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Project Cars Project Cars #509

Project Cars #509: a história do meu Mazda MX-5 Miata

Por Yuri Franzoni, Project Cars #509

Buenas, flatouters! Tudo beleza? Pra quem ainda não me conhece, meu nome é Yuri, tenho 36 anos e moro em Bento Gonçalves, na serra gaúcha – que carinhosamente chamarei de gringolândia. Tô aqui para contar a história do meu Mazda MX-5 Miata, que entrou na minha vida há pouco mais de dois anos e tem sido fonte quase que unicamente de sorrisos desde então! Minha intenção é deixá-lo o mais próximo de OEM possível, com um ou outro toque de personalização mas sempre que possível, usando peças originais da Mazda.

Bom, pra começar, deixa eu falar um pouco de mim, só pra dar um pouco de contexto. Eu trabalho com TI mas desde que me conheço por gente sou fissurado por carros. Quando criança, sabia praticamente de cor a marca, modelo, versões, motorização de quase qualquer veículo do então restrito mercado brasileiro – isso lá na década de 80, quando as importações ainda eram proibidas. Vivia pentelhando meus pais para comprarem revistas de carros – Quatro Rodas, Oficina Mecânica… – e naturalmente, os brinquedos que eu realmente curtia eram aqueles carrinhos de miniatura. Já nessa época, desenvolvi uma habilidade alienígena incrivelmente útil: eu decoro as placas dos carros com uma facilidade tremenda. Não que isso tenha servido pra muita coisa. Enfim, eu era um piá gearhead padrão dos anos 80.

Devo ter sido influenciado pelo meu pai, que naquela época, trabalhava como representante comercial viajando bastante e trocando de carro com alguma frequência (isso quando ele não falava sobre todos os trocentos carros que ele teve desde a adolescência, sabe como é?). Meu velho, aliás, era e ainda é fã dos veículos Chevrolet. O carro que mais vezes passou pela vida dele foi o Monza – se não me engano, foram quatro exemplares diferentes – sendo que o último deles foi um Monza Classic, cor cinza metálico, duas portas, movido a álcool e com câmbio automático de três marchas. Foi nesse carro que aprendi a dirigir – ou melhor, em parte, pois era automático, né – e esse Monza desperta saudade no pai até hoje.

De qualquer maneira, completei meus 18 anos pilhado para fazer carteira de habilitação. A grana não deixou então tive que esperar mais um ano, quando tirei minha CNH provisória. A essa altura dos acontecimentos, o Monza Classic tinha sofrido um acidente bem feio nas mãos da minha ex-cunhada (pois é…), tendo sido consertado e posteriormente, vendido. Nessa ocasião, saímos eu e o meu velho à cata do que comprar para substituir o Classic. Não que eu tivesse grande peso decisivo na escolha… mas no fim das contas, ele comprou um Daewoo Espero CD, preto metálico – quase um Monza pelo outro – que no fim das contas se mostrou confiável, confortável, espaçoso… e deixou saudade também! Foi a bordo desse coreano que eu fiz meus primeiros passeios (e primeiras cagadas) devidamente habilitado.

Bom, encurtando uma história longa, em 2002 veio o primeiro veículo que pude chamar de meu – um Uno Mille EX ano 2000, duas portas, raiz mesmo, cujo único “opcional” era o ar quente, mais nada. Fiquei um ano e pouco com esse Mille, sofri meu único acidente mais sério com ele e em seguida, veio um Golf GTI ano 94/95 – sim, eu tinha 21 anos e muita merda na cabeça pra abraçar um importado usado como esse ganhando salário de estagiário. Depois do Golf, veio um Gol Série Ouro 1.0 16v, comprado com seis anos de uso e 20 mil km rodados apenas… em seguida, outro Gol (desta vez um Power 1.6 ano 2006), que por ter alguns problemas bem escondidos que estouraram na minha mão, rapidamente foi trocado por um Peugeot 206 Feline 1.4 ano 2006 (com ar digital, sensor de chuva e o escambau).

A essa altura, o ano já era 2009, eu já estava namorando a minha hoje esposa e estávamos atrás de comprar o nosso primeiro cafofo. O Peugeot acabou virando entrada no apartamento comprado na planta e ficamos eu e ela rodando com o carrinho dela, um Ford Ka que compramos juntos e que só não era mais pelado que meu primeiro Mille porque pelo menos desta vez, tinha desembaçador do vidro traseiro. E quer saber? Tenho saudades desse carrinho até hoje, valente, divertido e econômico.

