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Project Cars Project Cars #530

Project Cars #530: a história de Epaminondas, o Fusca daily driver

Por Fernando Lucheti, Project Cars #530

Olá! Me chamo Fernando Lucheti, tenho 25 anos e apresento a vocês o meu Fusca Epaminondas e sua história. Há uns dois anos eu vendi uma bicicleta elétrica e resolvi usar a grana para comprar meu primeiro carro. Tinha começado a namorar com minha atual noiva na época. Morava no centro de São Paulo e fazia tudo de bike (pedalava uns 150 km por semana).

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Porém conforme eu e ela fomos ficando mais próximos, muitas vezes a bicicleta era inconveniente em nossos passeios (ela ia de ônibus e eu a encontrava de bike). Foi aí que resolvi que queria comprar um carro, o único porém era que tudo que eu tinha na época era uns R$ 3.000 na conta (exatamente o valor da bike vendida) e não tinha muita certeza se haveria dinheiro no mês seguinte.

Sempre gostei de carros e, nessa época, jogava Forza Mortorsport quase que diariamente. Aliás, em 90% das vezes eu corria de Fusca rat look. Meu fusquinha fazia parte de alguns top 50 e um top 10 nos leaderboards.

Assim minha busca começou. Apesar dos meus pais insistirem que eu deveria comprar algo mais novo (como um Corsa Wind ou um Uno) eu já tinha colocado na minha cabeça que tinha que ser um Fusca.

Talvez influenciado pela cultura hipster da minha geração eu via no Fusca um projeto simples e eficiente, que me levaria de um lugar a outro, que não me importava com o estado estético de pintura e lataria.

Visitei diversos Fuscas e tentei comprar o mais íntegro o possível com um orçamento de R$ 4.000 (que bela ilusão). Estava entre um preto ou um bege, não importava ano, versão nada. Só precisava andar e ser relativamente confiável.

Encontrei então um rapaz que estava construindo uma casa e precisava desfazer do Fusca para terminar a obra. Era um 1300L 1978 bege alabastro. Quando dei uma volta no carro dele percebi que parecia até mais esperto que outros 1500 que testei. A mecânica (carburação, engate das marchas, ponto) estavam relativamente bem ajustados e é impressionante a diferença que isso faz em um Fusca. Levei numa oficina para fazer uma avaliação para que não tivesse surpresas após a compra. O mecânico disse que apesar da lataria estar bonita estava cheio de podres e ferrugem por baixo, mas que o motor e mecânica estavam bons.

Com um orçamento bem superficial das partes do chassi que precisariam ser substituídas eu, sem saber o que me aguardava, resolvi encarar. Fechamos negócio e eu fui extasiado com o Fusca pra casa. Fiquei rodando a tarde toda feliz da vida, busquei minha namorada e dei carona pra ela até a casa de uma cliente, no meio do caminho ela perguntou: “Amor você colocou gasolina?” Eu disse que não pois o marcador estava indicava meio tanque cheio.

Foi aí que logo após deixar ela em seu destino o Fusca morreu no farol e não ligava mais. Ainda bem que ela não estava junto pra passar esse aperto.

Ná época eu não tinha experiência nenhuma com mecânica então liguei pro meu pai e perguntei se ele tinha alguma idéia do que poderia fazer. Ele me passou o telefone do Luiz, um auto-elétrico perto de casa que também tem Fusca. E então ele foi descrevendo as partes do motor para que eu testasse uma a uma, mesmo sem saber muito bem o que eu estava fazendo. “Está vendo aí uma tampa que tem um monte de fio que parece um monte de tetinha?” – Disse o Luiz tentando me ajudar a localizar o distribuidor.

Foi aí que depois de mexer em um pouco de tudo ele disse: “Tem gasolina no tanque?” Aí a ficha caiu, o marcador estava desregulado e na verdade o tanque estava vazio. Coloquei gasolina e um rapaz que estava com uma Kombi me ajudou a encher a cuba do carburador e então o Epaminondas deu partida, Ufa! Até hoje meu pai brinca comigo por causa disso.

Carro comprado estava na hora de começar a mexer em algumas coisas.

Peguei o pouco dinheiro que restava e resolvi fazer uma revisão e investir na tapeçaria que estava deplorável, nem o banco saia do lugar pois estava preso por arames. Troquei os bancos por bancos de Corsa. Eu sei que tem gente que vai me crucificar porque não é original mas #*da-se, eu uso bastante o carro e por isso prefiro bancos com encosto para a cabeça.

