Não tem desculpa, falta de tempo, falta de grana, falta de saco, falta de motivação. Poxa, somos brasileiros e não desistimos nunca. Sim, tem hora que o melhor é fugir para as montanhas, mas em alguns casos, como ter um carro na garagem te atrapalhando e empoeirando, você tem que parar, refletir e decidir o que fazer. E vamos ao que fiz depois de quase dois longos anos do primeiro texto do meu AX GTi (o segundo está aqui).
Depois de um longo tempo largado na garagem com dois motores novos e mais um monte de peças, aconteceram várias coisas nesse período de um ano, outubro de 2015 até outubro de 2016.
Primeiro comprei um 205 pra rodar, fiquei um tempo com ele e depois vendi, mas em fevereiro de 2016 entrou na minha vida um 106 modelo Quicksilver com mecânica, suspensão, lataria, tapeçaria, tudo ruim. Resumindo, era um carro bem zoado, mas como eu tinha dois motores em casa acabei colocando o 1.6 16v no 106 “próximo PC” e vendi o outro 1.5 pra um amigo do Sul, o Dolores. Ele colocou o motor em um 106 e está bem feliz.
106 Quicksilver transformado em 106 Rallye, espero fazer um novo PC com ele.
Mas e o AX GTi? Bem, na metade de 2016 um amigo daqui de SP, o Rafa Bomtempo, me ofereceu seu carro, um 106 MK1 com mecânica de AX com várias peças importadas dos MK1 Rallye. Esse carro tinha sido do Thiago Autilio que já tinha feito um monte de upgrades no carro e aprontado muito com ele até que o Bomtempo comprou o carro e decidiu apimentar ainda mais. Colocou bloco 1.6 8v dos 306, preparou o cabeçote do AX GTi, ligou A FT 400 com sonda Wide e ODG, aproveitou o coletor de admissão do 106 Rallye Mk1 em alumínio com TBI de 38mm, comprou barra anti-torção OMP, colocou escape 4×1 diretão e meteu o carro na pista.
O carro foi muito bem, mas por problemas pessoais ele resolveu vender. Juntando minha necessidade de um coração acelerado e o AX Gti lá largado na garagem acabei comprando o carro e usando a mecânica quase completa.
106 MK1 1995, monstrinho criado pelo Thiago Autilio depois adotado pelo Rafael Bomtempo
Coração transplantado: corpo 1.6 8v com uma cabeça giradora de AX GTi. Opa! O que o leão está fazendo ali?
Em novembro aproveitando a M.O. pra desmontar a mecânica do 106, “não fiz na minha garagem, não tinha mais espaço e paciência” já levei o AX pra oficina e montei tudo. Só a injeção que teve que refazer o chicote por algumas diferenças de plugs e meu amigo Daniel Spanh montou a injeção e em três dias e o carro já estava funcionando, só que sem escape, faróis, para choques, capô etc. Levei o carro pra casa e terminei de montar o resto, em dezembro posso dizer que o carro estava 90% pronto faltando apenas alguns detalhes de elétrica e suspensão e freios.
A parte mais aterrorizante de qualquer projeto
Primeira partida
Andei com o carro cerca de 1.000 km, testando, arrumando defeitinhos e só esperando uma oportunidade para terminar de escrever o PC.
Aproveitei pra visitar uns amigos e passar por uns encontros
E fazer umas compras no mercado.
Não tinha pretensão nenhuma de levar o AX pra pista, mas… como já havia participado de alguns trackdays com o 106 apareceu a oportunidade de levar os carros pro ECPA em período integral. Decidi chamar meu filho João Victor que é o dono do 106 e uns amigos e apoiadores do projeto e o pessoal da oficina AGFast Motorsport, que no momento é quem cuida da saúde dos carros, colocando eles mecânicos como pilotos por um dia pra sentirem o carro e a emoção de pilotar em uma pista. Uma experiência muito legal para eles que nunca tinham participado. Aliás todos que gostam de carros deveriam participar de um Trackday pelo menos uma vez na vida.
Mas o medo de rodar 150 km até a pista, andar com o carro pelo menos 40 voltas, 20 em cada período e voltar rodando mais 150 km era o que mais me assombrava.
Preparando pra Trip
Galera Da Oficina AGFAST Motorsport animada com o rolê
Funilaria e pintura pra que? Because a Racer!
Mas no final do dia sem forçar muito o carro porque queria voltar rodando e não de guincho e depois de dar 51 voltas e fazer um tempo de 1:29,611 na frente de muitos carros modernos e mais potentes voltei pra casa com um sorriso no rosto e muito feliz pelo AX ter resistido a um dia intenso. Durante anos ele foi maltratado nas ruas e acabou encolhido em um box de garagem empoeirado. Mas naquele 30 de julho de 2017 ele foi maltratado em acelerações até o limite de giros, freadas abruptas em cima dos pneus aro 13, curvas fortes e fechadas colocando a prova sua carroceria que rangia, se contorcia e gritava feliz por estar em seu habitat natural, a pista.
Honra de andar ao lado do Novo Puma.
No final descobri que como já diziam as propagandas da Citroën dos anos 90 que o AX é um grande devorador de curvas. Apesar de sua altura e pneus nas medidas originais de marca duvidosa ele se comportou até melhor que o 106 nas curvas, foi surpreendente.
Se vou coloca-lo de novo na pista? Não sei, o que sei é que fiz uma bela escolha em não desistir de um projeto que demorou tanto.
E terminar não porque ainda falta muito, um PC nunca termina, o dia que disser que acabou é pq abandonou o projeto, mas isso fica pra um próximo PC, quem sabe um dia.
Por Warlei “Maxx Rider”, Project Cars #261
Uma mensagem do FlatOut!
Warlei, nós entendemos completamente porque seu Project Cars demorou para ser concluído. Esses tempos não estão fáceis para ninguém, mas o que importa realmente é que ele ficou pronto e resgatou o verdadeiro espírito do AX GTi, que é ser um carro essencial e que curte acelerar forte onde puder. Um carro como não se vê mais hoje em dia — e a foto entre os vizinhos da Renault ilustra isso magistralmente. Parabéns pelo carro! E continue acelerando!