Fala, galera do FlatOut! Em primeiro lugar deixa eu me apresentar e contar um pouco da minha história com os Chevettes para que todos entendam quais são as minhas motivações em relação a este projeto e outros que já realizei anteriormente. Me chamo Carlos Augusto, tenho 34 anos e sou mais conhecido nas redes sociais em que participo como Gutto. Esta primeira parte será apenas introdução pois quero que todos saibam de onde vem esta paixão de décadas e a segunda parte virá logo em seguida recheada de fotos e detalhes da construção.
Tudo começou quando eu era bem pequeno, meu pai recorda que eu era fanático por carros desde bebê, aprendi a falar com pouco mais de 1 ano de idade e aos dois, segundo ele, já sabia de cor o nome de todos carros nacionais da época, que eram poucos, sejamos sinceros. O primeiro carro do meu pai foi um grande clássico nacional e na minha opinião um dos carros mais bonitos ja produzidos no Brasil.
O Ford Corcel GT XP 1972. Mas este carro saiu da família quando eu tinha menos de cinco anos e o que ficou mais forte na memória foram os Chevettes que vieram logo depois. Meu pai comprou um Chevette 1980 cinza depois do Corcel, em seguida um 82 dourado, no qual meu avô pegou emprestado para ir a um casamento e perdeu a vida em um trágico acidente em 1986. Logo depois disso veio o Chevette Tubarão 1974, cor caju, que ficou conosco por 11 anos e e para finalizar ainda teve um DL 91. Vale lembrar que o primeiro carro da minha mãe foi um Chevette cinza ano 81. Mas enfim, a paixão foi o Tubarão.
Este Tubarão 74 foi comprado extremamente original. Rodas com calotas, pneus diagonais, bancos baixos, motor 1.4 standard, volante fininho e tudo mais, mas como era nosso carro de uso diário e meu pai gostava muito de correr esta originalidade incomodava. Com o tempo vieram bancos de Opala 88, motor 1.6 S, volante e rodas esportivas aro 14 de liga leve, freios a disco e pinças do Monza e graças a ter sido amaciado no “pau” meu pai se orgulhava de fechar km nas retas mais longas e de não perder um “pega” de estrada pra quase ninguém.
Pra quem não lembra deste termo famoso dos anos 80 e 90, disputar um pega era quando em viagem alguém que também gostava de andar rápido te provocava e você viajava por dezenas de km disputando quem tinha coragem de rodar mais tempo em alta velocidade. Não precisava chegar ao destino em primeiro, bastava no mínimo não descolar da traseira do outro. Perder um “pega” era tirar o pé do acelerador e ficar pra trás. Foi assim que minha paixão por Chevettes se formou, aquele carrinho era muito valente e nossas viagens eram deliciosamente emocionantes.
Meu pai sofreu um acidente com ele em 1998, ele não se feriu com gravidade, nem ele em nem o PM que estava de carona, mas o Chevette ficou com a traseira destruída e por desgosto meu pai vendeu. Outro fanático por Chevettes comprou e restaurou ele por completo e continuou usando no dia a dia por mais alguns bons anos até sofrer perda total em um incêndio.
Mas vamos encerrar as histórias do passado distante e vamos a minha história mais recente. Em 2004 eu não tinha carro próprio mas havia assumido o carro da minha mãe, um Palio EL 1.5 branco 98 comprado praticamente novo em 1999 do qual eu era fissurado. Minha paixão por Chevettes nesta época estava dormente, eu só queria saber de curtir um som na caranga com as gatinhas, ir para praia, baladas e carro “velho” não combinava com isso tudo. Sabe como é né¿ Quando a gente é mongo e inexperiente, dependemos de um carrinho do ano pra comer alguém. Mas um tempo depois minha irmã fez carteira e começou a querer usar o Palio e o bixo pegou, precisávamos de mais um carro na família, mas tinha que ser um carro bom, bonito e barato, bem barato. Eu não tinha muita ideia do que comprar mas eis surge diante dos meus olhos, um Tubarão 1975 vermelho formula, lindo, brilhoso, original mas o legítimo carro de velho.
