Depois de tanto drama até o negócio ser fechado, às 08h00 do dia 27 de julho de 2012 eu estava com o guincho no estacionamento onde Sônia Mercedes estava prestes a despertar.
Com os pneus baixos, não foi tarefa das mais fáceis tirá-la do lugar. Mas com algum custo, empurramos o carro pra fora da vaga, desalojamos alguns calangos e aranhas que deveriam residir ali embaixo, e a colocamos no guincho.
O caminho pra casa teve tom de utopia. Ainda que ela estivesse longe da sua forma ideal, ver ali em cima da plataforma, se mexendo suavemente de acordo com as ondulações do asfalto, uma Mercedes-Benz (oh, Lord!) minha era uma sensação indescritível. Antes de chegar em casa, passamos num posto e enchemos os pneus, quando eu aproveitei e tirei mais umas fotos daquele prêmio.
Chegando em casa, eu finalmente abriria o pacote. Ao me aproximar da traseira, porém, notei uma quantidade razoável de mosquitos voando por ali. Investigando um pouco, descobri que eles estavam se reunindo na ponta do escapamento traseiro. Não sabendo exatamente quem eram, decidi jogar um pouco de veneno ali pra acabar de uma vez com a confusão.
Algumas semanas mais tarde, já na oficina, uma colméia com quase 1 litro de mel foi descoberta ali. Os tais “mosquitos” eram abelhas Jataí.
No porta-malas, achei algumas peças sujas de óleo dentro de uma embalagem de disco de freio, alguns acabamentos do motor, como a tampa da tampa de válvulas (oi?) e mais um cacareco ou outro. Dentre eles, o que mais me chamou a atenção foram o macaco, chave de roda e extintor de incêndio, ainda os originais do carro!
Com a lombriga dando salto mortal dentro da barriga, peguei a bateria nova que tinha vindo com o carro e a liguei nele. Numa checagem inicial, algumas lâmpadas e máquinas de vidro não funcionavam, como era de se esperar. Mas com algum esforço e pra alegria do meu verme intestinal de estimação, consegui abrir o teto solar.
Continuei os testes e encontrei regulagens dos bancos funcionando, apesar de algum mau contato no controle, bem como o aquecimento dos mesmos. Mexendo aleatoriamente num rádio com os comandos em alemão, consegui ligá-lo e, mesmo sem antena, sintonizar uma rádio qualquer. Não satisfeito, resolvi bater na chave de ignição. “Vai que eu dou a sorte das sortes?”
Motor de partida girou e… nada. Lógico que não seria tão fácil assim. Mas pelo menos o motor não estava travado. Voltei os pés para o chão e fui ao cofre do motor, tentando identificar alguns componentes mais exóticos que ali estavam.
Com algum raciocínio lógico, encontrei o reservatório do óleo da suspensão traseira auto-nivelante, bem como sua bomba e sua tubulação. Para a felicidade geral da nação, o sistema que nivela a traseira do carro automaticamente, de acordo com o peso que for colocado no porta-malas, ainda estava lá! Ainda por ali, encontrei essa etiqueta:
Que segundo o que diz esse senhor, dentre as várias configurações de potência que a 2.3-16 teve, meu carro originalmente tem 177cv, com uma taxa de compressão de 9,7:1. Próximo a ela, encontrei uma plaquetinha com vários número em alto relevo. Com meio minuto de Google, descobri que ali, sem muita dificuldade, poderia saber bastante coisa sobre o carro, como os opcionais de fábrica e a cor original.
Mais tarde, descobri ainda que, se enviasse o VIN number do carro, bem como uma cópia de um documento atestando a propriedade do mesmo à central de clássicos da marca, receberia inteiramente grátis (e em seis incríveis minutos!) o Data Card do carro, que contém vários detalhes da fabricação, desde a data em que saiu da fábrica, até o pneu que foi montado originalmente!
Parece besteira, mas acostumado com o desprezo que nossas marcas nacionais tem para com os carros mais antigos, isso me fez ficar ainda mais fã da marca.
Segunda de manhã, conforme pediu o mecânico, levaria o carro a um lava jato e daria antes de mandá-lo definitivamente pra oficina. Como o local era perto de casa e o caminho pra lá era só descida…
Pouco mais tarde, voltava lá pra ver o resultado. E, mais uma vez, me apaixonei.
Mais alguns insetos foram despejados, mas sem a crosta de poeira que estava por cima dela, já deu pra identificar um carro ali. E cara, que carro.
No mesmo dia, dali o carro seguiria para o mecânico, que iria fazer o levantamento do que o carro precisava para rodar e, finalmente, me dizer quanto seria a fábula. Mas isso serão cenas dos próximos capítulos… até lá!
Por José Sherman, Project Cars #61