Uns anos depois, já casados, melhoramos um pouco de vida e o Ka foi embora, dando lugar a um Sandero Expression 1.6 zero km. Como nessa época eu já viajava bastante a trabalho, compramos uma Honda Biz pra uso da esposa – mas como ela tinha sofrido um acidente com outra Biz que ela tinha antes do Ford Ka, o trauma falou mais alto e ela rodou menos de 800 km com esta nova Biz. Aí passamos essa Bizoca novinha adiante e compramos um Fiat 500 com apenas 8.000 km rodados pra uso dela.

Em seguida, o Sandero foi embora e veio um Corolla GLi no lugar dele. Resolvemos mudar de imóvel, o Corolla virou entrada na morada nova e ficamos um tempinho com o Fiat 500 como único carro da casa. Quando foi possível, comprei um Citroën C4 GLX hatch, que devolvi em dois meses por conta de defeitos crônicos que a concessionária não conseguia resolver. No lugar dele, veio um Citroën AirCross zero km (pois é…) cujos nove meses de convivência foram os mais longos da minha vida motorizada. Um dia, meu sogro decidiu que ia comprar um VW Fox zero km e ia dar o carro dele como entrada. Não pensei duas vezes, mandei a AirCross adiante e peguei o carro do sogro pra mim – e foi assim que me livrei de um carnê de prestações ao mesmo tempo em que passei a andar com outro Gol Power 1.6, este aqui ano 2012, comprado zero km pelo meu sogro e com apenas 20 mil km rodados em cinco anos.

Finalmente, ano passado o Gol foi vendido e compramos uma Honda HR-V para uso da patroa. Atualmente, o meu daily é o Fiat 500 – aquele que compramos lá em 2012 e nos acompanha até hoje.

“Tá, e o Miata?” você deve estar se perguntando. Calma, pequeno gafanhoto, eu falo pra caramba e por consequência escrevo pra caramba também. A história do Miata teve um início bem mais emocionante do que o de qualquer um dos outros veículos que relatei acima.

 

O início da coceira

Bem… o fato é que eu sempre quis ter um conversível na garagem para curtir naquele final de semana ensolarado. Uma das hipóteses que pensamos anteriormente, inclusive, foi trocar o nosso Fiat 500 Cult (versão de entrada) por um 500C automático – topo de linha e conversível. Seria um belo upgrade para meu daily driver, pois tenho que conviver diariamente com trânsito urbano e rodoviário – em que o câmbio automático viria bem a calhar – e a capota elétrica seria um belo complemento pra passear com a esposa no fim de semana. O problema é que o preço de um 500C seminovo seria quase o dobro do valor de mercado do meu 500 Cult. Considerando que é carro para o dia-a-dia, eu não estava a fim de comprar um carrinho desses para colocar no batente, nem subir tanto assim o meu custo por km rodado – pois preciso pensar que além do preço de compra, o valor do imposto e do seguro certamente aumentariam também.

Divaguei aqui. O fato é que lá em 2016, eu e a esposa saímos de férias para um roteiro fantástico entre a Itália e a Grécia (que inclusive eu contei aqui no FlatOut como foi) e durante essa viagem, tivemos a sorte de contar com um Mazda Miata de segunda geração (NB) ao longo de quatro dias e quase 1.000 km de estrada. Voltei pra casa simplesmente tarado por um conversível, mas ainda não necessariamente um Miata, pois eu achava que seria algo um tanto inatingível em terra brasilis.

Resumindo a história: comecei a procurar conversíveis, olhei XR3, olhei GSI, olhei franceses, olhei alemães… a única regra era que deveria ser um veículo com 20 anos ou mais de uso, pois seria para curtir, brincar no final de semana, então deveria gerar o menor custo fixo possível (com impostos e seguro, por exemplo) – ainda que desse algum gasto com mecânica ou talento para deixar em dia, eu encararia esses gastos como hobby e não como custo puro e simples.

O problema é achar um carro desse perfil com o estado de conservação que a gente gostaria… cada um que eu encontrava, a patroa não curtia, até que ela me deu a ideia de eu ir atrás de um Miata de uma vez. Quase perdi a consciência, mas aproveitei a carta de alforria e foquei somente nos Miatas à venda no país inteiro. Em janeiro de 2017, consultando o WebMotors, encontrei uns quatro exemplares à venda, todos acima do que eu estava a fim de gastar – mas né… a esposa autorizou… então…

Em determinado momento, encontrei um Miata ano 93, cor preta com capota e interior caramelo e apenas 28 mil milhas rodadas, à venda em Curitiba. As fotos do anúncio eram promissoras e eu nem tinha percebido que se tratava de um dos pouquíssimos exemplares com câmbio automático que rodam no Brasil.