Comprei na época, a 11 anos atrás por míseros R$ 3.800. Algo que hoje seria o equivalente a uns R$ 6.000 ou R$ 7.000 corrigindo a inflação. A ideia era que minha irmã usasse o Chevette e o Palio continuasse sendo exclusividade minha mas adivinha o que aconteceu? Foi amor a primeira volta, fissurei tanto no Chevette que não quis mais saber do outro carro.
Bom, pra resumir este Chevette vermelho está comigo a mais de 11 anos, está bem modificiado, e foi meu carro de uso diário até vir o segundo Tubarão, este um raro 73 rosa pantera que acabei restaurando e colocando placas pretas e também não servia mais para uso diário, nasceu a minha filha em 2011 e acabei pegando um carro 2010 1.6 completo com airbag e ABS que fiquei até o inicio de 2013 mas o alto custo do seguro, IPVA, desvalorização e afins aliados ao fato de eu ter me separado da mãe da minha filha me fizeram vender o Renault. Surgiu a ideia de um terceiro Chevette para usar no dia a dia, afinal a paixão pelo carro é tanta que eu queria andar de Chevette todos os dias.
Foi aí que começou a procura, mas os recursos eram limitados. Queria uma Chevy, mas não achava nenhuma que prestasse no meu orçamento de míseros R$ 6.000, queria um DL 91 a 93 mas também não encontrava um bom com preço abaixo de 12 mil. Procurei um 78 ou 79 SL, sem sucesso. Me fixei nos tubarões e nada. O que era bom era caro demais e não me interessava pois eu ja tinha dois Tubarões impecáveis e investir alto em um terceiro modelo igual seria descabido pra usar no dia a dia. Precisava de um carro bom e barato e que fosse meio surradinho pra não chamar atenção dos bandidos, a única exigência é que fosse bem alinhado pra não parecer um carro de pedreiro, todo torto e podre.
Um belo dia um amigo, sabendo das minha intenções me disse que lá na cidade dele, um Salvador do Sul, a uns 40km daqui, havia um Chevette Tubarão 75 amarelo a venda, que olhando de longe o carro parecia bom e original. Uma tarde fria de inverno peguei minha moto e fui até lá. Quando cheguei no local aonde estava o carro fiquei um pouco decepcionado.
O carro era pior do que eu pensava, era bem alinhado mas a pintura estava um lixo, o interior então¿ Indescritível, simplesmente um ninho de ratos. Para-choques enferrujados, muito barro, cheio de adesivos toscos, a maioria cobrindo falhas da pintura. Voltei pra casa congelando de frio e desanimado com o carro. Deixei por isso mas o dono me ligou, estava desesperado pra vender, mas queria R$ 6.500. Tava dentro do que eu queria gastar mas pior do que eu procurava. Depois de vários dias de insistência de ambas as partes, fechamos em R$ 4.500.
No dia que peguei o carro cheguei a me sentir arrependido. O interior era tão feio, sujo e detonado que dava nojo de sentar naqueles bancos, era uma semana fria e chuvosa de inverno, o que ajudava a me deprimir ainda mais, Ora piorar não funcionava nada. Velocímetro com ponteiro quebrado, cabo arrebentado. Não marcava temperatura nem combustível, a chave de seta também estava com sérios problemas e era uma briga pra sinalizar as conversões.
Pneus carecas, o carro deslizava nas esquinas. O porta-malas estava tão detonado que pintaram de spray preto pra cobrir todos defeitos, era a visão do inferno. Na dianteira grade quebrada, para-choque amassado, para brisa riscado, na traseira o para-choques tava podre, lanternas desbotadas, o escapamento estava todo torto de tanta porrada que tomou. A única coisa que estava funcionando bem era o conjunto motriz. Motor, caixa e diferencial. Pra completar não tinha trinco na porta do motorista, não dava pra trancar o carro.
Foi até difícil saber por onde começar com tantos problemas, mas eu estava disposto a gastar uns R$ 3.500 naquele momento, além do valor do carro é claro, ele me custaria R$ 8.000 no final das contas. Mas bem, este projeto ainda teria muitas reviravoltas, e isso vou começar a contar na segunda parte que já está sendo escrita. Fiquem ligados e até lá!
Por Guto Moraes, Project Cars #274