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Project Cars Project Cars #436

Project Cars #436: a história do meu Agrale Marruá picape

Primeiramente quero agradecer a oportunidade que é estar participando deste projeto incrível que o PC. Há muito tempo conheci o site do FlatOut no Facebook e apesar de não ser seguidor de páginas, vi no canal um meio realmente diferenciado de expressar e dar opiniões. E assim como vários, tenho no Project Cars minha leitura diária, onde fico curioso para saber cada detalhe de cada máquina que já foi postada aqui.

Sobre o meu projeto, acho melhor primeiro me apresentar. Por acaso do destino, vim morar há cerca de uns seis anos em uma cidade do interior, pouco mais de 30km distante de onde eu morava. Nessa oportunidade, foi abençoado de ser um lugar cheio de morros e erosões, primeiros locais que comecei a andar de jipe por indicação de um amigo. Como muitos, comecei a andar com um amigo, sendo após fascinado pelo mundo 4×4.

Após andar por cerca de quatro anos em um Jeep Willys 57 com motor seis cilindros de Opala — que fica para outro PC —, resolvi que por estar gostando do esporte e indo em trilhas cada vez mais longínquas, que queria partir para um 4×4 mais moderno, que aguentasse mais ainda o tranco e que principalmente me propiciasse uma viagem mais confortável, pois apesar de anos andando no Willys, investindo carinho, dedicação e dinheiro, logicamente, nunca o honrei com uma capota fechada.

Então, cada chuva era aquela mão-de-obra de se molhar todo, ter preguiça de ir a trilha e por aí vai. Para ir longe, a falta de segurança sempre era considerada depois que estourei uma ponta de eixo andando a 80km/h, sendo puxado na faixa ao final da trilha de Palmares do Sul/RS (creio ser a maior do RS) e por sorte, nada mais grave aconteceu, mas poderia não estar aqui escrevendo esse PC , pois o jipe entrou na contramão e quase bateu em diversos caminhões guincham que passavam. Acredito que deu mais de 500 4×4 neste evento.

Na eminência da máquina querida, pesquisei todos os dias o OLX, grupos de Whatts. Minhas semanas se resumiam quase em uma coisa: procurar o 4×4 perfeito para as minhas necessidades.

Não tinha um dia que não via tudo, desde gaiolas AP’s (a qual tive uma enquanto fazia o projeto do Willys) até o que foi meu escolhido, o Agrale Marruá. Vi muitos Troller e depois da Ranger, seriam minha opção, mas ao pesquisar, muitos problemas me deixaram com receio. O fato de ser um 4×4 em Fibra também me preocupou, pois sou muito fã de veículos resistentes.

Depois de meses de pesquisa, resolvi que meu 4×4 seria um Agrale Marruá, principalmente pelo fato de ser DIESEL (sou apaixonado neles), sendo que também tenho uma Hilux, o que me fez me apaixonar por Diesel, tanto quanto ser MWM o motor, que é falado como muito resistente), finalmente o fato de ser muito dimensionado (diferenciais gigantes, radiador gigante…). Outro fato que pesou muito foi a questão do projeto ser nacionalidado e usar peças de carros nacionais (como F4000, F250), até cogitei um Jeep Wrangler mas desisti pela dificuldade de peças.  Não queria mais ter problema com temperatura do Willys, com desconforto ao ir para trilha, com o fato de me molhar todo quando chovia, com o fato de sofrer os “caprichos” do Willys, do tipo molhar o carburador e falhar, ter medo de andar na faixa a 80km/h.

O conforto me seduziu. Quem nunca imaginou ir para trilha com ar-condicionado ligado na rodovia?

Lembro quando vi o anúncio: AGRALE MARRUÁ PREPARADO A TODA PROVA, DIFERENCIAL DANA 70 NA TRASEIRA, PNEUS 315/75/16, CHIPADO, AR CONDICIONADO e mais mil coisas.

Foto que vi no anúncio da venda Foto do anúncio

Foi amor a primeira vista mas o jipe estava anunciado por um valor maior do que eu queria gastar. Estava cerca de 30% mais caro que eu pagaria em um Troller, mas quando pesquisei pelo carro me apaixonei. Apesar de achar escaças informações na internet, pois o foco efetivamente não é o uso civil.

Mesmo sujo na foto, como não se apaixonar quando vi esta foto no anúncio?

Descobri que todo o chassi era de ferro maçico. As portas pareciam quase blindadas, tamanha a brutalidade, caçamba já reduzida pelo antigo dono, sem falar que havia bicos, bomba injetora e turbina novos (trocados há cerca de seis meses pelo antigo proprietário). Ainda, vinha com pontas de eixo já forjadas pelo antigo dono e pneus 315 (quase 37) recém adquiridos.

pneus 315 recapados que vieram na caçamba dela

Descubro dois problemas: Primeiro que o Marruá estava muito longe, quase 600km, o que me custaria uma pequena fortuna de guincho. Segundo que era um 4×4 que de fábrica ,não vinha com reduzida. Semanas analisando os prós e contra, chego a conclusão que com carinho, poderia se transformar, assim como meu Fusca que sou apaixonado, no “melhor carro do mundo”, desde que houvesse uma carinho , uma reduzida, tempo e dedicação.