Iniciei as conversas com a vendedora, perguntando qual era a história do veículo. Segundo ela, o carro era do falecido pai dela e havia sido recém desembaraçado do inventário – o Mazda era o brinquedo/xodó do cara. Por esse motivo, era pouco rodado e estava em ótimas condições, embora o motor de arranque estivesse pedindo manutenção (possivelmente por falta de uso do carro nesse meio tempo).

Ainda segundo a vendedora, ela estava prestes a sair do país e precisava vender o carro logo. De posse dessa informação, mandei a canelada inicial, pedindo desconto… e digamos que depois de alguma negociação, eu havia fechado negócio com 25% de desconto sobre o preço inicial. Estava feliz feito mosca em tampa de xarope, como se diz por aqui. Já tinha mandado consultar placa e tomado outras providências, aparentemente não era golpe.

Negócio apalavrado, eu já tinha corrido atrás de canais de comunicação com outros proprietários de Miata no Brasil e foi através do finado Fórum do FlatOut que conheci o Felipe Cluk – esse mesmo, da equipe do mestre Barata-san –, que imediatamente me incluiu no grupo Miata Brasil no WhatsApp e na respectiva lista de e-mails do grupo. Mas tava tudo fácil demais…

Eu já estava até com a agenda programada para ir a Curitiba de avião e voltar rodando com o carro pro RS. Faltava apenas eu fazer a TED do dinheiro para a conta da vendedora. Passei um dia inteiro ligando, mandando recados, tentando contato e nada dela me atender ou me retornar às ligações. Bom, se era golpe, pelo menos eu ainda não tinha transferido o dinheiro, né?

No final daquela noite, a mulher me mandou um WhatsApp dizendo que outro interessado havia entrado em contato com ela, que acabou vendendo o carro para ele que retirou pessoalmente o veículo naquele mesmo dia. Ou seja, de uma hora pra outra eu tinha voltado à estaca zero. Fiquei puto da vida, mas fazer o que, esse bonde já tinha passado.

Vocês já devem imaginar o quanto eu estava pilhado por um Miata a essa altura dos acontecimentos, né? Contei o ocorrido no grupo Miata Brasil e imediatamente, o Felipe e o amigo Thiago Leal criaram um novo grupo, muito apropriadamente nomeado “Miata pro Yuri”. Passaríamos algumas semanas dentro desse grupo discutindo as ofertas de Miatas à venda que ficássemos sabendo – cada anúncio era destrinchado pelos guris para me ajudar na decisão de compra. Tô devendo uma cerveja pra cada um deles pois até hoje não consegui conhecê-los pessoalmente, mas o dia chegará!

Voltei à lista de anúncios do WebMotors. Cada exemplar localizado tinha uma lista de prós e contras – normalmente, o maior contra era o preço pedido, que era muito além do que eu poderia gastar, mas tinha carro com capota rasgada, tinha carro com histórico de acidente, tinha carro (muito) xunado… Até que em um determinado momento, lá pelo final de janeiro de 2017, surgiu essa belezinha que hoje faz parte da minha vida.

 

Fechando negócio

Num desses anúncios, apareceu à venda em São Paulo/SP um Miata vermelho ano 91, com preço razoável, fotos que revelavam alguns acessórios de gosto duvidoso, mas o carro aparentava um estado de conservação bem aceitável. E com direito a uma placa que é a cara do carro:

Mostrei pra patroa, que tinha adorado o Miata preto que fugiu da gente, e ela curtiu o carrinho mas não gostou dos apliques plásticos no painel (graças a Deus, porque eu também tinha achado horrível). Com a concordância dela, entrei em contato com o vendedor. O então proprietário, sr. Pedro Paulo, foi muito solícito, bastante acessível para conversas e atencioso nas minhas dúvidas.

Mandei o anúncio pro grupo Miata pro Yuri, para ver o que os experts do assunto iriam falar sobre o carro. Qual não foi a surpresa ao descobrir que o sr. Pedro Paulo havia comprado o carro do Reinaldo, grande amigo do grupo Miata Brasil, que ficou nada menos que quinze anos com o carro e havia vendido o mesmo em 2015?

Confirmamos a informação e realmente era o dito cujo. O Reinaldo havia feito muita coisa nesse carro, desde manutenção básica ao longo desse tempo todo até coisas mais complicadas como a troca da capota de tecido por uma nova (com vigia traseiro de vidro, ao invés do plástico que vem na capota de tecido original), instalação de um escape personalizado, forração do interior em couro e muitas coisas mais – tudo devidamente documentado.

Fiquei bastante empolgado com o carro mas como se fosse pouco, o Felipe e o Thiago se dispuseram a ir conferir o veículo pessoalmente num final de semana. Naturalmente que aceitei a oferta! Entrei em contato com o proprietário do carro, que os recebeu para uma vistoria mais extensa. A seguir, vejam o dossiê que os piás me mandaram!

