente em minha vida.
Por causa da altíssima umidade, Belém passou a ser um problema para a saúde da minha mãe, então meus pais decidiram se mudar para Cuiabá, no Mato Grosso. Nós já havíamos morado por lá entre 1999 e 2003 e eles sempre gostaram de lá, além de ser mais perto de São Paulo, onde minha mãe fazia o tratamento dela. Eu optei ir junto com eles, entre outros motivos, eu também gostava muito de lá e profissionalmente, poderia ser mais vantajoso para mim. Também acreditava que seria muito melhor para o Impreza, mais fácil de arranjar peças e que teria mão de obra mais qualificada. No dia 02 de fevereiro deixei o Impreza na transportadora que levaria para Cuiabá e só voltaria a vê-lo no dia 20.
http://i6.photobucket.com/albums/y223/Lucas_menotti/Impreza/img2806xx.jpg~original
Quando o dia 20 chegou, eu nem sabia andar em Cuiabá, mas perguntei para algumas pessoas e peguei o ônibus em direção ao pátio da transportadora, estava agoniado para dirigir o mendigo novamente. O problema é que eu não sabia mesmo andar por lá e desci 1km depois de onde devia e tive que caminhar este 1km debaixo de pleno sol de meio dia, mas nem liguei, ia pegar meu carro de volta! Mas chegando lá, logo notei um detalhe. Cadê o meu abafador esportivo? Abri e estava dentro da mala, todo empenado.
Abri o carro e notei que rodaram mais de 10km com ele, além de terem roubado algumas ferramentas que havia deixado na porta do motorista e terem soltado a coifa de câmbio. Assim começava oficialmente 2013 para o Mendigo. Acho que vocês podem imaginar a minha revolta, mas depois de vários telefonemas, peguei o carro e fui para casa, ainda revoltado, quando finalmente algo bom aconteceu naquele dia. Lembram que depois que troquei os bicos, o Impreza ficou falhando depois de 4.000 rpm? Este problema havia desaparecido. O Mendigo estava subindo giro rápido e até o corte, parecia estar contente por ter chegado em Cuiabá. Minutos depois, o típico calor de Cuiabá deu lugar à uma chuva, que ajudou a refrescar a capital mato-grossense e assim foi até eu chegar em casa.
No dia seguinte, enquanto ainda trocava e-mails e telefonemas com o pessoal da transportadora, que inclusive chegou a chamar meu carro de velho, deixei o Impreza na oficina para trocar a embreagem, encomendei assim que cheguei em Cuiabá. Não é porque mudei de cidade, que eu ia dar folga para o meu projeto. Embreagem trocada, eu tive que reaprender a dirigir o Mendigo.
E falando em dirigir, os primeiros dias em uma nova cidade, ainda sem ter nenhum amigo, podem ser muito entediantes, acreditem. Mas um jeito interessante de acabar com o tédio, é dirigir por aí com seu carro AWD até encontrar uma estrada de terra. Aí você fica brincando nela, sujando o carro todo, até perceber que uma hora você foi rápido demais e perdeu o controle do carro e por pouco mais de um palmo, não cair num barranco e destruir o Subaru que está há mais de um ano tentando reformar.
Até que ficar em casa de vez em quando não é uma má ideia. Vamos ver como será a nova vida na nova cidade. Mas a pergunta é: Será que quando apostei na mão de obra qualificada em Cuiabá, eu estava certo? Agora que estou morando em casa, vou poder dar ainda mais atenção ao mendigo? Isso vocês vão descobrir na próxima parte da matéria, onde também vou contar como cheguei aqui em Recife.
Por Lucas Menotti, Project Cars #215