Toda tapeçaria foi feita monocromática marrom. Na minha visão dá um ar “luxuoso” em contraste com a simplicidade do fusca. O tapeceiro fez os bancos e eu instalei o carpete logo após

Pouco depois de pegar o carro na tapeçaria passei em um buraco enorme numa via que estava sendo recapeada. Eu já sabia que a estrutura não estava lá essas coisas, porém eu esperava que conseguiria rodar um tempo com o carro daquela maneira pelo menos até recuperar o fôlego.

Mas é claro que não foi o que aconteceu, depois disso surgiu um barulho enorme de metal rangendo na frente do carro. Não dava pra andar daquele jeito, parecia que a frente iria se desmontar no meio do caminho. Como eu já tinha gasto toda grana meus pais se solidarizaram e emprestaram um dinheiro para eu reformar o chassi.

Comecei a fazer orçamentos em diversas funilarias, pesquisei na internet os tipos de solda mais adequados, porém na maioria dos lugares que eu ia recebia um orçamento maior do que o valor que paguei no carro.

Seria preciso trocar o cabeçote do chassi completo, os dois assoalhos e as duas caixas de ar. Por fim escolhi um funileiro que tinha um preço bom e que demonstrava ter experiência reformando Fuscas. O carro ficou lá duas semanas, eu estava muito ansioso e ia constantemente de bike até oficina acompanhar o processo. Enfim o carro foi entregue, mas tinha um problema, o carro voltou com um vazamento no cilindro mestre e o fluido de freio vazou todo no assoalho removendo a pintura deixando a chapa exposta.

Levei no mecânico porém não tinha grana pra fazer o reparo com o orçamento que ele me passou. Conclusão eu tive que esperar mais um tempinho pra arrumar os freios e minha ansiedade não me permitia deixar o carro parado na garagem. Eu queria curtir, andei mais ou menos um mês com o fluido de freio vazando até arrumar, acreditando que se ficasse sem freio era só puxar o freio de mão ou usar freio motor.

A falta de grana experiências ruins com mecânicos foram o combustível que me alimentou para começar a fazer coisas com as próprias mãos. Gosto do Fusca pelas formas simples, e por esse mesmo motivo não me agradam as aletas de refrigeração nos modelos mais novos. Adivinha qual foi minha ideia brilhante? Sem experiência nenhuma com funilaria e pintura eu resolvi tampar as aletas da traseira com massa plástica e pintar com spray na cor do carro.

E antes que me crucifiquem eu pesquisei antes de fazer isso, a ausência das aletas não prejudica a refrigeração do motor. O Fusca 1300 funcionou a vida toda sem elas, o ar que entra por essas aletas na carroceria aí em cima é suficiente.

Na hora até que o resultado ficou aceitável, mas assim que eu comecei a usar o carro a massa começou a rachar toda por causa do calor do motor. Enfim, depois de um tempo eu acabei comprando uma tampa fechada de verdade que recebeu pintura feita por um profissional.

No mesmo espírito buscando uma estética limpa resolvi tirar as setas dos para-lamas e embuti-las dentro do farol usando uma fita de led amarela. Adivinha quem pintou os para-lamas após a intervenção? Eu de novo (o que novamente foi corrigido mais tarde por um profissional).

Com o chassi e mecânica relativamente em ordem eu comecei a instalar acessórios e deixar o fusca mais com a minha cara. Ele veio com rodas aro 14 e pneus remold bem ruins comprei um par de pneus novos aro 14 que instalei na dianteira e depois um par de rodas aro 15 mais taludas com pneus mais largos atrás.

Outras modificações que eu mesmo fiz foi instalar um escape dimensionado, para-choques com lâmina simples modelo década de 60 numa inspiração cal look, pintei de preto tudo que era cromado, instalei um marcador da temperatura do óleo e um relógio espia pois o volante novo cobria as luzes originais no velocímetro. Também instalei um braço de acionamento da embreagem de Kombi que deixa muito mais macio pois tem comprimento maior.

Não contava com o que aconteceria a seguir. Um investimento que era praticamente certo na minha empresa não se concretizou e a grana ficou ainda mais curta (zero pra ser mais específico).

