Beleza, pessoal? Segue a terceira e última parte da saga da restauração de mais um raro EG6 aqui do Brasil que estava prestes a se tornar doador de peças! Para que não conferiu, aqui está a Parte 1 e a Parte 2 do projeto.
Eu já adianto: Nesta etapa vocês verão muita frustração, mas tenho certeza que quem já pegou um carro pra reformar por inteiro entende que a parte da pintura, a parte mais “cosmética”, é a mais trabalhosa e traumatizante. Bom, depois da mecânica pronta, o carro seguiu direto pra pintura. A lanternagem onde o carro seria pintado ficava a quatro ruas de distância de onde montamos, então quando eu digo direto, foi literalmente isso. Saiu da KingzAuto do Duda às 17:45h de uma quinta-feira e as 17:48 deu entrada na lanternagem.
A conversa com o responsável pela pintura foi bastante simples:
Eu: Quanto você me cobra pra fazer a pintura do carro inteiro se eu comprar todo o material e te trouxer?
Pintor: Cobro R$ 1500 na mão de obra (eu tinha conseguido um bom desconto, pois ele era conhecido de um dos amigos que me ajudou com a montagem).
Eu: Certo. Parcela?
Pintor: Em 2x.
Eu: Certo. E o prazo?
Pintor: Três semanas.
Eu: Não. Fala sério. Eu sei que esse tipo de serviço não é trivial. Me dá seu prazo máximo já, com todos os imprevistos que possam acontecer, outros carros que possam entrar na frente em urgência ou qualquer outra dificuldade que possa aparecer.
Pintor: Quatro semanas. Te garanto que não passa disso.
Eu: Certeza?
Pintor: Sim.
Eu: Certo. Me passa uma lista com o material que você precisa que amanhã está tudo aqui.
E assim foi. Na sexta-feira pela manhã eu cheguei na lanternagem com todo o material e com a primeira parcela a vista. Eu ia fazer uma viagem de cerca de um mês em seguida, daí deixei com ele um contato de um amigo que poderia levar pra ele qualquer coisa que ele precisasse na minha ausência. Ele confirmou novamente o prazo máximo de quatro semanas e eu, ingênuo, comprei a ideia.
Aí começa a frustração. Sabe aquela comparação que fazem entre Prazo, Preço e Qualidade? Aquela velha que diz que quando você vai fazer um serviço você só pode ter dois entre os três? Ela é verdadeira. Mas existe um adendo a ela: Você também pode ter apenas um. Ou talvez nenhum.
Enquanto viajava, tentei ser o menos chato possível com o pintor. Fui perguntar pra ele como estava o serviço depois de umas três semanas apenas, pra receber as seguintes fotos como resposta:
Estranho, não? O serviço deveria estar bem mais adiantado, já que 75% do prazo já havia corrido. Na mesma conversa, ele voltou a afirmar que entregaria em quatro semanas, e justificou o “atraso” dizendo que houve um problema com o sócio e que precisou de trocar de oficina. Ou seja, o carro estava na segunda oficina de lanternagem diferente. Das quatro que viria a estar até o final da pintura. Isso mesmo. Quatro.
Bem, cheguei de viagem e, como era de se esperar, o carro ainda não estava nem perto de estar pronto. Basicamente havia começado a lanternagem, e o carro já estava na terceira oficina diferente. Segundo o pintor, novamente ele teve problemas com o proprietário e pediu emprestado o espaço de outro amigo para completar o meu carro. E lá se vão mais semanas, e o processo segue a conta-gotas. Depois eu até descobri que ele dormiu várias noites sozinho ao relento na rua porque não tinha espaço na oficina eu descobri. Graças a Deus nada foi levado, no entanto. Mas imagina a frustração e a sensação de coração na garganta que uma notícia dessa não traz…
Por estas coincidências da vida, meu amigo Leandro (vulgo Macho) que estava me ajudando desde o começo abriu uma oficina mecânica no mesmo setor onde o carro estava sendo pintado. E como eu estava de férias e em transição de emprego e com bastante tempo livre, acabei indo várias vezes para lá passar o dia inteiro com ele com o seu sócio Alexandre (vulgo Chupa). Sim, meus amigos tem apelidos mais estranhos que o meu.