O sábado que estava marcado para eles fazerem a visita foi um tanto chuvoso, mas isso não os impediu de ir ver o Miata. Confesso que passei horas numa ansiedade desgraçada até receber notícias deles no grupo… Quando veio esse material todo, me senti absolutamente seguro em fechar negócio, pois certamente foi uma verificação mais extensa e detalhada do que eu mesmo teria feito pessoalmente!

Uma das coisas que me deixou um pouco preocupado foi a quase certeza de ter de substituir o radiador original do carro, o que certamente demandaria algum gasto, mas principalmente, impediria qualquer ideia de ir buscar de avião e voltar rodando pra casa. Mas como os guris já haviam me comentado sobre a oficina do Alexandre, a Gearhead Garage DIY, fiquei mais tranquilo por saber que teria mão de obra especializada no carro – além da questão do Alexandre ter acesso às peças com relativa facilidade.

Passamos então à negociação de valores. Havia alguns detalhes na lataria que não estavam visíveis nas fotos do WebMotors. Solicitei ao sr. Pedro Paulo que fossem corrigidos tais detalhes – o que ele prontamente aceitou – e passamos a negociar o preço. A pedida inicial era um pouco acima do que eu podia gastar e além disso, eu tinha que cogitar também a questão do frete de SP para o RS. Fiz minha proposta e acabamos fechando no meio-termo: somei à minha oferta apenas a metade da diferença de valor entre o preço e o que eu ofereci inicialmente – e nesse valor, já estaria incluído o frete de SP para o RS, só aí foram R$ 1.200,00 de despesa.

Negócio fechado, grana transferida, lá foram novamente o Felipe e o Thiago para buscar o filhote do agora antigo proprietário. De lá, eles levaram o carro direto para a oficina do Alexandre, para fazer um diagnóstico completo do que precisaria fazer para deixar a mecânica em dia. Mas a primeira manutenção mesmo quem fez foram os guris… me fizeram o favor de arrancar aquela cobertura plástica cinza do painel e trocaram uma das tampas do acionador do farol escamoteável, que estava com uma tampinha vermelha, por uma tampa original.

 

A primeira revisão

Ao receber o carro na oficina, o Alexandre começou a fazer a revisão completa do carrinho. Minha intenção, desde o início, era aproveitar a expertise do Alexandre (que conhece como poucos os detalhes dos Mazda) e o fácil acesso a peças de reposição, por estar em São Paulo, para deixar a mecânica zerada, sem qualquer tipo de defeito ou ajuste a ser feito depois que chegasse por aqui. O que eu queria era ter tempo de curtir o carro sem grandes preocupações mecânicas, elétricas, hidráulicas etc., ao menos enquanto eu conhecia os detalhes e manhas do carro nos primeiros meses.

O primeiro orçamento foi de pouco mais de R$ 3.200,00 para deixar o carro 200% em dia – nesse orçamento, havia até mesmo um upgrade muito comum nos Miata 1.6, que é instalar os bicos injetores do motor 1.8 (que veio com os Miata 94 em diante) e ajustar o ponto do motor para trabalhar com esses bicos. Segundo os entendidos, essa mudança garante uma boa quantidade de torque extra em baixa rotação, ainda que ao custo de um pouco menos de potência em alta. A ideia era boa – muito boa aliás – mas como eu já tinha gastado além do previsto na compra do carro, resolvi deixar para outro momento (só em peças e mão de obra seriam uns mil reais para fazer esse up). Além disso, eu queria que o carro viesse o mais próximo de original para que eu pudesse conhecer o carro como ele veio ao mundo, antes de sair fuçando em qualquer coisa.

Encontramos algumas gambiarras, como a utilização de mangueiras de gás (!) em tubulação de água, alguns conectores mal-feitos, mangueiras ressecadas e especialmente, o radiador que estava bem ruim, já tendo passado por algum reparo anterior que não foi suficiente. No fim das contas, a revisão geral me custou R$ 2.049,00, que foram gastos da seguinte maneira:

  • Substituído o radiador, tampa do radiador, sensor de temperatura da ventoinha e algumas conexões, bem como trocado o aditivo do radiador;
  • Instaladas as mangueiras do ar quente: tinha um kit delas novinho no porta-malas do carro, só faltava colocar no lugar mesmo;
  • Troca da coifa da caixa de direção (rasgada);
  • Troca do batente do pedal da embreagem;
  • Alinhamento da direção;
  • Unificação das chaves do carro: havia uma chave para a ignição, outra para as portas e mais uma para a tampa do porta-malas.

