Bom galera, aqui está a terceira parte do PC #274, o resgate do Chevette Tubarão 1975 dos confins do interiorzão, do meio do mato e do barro. Pra quem ainda não viu as duas primeiras partes, eu me chamo Gutto Morais e sou um Chevetteiro roxo. Este é o meu quarto Chevette, aliás, esqueci de comentar nos outros capítulos que eu já restaurei um 1978 SL prata que considero tão lindo quanto o Tubarão.
Nesta terceira parte vou mostrar minhas soluções caseiras para reparar o casco do velho e sofrido “Tubarão 75” que apesar de estar bem alinhado, teve alguns problemas sérios com os “cupins” e também com o uso descuidado de seu proprietário anterior que se chama, acreditem, Velocindo, isso mesmo, vocês vão conhecer ele no final deste post. Mas antes disso quero mostrar e falar um pouco mais dos acessórios utilizados nesta primeira fase da customização pois percebi que a galera curtiu muito o interior escolhido para o projeto e também as rodas “exóticas” e pouco conhecidas do GP.
O projeto de customização teve inspiração no Chevette GP 1976 e GP II 1977 (conforme fotos abaixo) que tinha um design pra lá de bem acertado. O primeiro GP tinha como destaque as faixas rally e rodas largas bem agressivas de 13×6” que em 77 no GP II foram substituídas pelas “copinho” de 13×5” que eram mais comuns e em compensação ganhou painel com conta giros, console central com manômetros e bancos esportivos exclusivos, ausentes no primeiro GP.
Convenhamos que o interior do Chevette GP II é um show a parte e os créditos são todos da GMB dos anos 70. Eu apenas tive o trabalho de reunir todos estes acessórios raros e caros pra deixar o “cockpit” bem charmoso, e de fato lembra alguns belos esportivos europeus dos ano 60 e 70. Aliás, isso é uma das coisas mais apaixonantes deste carro. O Chevette tem uma posição de dirigir excelente, além de ótima visibilidade ele tem o câmbio “na mão” e o volante de 3 raios tem ótima pegada.
Parece um carro nascido para as pistas e não um mero popular (perguntem pro Carlos Cunha se é mentira) — a revista 4 Rodas comparou a posição de dirigir do Chevette as Alfa Romeo dos anos 60. Acho até engraçado quando falam mal da dirigibilidade do Chevette culpando o volante levemente deslocado para esquerda e pedais próximos um ao outro. Parece comentário de “mulherzinha” que só dirige um Ford Ka dentro da cidade. Completamente sem fundamento.
Outro acessório indispensável em qualquer carro que se preze é um som de qualidade. Eu acho que uma viagem longa, belas paisagens, carro antigo e música boa se completam, por isso inicialmente coloquei um DVD Pioneer e 4 falantes instalados de forma discreta para não “enfeiar” o interior clássico. Aliás este DVD não ficou por muito tempo pois é uma bela porcaria. Logo troquei por outro radio Pioneer sem DVD e com Bluetooth que é muito melhor e mais discreto. O DVD destoou demais do resto do interior.
Saindo agora um pouco da parte interna, já era hora de dar uma melhorada na parte externa. As rodas do GP ficaram show mas a altura do solo não tava legal, mandei tirar algumas voltas das molas (Chevette pode cortar mola sem medo que continua macio e seguro pra andar). A próxima etapa foi dar um emparelhada na pintura e eliminar alguns pontos de ferrugem. Tá certo que o estilo “rat-hod” e “hood-ride” estão na moda, mas não dá pra deixar retoques grotescos de pincel pra cobrir arranhões e pontos de ferrugem avançados. Pintura velha, fosca, gasta e manchada são como cicatrizes de batalha de um velho guerreiro, mas podres, amassados e pinceladas mal feitas não pegam bem.