E qual não foi minha surpresa quando vejo o meu VTi chegando em mais uma lanternagem, ao lado da oficina do Leandro. E ainda longe de estar pronto! Pacientemente eu o cobrei o pintor, agora com alguma veemência. E só então o serviço começou a “andar”. Sim, “andar”, porque ainda se foram umas quatro semanas (comigo na oficina ao lado dia sim, dia não) para a pintura da carroceria ficar pronta! Neste ponto, ele pediu e eu com a impressão de que não faltava muito e mais uma vez com certa ingenuidade, adiantei a parcela final. Ufa! Agora sai! Será?
Não, não será. Depois da carroceria, ainda foram pelo menos mais três semanas na pintura do resto dos acessórios. Trabalhando no meu carro apenas depois do expediente, porque como era um trabalho anterior dele o dono da lanternagem não quis se responsabilizar, o serviço seguia muito lentamente. E pra completar, ele parou de ir para a oficina assim que acabou de pintar os acessórios sem nem finalizar a montagem do carro. Foi aí que eu perdi as estribeiras, fui na lanternagem, falei com o dono, peguei o carro do jeito que estava com todas as peças e levei para a oficina do Leandro para terminarmos a montagem. E desde então não tive mais nenhum contato com o pintor.
Lembram que eu disse que não dá pra ter os três itens (preço/prazo/qualidade) no mesmo serviço e às vezes só temos um ou nenhum? Pelo menos um deles eu tive. Apesar de tudo, a pintura ficou excelente. A lanternagem ficou extremamente lisa, a pintura perfeitamente homogênea e correta, a quantidade de verniz foi perfeita e muito bem aplicada. Acontece que no final das contas o pintor é realmente um excelente pintor. Tem técnica, tem competência. Só não é… Digamos… Muito profissional. Um serviço previsto para quatro semanas levou mais de três meses para ficar pronto, e só foi concluído porque eu fui lá e acabei. Senão era capaz de não estar pronto até hoje. E isso me tirou o sono tantas noites que prefiro nem lembrar me lembrar muito e acho melhor focar no resultado final.
Depois de pintado, polido e limpo, foram chegando mais alguns detalhes para acabar de arrumar o interior e o exterior no estilo que eu queria dar, o mais OEM possível. Manopla, tapete, front lip OEM, faróis, lanternas red clear, pintura das rodas, pneus Dunlop novos, mud guards e várias pecinhas de acabamento do interior, adesivos e som com toca-fitas, tudo original. E finalmente o VTizinho estava pronto pra desfilar pelas ruas do DF. Agora perfeito de mecânica e de estética, como tem que ser.
Mas acontece que com o tempo, depois de tantos projetos, eu aprendi que eu curto mesmo é o processo. É construir. Pegar o carro no fundo do poço e trazê-lo de volta à vida. Ou então fazer algo diferente, que ninguém (ou quase) fez parecido em Terras Brasilis. Depois de pronto, parte do “tesão” se vai, de modo que eu curto o carro por pouco tempo e em seguida não me nego a ouvir propostas. E como sempre, elas aparecem. E por este motivo o VTi se foi para um novo e feliz dono. Mas é óbvio, o show tem que continuar. E sempre que um vai, outro volta, não é mesmo? E como tenho uma leve queda por Hondas Ruivinhas…
Quem sabe a história de como este pacato EK4 VTi acabou se tornando um EK9 Type R Wannabe não é contada por aqui como mais um PC um dia desses?
Valeu, pessoal! Abraços!
Por Flavio “Zaca” Diniz, Project Cars #363
Uma mensagem do FlatOut!
Flavio, a gente entende esse negócio de o processo ser mais legal que o resultado. É como aquela história de que, numa viagem, o caminho vale mais que o destino. A diferença aqui é que o destino é tão legal quanto o caminho. E se você acabou vendendo ele no fim das contas, a gente entende. Especialmente considerando sua troca. E sim: queremos o novo Civic Vti no Project Cars. Parabéns!