Olá, pessoal! Me sinto honrado em apresentar meu carro aqui no Project Cars, um Honda Fit GD1 (1.4). Obrigado aos que votaram no meu projeto. Primeiramente deixa eu me apresentar: meu nome é Lucas, tenho 25 anos, programador, moro em Brasília/DF desde os 16 anos e sou natural de Remanso/BA. Agora, gostaria de contar um pouco da história da minha relação com carros e do meu Honda Fit.
A maior parte dos moradores da minha região, extremo norte da Bahia, nos anos 40, jamais saíam de suas terras. Só que em 1945, meu avô resolveu arriscar ir para São Paulo aos 14 anos, de barco à vapor pelo rio São Francisco. Não era a viagem toda de barco, mas estas viagens chegavam a durar dois meses. No mínimo 14 dias. Lá em SP, aos 20 anos já tinha uma Rural. Um tio meu também foi para São Paulo nos anos 80 e virou caminhoneiro. Passei minha infância esperando ele aparecer lá no interior da Bahia com a então famosa Scania 111 cara chata, que todos falavam. Só que quando ele apareceu lá, foi com outra tia num Gol GTI amarelo, fiquei louco pelo carro. Devem achar que com cinco anos nem lembro, mas no interior, onde uma casa fica a mais de 5 km uma da outra, o ano passa e não acontece nada de diferente. Então qualquer acontecimento importante no ano, fica para sempre na nossa memória. As histórias do meu avô e meu pai, me fizeram ter muito interesse por carros.
Convivendo com motores
Nos anos 1980 o presidente João Figueiredo criou um plano para o desenvolvimento da agricultura no país, que resultou no bom posicionamento do Brasil na área hoje em dia. O plano era liberar crédito para trabalhadores rurais comprarem máquinas agrícolas. Com isso, lá na minha região todo mundo comprou algum motor Tobata (Diesel) ou Montgomery (Gasolina). Logo, meu pai se especializou em consertar, montar e vender os motores Montgomery. Eu sempre ficava do lado observando, logo entendi o funcionamento de um motor. Tinha maior medo de encostar o dedo na vela. Tem que ser muito ninja para desligar o motor. Aí depois já até ajudava a montar eles, com uns 12 anos. Hoje talvez nem lembro mais, mas eu conhecia cada pedaço do motor e identificava maioria dos defeitos.
Em 1997 meu pai comprou uma F-75 ano 1979, bem conservada. Foi nela que eu aprendi a dirigir. Perguntei a ele porque meu avô e ele tinham tanta preferência por Rural, F-75 e Jeep, e não pelos carros mais robustos da Chevrolet. Ele me respondeu que foi pela suspensão dos carros da Chevrolet já ser com bandeja, diferentemente dos Willys/Ford, com feixes de mola na frente também, que passava na lama e não atolava fácil. A C-10 não podia ver uma poça de lama que já ficava atolada. Ai eu pesquisando aqui sobre o sucesso destes carros americanos, descobri que outras marcas além da Ford, como a Mitsubishi, fabricaram a Rural, sendo assim, a Rural, a precursora da Pajero. Incrível, né? Nunca veio na minha cabeça que uma rural teria tanta importância na história automotiva.
Outra curiosidade é que eu tinha medo de alguns carros. Meu pai trabalhava com dois caminhões Mercedes, de um primo dele. Era um 1318 amarelo, chamado de bicudo, e um 1113 vermelho com faróis redondos. Certo dia acordei e vi pela primeira vez a 1113 na frente de casa. Fiquei olhando, observando, até que passei pela frente dele e o encarei. Foi talvez o maior medo que tive na vida. Aquele caminhão é assustador. Fiquei muito tempo sem olhar pra frente dele.
O Honda Fit
Aos 16 anos cheguei em Brasília/DF, pra morar com minha irmã. Em dois meses arrumei um emprego e fui morar sozinho, na Asa Sul. O choque cultural foi bem complicado. Sair do interior da Bahia diretamente para o centro de Brasília foi um grande impacto. Andando pelas ruas, empolgado, ouvi um carro espirrando, e já fui investigar o que era. Era um Golf GTI. Aquilo virou meu sonho instantaneamente. Meu sonho imediato era trabalhar, comprar um e ir pra Bahia mostrar pro povo, e já teria zerado a vida, haha. Eu só tinha ouvido barulho de turbo no vídeo game. Passado algum tempo, acho que em 2007, observando uns cartazes numa parada de ônibus, vi o anúncio de um evento de arrancada e manobras, chamado Top Speed, no Autódromo Internacional Nelson Piquet, e custava só R$ 5,00 a entrada. Então saí de casa e caminhei oito quilômetros até o local.
