E aí, galera do Flatout! Tudo bom. Meu nome é Avelino Bulbol, sou de Manaus/AM, sou engenheiro e começo aqui a contar minha história com o Ford Maverick 1977 , mais conhecido como “Shamu”.
Os carros sempre foram muito presentes na minha vida, aprendi a dirigir com 13/14 anos a D-20 Custom 1987 do meu Tio Jones (que ainda temos até hoje). Meu pai e meu tio sempre foram fãs de carros, principalmente os Dodges, os quais eles todos os modelos vendidos em terras tupiniquins. Pela parte da minha mãe o vírus fica um pouco mais contagioso: a família teve um concessionária da Dodge em Belém, chamada DISTAL. Já dá para ver que eu não tinha para onde correr, ia gostar de carro e de motores V8 de qualquer jeito. Atualmente temos na família três carros antigos: um Chevrolet Impala 1964 que foi do meu avô paterno. Ele dizia que carro tinha que ser importado, e que nacional só a mulher brasileira mesmo. Também temos um Dodge Dart 1975 com todos os acessórios originais, e o carro do texto, o Maverick 1977 apelidado de Shamu, devido às cores branco e preta como a baleia assassina.
Também tive um Opala Comodoro 1989 com 39 mil kms rodados onde fui o segundo dono, este no qual vendi final do ano de 2017, após uma proposta irrecusável e também, soube que ia ser pai, ai foi uma coisa ligada a outra. Pois bem, vamos falar do Maverick.
A Compra
Este na foto é o meu primo Junior, o que me falou do carro
O Ano era de 2008, já tínhamos o Impala( afinal é o xodó, por ter sido da família desde de zero)e o Dodge Dart, e eu estava procurando algo para montar, fazer um carro com a minha cara, para não ter que estragar os que já eram perfeitos. Então comecei a procurar um Fusca, afinal nesta época eu ainda era estagiário na Coca-Cola, o salário não dava para comprar nada pronto, o jeito era por a mão na massa e montar aos poucos. Um certo dia conversando com o Sr. Sebastião, ex-funcionário da empresa do meu pai e do meu tio, ele me ofereceu o Fusca 1985 dele, era bem conservado, não precisava de muita coisa para deixa-lo original, mais para quem ouvia o V8 do Impala e do Dodge Dart quase sempre, o 1600 do fusca não empolgava. Até que um dia meu primo me comentou deste Maverick, que um amigo dele estava vendendo o carro, e precisava só de uma pintura ( sabe de nada inocente).
Eu muito empolgado e ingênuo fui ver o carro, que na época o antigo proprietário pedia R$ 7.000, e o carro não valia R$ 3.000. Conversa vai, conversa vem, a negociação parava e nada de fechar negocio no Maverick, o Sr. Sebastião do Fusca me ligando baixando o preço, e eu querendo o Maverick, mais sem dinheiro para pagar, e sabendo que o carro não valia essa coisa toda e que com certeza iria gastar muito, mais muito dinheiro para deixa-lo do jeito que eu queria. Soube que o proprietário do Maverick ia embora do pais, ia morar mais precisamente em Portugal, e precisava de Euros. Até que me veio uma voz dos céus (imagine aquele barulho celestial “ohhh”):
– Avelino meu filho, ofereça Euros para ele, mesmo que você não tenha consegues destrocar com facilidade.
Até que fiz uma proposta de €1.000, na época dava R$2.400. O cara aceitou, negociação feita, agora é correr atrás do dinheiro ( que eu não sabia onde trocar e achava que sabia), arrumar local para guardar o carro, e falar para os meus pais a “bronca” que eu tinha acabado de me meter e afundar minhas economias por uns longos anos.
Chamei o guincho, coloquei o Maverick em cima, e #partiu! Carro na garagem, amanhã acordar cedo para fazer limpeza, ver o que presta o que não presta, documento assinado ( 700 reais de documento atrasado que eu não sabia), e vamos à luta.