Precisava urgentemente cortar gastos, mudei para uma casa onde o custo de vida seria menor e teria uma vaga pra guardar o besouro. Sou desenvolvedor de software e assim que comecei a mudança eu já tinha arrumado um emprego pra trabalhar no app de zona azul de São Paulo e as coisas aos poucos retornaram ao normal. O Fusca foi muito útil nesse momento pois eu tinha saído do centro para morar no bairro, onde um carro é praticamente essencial para se locomover.

Mesmo com a situação financeira mais resolvida minha motivação para fazer as manutenções e upgrades sozinho permanecia viva. Foi aí que eu criei coragem para fazer alguns serviços que já estava ensaiando faz tempo.

O primeiro era a temida regulagem do facão. Eu percebia que o Fusca aparentava mais alto do lado direito então cheguei a conclusão que a traseira tinha um lado mais alto que o outro. Alguém tentou rebaixar ele em algum momento e não acertou os dois lados de forma simétrica. Assisti a uns vídeos no youtube e lá  fui eu me sujar inteiro de graxa.

Fiquei bastante surpreso pra falar a verdade pois apesar de dizerem por aí que é complicado, o ajuste foi mais fácil do que imaginava, consegui fazer tudo em algumas horas. Acho que teve também um fator sorte pois eu acertei a altura de primeira sem precisar desmontar o outro lado pra medir e comparar.

Em seguida veio outra manutenção mais cabeluda. Ao olhar o motor no cofre em relação a carroceria dava pra perceber que estava arriado pra direita. Conclui que os coxins do câmbio estavam estourados, e que seria necessário tirar motor inteiro pra trocá-los. Muito bem, arregacei as mangas num sábado e após assistir mais uns vídeos comecei a desmontagem.

Soltei todos conectores do chicote, cabo do acelerador, cabos de velas e os parafusos que seguram o motor junto ao câmbio. A parte mais complicada foi sacar fora o motor pois o espaço no cofre é bem limitado, enfim puxa pra cá e pra lá, põe macaco em cima da roda pra dar altura na carroceria, desce o motor em cima de um skate e, de maneira bem perigosa, o motor saiu!

Pois é, e assim que o motor saiu deu pra perceber que o problema não era o coxim e sim que a ponta do chassi também conhecida como chifre onde vai parafusado o suporte que acomoda motor/câmbio estava quebrada de um lado. Estava tudo preso por um único parafuso!

Liguei pro mesmo funileiro que fez a lanternagem dos para lamas e ele trouxe a máquina para soldar o chifre. Tudo certo e muito bem soldado, no sábado seguinte tomei mais um baile pra colocar de volta o motor no lugar. Aproveitei a oportunidade e resolvi alguns pequenos vazamentos de óleo que tinha, limpei o motor e troquei as borrachinhas do radiador de óleo. Enfim, depois de colocado deu partida e funcionou tudo certinho.

Por fim resolvi comprar um volante que tivesse mais cara de carro antigo e com o mesmo diâmetro do original para ficar mais fácil de manobrar.

Foi a cereja do bolo, e assim eu continuo indo trabalhar com ele duas ou três vezes por semana e é claro participando de alguns encontros e passeando no fim de semana.

Fico pensando em um dia trocar os para-lamas para o modelo do fusquinha. Mas eu ainda fico na dúvida, tinha essa vontade muito bem definida quando comprei, porém conforme passou o tempo aprendi a gostar dele como é (modelo Fafá) apesar de não ser original do ano.

Talvez um kit 1600 e uma relação de câmbio mais longa pois ele anda em giro muito alto e isso não é muito legal na estrada. Eu vou ter que balancear se quero fazer esse upgrade e arcar com o consumo maior, atualmente ele faz 9 km/l na cidade e 13 km/l na estrada. Estimo que subiria para uns 6 km/l na cidade, baseado no consumo do 1500 da minha irmã (isso mesmo: minha irmã. A mania do Fusca contagiou ela também, que comprou um 72 recentemente).

Pretendo colocar também uma caixa de direção do Monza que dizem por aí que fica mais preciso e bem mais macio, gostaria de conhecer alguém que já fez isso pra saber como ficou.

Quem sabe também um daqueles carburadores Hitachi de venturi variável — outra coisa que gostaria da opinião de alguém que já usou, pois o investimento é alto.

Enfim é isso, claro que um Project Car nunca está finalizado mas já está muito próximo do que desejo.

Agradeço a leitura! Abraços!