Olá, seres vivos que tem óleo de motor no lugar do sangue e motor V8 no lugar do cérebro! Como cês tão? Primeiro, quero agradecer a receptividade do pessoal e espero que tenham gostado (e aturado) ler todo aquele primeiro texto. Agora chega de blablabla e vamos logo para o capítulo de hoje!
Como surgiu essa ideia de ter um Food Truck e o nome “Corujinha: Fritas Voadoras”?
Ok, é tanta coisa que eu nem sei por onde começar…
Até antes, eu estava trabalhando como projetista mecânico num escritório daqui de Suzano e estudando jornalismo (tudo a ver) em Mogi das Cruzes, até que um dia, graças a crise econômica do país, decidiram encerrar o escritório de Suzano e transferir tudo para a fábrica de Itaquaquecetuba. Com essa decisão, ficou complicado… pois iria ficar muito fora de mão para poder ir para a faculdade, acordar mais cedo do que o costume para ir ao trabalho(e eu já estava virando um zumbi por dormir muito mal todos os dias por causa dos trabalhos do curso) e também o trampo não estava sendo muito a minha praia(embora aprendi muita coisa ali).
Eu sou um cara que é viciado em qualquer coisa que faz bem a saúde, como batatas fritas. Todos os dias, na saída do curso, eu tinha um hábito bem saudável que recomendo para todos: batata frita como janta num carrinho bacana que fica em frente a faculdade.
Aí bateu a ideia! “Já sei! Vou vender batatas fritas e vou ficar rico!”.
Conversei com a minha mãe e ela curtiu a ideia. Daí começamos a discutir como seria a coisa. Até antes, eu pensava em comprar esses carrinhos de inox com tacho de fritura e pegar meu Ford KApetinha pra rebocar o carrinho. Mas daí…
Mãe: Não vai dar… esse carrinho é pequeno demais!
Eu: Beleza, vamos pegar uma Parati Quadrada com motor AP! Daí turbino essa coisa e vai ficar bom pra dar uns rolê tamb…
Mãe: Meu(bate na mesa)! Pensa em um carro maior… uma coisa melhor! Uma Kombi!
Eu: Woooow! Genial!
Fiquei como um besta de tão surpreso! Ninguém queria que eu tivesse um carro véio, muito menos um Fusca. Mas poxa vida! Eu queria um Fusquinha mas vou ter uma Kombi! Genial!
Daí que veio o nome Corujinha. Convenci a ela para pegar uma Kombi Corujinha, porque é mais carismárica, estilosa e bonitinha com aqueles zoínhos saltitantes. De tanto falar “Corujinha”, o nome pegou, vai ser “Corujinha: Fritas Voadoras”(Achei legal incluir “Fritas Voadoras”, porque sim).
Mini bônus: Reação dos meus pais com “Fritas Voadoras”:
“É! Só falta fazer sentido ‘Fritas Voadoras’! Cê vai ficar aí correndo como um louco com essa Kombi e as coisas vão voar tudo!”
Até aí, pensávamos em pegar uma Kombi Corujinha normalzona mesmo e, quando iniciar o trabalho era só colocar os tachos para fora e voilá. Até que um dia, teve um evento de Food Trucks aqui na cidade e meus pais ficaram encantados com aqueles caminhões com caramujos, enquanto eu, fiquei louco com uma Kombi Corujinha azul (que se chama Catarina) que é do pessoal da Auto Magrão Car (falamos sobre eles no próximo post!).
O que era hilário do pessoal que estava com a Catarina, é que a galera estava assando linguiça num carrinho de supermercado. SIM! Carrinho de supermercado como churrasqueira! Genial!
E o legal é que a grana arrecadada dos lanches foram investidos em água e comida para o pessoal que foi prejudicado pela a tragédia de Mariana em Minas Gerais.
Ok, estou fugindo do assunto principal. Vamos retomar.
É isso aí… fiquei procurando um monte de Corujinhas a venda, ficava chateado pelos preços e condições, até que um dia achei essa maravilha de Kombi. FIN.
“Meu, explica melhor essa história aí, caramba!”
-Um leitor do FlatOut e editores.
Ah… já são 3 horas da manhã mesmo, né (o horário que estou escrevendo este texto)? Vamos aprofundar na historinha!