Nesse meio tempo, eu já tinha visto que o carrinho tinha alguns detalhes de acabamento faltantes, tais como a tampa inferior da coluna de direção (que o dono anterior me disse que tinha, mas não sabia onde estava, então ele me ressarciu o custo da nova peça), a trava do console central e o sensor do cruise control no pedal da embreagem, que estava quebrado. Dá-lhe eBay…

Até o correio resolveu colaborar com essa primeira compra: o pacote foi despachado nos EUA no dia 07/02, chegou na minha casa em 14/02, sem incidência de impostos. Nada mau!

Lá pelo dia 15/02, o Alexandre me mandou fotos do serviço realizado no carrinho:

Outra coisa que apareceu durante o test-drive dos guris e que exigiria algum tipo de intervenção é o airbag. Até o ano-modelo 93, o carro vinha com airbag somente para o motorista, enquanto que do 94 em diante passou a ter airbag duplo. Porém, há que se lembrar que trata-se de um carro com quase 30 anos (é, estamos ficando velhos) e disparar um airbag velho em um acidente pode causar estragos maiores do que sem airbag algum. Então, eu tinha duas opções: desativa temporariamente ou encomenda um kit novo de airbag do motorista no eBay.

Até pesquisei o kit. Custaria uns mil reais para trazer pra cá, mais imposto e mão de obra. Já a opção de desativar significava deixar os componentes do jeito que estavam, mas desativando por completo a central do airbag (e sumir com o led de alerta do painel) – mas tudo feito de maneira que seja possível de desfazer, instalando um airbag novo no futuro se assim eu desejar. Beleza, considerando que será um carro de passeios esporádicos e toda a grana que já tinha sido gasta, resolvi optar por deixar o airbag desativado provisoriamente. Abaixo, as fotos mostram a central do airbag (caixa azul), o chicote do airbag devidamente desconectado da central e a tecnologia de ponta que faz com que a luz-espia do painel fique desligada:

Como eu disse acima, é tecnologia de ponta: Ponta de palito de dente no lugar correto do chicote e puf, tá desligada a luz-espia do painel. Tudo certo, solicitei à transportadora para retirar o carro na oficina do Alexandre, o que foi feito em 17/02.

A partir daí, fiquei acompanhando o trajeto pelo sistema de rastreamento da transportadora. Gastei o teclado do notebook de tanto pressionar as teclas para recarregar a página no browser… mas no fim, deu tudo certo.

 

E chegou o grande dia

Cerca de uma ansiosa semana depois, me ligaram da transportadora para buscar o carro em Porto Alegre. Não perdemos tempo e fomos buscar o filhote em 23/02.

Tudo certo com o carro e com a documentação, começamos a jornada para a serra gaúcha. Saímos de Porto Alegre através da BR-116 e acreditem, em uma quinta-feira de manhã, acho que nada poderia ter sido mais inusitado do que estar em um carro onde qualquer Gol vira um SUV e qualquer Honda Biz parece um cavalo do teu lado. Naturalmente, o carrinho chamou a atenção dos demais motoristas na estrada, mas eu só me concentrava em não fazer cagada logo na primeira vez que saio com o carro! Minha esposa é que não parava de dar risada.

Ruim foi ter de encarar a BR-116 congestionada de vidro baixo, pois o ar-condicionado não funcionava. Além do calor, carro baixo, já viu né? Qualquer fumegada de escapamento de caminhão ia direto pra dentro da cabine. Isso não foi lá muito legal, mas faz parte da brincadeira.

Almoçamos no caminho, em cuja parada descobri mais um detalhe que tinha passado batido – nada grave, mas chato como sou, entrou direto para a lista de pendências a resolver: a maçaneta da porta do carona estava com o indicador de “aberto” quebrado e o miolo da chave, do lado de fora, não trancava a porta, somente destrancava. Foi só trancar por dentro, como eu fazia na época do Uno Mille e do Ford Ka, e seguir adiante.

Depois de toda essa jornada, estávamos perto de casa, mas não estávamos ansiosos para chegar. Então, começamos a fazer algo que se tornou uma constante quando temos a oportunidade de sair de Miata: espichamos o caminho para curtir o trajeto – com direito às primeiras fotos no Vale dos Vinhedos, aqui na gringolândia. 

 

Os primeiros passeios

Naquele mesmo final de semana, mesmo já tendo identificado os primeiros detalhes a arrumar ou melhorar, nem deixamos o carro esfriar direito na garagem e já saímos fazer nossos primeiros trajetos. Eu e a Raquel, com alguma frequência, fazíamos uns passeios com nossos daily drivers – geralmente com o 500, já que eu tinha de conviver com o Gol a semana inteira. Resolvemos começar pegando leve – repetimos os nossos trajetos mais usuais, dessa vez com o Mazda.