Outra coisa que é comum apodrecer no Chevette é embaixo das borrachas do para brisa e vigia traseiro, pontos críticos. Além disso a caixa da bateria estava podre, com furos grandes e o porta-malas um bagaço. O antigo dono inclusive pintou o porta-malas com spray preto pra cobrir riscos e ferrugem. A idéia dele foi proteger a lataria da corrosão mas ficou feio demais. Por incrível que pareça o assoalho do Chevette ainda é o original de fábrica, coisa cada vez mais rara de ver hoje em dia mas tava bem surrado. Pra quem não sabe diferenciar, o assoalho paralelo não possui os furos com tampões de borracha.
Bom, como não sou “chapeador” (ou funileiro), não tenho equipamentos de solda e pintura, não tinha intenção de gastar uma fortuna com restauração e pra piorar moro em apartamento. O jeito foi improvisar na garagem do prédio mesmo. Comprei um poderoso anti ferrugem chamado TF7, pincel, fibra de vidro, massa plástica, rolinho de pintura, espátula,martelo especial, lixa ferro, escova de aço, tinta PU amarelo trigo e adesivo PU de alta resistência(usado pra vedar carrocerias e colar chapas de aço). Este material resolvia vários dos meus problemas. Comecei o trabalho de lixar, desamassar, corrigir e retocar vários pontos do carro.
Os buracos da caixa da bateria e porta-malas eu lixei e limpei bem, depois cicatrizei tudo com TF7 e cobri com fibra de vidro (não recomendo o uso de fibra em nenhuma restauração séria mas pra este tipo de conserto é ótimo). Este adesivo PU de alta resistência também é pra lá de útil na hora de dar acabamento e cobrir pequenas imperfeições, fazer emendas, tapar furos. Quando seca ele se transforma em uma borracha densa e dura que resiste a altas temperaturas e a esforço mecânico. Usei muito na carroceria, principalmente no reparo do suporte do para brisa e vigia traseiro conforme as fotos a seguir. A única coisa que precisei recorrer a um profissional na parte de lataria foi no alinhamento da porta do motorista que estava com um suporte interno quebrado e precisou de solda MIG.
Após os reparos acabei optando por um para brisa degradê novinho em folha. O original estava muito riscado e picado de pedras e contra o sol eu não conseguia ver quase nada. Dei um trato na saia dianteira, acabei pintando tudo com rolinho mesmo após muitas horas de lixa, martelinho e massa. Consegui deixar bem mais liso e com a pintura mais homogênea do que os reparos anteriores feitos de “pau a pique”. A idéia era só deixar a lata bem protegida até pensar em algo melhor.
Outra solução encontrada depois dos reparos mais urgentes na lataria e pintura foi personalizar a traseira com uma faixa preta semi-brilho e eliminar o cromo dos adornos das lanternas, pintando no mesmo tom de preto. Isso deu um toque de esportividade e personalidade ao Chevette que eu particularmente gostei muito.
Pra completar surgiu o anúncio no Facebook de um item de coleção raríssimo. Um espelho retrovisor cônico original do Chevette GP, igual ao que era usado no Opala SS 76 e Maverick GT. A cereja do bolo…
Até o momento ele já estava criando forte personalidade “old-school” com suspensão rebaixada, mascara negra na traseira, faróis de lente lisa, rodas largas e afins. Durante esta transformação toda eu liguei pro antigo proprietário e num domingo fui até lá mostrar o Chevette pra ele. A idéia era apenas ir até o centro da pequena cidade de São Pedro da Serra mas ele me fez levar o carro até a casa dele em um sitio afastado da cidade.
A estrada era bem ruim mas valeu um belo registro do seu Velocindo completamente impressionado e quase emocionado com a transformação (feita em apenas 4 meses) do velho Chevette que lhe serviu tanto nos últimos anos. No próximo capítulo vou finalmente falar da compra da Chevy 500 94 e a troca do motor, câmbio, rodas, pneus e mais alguns itens. Enquanto isso fiquem com algumas fotos típicas de um antigo “daily use” Aguardem o próximo capítulo.
Por Gutto Morais, Project Cars #274