Chegando lá vi uma Saveiro G3 verde ganhando de todo mundo, e muitos outros carros monstruosos, fiquei hipnotizado. Então apareceu um carrinho Honda amarelo, muito estranho, parecia algum carro conhecido, mas não lembrava se já tinha visto no Gran Turismo 2, meu único guia de referência sobre carros, pois eu não tinha internet.
Então alinharam os dois carros na pista: A Saveiro que engoliu todo mundo, com o Hondinha amarelo que acabara de chegar. Na hora que arrancaram, quase cai pra trás. A primeira vez que ouvi um VTEC berrar. Devia estar a 10.000 rpm, e numa troca de marcha deu um estouro monstruoso e continuou andando, vencendo a Saveiro de forma espetacular. Naquela hora enterrei o sonho do Golf GTI. Virei Honda desde criancinha. Fui pesquisar o carro, e descobri que era um CRX VTi.
Mais tarde, já com condições de comprar um carro, em 2013 fui em busca de um Fit na faixa de R$ 20.000. Avaliei o Civic, mas um da época do Fit GD1, era um projeto mais antigo e mais caro. Mas jamais um Civic seria inferior. Acabei comprando um Fit 2005/06 LX sem VTEC, pois os EX custavam mais caro e não cabiam no meu orçamento. O meu Fit é 1.3 com outra tecnologia Honda, o I-DSI (intelligent Dual & Sequential Ignition), que tem oito bobinas e oito velas, parecido com os Alfa Twin Spark, queimando de forma sequencial, aproveitando toda a mistura. Poucos acreditam, mas é bem comum um Fit 1.3 marcar 22km/l, se não andar acima de 80km/h.
Quando peguei o carro com as rodinhas de ferro, já pensei logo em rodas melhores. Já estava com o projeto em mente: Iria deixar o Fit personalizado de John Player Special, com algum adesivo do Ayrton Senna. Fui atrás de rodas réplicas BBS douradas, aro 15×8/7, só que não encontrei.
Achei umas mais finas, mas quando fui pegar, sofri pra levantar uma roda, e ainda mais réplica barata. Meu carro nem sairia do lugar com aquilo. Pesquisando num classificado online, achei umas aro 17×7,5 preto fosco com red lip original. O cara estava vendendo por R$ 2.500, e dizia que eram importadas, pesavam 7kg e corria com elas em Track Days num Marea Turbo. O modelo da roda é Kyowa Racing 228.
As rodas pesavam quase a mesma coisa que as 14 originais de ferro, e estavam muito novas, como ele falou. Já paguei e coloquei elas no carro, e chegando em casa, lavei e já apareceu o primeiro desafio. Os furos das rodas eram muito finos, e o vendedor tinha me passado os parafusos do Marea. Só que Honda usa prisioneiros. Achei as porcas Allen, 200 reais o jogo. Depois destas rodas desisti do Fit JPS.
Ai me restou personalizar o carro de Lucky Strike, em referência aos BAR (British American Racing) Honda. Lembrando que a BAT (British American Tobacco), dona da Lucky Strike, JPS etc. era dona da BAR, antes da Honda comprá-la e passar vexame.
“Lucky Strike separates the men from the boys… but not from the girls”
Depois das rodas, fiz as calotinhas com o emblema Honda, que ficaram bem bacanas. Confunde muita gente, olhando de longe. Perguntam-me se as rodas são de algum Honda importado.
As condições e oportunidade não apareceram, então tive que improvisar os red emblems. Em breve vou comprar os originais.
Levei o carro numa loja de escapamentos, para dobrar o cano, para substituir o filtro por um esportivo de duplo fluxo.
Devido à necessidade de uso diário do carro, não fiz o escape ainda. Mas já tenho ideia mais ou menos do que irei fazer. Vou substituir o catalisador por um downpipe, colocar um cano dentro do intermediário, depois colocar um abafador de inox. Atualmente só removi o silencioso original e bancos traseiros, para certo alivio de peso, para correr num hot lap.
