Bom dia, boa tarde, boa noite – seja qual hora que você esteja lendo este post. Bem-vindos de volta ao PC#380, no seu canal gearhead favorito. Caso vocês estejam perdidos, ou esta seja sua primeira vez no site, você pode conferir o que aconteceu no episódio anterior aqui.
Continuando de onde paramos, o carro tinha sido entregue na funilaria em fevereiro de 2015 (mais precisamente no sábado antes do carnaval). Apesar do preço não ser o mais barato do que pesquisamos, entregamos o carro com a promessa de retorno em 45 dias. O pagamento seria feito em parte para loja de tintas (que parcelaria o valor, pois não tinha todo o dinheiro) e o restante na entrega do carro.
Agora era a hora de escolher a cor e, caramba, quantas dúvidas… Podia ser cereja, pois eu achava uma cor agradável, porém já havia vários rodando por aí nessa cor, poderia ser azul para ver as pessoas na rua se batendo quando eu passasse, mas eu já tinha o HB20S azul e o Jeep Willys do meu pai era azul e branco e queria outra cor. Verde não sou fã, amarelo só tinha visto um fusca pintado nessa cor e achei estranho. Minha namorada falou para pintar de laranja, no começo achei muito forte a cor, mas depois de pintado o carro eu cheguei a considerar e tinha guardado para pintar o outro fusca (lembra que eu disse que tinha comprado 2 pelo preço de 1?). No fim fiquei entre o cinza urano e preto ninja do catálogo da VW. O cinza eu descartei por ser metálico e mais complicado de fazer retoques (o Punto que eu tive era preto metálico e dava pra ver todos os remendos na pintura). Sendo assim, sobrou o preto ninja.
Na época eu nem lembrava da música, porém agora me persegue (porque será?! Rsrs). No fim, meu projeto que era para destacar o carro do mar de carros monocromáticos que ia do branco ao preto, passando pelos trocentos tons de cinza, acabou caindo no mesmo barco que todo mundo.
Mas no fim ainda teve o efeito desejado, pois o carro acabou se destacando do mesmo jeito (depois de pronto só vi um fusca preto em bom estado de conservação em Ribeirão Preto). Mas vamos voltar do devaneio e pegar a linha do tempo novamente.
Com os materiais comprados, começou a busca pelas peças chave do projeto. Para ter o look da década de 60, precisaria do que faz o fusca parecer mais antigo por fora que são os para-lamas, faróis e para-choques. Tem detalhes que não escondem que é um fusca mais novo como alguns colegas do FO comentaram no post anterior, as entradas de ventilação na coluna traseira, tampa do motor, botões e saídas de ar do painel.
Como já falei no texto anterior na busca pela suspensão dianteira e freios, achar componentes mecânicos não foi tão fácil como eu pensei, e os fuscas pré 73 que encontrava para tirar peças de acabamento, estavam mais acabados que o meu fusca. Por sorte, encontramos um desmanche que tinha o par de para-lamas em estado razoável e 3 parachoques (2 dianteiros e um traseiro), fechamos o pacote com todas as peças por R$400,00 (lembra que eu disse que um para-lama novo custa 500 reais?).
De volta à funilaria. Aos fracos de coração e estômago, peço que pulem esta parte. Depois do carro desmontado e algumas camadas de terra (que era da cor do carro) retiradas, pudemos averiguar alguns pontos a serem consertados. Os dois pés de coluna, as duas caixas de roda dianteiras e um ou outro podre espalhados pela carroceria. Nessa época, o câmbio foi retirado e enviado para revisão das engrenagens, sincronizados e troca da relação pela do Itamar/SP2 (8×31), visando alongar o câmbio, pois não sabia qual motor seria usado.
Detectados os problemas, foram compradas as peças para reposição (este tipo de peça não compensa comprar usado e acaba sendo mais barato e garantido a compra de uma reprodução nova) e foi progredindo o serviço, com meu pai acompanhando semanalmente a evolução, pois como trabalho na região de Araraquara, saio às 6 da manhã para trabalhar e chego em casa após às 18h. Abro um espaço aqui para agradecer a ajuda dada pelo meu velho no projeto, pois sem a supervisão dele, muito do que foi feito teria saído errado ou demorado o dobro.
Trocados os dois pés de coluna e as chapas que pareciam um queijo suíço, chegou a hora de fazer a adaptação dos para-lamas antigos na nova carroceria. Os para-lamas olho de boi tem 2 variações: até 1969 e de 1970 a 1973. A primeira leva tem os furos para a gradinha das buzinas, a segunda tem o rasgo para o suporte do para-choque como os demais fuscas. Os que eu comprei eram da primeira leva, sendo necessário fechar o furo da buzina e abrir o rasgo para encaixar o suporte no bacalhau (não sei de onde eles tiram esses nomes, chapéu de napoleão, cangalha (chapa que fecha o porta-malas), bacalhau… vai saber).