Então, no sábado 25/02, tiramos a tarde para dar uma volta nos arredores da cidade e demos uma espichada até a ponte sobre o Rio das Antas, na BR-470. Trata-se de uma serra bastante movimentada, mas cujo asfalto tinha sido recuperado há pouco tempo, então estava em muito boas condições.

Já nesse primeiro passeio no brinquedo novo, a Janis, nossa cachorrinha Shih Tzu, achou o segundo lugar favorito dela (o primeiro, como todo bom cachorro, é na janela, surfando ao vento):

Dia seguinte, domingo 26/02, resolvemos conferir outro dos nossos roteiros frequentes aqui na serra gaúcha, atravessando os Caminhos de Pedra, nos arredores da gringolândia.

No domingo seguinte, acordamos mais cedo que o usual e saímos nós três – eu, esposa e a Janis – com o MX-5 de capota baixa. Fizemos quase que o mesmo roteiro da chegada do carro – de Bento Gonçalves a São Leopoldo via BR-470, RS-446 e RS-122/RS-240, porém entrando na BR-116 no sentido Novo Hamburgo. Paramos num shopping da cidade para almoçar e fazer umas compras que havíamos programado e seguimos adiante de Novo Hamburgo até Nova Petrópolis via BR-116. 

De Nova Petrópolis, seguimos adiante até Caxias do Sul via BR-116. Deu pra curtir mais uma descida e mais uma subida de serra com o carrinho – mas sempre com muita parcimônia, afinal eu não estava habituado ao comportamento do carro e fazer cagada com um RWD é bem fácil pra quem não está acostumado. Fui ultrapassado por, bem, muita gente, mas não estava nem aí, queria mais era curtir o caminho com vento no rosto e sol na cara (ao menos enquanto a esposa não pediu para subir a capota, o que obviamente em algum momento acabou acontecendo). De Caxias, voltamos à gringolândia via RS-122/RS-453.

Primeiras impressões? O carro é esperto, mas tem que saber aproveitar o regime de rotações dele corretamente. Abaixo das 3 mil RPM, ele é um tanto manso, que mantém a velocidade mas não embala com aquele vigor e na subida, dependendo do seu ritmo, provavelmente vai te pedir para baixar uma marcha para continuar subindo. Por outro lado, seguindo nesse ritmo civilizado, mesmo de capota baixa, o consumo nem foi tão alto assim – enchi o tanque quando retirei o carro em Porto Alegre, três dias antes, e enchi novamente quando chegamos em Bento. Média combinada de 11,8 km/l nesse trecho todo, não achei ruim considerando o fato de ser um carro 1991, com tecnologia dessa época e que rodou metade desse trecho de capota baixa.

Como eu já tinha a experiência anterior do Miata NB que alugamos lá na Grécia, não demorei a me adaptar à clausura do interior, apesar dessa sensação ser um pouco mais acentuada pelo fato deste Miata aqui ter interior de couro preto, apenas com alguns detalhes imitando madeira para quebrar a escuridão. De qualquer forma, é um troço que não exige muito para você se sentir à vontade – os bancos têm um apoio bacana, a posição de dirigir é beeeem baixa, estilo kart mesmo, parece o tempo inteiro que a bunda vai raspar no asfalto, é fácil achar o posicionamento dos comandos para te agradar, ainda que pessoas de maior estatura possam sofrer um tanto a mais até encontrar essa posição correta, especialmente com a capota fechada. Mas depois que você se ajeitou, não tem pra ninguém – os pedais lá na frente, o banco que fica poucos centímetros à frente do eixo traseiro, até mesmo o para-sol que é dobrável para que não atrapalhe a visão à frente… uma das poucas ressalvas que posso fazer é quanto ao material utilizado na parte superior do painel, um plástico preto brilhante que debaixo do sol reflete todo o painel no para-brisas e atrapalha um bocado a visibilidade. Ao que parece, nas gerações posteriores esse pequeno pecado foi corrigido e lá fora é comum ver carros com alguma personalização nessa área.

Rodando com o carrinho, a suspensão de curso curto fazia com que o comportamento dinâmico fosse algo bem diferente do que estamos acostumados – equilibrado ao extremo, o carro não pula muito e nem joga a carroceria de um lado pro outro, graças também à firmeza do conjunto (acentuada, porém, pelos pneus que descobri depois serem bem velhos). Em passeios curtos, não compromete, mas em viagens um pouco mais longas, as costas podem pedir uma trégua! Não estranhei muito a caixa de câmbio, justinha e um tanto dura nos engates, nas palavras do nosso amigo Fórmula Finesse, “muito positiva e precisa, com propósito”. O que incomodou naquele primeiro passeio foi a manopla que imita madeira – estava praticamente solta sobre a alavanca, girava em falso, atrapalhando um bocado a utilização (algo que corrigi ainda no primeiro dia). Uma vez corrigido esse detalhe minúsculo, fui criando uma intimidade com o carro que só faz aumentar – falarei mais sobre isso ao longo dos próximos capítulos da jornada.

