Após o inconveniente com a caixa de câmbio (descrita no fim da parte 2), ficou a dúvida quanto tentar recuperá-la ou procurar outra caixa para substituí-la. Pesquisando e conversando com colegas, foi levantando o ponto de que o problema da caixa poderia ser no carretel, e caso se realizasse apenas a substituição do mesmo, o novo não “casaria” perfeitamente com as demais engrenagens e eixo piloto, resultando em um provável “ronco” durante o funcionamento (que desapareceria com o tempo, ou não).
Outro fator determinante foi a não disponibilidade de vaga na oficina para o Opala ficar parado enquanto a caixa fosse recondicionada, considerando que poderia haver alguma demora em chegar ou encontrar alguma peça necessária.
Então decidi procurar outra caixa, e novas dúvidas surgiram. Primeiramente, se havia alguma diferença entre as relações das transmissões utilizadas nos motores quatro e seis cilindros. Pelo que pesquisei, não há.
Em segundo, se havia alguma diferença nas carcaças ou acoplamento com o restante do conjunto dependendo do ano do carro. Para isso sim, há diferenças. Existem basicamente dois “tipos” de caixas três marchas, com a diferença na ponta do eixo piloto que acopla ao disco de embreagem. Costumam chamá-los de “estria fina” e “estria grossa”, há diferença no tamanho e quantidade das estrias.
Não posso afirmar com certeza, mas aparentemente os Opalas 68 a 74 utilizam o câmbio “estria grossa”, e os 75 em diante utilizam o “estria fina”.
Com as informações devidamente pesquisadas e dúvidas explanadas, procurei fotos da época da mudança de câmbio de quatro para três marchas, e pela foto do disco de embreagem (que no momento havia sido recondicionado) foi possível contar o número de estrias, e confirmar tratar-se de um câmbio “estria fina”.
Guardar o máximo de fotos possível às vezes facilita o processo. Se não tivesse essa foto, teria que tirar a caixa para confirmar.
O problema de procurar por anúncios na internet é que praticamente todos os vendedores não sabiam o estado real das caixas, e muito menos ofereciam garantia. Quando achei um que aparentemente sabia do estado, tratava-se de um “estria grossa”, me levando a iniciar a busca por desmanches. Encontrei um autorizado pelo Detran que trabalha com peças de Opala, Blazer, Ranger e Peugeot 504. Liguei, fui muito bem atendido e me informaram ter uma caixa, mas não sabiam quanto à questão da diferença de modelos. Expliquei como verificar, aguardei na linha e me confirmaram ser um “estria fina”.
Chegando lá, abriram a tampa para eu verificar as engrenagens e, aparentemente, tudo certo. Levei ao Arthur (W.O.T.) para desmontar tudo e revisar, sendo necessária a troca apenas dos rolamentos.
Câmbio revisado, aguardando apenas surgir à vaga na oficina para realizar a substituição. A espera foi um pouco longa e não poder andar com o carro é algo que me incomoda muito (mesmo que vá ficar trinta dias sem sair da garagem, só fico tranquilo sabendo que o carro está pronto para sair a qualquer momento). Na quinta-feira (29/03/18) levei o carro rodando com o câmbio ruim, torcendo para não quebrar as marchas à frente, e no dia seguinte o carro já estava pronto, com os engates perfeitos, sem a maldita primeira que só engatava quando queria.
Última “andada” com o câmbio ruim.
Neste momento meu carro ficou prazeroso de dirigir com o câmbio na coluna. Era até engraçado, toda vez que eu ia engatar a primeira, ainda tinha aquele receio de ir bem devagar pra não dar aquela “arranhada” ou travada imprevisível da alavanca. Depois que peguei confiança, só alegria.
Abri o câmbio problemático, e para minha surpresa, visualmente não encontrei nenhuma engrenagem quebrada, nem limalha. Conversando com uns e outros, me falaram que poderia ter ocorrido de a engrenagem ré ter apenas saído do lugar. Mas, deixei o câmbio guardado, e em algum momento levo para o mecânico avaliar melhor e recondicioná-lo, assim fico com um câmbio pronto para uma eventual necessidade futura.
Problema na ignição
Ao longo do período que possuo o carro, obviamente algumas manutenções foram realizadas como troca de bobina, tampa do distribuidor, velas e cabos (preventivamente), rotor do distribuidor, platinado e condensador (corretivamente).