No meio do serviço dos para-lamas, o funileiro sugeriu passarmos uma barra de ¼” na borda interna dos para-lamas pois com a vibração e o tempo eles tendem à trincar e fazendo isso eles ficariam mais resistentes. Sugeriu também o serviço para ser feito no capô do fusca com o mesmo intuito e deixar ele mais firme à torção. Autorizado o serviço, um tempo depois ele informa que necessitamos de outro para-lama traseiro direito, pois o nosso estava remendado a um ponto que não daria para salvar.
Buscamos outro para-lama e encontramos um em bom estado por R$70,00, que saiu no pacote com os cintos de segurança retráteis de um Fiat tipo por R$100,00 tudo. Entregues as peças, o funileiro prosseguiu com a reforma, adaptando uma chapa para fixação da máquina do cinto (a caixa de ar era muito fina, corria o risco de romper e arrancar tudo em uma batida), foi passada a barra nos para-lamas traseiros também e, nesse meio tempo estava definindo a mecânica a ser usada.
Até então, estava decidido por um EJ18 que estava à venda em Curitiba por R$1800,00 com chicote completo, porém o frete para trazê-lo até Ribeirão, a compra da flange, embreagem especial e encontrar alguém na cidade que topasse o serviço (fora o fato que eu deveria ter feito isso antes da funilaria) fizeram eu desistir da adaptação.
Decidi manter a mecânica aircooled que tem grande oferta de receitas de preparação. Mas a busca por um 1600 que estivesse em bom estado por um preço razoável, também foi uma novela. Era motor precisando de retífica e troca de reparos dos carburadores por R$1.000,00 – 1.200,00. No fim, encontramos com o ex-proprietário da Casa do Fusca a oportunidade de comprar um motor 1600 de Brasília com 40.000km nas medidas originais. Na época, os kits para aumento de cilindrada estavam por volta de R$800,00 (94mm) para uma cilindrada de 1915cc, sem alteração do virabrequim original (69mm). Na época estava com pouco dinheiro em caixa e quem estava bancando a reforma eram meus pais, com a promessa que eu pagaria quando tivesse dinheiro.
Como o motor já tinha dupla carburação original, um par de solex 32, para não manter o motor stock, foi comprado um comando Empi W100, que não é muito agressivo e me daria uma dirigibilidade boa no trânsito, mas arrancaria um potros idosos do meu motor de mais de 30 anos. O motor estava desmontado e sendo revisado, então entregamos o comando e solicitamos o alívio do volante do motor com o virabrequim (para não perder o balanceamento) e o passe de 1,5mm nos cabeçotes a fim de aumentar a taxa de compressão dos 6,9:1 para aproximadamente 8,5:1, visando aproveitar melhor a nossa gasolina atual.
Definida a mecânica, havia um problema na funilaria pendente (que a gente sabia), que dependia da decisão do motor. O 1600 é um motor que esquenta bem mais que o 1300, e como a tampa era fechada, foi necessário decidir o que fazer para resfriar melhor o 1600 aspirado. Então voltamos aos desmanches procurando uma tampa com aberturas para ventilação.
Os preços não estavam ajudando de novo. Mais de R$100,00 por uma tampa em estado de médio para baixo. O funileiro falou que ele poderia fazer os furos como os originais na tampa do 1300, mas não achei que ficaria bom como de fábrica. Eis que então, olhando no ML, encontro a tampa do motor de um 1600S (vulgo Bizorrão), com uma captação de ar em plástico que julguei ser mais eficiente para resfriar o motor que as fendas originais.
Entrei em contato com meu amigo James (se você estiver lendo man, obrigado de novo) e pedi uma foto com o lado de dentro da tampa para fazer os recortes e ele me fez um croqui. Passado para o funileiro as medidas e depois meu pai passou para conferir o serviço como estava andando.
Para situar na linha do tempo, estamos na primeira semana de abril de 2015 (se você fizer as contas, era para estar retirando o carro da funilaria nessa semana, porém ainda nem havia começado a pintura) e meu pai precisou retornar para Goiás para trabalhar na fazenda com os irmãos dele. Então era eu no whatsapp com o funileiro cobrando fotos e revisão de prazos para entrega. Sempre era: “semana que vem eu termino a pintura” até que na última semana de abril, eu chego na funilaria e vejo esta cena.
Não tem jeito, quando você vê o carro pintado já tem esperanças de começar a andar com o carro de novo. Porém tinha o carro inteiro para polir, passar bate pedra no assoalho, caixas de roda e sob o tanque e eu ouvia mais uma vez “Semana que vem…”. Porém quando eu cheguei no final da semana (dia 29/04) o carro estava assim:
Quase não acreditei, e ele disse que no dia seguinte, véspera de 01/05 o carro estaria pronto. E “estava”. As aspas é porque o carro chegou rodando e saiu de guincho, não funcionava por nada. Como minhas férias começavam segunda feira, fui atrás de descobrir o que estava acontecendo.