Em tempo: de capota baixa em velocidades de cruzeiro, é incrível como faz falta um defletor de vento atrás dos bancos. Mesmo subindo os vidros, o fluxo de ar faz com que se crie um redemoinho dentro da cabine, que torna a tarefa de conversar bem mais difícil e a missão de manter penteados no lugar algo impossível. A esposa não curtiu, naturalmente, e me fez achar uma solução pra isso – afinal, o Miata grego tinha um windblocker original de fábrica que era uma beleza, bastava levantar a aba para a posição superior e puf – adeus redemoinho. Claramente, alguma solução seria muito bem-vinda.

 

Os primeiros ajustes

Antes mesmo de chegar em casa, já tive de dar uma passada numa auto-elétrica pois a luz de ré não estava acendendo. Nada grave, foi trocada a cebolinha do câmbio, serviço de dez minutos e o carro já estava pronto pra rodar novamente.

Quando compramos o carro, o Felipe e o Thiago haviam me dado a dica que o porta-malas do carro estava forrado em peças, que eu deveria dar uma conferida. Chegando em casa, resolvi ver o que me esperava. 

Tinha um rádio toca-fitas OEM Mazda, tinha quatro (!) lanternas traseiras – depois descobri que são três de um lado e uma do outro –, haviam seis (!!!) chaves reserva, tinha capa de proteção da capota (não sei o nome direito, em inglês chamam de top boot, é aquela capa que vai por cima da capota quando ela está abaixada e dobrada atrás dos bancos), tinha uma espécie de defletor de vento removível, tinha volante sobressalente… confesso que até hoje não consegui identificar tudo o que veio. Bom demais, mérito do amigo Reinaldo!

O defletor de vento foi o primeiro que testei. Era algo bem simples, uma faixa de plástico transparente que ficava afixada entre os dois encostos de cabeça, sendo presa a estes através de tiras de velcro. Ficava feio pra chuchu, era meio chato de acertar o posicionamento, mas uma vez afixado, quebrava um galho… mas chato como sou, eu tinha certeza de que isso não ia ficar desse jeito por muito tempo não.

Logo na primeira noite que saímos com o carro, percebemos que o interior estava um tanto escuro. Não, não me refiro ao estofamento ou à capota preta, mas à falta da iluminação interna mesmo. Existem duas luzes de cortesia, uma de cada lado do painel, e as duas não davam sinal de vida.

Retirei as duas, desmontei e vi que as lâmpadas incandescentes estavam em boas condições, mas os componentes metálicos da peça estavam totalmente enferrujados. Borrifei uma boa dose de WD-40, dei uma lixada para tirar o grosso da ferrugem, deixei secar. Aproveitei para apertar um pouco os parafusos que seguram o interruptor no lugar, de forma que o uso do interruptor fosse mais firme, e instalei de volta. Voilà, as duas peças voltaram a funcionar perfeitamente e assim estão até hoje, dois anos depois. Primeira encrenca resolvida.

Lembram daquelas peças que eu comprei no eBay e recebi em tempo quase recorde? Então… elas já estavam esperando pelo carro há semanas, óbvio que eu não pude nem esperar o dia seguinte. Na mesma quinta-feira que o carro estacionou pela primeira vez, eu já coloquei todas elas no lugar. Colocar a tampa inferior da coluna de direção foi fácil, quatro parafusos e pronto. Mesma coisa para a trava do console central, dois parafusos e tá feito.

Agora… quando chegou a hora de instalar o sensor do cruise control no pedal da embreagem… chéssus. O negócio é o seguinte: o cruise control do Miata é baseado em diversos sensores, entre eles, há um sensor no pedal de freio e outro no pedal da embreagem, que servem para desarmar o cruise control quando você pisa no pedal. O sensor do pedal do freio estava OK, mas o da embreagem estava quebrado – isso apareceu já na revisão inicial, por isso eu já havia encomendado de antemão.

O tal sensor fica rosqueado num determinado local, embaixo do painel, de maneira que quando o pedal da embreagem está livre, o pino do sensor estará totalmente pressionado; quando você pisa no pedal, o pino do sensor é liberado (fazendo com que o cruise control seja desativado). Só que não dá para rosquear demais o tal do sensor porque se ele ficar muito longe do pedal, o pino pode ficar na posição de desarme, enquanto que se rosquear muito pouco, o sensor inteiro fica pressionando o pedal da embreagem sem você perceber – e aí o disco da embreagem vai pro saco rapidinho.