Ok. Acho que muitos aqui devem saber que as nossas Corujinhas estão sendo roubadas exportadas para a Europa. Os gringos Europeus que vem aqui não levam apenas uma Kombi, mas sim, uns 10+ de uma vez. Não é só as Corujinhas que o pessoal leva, mas também as Clippers. O mais incrível de tudo isso aí, é que os caras pagam um preço de banana por elas.
Talvez, a possível explicação desse fenômeno seja essa: na Europa, a T1(Corujinha) foi fabricada até 1967, enquanto aqui no Brasil, até 1975. A T2 (Clipper) até 1979, enquanto aqui no Brasil, até 1996, depois sucedido pela ‘Carat’ (que não é T3).
T1(Europa): 1950 até 1967; Corujinha ou Jairinha(Brasil):1950 até 1975.
T2(Europa): 1967 até 1979; Clipper, Kombão, ou seilá(Brasil):1975 até 1996.
T3(Europa): 1979 até 1992
Até bate um ciúme ao saber disso. Mas pelo menos, as nossas Corujinhas(e Clippers também) vão estar em boas mãos (espero), daqueles que vão saber respeitar, cuidar e valorizar.
Para complementar, além desse fato, tem mais outros dois motivos. Motivo 1: muitos sabem que o Brasil é o país da especulação – Alguns proprietários colocam o preço lá em cima para as palavras “raridade” e “relíquia” fazerem sentido. Motivo 2: carros antigos carregam muito valor sentimental. Um dono de um possantes desses pode colocar o valor da venda que ele quiser.
Achar uma Kombi Corujinha em bom estado num orçamento relativamente baixo estava sendo uma tarefa bem difícil. Também quando achava alguma com condição boa e preço bacana, ligava para o proprietário e tinha que lidar com a resposta “Já vendi”, isso que o anúncio tinha menos de uma semana de publicação!
Até que um dia achei essa maravilha de Kombi Clipper com Caramujo, com um preço bem bacana. Era agora ou nunca.
Processo de Restauração – Kombi é uma caixinha ambulante de surpresas
É sério mesmo que tenho que lembrar dessa parte? Na boa, é o momento que me dá calafrios!
“Meeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeu!!1 Tem um cachorro morto ali véio!”
É a preguiça canina mesmo.
Já vou pedindo desculpas por não ter muitas fotos dos detalhes (porque o meu celular é um idiota), mas vou dizer uma coisa: A coisa tava bem feia mesmo.
Tinha buracos pra lá e pra cá na lataria, alguns resolvidos com umas gambiarras mestres e outros deixados pra lá porque não tinha jeito mesmo.
Olhe bem para este banco:
Agora leia bem: Nos buracos resolvidos com gambiarras mestras tinha massa e espuma. O que você acha? O campo de comentários é todo seu! Eu fiquei muito louco com isso – não sabia se eu ria ou chorava, ficava confuso, duvidando se essa probabilidade de gambiarra estava certa ou não. Eu caguei tijolos.
Mesmo encontrando um monte de anormalidade, meu pai e eu decidimos fazer a restauração em casa mesmo. Tivemos que ser bem corajosos para encarar a tal restauração. E outra condição que nos deixavamos desesperados: Tinha que fazer essa restauração o mais rápido possível, pois como todo mundo estava desempregado, não dava pra ficar bobeando por aí e deixar as contas acumularem.
Meu pai é soldador e, quem mexe com solda tem manhas com funilaria. Ainda mais que o velho já trabalhou com funilaria e pintura. Então, deu pra botá o pau na máquina.
Já eu… mal sei emendar uma chapa com a outra. Então fiquei como “Ajudante de Funileiro”, só que fiquei mais como “Auxiliar de ajudante de funileiro” porque não sabia fazer porcaria nenhuma a não ser desmontar as coisas, ficar lixando a Kombona o dia todo e indo pra lá e pra cá comprando materiais.
Compramos algumas chapas de aço, massa poliéster (sim, usamos massa em algumas partes), lixas, rebites, tintas, fundo cinza(primer), óleo para motor, molykote A2, filtro de ar, calotas de Kombi Corujinha, pastilhas de freio, fluido de freio, lâmpadas, batida de pedra e algumas peças de acabamento com o troco que sobrou.