A reação da minha mãe foi a melhor :
– Você gastou dinheiro com isso? Tens 48 horas para tirar isso daqui de casa.
Palavras de Dona Vera. Obviamente isso nunca ocorreu.
O início de tudo
No dia seguinte a ansiedade era tremenda que acordei à 5:30 de um sábado, engoli o café da manhã, e fui começar a mexer no Maverick, fazer limpeza catalogar peças, essas coisas iniciais. O carro por incrível que pareça veio com muitas peças de acabamento: console (este raríssimo), para-choques, grade, emblemas, bancos traseiros, painel, frisos, mascara dos fárois etc.
Lembram da D-20 do meu tio, na qual aprendi a dirigir? Pois foi ela que carregou tudo isso.
Comecei com uma super limpeza. Até camisinha e fezes de cachorro tinha lá dento. Era um carro abandonado na verdade e que precisava de muita coisa além da simples pintura que o antigo proprietário me informou. O carro veio com um motor seis-cilindros BF161 3.1, carburador DFV228. Funcionava muito bem, estava todo retificado e tinha até as notas fiscais da retífica, caixa de marcha tinha uma de Chevette na mala com uma flange para caber no motor 6 cilindros, e o tanque era um baldinho de amaciante de 5 litros. A bateria era nova da Wapsa, montei a parte elétrica, conferi o ponto, coloquei o baldinho e liguei o 6 cilindros. Pronto motor funcionou. Após isso já me sentia realizado. TENHO UM MAVERICK…. todo podre, mas com um 6 cilindros funcionando.
Pois bem, após esse dia, já ia para o trabalho pensando na hora de voltar para casa, afinal o projeto só estava começando. Eu passava horas no Google, Youtube, Jalopnik Brasil (galera das antigas deve entender o que estou falando), Comunidades do Orkut, Maverick 73, só para ir pegando referências de outros carros, e como ia ficar o meu.
Primeira coisa que fiz na verdade foi atrás do numero de chassis e plaqueta, esses ainda íntegros com o tempo. Com isso comprei o livro “Maverick – Um ícone dos anos 70”, da editora Alaúde. Este livro foi tipo o santo graal da minha história com esse carro, e também como comecei a identificar o meu próprio veículo e saber que ele foi um Super Luxo com motor V8 e câmbio de quatro marchas no assoalho, pintado de branco nevasca.
Dica: Ao iniciar um projeto compre um desses livros, vale muito a pena, hoje tenho uma coleção deles, e digo com propriedade ajudam muito e vale a pena lê-los!
Depois de tudo identificado, começamos a desmontagem. Detalhe: isso tudo na garagem de casa, a primeira pintura ocorreu na garagem mesmo, contratei um pintor, para dedicação total do carro, para o projeto realmente andar conforme o cronograma, afinal na época era estudante de engenharia e achava que projetos funcionavam conforme os cronogramas, eu estava errado! Neste meio tempo, quase finalizando a parte de funilaria e pintura, o pintor sumiu. Descobri dias depois que o cara tinha sido preso, pois havia se envolvido em uma briga de bar. Aí vocês já imaginam como eu fiquei, sabendo que tinha pago 90% do serviço já quase e nada do pintor aparecer. Moral da história, recorri a um velho conhecido que topou terminar os detalhes que faltavam e também, pelo valor que faltava para eu pagar o antigo pintor. Carro pintado pela 1ª vez!
Vamos começar a montagem, colocar o bom e velho seis-cilindros no lugar, que depois procuramos um V8, primeiramente a ordem era curtir o carro e por o velho Shamu para rodar. Falando em rodar, minha primeira volta com ele não tinha nada dentro, nem banco, nem vidro, absolutamente nada, mais foi animal, tenho um vídeo com uma qualidade não muito boa, até porque na época não tinha um celular decente.
