Aqui estou depois de mais de um ano e meio do último post para lhes atualizar sobre as novidades na D20. Foram várias coisas, algumas recém feitas, outras tem mais um tempo.
Pra quem ainda não conhece o projeto, leiam as outras partes (Parte 1, Parte 2, Parte 3, Parte 4). Então vamos lá, começando das pequenas mudanças e deixando o melhor pro final!
Detalhes
Falando dos detahes menores que fiz nela, como comentei no último post, tinha vontade de melhorar o banco dela, pensava em por da Silverado, mas não é tão fácil de achar, e também não é barato.
Acabei achando no Mercado Livre a espuma original do assento pra vender (meu banco era reformado, uma espuma bem ruim), não lembro exatamente o preço que paguei, mas foi bem barato, isso melhorou muito o conforto do banco.
Também coloquei um novo jogo de pneus, numa medida um pouco maior, 32×11.5R15 (295/75R15) 1pol mais largo e 1pol mais alto, que os originais 31×10.5R15 (265/75R15). O modelo continuou o mesmo, BF Goodrich Mud Terrain atrás e All Terrain na frente.
Como disse um amigo: ficou sexy sem ser vulgar
Continuando nos detalhes menores, já tinha bastante acessórios elétricos que originalmente ela não possuia, acabei aumentado a capacidade do alternador dos 55 amperes originais pra 75, não é grande coisa mas já da conta. Aí também instalei um voltímetro e um amperímetro com copinhos no painel, na parte de baixo, pra monitorar a parte elétrica, e também pq adoro reloginhos.
Achei que o visual ficou legal, e me da tranquilidade de acompanhar se a bateria está sendo carregada corretamente ou não.
Uma mudança sutíl mas que melhorou demais a ergonomia e conforto da caminhonete foi a adaptação que fiz no pedal do acelerador, adaptei o pedal do acelerador da Silverado nela, que me deixou com mais espaço pra perna, além disso mudou a relação de alavanca do pedal em relação ao original, quase um sprint booster mecânico haha. Ele ficou mais firme e com curso menor, é preciso pisar menos pra acelerar mais. Foi uma adaptação tranquila, foi preciso só um pequeno serviço de solda, e que mudou demais o conforto. Ainda nos pedais, também foi adaptado um terminal rotular no pedal da embreagem, o sistema original da D20 tem uma bucha de plastico q sempre quebra e cria jogo, agora ficou justinho!
Além disso teve outras pequenas coisas, troquei o player, troquei o insulfilm, troquei as lanternas. Como vocês sabem, essas coisas nunca tem fim!
Turbina nova
Há tempos sonhava com uma turbina nova, uma com válvula waste gate, com menos lag e tal.
A APL240 não era ruim, mas entrava um pouco tarde pro meu gosto, e diminuir a caixa quente não era uma opção já que aí iria amarrar em alta, além disso ela tinha um pequeno lag quando pisava no acelerador.
A minha preferência era pela turbina K16 da BorgWarner, uma turbina com waste gate e rotor de titânio, sempre acompanhava o preço que era em torno de R$2000 R$2200. Um dia navegando no mercado livre achei um anúncio de uma k16 nova, na caixa e com garantia por R$1250, aplicação era pro caminhão Volkswagen 15-180 com motor MWM X12 4cil e 180cv, um motor relativamente parecido com o meu e com potência também parecida, achei que era uma boa escolha.
Comprei a turbina!
Bom, o encaixe no coletor era o mesmo da minha APL, e só! De resto nada era plug n play, a parte de lubrificação, as conexões de ar da parte fria, nada servia. E o mais importante, a primeira curva do escapamento não existia pra vender.
Na verdade eu já sabia disso quando comprei, por isso levei no mesmo mecânico que adaptou o intercooler pra mim, e ele prontamente aceitou o desafio.
Não foi fácil, nem rápido, esse tipo de adaptação tem que ser feito com calma.
A primeira curva do escape ele fez na mão, com solda, e como não dava pra por no torno teve que acertar a flange na mão, com uma lima!
O resultado, assim como o do intercooler, foi ótimo! Adaptação muito bem feita!
E o desempenho?
Como já disse no outro post, gosto de fazer melhorias isoladas, pra ver o que cada coisa em separado contribuiu para o motor, então não mexi no diesel, foi só colocado a turbina mesmo.
O resultado foi mais que satisfatório, o lag ficou praticamente 0, a turbina entrava muito cedo, não tinha mais aquele buraco no começo tipico de motor turbo.
A pressão ficou em torno de 1,4 1,5kg dava pra ver que a wastegate que segurava, pois o ponteiro do manometro subia muito rápido e parava lá em cima. Fumaça praticamente 0, o motor tinha potencial pra mais!
Mas estamos falando de um motor que originalmente tinha 90cv, com quase 300.000km rodados desde a última retífica, e que tinha passado por dois consertos ainda antes de eu pegar a caminhonete, uma vez por calço hidráulico, a outra por colar 2 cilindros por superaquecimento (arrebentou a hélice e estourou o radiador), nas duas vezes foram feitas um conserto meia sola pra continuar rodando sem gastar muito.