Retiramos os retrovisores, peças, bancos, acabamentos externos, toldo, e coisaradas da cozinha.
Retirada de bancos e um monte de sujeira e ferrugem.
Dando uma geral na cozinha… Note como estava o piso.
Como vocês estão vendo, nem a cozinha escapou do processo da reforma. O piso estava todo detonado, tinha alguns buracos e um monte de sujeiras. Dava medo de enfiar o braço dentro dos armários e gavetas – a probabilidade de ter 20 aranhas marrons lá dentro eram altas. Pelo menos achei mais de R$ 2.000 de moedas espalhadas dentro da cozinha. Mentira, não chegou a R$ 2.000, mas tinha muita moeda mesmo.
Limpamos, tiramos um monte de gordura incrustada nas chapas de inox, pintamos o interior dos armários, tampamos os buracos, fixamos as chapas que estavam soltas e colocamos um piso novo.
Na lataria externa, passamos massa e lixa nas partes que estavam riscados ou com furinhos pequenos e nas partes críticas, meu pai cortou e remendou com chapas.
Na cabine, foram retirados os bancos, tapetes e forros das portas. Passamos o “bate-pedra” no piso e pintamos o interior de preto. Também foi refeito o forro da porta.
Sobre os bancos, o do passageiro estava ok, apenas do motorista que estava toda rasgada. Colocamos espuma, remendamos um pano e colocamos uma capa por cima mesmo. Preferimos fazer isso em casa, pois os tapeceiros estavam cobrando um absurdo pelo o serviço de restaurar o banco.
Agora vem a parte mais bacana: O mistério da correia que escapava toda hora.
O principal motivo era isso:
Isso nem é mais folga… é aposentadoria mesmo
Compare como o encaixe da polia do alternador deve ser:
De cima: Polia velha, De baixo: Polia nova. Baita diferença, não?
Com tanta folga no encaixe, a polia ficava sambando lá dentro e a correia ficava escapando toda hora. É bem provável que deixaram a correia apertada demais, sem regulagem ideal dos espaçadores na polia do alternador.
Para quem não sabe, nos motores VW Aircooled existem arruelas atrás e na frente da polia do alternador. Essas arruelas são os espaçadores. Você regula a folga da correia jogando as arruelas para trás(para folgar mais) ou jogando as arruelas para a frente(para apertar mais). Se você deixa a correia muito folgada, vai patinar enquanto você acelera e diminui o rendimento do dínamo/alternador e também vai comprometer na refrigeração. Se deixa muito apertada, vai gerar desgaste prematuro nos rolamentos do dínamo/alternador e a cagada a seguir:
Coloquei a quantidade de arruelas desejadas lá atrás, coloquei a correia e depois a polia(encaixou certinho), fui colocar a rosca para travar e… ué? Regulei as arruelas várias vezes e o mesmo problema… Não queria dar aperto, ou se não… a polia ficava toda torta.
Motivo: O eixo roscado do alternador estava torto!
Solução? Trocar a po*** do alternador inteiro(Muitos vão rir da minha cara).
Entenderam o porque da minha trauma no início dessa parte? Éeee filharada! Restauração não é fácil não! No início você pensa que vai gastar um valor X, mas na verdade vai gastar o triplo do que estava pensando. Ainda mais. Tivemos que fazer as pressas, pois as contas de casa não querem saber de esperar. Então foi trabalho de domingo-domingo, o dia inteiro lixando e reparando as partes da Kombinha e seu caramujo.
Não é que estou reclamando. De uma certa forma, valeu a pena. Só estou deixando claro que restauração não é uma tarefa fácil de se fazer. Haja muita paciência e esforço!
Bônus!
Entenda o câmbio da Kombi:
Demorei uns três dias pra entender esse câmbio doido, e até hoje acabo engatando a ré ao invés da segunda!
Bom… vou ficando por aqui… Já deve ser umas 5 da manhã e nem sei se vou dormir ainda!
No próximo capítulo:
Treta feia na fase da pintura em casa e um pouco sobre “Auto Magrão Car” e um bônus bem maneiro!
Saca? Na boa. Valeu!
Por Tobita Matsuki, Project Cars #348