Depois de montar o carro com o seis-cilindros, cheguei a andar com ele, fui em alguns encontros, mais o carro tava estranho, usava umas rodas 20 polegadas que eu tinha comprado um tempo de um amigo. Era o que tínhamos na época. Faltava o tão sonhado motor V8, que acredito eu todo Maverick merece ter. Então vamos à caça e esquecer esse negocio de seis-cilindros. Rodas depois resolvemos. Vamos focar no motor.
Aqui em Manaus é até que relativamente fácil achar motores V8, afinal temos rio, muitas lanchas usam esses motores, porém não motores Ford ou melhor OMC (divisão marítima). Aqui achamos mais os Chevrolet/Mercruiser. Pois bem, fui falar com um conhecido e lá estava o 302 pendurado, faltando uma vela no 4º cilindro. O sr. Nestor da marina me explicou que havia entrado água pois deixaram sem a vela, e perguntei qual o valor do motor no estado? R$1200. Ofereci R$800 e levei o 302 em um sábado às 8 horas da manhã.
No mesmo dia, chegando em casa, desmontei ele todo com a ajuda do seo Adalberto, este que foi mecânico do meu avô e sempre fazia as manutenções no Impala quando necessário. Sou muito grato a este senhor, pois tudo que aprendi em mecânica foi ele quem me ensinou. Voltando ao 302, motor aberto, vimos que precisava brunir, e trocar juntas, bronzinas. Omotor era standard e precisava de uma ou outra coisa, mas nada muito grave.
Foi quando pensei: “Já estou com o motor aberto… por que não aloprar? Tá no inferno, abraça o cap… faz uma preparação para não precisar abrir o motor de novo. Foi quando tive a ideia de ir comprando as peças de performance, e também esquecer esse negócio de originalidade e fazer um carro do meu jeito, o meu Maverick, um carro baseado nos Maverick da Divisão 3, da equipe Caltabiano, com um visual bem old school.
Vou deixar aqui embaixo a configuração do motor :
Pistões Sealed Power – 4.44” ou 111 mm
Válvulas
Admissão > 1,94
Escape ->1.60
Haste-> 11/32”
Balancim Roletados Proforme 7/16 e 1.75 ratio
Tuchos Hidraulicos Edelbrock
Bomba de Aguá e Oleo – High Volume
Bomba de Combustivel do Monza
Comando de vávulas -> Comp Cams = 292º / 302º , e Lobe Center de 109º
Carburador Quadrijet Edelbrock Perform Series 750CFM.
Distribuidor HEI com modulo e bobina integrados
Radiador de Aluminio
Motor de Arranque mini Starter
Cabeçotes originais ( este me deram trabalho mais para a frente)
Depois de meses para capitalizar para comprar e esperar os Correios entregarem todas essas peças, o motor estava retificado, pintado e pronto para entrar no cofre do Maverick.
Aí na garagem de casa (sim, a garagem é grande), consegui um guincho hidráulico emprestado. Adivinha quem foi buscar o guincho? A boa e velha D-20 de guerra. Motor seis-cilindros no chão, V8 no cofre! Houusstonnn, we have a problem!
Não deu o motor. O cárter pegava nas barras de direção. Lógico: o cárter do motor era marítimo, com o fundo liso. Comprei um cárter original e finalmente o motor ficou no lugar. Mas… e o câmbio? Foi outra novela. Eu tinha um Powerglide, aqueles de duas marchas, lendário Powerglide. Comprei a flange adaptadora, flexplate do motor e coloquei o câmbio. Ok tudo certo para ligar o motor e ver o ronco desse mostro.
Bom galera deixo aqui o inicio de tudo vale ressaltar que isso tudo se iniciou no ano de 2008, e após o termino deste texto digamos que já estamos em outubro de 2010. Tenho muitas fotos, muitas coisas legais para contar esta saga do PC#482, até chegar no dia de hoje. Veremos nos próximos capítulos. Até lá!
Por Avelino Bulbol, Project Cars #482