Então tratamos de um motor muito rodado, que tinha passado por duas intervenções complicadas, com potencia muito acima da original e que era utilizado diariamente pra trabalho na fazenda.
Pois é, ele aguentou bastante, mas uma hora ia dar problema.
Retífica
A folga entre o pistão e a camisa deve ser em torno de 0,13mm, até 0,20 é aceitável, mesmo 0,25 aí da pra tocar ainda. O meu motor tava com 1mm de folga! Aí um pistão subiu raspando a saia no cilindro, o que fez ele começar a soprar muito pelo respiro e perder força.
Como já sabia do histórico dele, já tava com uma quilometragem alta, achei melhor mandar fazer inteiro numa retífica, aí que de novo entra o fórum PicapesGM na história.
A gente acaba fazendo amizade com os colegas de fórum e de grupo de WhatsApp, e um desses meus amigos, o Cursino, tinha recém adquirido uma retífica de motores, a DRM em Mogi das Cruzes.
Conversamos, ele fez um orçamento pra retificar o motor com algumas melhorias internas, e mesmo sendo longe (quase 400km daqui) e tendo o custo dele buscar o motor aqui, saiu mais barato que fazer por aqui, fora o fato do motor estar com alguém de confiança.
Ele veio, buscou o motor e já fomos discutindo o projeto, além das peças normais que se desgastaram e que iam ter que ser trocadas, discutimos algumas melhorias. Diferente de alguns motores que tem várias peças de performance e várias receitas na internet, aqui não se tinha quase nada, acabamos limitados a peças do mesmo motor mas com outras aplicações e outras pequenas melhorias. As mudanças foram:
Pistões de Silverado quatro-cilindros
A Silverado também usa o motor S4, mas com pistões maiores, o que acaba aumentando o deslocamento de 4 para 4,1L, além disso usa os mesmos pinos de pistão do meu motor, o que torna possível o uso das mesmas bielas. As camisas foram abertas para caber os pistões.
Comando do S4T/S4T Plus
Colocamos o comando do motor turbo original da D20, pra quem não lembra meu motor era originalmente aspirado. Pelo o que pesquisamos essa é a única opção de comando para um upgrade.
Cabeçote do S4T Plus
O cabeçote foi otimizado, utilizando válvulas maiores e com ângulos do S4T Plus. Ficou lindo, não ficou?
Jetcoolers
O motor turbo original da D20 conta com jetcoolers, que são esguichos que jogam óleo na saia do pistão para resfriá-lo. O meu motor não tinha, e não tinha nem o lugar pra por, só um pequeno ressalto na galeria de óleo, foi preciso furar essa galeria pra adaptar os jetcoolers, imagina o problema que ia gerar se erra o furo ou se não da certo isso aí, confesso que estava bem preocupado! Mas confiava no trabalho do Cursino, que pesquisou muito antes de meter a broca no bloco, e a adaptação foi um sucesso!
Retorno de óleo da turbina
Como disse, pra colocar a K16 foi necessário adaptar tudo, e o retorno não tinha ficado 100%, ele estava praticamente na horizontal e o diâmetro era pequeno, já que estávamos mexendo aproveitamos pra furar o bloco e fazer um novo retorno. Aliás essa mudança foi proposta pelo Polaco, meu mecânico.
Equalização das bielas
Essa foi uma coisa que eu nem pedi e nem lembrei, mas depois de montado o Cursino me falou que fez haha, um detalhe de uma montagem caprichada!
Uma curiosidade, o virabrequim continuou com medida standart, foi só polido, tem quase 700.000km esse virabrequim!
O legal de montar o motor com um amigo e que assim como nós é gearhead e gosta de mecânica é que o entusiasmo é de ambas as partes! A cada dia eu recebia fotos do motor conforme ia progredindo a retífica e montagem, e íamos discutindo o projeto.
A cor do motor foi meio por acaso, a casa de tintas acabou errando na cor e depois de pintado ficou mais claro do que tinhámos pedido. Mas tem que dar parabéns pra esse cara que errou porque ficou ótimo a cor, perfeita eu diria, parece metal cru, muito legal mesmo!
Pra caprichar ainda mais, polias, canos de diesel e outros detalhes foram pintados de preto, e foi pintado tudo desmontado, assim quando montou dava pra ver as juntas todas novinhas.
Como são muitas fotos aqui vai um vídeo da retífica e da primeira partida do motor:
Enquanto isso na oficina em que a D20 repousava sem motor, o pessoal estava trabalhando em outra adaptação, na colocação de 2 ventoinhas elétricas na frente de todos os radiadores, acionadas junto do compressor do ar condicionado pra ajudar na eficiência do ar e também do intercooler. Em dias quentes a ventoinha original não dava conta de puxar ar suficiente pelos 3 radiadores e o ar acabava não gelando tão bem. Eu achei que além do lado funcional, o visual ficou muito legal com as ventoinhas na frente.