Com o carro em casa, coloquei as rodas de magnésio aro 14 limbra reformadas, pintadas de preto com a borda diamantada. E fui desmontar o distribuidor que estava com uma folga estranha relatada pelo funileiro quando foi montar o motor no dia anterior. Ao desmontá-lo, descobri o eixo quebrado e pegando o distribuidor do outro fusca (o branco) coloquei ele no carro e, olha que maravilha funciona… Falei com o funileiro e meu pai que havia voltado de Goiás porque deu mal jeito nas costas caindo de cima de uma carreta de soja levou o distribuidor lá e o funileiro disse que talvez foi quando ele estava usando o cyborg para alinhar um carro, a corrente podia ter batido e quebrado o distribuidor. Ele comprou outro distribuidor usado e ficou por isso.
Dias depois, olhando para o carro, o Arthur me vira e fala: “Cara, suas lanternas estão tortas” e eu pensei, como assim? O carro voltou da funilaria, tá redondinho. Quando eu cheguei e olhei, estava mesmo. Fiquei com tanta raiva que não tenho nenhuma foto que mostre bem o defeito, a melhor que tem é essa aí em cima.
Não vejo nada errado!
Se vocês repararem bem, verão que a lanterna esquerda está mais baixa que a direita. Lembram lá atrás que eu disse que precisei trocar o paralama traseiro direito? O funileiro não conferiu o alinhamento dos furos e montou com os furos que cada para-lama tinha, e isso deixou uma diferença de quase 5cm de altura entre uma lanterna e outra. Levei novamente pro funileiro e ele disse que não tinha visto mas teria que me cobrar o serviço de furar e repintar o para-lama. E levaria mais 1 semana pois ele já estava com a agenda cheia. Fiquei P*&$ da vida, mas não ia repassar a cagada dele para outro funileiro, e ficou acertado que ele cobraria metade do valor e passaria meu carro na frente dos outros, três dias depois já estou com o carro novamente.
Agora era hora de arrumar os pneus, pois o carro estava com quatro pirelli p6000 175/65 que estavam no Fit da minha vó, ressecados e quase no TWI (os pneus tem data de 2008 de fabricação, ou seja, 7 anos na época). Busquei na cidade inteira por pneus com largura 195 em aro 14 para colocar na traseira e conseguir um stance melhor. Achei em apenas 1 local na cidade e apenas 1 par de Kumho KH17 195/60 R14, ao preço de R$600,00 o par. Fechei e fui levar para instalar.
Chegando lá, o autocentro da vida me coloca o carro no elevador e fala que tenho que trocar os terminais de direção, pois estão gastos (realmente, não tinha trocado) então autorizei o serviço. Me cotaram TRW e na hora que estão instalando, chego perto e vejo caixas com o nome Precision, fui reclamar com o gerente e ele me disse que estavam em falta do TRW e pegaram esses (sem me avisar) mas que iriam fazer a diferença de valores no acerto.
Chegando na hora do balanceamento, as rodas tiveram as tampinhas do furo central coladas, pois na reforma não iriam encaixar depois de pintadas, então foi necessário um balanceamento local. Mas não estavam conseguindo dar balanceamento então depois de 3 horas que eu já estava lá desde a hora que eu cheguei, desistiram e foram fazer o alinhamento, pedi que deixassem a cambagem dianteira negativa, pois a original do fusca é um pouco positiva. A gente cobra mais R$200,00 para cada lado da cambagem. Liguei o f*&$-se e fiz (mal sabia eu a cagada que estava fazendo). Terminado tudo o que era pra ser R$600,00 da troca de pneus, saiu R$1200,00 de um serviço inacabado. Resultado: não volto mais lá e não recomendo à ninguém. Quem for de Ribeirão e quiser saber, me chame no face que eu digo.
Ah sim, esqueci de falar que tinha colocado uma barra compensadora EMPI na traseira do carro antes de ir no auto-center e voltei sem ela pois perdi um dos apoios de PU no caminho e na hora de tirar a barra para não perder o outro, o mexânico quebrou. ¬¬²
O que faltava agora, além de algumas coisas do visual (para-choques), interior (todo pra fazer) e alguns acessórios (volante e alavanca de câmbio), era o motor. Mas essa história eu deixo para o próximo post.
Por enquanto eu deixo a prévia de um ronco que escutei em um vídeo do post do FO sobre o porsche hatch que jamais existiu. Confesso que depois de ouvir o ronco do Fusca Maestro (PC#86) queria um desses pra mim e isso era uma das coisas que me incomodava no carro até eu ouvir o vídeo.
No próximo post eu coloco um vídeo do som do fusca, mas pra mim ficou muito parecido. Eu fiquei feliz em saber que pelo menos o ronco lembra o de um porsche, mesmo que seja um 912.
Até lá!
Por Filipe da Costa Reis, Project Cars #380