Então, lá fui eu me aventurar nesse troço, sempre contando com a ajuda do Thiago e do pessoal do grupo do WhatsApp. Primeira dificuldade: conseguir acesso ao local do sensor. O carro é muito baixo e pequeno, então a única maneira de enxergar o que eu fazia era entrar de cabeça contra os pedais, com os dois braços esfrunhando a parte inferior do painel. Se ainda não deu pra imaginar como fiz, imagine isso aí que acabei de falar e as pernas do vivente apoiadas no encosto do banco (e os pés soltos acima da linha do encosto de cabeça). Sim, foi ridículo e saí com um belo torcicolo dessa empreitada, mas consegui fazer a instalação – e funcionou corretamente! Segunda, terceira e quarta encrencas resolvidas.

Mais algumas semanas se passaram e eu continuava fuçando no eBay atrás de peças e detalhes para o carro. Já tínhamos feito alguns passeios com o carrinho e sentimos falta de um porta-copos – no console central, o que tem é uma tampa corrediça que revela um cinzeiro… – então passei a procurar opções para segurar uma ou duas bebidas no interior minúsculo do Mazda.

Consultando os acessórios originais de fábrica para o modelo, descobri que havia um porta-copos opcional, encaixado justamente no lugar do cinzeiro em questão. Como eu não fumo e eu já tinha comprado por 1 dólar um adaptador USB 12v para no lugar do acendedor de cigarros do painel, não pensei duas vezes: encontrei um anúncio desse porta-copos opcional, original, na caixa original e abracei. 

Outra coisa que me incomodava era a falta do emblema da Mazda na dianteira. Tive de pesquisar para ver qual a opção correta, pois até o ano/modelo 1992, havia somente um adesivo no lado esquerdo do para choque dianteiro, enquanto que do 1993 em diante os Miatas da geração NA vinham com um emblema no centro do “bico” frontal, entre os dois piscas.

Miata NA até 1992, logotipo da Mazda abaixo do pisca esquerdo
Miata NA a partir de 1993, logotipo da Mazda no centro da frente

Aproveitei a compra do porta-copos e mandei vir um adesivo resinado praticamente igual ao part number original – mas que custava uns 7 dólares, contra 59,95 do original na embalagem da Mazda. Pois é.

Mais uma frescura que só um zé frisinho como eu iria atrás de fazer: apesar de estar plenamente funcional, o CD player Kenwood que estava no painel me deixava bem incomodado, ainda mais sabendo que eu tinha um tape deck original da Mazda que veio junto com o carro. Resolvi atacar essa frente e correr atrás de ressuscitar esse som original da Mazda, nem que eu ficasse sem rádio no carro por uns tempos. Primeiro passo para isso foi achar o chicote original, pois em algum momento, o rádio original foi embora e o chicote foi cortado. Achei o chicote por uns 4 dólares, comprei.

Ainda falando sobre o som original, imaginei que eu não ia querer usar o rádio original para ouvir somente rádio AM/FM. Como fitas cassete são passado e eu não tinha o CD player original do carro, minha alternativa seria tentar utilizar uma fonte de áudio via cabo P2 (auxiliar). Só que, claro, o rádio Mazda não tem porta AUX, somente o tape deck mesmo. Não pensei duas vezes, achei uma daqueles adaptadores de P2 para tape deck e mandei trazer. 

Finalmente, como ninguém é de ferro, encontrei o anúncio de um kit de montar da Tamiya, escala 1:24, de um MX-5 Miata. Abracei também, tá montado e decorando minha estante aqui no escritório.

Pela milionésima vez (e não será a última) preciso agradecer à ajuda do povo do grupo Miata Brasil. Não apenas pela atenção em tirar dúvidas muitas vezes idiotas, mas pelo vasto conhecimento da galera. Entre outros materiais preciosos, obtive com eles um PDF do manual de serviço e outro do catálogo de peças do Miata – inclusive em edições separadas para cada ano/modelo! Isso facilitou uma barbaridade a mão de desmontar painel e componentes, além de viabilizar pesquisas pelos part numbers corretos no eBay. Quem tem amigos tem tudo!

Bem… até aqui, os perrengues foram muito poucos (e pequenos) e as alegrias já tinham sido muitas, mas estou tomando a liberdade de focar somente nesses capítulos mais felizes e pular por um momento a ordem cronológica dos fatos. A esta altura, eu já estava com o carro havia uns dois meses – os ajustes acima foram realizados entre fevereiro e maio de 2017. A parte ruim e amarga dessa minha história começou ainda no mês de fevereiro de 2017, quando comecei a enfrentar as burocracias do Detran daqui da cidade. Mas isso é conversa pro próximo capítulo, até lá!