A montagem do motor no cofre demorou um pouco, já que ficou bem apertado e tem várias adaptações, também aproveitamos pra melhorar a tubulação do filtro para a turbina que era fina e com muitas curvas, agora ficou legal, e para sair caprichado não pode ter pressa!
Ficou lindo ele no lugar!
Desempenho
E como ficou o desempenho?
Bom, como sempre, uma coisa por vez, não quis mexer na bomba, apesar de agora ter margem pra isso, pra avaliar só o que a retífica e as melhorias tinham me proporcionado. Além disso pra amaciar era prudente não abusar demais.
Ela ficou muito esperta, deu diferença principalmente em baixa, a pressão da turbina continuou a mesma, 1,5kg limitados pela waste gate, a fumaça continuava zero, menos inclusive do que as caminhonetes novas eletrônicas.
Em ultrapassagens surpreendia, as modernas não acompanhavam!
Rodei cerca de 2500km, troquei o óleo, depois rodei mais totalizando cerca de 6000km, agora o motor já estava amaciado, agora sim a gente ia poder explorar o potencial que todas as melhorias ali contidas nos proporcionavam.
Viajei pra Mogi, pra conhecer a DRM e também pro Cursino andar na D20, já que ele tinha montado o motor mas não tinha andado na caminhonete
Regulamos o motor, fomos andando e mexendo, andando e mexendo.
Abrimos mais o débito de diesel, totalizando 2,5 voltas em cima de regulagem original da S4T, e aumentamos a pressão do turbo para 1,8kg.
O resultado foi impressionante, de arrancar sorriso de marmanjo! Testávamos numa subida bem ingríme e parecia que ela não sabia que era subida, destracionava de terceira marcha na subida isso com os pneus 295!
Por incrível que pareça a fumaça continuou quase 0, da verdade depois que a turbina entra é zero mesmo, afinal tem muito ar pra queimar o diesel que tá injetando.
Fiquei muito satisfeito com todo o conjunto, ficou progressivo, equilibrado, sem lag, com força desde baixa rotação, sem nenhum degrau de potência. O consumo continua girando em torno de 9-10km/l, afinal apesar de acabar pisando um pouco mais, aumentamos a eficiência do motor, sinal disso é que a potência subiu muito mas não há fumaça. Além disso o óleo aquece mais rápido (sinal que o jetcooler ta surtindo efeito) mas não passa dos 90 graus.
Segue vídeo do teste no dia que estávamos ajustando e do ronco dela:
Deu pra dizer que tudo o que eu queria fazer na mecânica estava feito, não há mais nada que eu queira melhorar, estava melhor do que eu esperava!
E agora?
As coisas mudam, sempre gostei muito de trabalhar com a D20, mas às vezes sentia falta de uma tração 4×4. Uma caminhonete de quase 25 anos e com 700.000km nas costas querendo ou não exige mais manutenção, apesar de nunca ter me deixado na mão vira e mexe era preciso ajeitar uma coisinha, depois outra. Além disso precisava de uma caminhonete mais segura e cabine dupla, já que numa cabine simples é difícil de colocar cadeirinha de criança pro herdeiro que tá vindo aí.
Sendo assim a aposentadoria da D20 chegou, e veio uma moderna pra substituí-la no trabalho, uma L200 Triton Sport:
Calma meus amigos, ele somente se aposentou do trabalho, mas ainda está comigo! (vocês não pensaram que eu iria me desfazer, pensaram?)
Agora ela divide atenção com meu Fusca 1977, outro projetinho que está comigo desde o começo de 2016 e estou mexendo devagar.
Agora vai ser mais fácil de manter ela em dia, e como não vou rodar tanto, esse motor tem uma vida muito longa pela frente.
Acho que agora sim posso considerar encerrado esse PC no FlatOut! Claro que um Project Car nunca tem fim, sempre vai ter um detalhe ou outro pra melhorar, pra acertar…
É muito gratificante ver aquele projeto que eu sonhava desde moleque, nos meus 13 14 anos, se realizar e se tornar no que é hoje! Cada vez que ando com ela é uma alegria!
Gostaria de agradecer ao Cursino e ao Léo da retífica DRM pelo cuidado e capricho que tiveram com meu motor, ao pessoal da oficina Triângulo que sempre cuidam bem da D20, e a todos que me ajudaram com esse projeto!
Um agradecimento especial a equipe do FlatOut por permitir com que eu compartilhasse o projeto com vocês com essa iniciativa tão legal que é o Project Cars, e também pelo encontro no Box 54 que foi sensacional!
Um grande abraço, espero que o texto não tenha ficado longo demais e que vocês tenham gostado da D20, quem sabe um dia eu apareço contando a história de outros projetos no fórum do Flatout hehe
Até mais, moçada!
Por Petrus Veldt, Project Cars #241
Uma mensagem do FlatOut!
Petrus, a aposentadoria da D20 não poderia ser uma forma melhor de encerrar seu projeto. Aposentadoria merecida, aliás — 700.000 km não são pra qualquer um, ainda mais com esse visual todo. Vimos a picape pessoalmente no Sunset Meet e ela é ainda melhor que nas fotos. Parabéns pela máquina. Tomara que você a curta ainda mais!