Dado momento, o motor começou a apresentar pequenas “falhadinhas” ou “cabeçadas” acima de 70 km/h quando mantida aceleração. Acelerando ou desacelerando, sem problemas. Depois de conferir carburação, que estava em ordem, decidi comprar uma pistola de ponto para maior precisão nos ajustes. Comprei o modelo PP-2000 Planatc.
Consegui eliminar as “falhadinhas” e o motor ligava facilmente quando frio, mas quando quente era um parto. Às vezes só ligava na quinta ou sexta tentativa, e em outros casos, somente trinta minutos após desligado. O estranho era que não apresentava nenhuma falha em funcionamento. Peguei estrada várias vezes sem problemas, mas se o desligasse, ligá-lo novamente era complicado.
Continuando a pesquisa sobre o assunto e verificando inúmeras possíveis causas, descobri que originalmente deveria haver duas ligações entre o motor de partida (arranque) e o positivo da bobina. Mas desde que comprei o carro, só havia uma.
Esta ligação em vermelho não existia no meu carro
Na verdade, eu até já havia percebido isso antes de os problemas começararem (devo ter visto em algum vídeo ou lido algo sobre), mas como até então não havia problemas, também não havia razão para mexer com isso.
Conversando com o Victor, ele me disse que o Silverstar 82 (o da foto na parte 1) ainda tinha as duas ligações. Dei uma olhada para tomar como referência e montei da mesma forma no meu.
Problema solucionado! Com o motor ligando facilmente em qualquer situação, e sem falhas no funcionamento.
Fio da solução
Não encontrei em livros nenhuma explicação exata sobre este fio direto arranque/bobina, mas suponho que seja acionado somente no momento da partida. Assim, a tensão passa pelo “caminho mais fácil” e a centelha gerada acaba sendo “mais forte”, consequentemente facilitando a partida.
Acerto de detalhes e placa preta
Com toda a mecânica do carro em ordem, já estava na hora de acertar mais alguns pequenos detalhes. Troquei as lanternas traseiras (as velhas estavam com coloração diferente entre si), consegui os quatro pinos de trava das portas novos e troquei o espelho retrovisor lado motorista (o velho estava com manchas escuras). Estes foram os últimos, mas ao longo do tempo acertei muitos destes detalhes “pequenos”. Minha dica para quem também se incomoda com os mínimos detalhes, é sempre estar olhando os anúncios e evitar comprar em encontros de antigos. Geralmente são valores absurdos, mas às vezes aparece alguem vendendo a um valor mais justo e que vale a pena.
Sempre tive intenção de obter a placa preta, principalmente por que “casa” perfeitamente bem com o visual da traseira dos Opalas 80 a 84. Entrei em contato com o Caio do canal Opala Na Veia, e fiz o processo de obtenção do certificado com ele. Mesmo sendo de MG, não houve problema algum. Em 29/06/18, finalmente emplacado.
Toque final
Finalmente deparo com o carro praticamente pronto, e confesso que após tanto tempo planejando qual seria o próximo passo na mecânica ou estética, estar “terminado” foi (e ainda é) estranho.
Parecia que faltava algo, e me veio em mente uma coisa em que havia pensado tempos atrás depois de assistir alguns filmes, que era instalação de um rádio PX.
Em pleno ano 2018 não há o menor sentido em instalar um rádio PX para comunicação, além de que comprar uma antena de boa qualidade não é barato. Ainda assim, achei bacana a ideia de usá-lo como um megafone.
Consegui um Cobra 22 Plus, e instalei com driver 120W e corneta. Não houve grandes dificuldades, só tive que fabricar um suporte para a corneta ficar em uma posição discreta no cofre. Não há nenhuma utilidade real, mas dá pra fazer uma graça, e eu gostei do visual desse rádio no painel.
Alguns passeios
Apesar de não conseguir usar tanto o carro como gostaria, fiz vários passeios legais em 2018.
Em 01 de Janeiro, minha noiva e eu fomos até o Pico do Olho D’Água – Mairiporã para ver o nascer do sol. Pena que não deu muito certo por conta da neblina.
Uma de minhas visitas ao MIAU em Abril. Quem gosta da história automotiva, é um local obrigatório para se visitar em São Paulo.
11° Encontro de Carros Antigos & Especiais de Guarulhos.
Encontro “Quinta Antiga” no Tremebé. Luiz à esquerda e Victor à direita.