O meu Fit original, pesa 1040kg. Com algumas coisas que removi, deve ter ficado com menos de 1000kg. Ando com ele sem os bancos traseiros até hoje.
Quando eu estava começando a mexer no carro esteticamente, entrei para o Civic Clube BSB. Participei dos encontros desde a fundação, e até andei em comboio por mais de 130kms com mais de 60 Hondas. No caminho todo mundo que passava pela gente com algum Honda, batiam palmas, tiravam fotos. Foi ai que percebi que não era só eu apaixonado por esta marca. Com quase um ano no clube, eu tive que sair, apesar de ter feito amizades lá.
Fotos: Civic Clube BSB
Hot Lap
Eu acompanhava os Track Days em Brasília, mas nunca imaginava que eu pudesse participar de algo parecido, pois meu carro era fora da realidade para participar. Eu fiquei curioso pelo fato de existir os hot laps em Limeira, e muitos carros 1.0 participando. Algum tempo depois a Distrito Racing organizou o primeiro Hot Lap deles aqui no DF. Nem perdi tempo, já me inscrevi em cima da hora. Quem tem interesse de começar a colocar o carro na pista, hot lap é o mais ideal.
Chegou o dia. Eu sabia que meu carro era muito estável, rígido, mesmo com suspensão original, mas não sabia que tinha a estrutura de um verdadeiro carro esportivo, escondido num carro classificado como “minivan” no Brasil. Eu só sabia que a Car and Driver tinha feito o lane-change test com ele, e foi o mais rápido testado por eles, inclusive mais rápido que o Corvette Z06. Explicarei tudo no Segundo post.
Coloquei gasolina Podium, pois por incrível que pareça, o comportamento do meu carro muda com ela. Só de dar uns estouros com ela, já vale a pena.
Fui dos primeiros a entrar na pista, a pista gelada, pneus frios, e o vacilo de entrar com 42 psi nos pneus, porque tinha medo de pegar as rodas no asfalto ou zebras. O resultado foi esta barbeiragem, na terceira volta.
Depois com 36lbs, percebam a aderência e estabilidade na curva, mesmo muito alto. O Carro pedia por potência. Fiz curvas mais rápido que muitos carros, mas nem chegava a cortar de segunda, nas retas.
Hot Lap ou Track Day não é competição. A disputa é com você mesmo. Mas eu estava com medo de ficar em último, atrapalhar os outros, etc. Meu carro tinha 20cv a menos que o segundo mais fraco. O meu tinha 80cv e os outros já começavam em mais de 100cv, molas esportivas, etc. Mas ai veio a surpresa: Não fiquei em último. Fiquei à frente de Peugeot 208, Classe A 190, Punto T-Jet preparado, Omega 4.1, Chevette e outros que não estão na cronometragem.
Comecei uma disputa por tempo com dois carros. Um Cordoba que já saiu aqui no Project Cars, do Lucas Pedra, e um Passat. Eu estava à frente deles por um bom tempo, até o Cordoba fazer uma volta com algo em torno de 1 décimo mais rápido e quebrar. Não consegui superá-lo. O Passat, eu estava andando 1s à frente, até o Marcelo, dono do Passat, chegar com um combustível estranho num galão, dizendo ele que era “só álcool” (risos). O carro dele ficou 0,7s mais rápido que o meu.
No segundo Hot Lap, só fui assistir, e chegando lá, vi um Fit VTEC num box, aí já fui trocar ideia com o dono. O cara falou que tinha visto um Fit 1.3 correndo no Hot Lap anterior e não passou vergonha, então ia brincar com o dele 1.5. Ele nem sabia que eu era o dono, então falei pra ele. Meu tempo foi 53s e o dele foi 52.4s. Mas o 1.5 tem 25cv a mais que o meu 1.3 (Parecido com a diferença entre AE85 e AE86 no Initial D, hehe).
No próximo post explicarei sobre o monobloco do Fit e as rodas com pneus de Fórmula 3 que coloquei nele. Peço desculpas pelas histórias longas, e pouco sobre o projeto. Até o próximo.
Por Lucas Ribeiro, Project Cars #279