Papo vai papo vem, converso com o dono se ele aceitava uma Santa Fé que eu possuía para vender, 2009 no negócio, além de volta em dinheiro. O carro entraria pela FIPE. Depois de dias conversando e fazendo umas 100 perguntas por dia, acabo por comprar o Peçonhento, nome que carinhosamente dei para ele.

Santa Fé indo junto para servir de entrada para o Marruá

Agora é hora de negociar o guincho. Me lembro que um amigo comprou uma plataforma recentemente e que já advoguei para ele, o que deve fazer com que me faça um preço bom acima de tudo. No mesmo dia, estava com o negócio do guincho resolvido, ele iria comigo, pegaríamos o Jipe e dormiríamos lá, voltaríamos no outro dia. O preço, me cobrou R$ 1000,00, ida e o mesmo valor na volta, o que achei um ótimo valor para tanta km.

Foi uma aventura. Somadas, 22 horas dentro de um GMC para buscar o tão almejado sonho. Me sentia como uma criança indo fazer o jogo de seu sonho. Imaginava se seria igual as fotos, se iria me surpreender, se era mais alto ou baixo do que me parecia, afinal, não o havia visto pessoalmente e estava indo com tudo para fechar o negócio.

Chegando lá, fomos muito bem recebidos pelo Dono, que só o estava vendendo pois estava terminando de construir sua casa e por andar de jipe e motor, escolheria apenas um dos esportes para se manter um tempo. A escolhida foi sua MV Agusta, pois não tinha mais tanto tempo para andar de 4×4.

O dono só topava vender se eu não tirasse o adeviso brincando com os troller

Andamos no jipe lá na cidade, fizemos uma mini trilha, nos apaixonados pelo automóvel. Nessa trilha, mesmo sem reduzida, o desempenho foi monstruoso. Árvores batiam como se fossem rojões e ao descer do jipe, a impressão que dava é que tinha andado muito longe de galhos e tocos, pois não havia sequer um sinal das batidas, algo impensável. Depois, perdemos uma tarde tentado botar ele em cima do guincho junto com a caçamba original (que até hoje não foi buscada lá na cidade, sendo que ele tem um reduzida) e viemos embora. Pelo tamanho da caçamba e do guincho a escolha era clara: ou trazia o jipe, ou trazia a caçamba original. Ficou a caçamba, que antigo proprietário guarda até hoje para mim.

O sonho se realiza. Hora de levar o peçonhento para minha terra

Na volta me senti na história sem fim. Saímos cedo, por volta das 06h da manhã, o GMC quando pisava até o fundo, colava no estonteantes 60km/h. A marruá pesou tanto o GMC que quando faltavam 30km para chegar na minha cidade, começou a ranger amortecedores e freios do guincho. Logo depois o amigo vendeu e não sei quem o arrumou, mas que deu algo deu.

primeira foto com os pneus 315 de noite, trilha era no outro dia e precisei trocar com ajuda de um amigo

No caminho, vinha pensando quantas trilhas por mês ia fazer, quais seriam as mais longes que eu iria (como Chile, Uruguai), que agora era só botar o Diesel e sentar o pé, no máximo trocar um retentor ou um óleo de caixa. Logicamente, eu não teria mais problema com motor apagar igual Willys, com passar calor, com ter insegurança na faixa.

Depois de deixar a Santa Fé e fechar o negócio, era hora de trazer o peçonhento por 600kmNa estrada da volta, muitas paisagens bonitas

Chegando na cidade, era hora de pegar os pneus maiores que vieram como segundo jogo e botar na viatura. Aproveitando que um freteiro estava na minha casa com uma F1000 antiga, pedi que pegasse os pneus e levasse até o centro para mim, que fica uns 5km de distância. Chegando lá, tudo fechado. Cidade do interior é bucha, ainda mais em final de semana depois das 17h30. O jeito foi parar no posto e ligar para um amigo vir ajudar a usar o hi lift (que também veio junto) e trocar nós mesmos os pneus. Iria morrer se não trocasse os pneus aquele dia e gostaria de andar no outro dia de manhã em uma trilha que teria, afinal, o jipe “estava pronto para qualquer desafio”.

A primeira foto da criança, alegria que não cabia no rosto

Mas, a vida do homem é judiada. E nem tudo na vida é como a gente espera.

No próximo capítulo do PC contarei o início da saga de um homem persistente, com disposição, além de um 4×4 que parece ter vida própria, e que em poucos meses, conseguiu me fazer transitar entre o céu e o inferno.

Mas isso já é assunto para o próximo post.

Por Leonel Neves, Project Cars #436

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