Noite do Opala no sambódromo do Anhembi em 17 de Julho.
Um dos passeios mais bacanas aconteceu no dia 04 de Agosto, quando fui até a casa do Sr. Horácio (dono anterior) para ele rever o Opala depois de mais de três anos, bastante diferente.
Qundo o comprei, já estava inteiro, mas é inegável que se comparado com o estado atual, melhorou bastante.
Foi muito gratificante ver sua felicidade com o carro neste estado e sendo bem cuidado. Levei-o para dar uma volta e paramos na oficina de um amigo dele para que mostrasse o carro e tudo mais.
Ainda estava guardado o Motoradio usado por ele até quebrar os botões, então acabei ganhando de presente.
Se surgir uma oportunidade de compra dos botões faltantes, muito provável que eu instale no Opala.
Nestes momentos fico pensando como é interessante a relação que criamos com os carros. Afinal, são apenas um monte de metal, plástico, borracha e tecido com o propósito de facilitar nossa locomoção, e mesmo assim criamos um vínculo com eles, conhecemos novas pessoas e histórias por causa deles, e buscamos informações por causa deles.
Sempre fico contente com cada melhoria feita no carro, cada detalhe que só eu reparo e fico inquieto até resolvê-lo. Fico preocupado com algum barulho ou coisa estranha e já investigo… Coisas que só quem tem carro antigo e gosta de verdade entende.
Claro que também há momentos ruins em que dá vontade de vender e se livrar do “problema”, mas depois passa e continuamos bem. Afinal, é como se fosse um relacionamento com uma pessoa, coisas boas e ruins, sempre trabalhando para que as boas se sobressaiam.
No momento em que escrevo, passaram-se três anos e meio desde que vi esse Opala bege pela primeira vez, por acaso… Sr. Horácio disse que o carro ficou anunciado por dois anos até eu aparecer. Ofereram diversas propostas de “rolo”, mas nada que dava negócio… Acho que era para ser meu mesmo.
Confesso que deixei de fazer muita coisa para poder gastar no Opala, mas sempre tive apoio dos meus pais e de minha noiva, a quem agradeço muito, fora os amigos que também ajudaram, e ajudam como podem. Obrigado.
É interessante quando me pergunto: “Por que um Opala?”, afinal, não tenho nenhuma história de infância com ele, nem parentes próximos com alguma ligação ao modelo. A resposta não é certa, mas acho que o estilo bem resolvido e harmonioso de todo o conjunto, o tamanho, o conforto interno, o motor grande com bom torque (mesmo quatro cilindros), o ronco (mesmo com escape original), o interior marrom, a “balançada” para o lado que a carroceria dá quando se acelera em ponto morto… Tudo isto proporciona um prazer muito grande ao dirigí-lo. Fora o fato de ser um ícone da indústria nacional, muito importante e que permaneceu em produção por tantos anos.
Sempre aparecem aqueles que perguntam: “Vende o carro?” Quase sempre digo que não, até porque ninguém nunca me ofereceu um valor real, mas acredito que não venderia, a não ser em um caso de emergência muito grave. Tenho intenção de ter outros carros antigos, gosto de muitos modelos, sejam maiores ou menores, cada um tem suas particularidades e histórias próprias. Mas agora preciso focar as energias em outros projetos pessoais, mais importantes no momento, e quem sabe no futuro eu volte aqui com mais um Project Car para compartilhar, ou mesmo novas histórias com o Opala para contar…
Agradeço imensamente a equipe do FlatOut! pelo excelente trabalho prestado aos aficcionados por automóveis e por abrir este espaço para cada proprietário contar um pouco de suas histórias e experiências. Isso é gratificante para quem escreve, e entusiástico para quem lê.
Encerro com mais algumas fotos e um vídeo. Obrigado pela leitura e até a próxima!
Por Felipe Leonardo da Silva, Project Cars #481
Uma mensagem do FlatOut!
Felipe, sensacional seu projeto. O carro por si já é interessante, afinal, muita gente descobriu que o Opala 82 saiu com câmbio na coluna depois que você o inscreveu no Project Cars. A restauração detalhada, com os devidos cuidados foi exemplar, e usar o carro para curtir a estrada é claramente a realização de um sonho. Parabéns!
Leia as demais partes do projeto:
Parte 1 – A história do meu Opala Standard com câmbio manual na coluna
Parte 2 – Opala Standard 1982: funilaria, pintura e o câmbio de volta à coluna