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Project Cars

Project Cars #624: um Volvo 460… de drift??

Por Guilherme Miotto, Project Cars #624

Aquela vontade incessante de alcançar um objetivo pessoal que, só de imaginar acontecendo, já traz uma sensação indescritível de satisfação. Um sonho. Sempre estive em meio ao universo automotivo. O fato de meu pai ser mecânico abriu essa janela para o mundo sobre rodas muito cedo. Ainda na infância, fui um feliz “co-proprietário”, junto com meu irmão, de um buggy Fapinha.

Nesse período em que a maior preocupação era escolher qual carrinho brincar (e ainda existiam filmes em VHS), surgiu um tal de Tokyo Drift… pronto, já era: fui totalmente contaminado. E justamente ali nasceu meu sonho — fazer drift.

O tempo passou, mas o desejo não. Tenho um Subaru Legacy 1992 e, em meados de 2018, mudei para a tração traseira por forças maiores. A ideia era transformá-lo em um projeto de drift, mas desisti um tempo depois. Decidi que queria aproveitar o carro de outra forma, usando-o para passeios, encontros com amigos e afins. Em certo momento, o motor do Legacy deu problema e, na minha cabeça, eu “precisava” de outro carro para uso. Nada melhor que um popular barato, certo? Certo?

Foi assim que comprei um Volvo 460 Turbo cheio de problemas: injeção, turbina quebrada, para-brisa destruído… enfim, coisa de lasanheiro — ou de doido mesmo.

Costumo apelidar meus carros com algum contexto e um toque de humor. O Legacy, por exemplo, virou “Lego”: além do trocadilho com o nome, já desmontei e remontei o carro infinitas vezes. O Volvo ganhou o apelido de Tijolinho: uma referência ao irmão mais famoso, o “tijolo supersônico”, que correu em competições. O 460 também é quadradão, mas menor e mais “comportado”.

Troquei a turbina e instalei uma FT450, que felizmente ganhei numa rifa. Isso acelerou bastante o andamento do carro, e rodei por um bom tempo com ele. Até que a turbina estourou de novo. Troquei. Depois, um cabo de acelerador quebrou — e aí encostei o carro. Afinal, quem acha um cabo desse troço?

Até que, num dia aleatório de 2023, fiquei observando o carro e caiu um dos poucos parafusos da minha cabeça. Concluí: esse vai ser meu projeto de drift.

Sim, é uma loucura, eu sei. Até por que o Volvo 460 tem tração dianteira.

Mas percebi algumas características cruciais que permitiam a transformação. O carro já era turbo de fábrica e a suspensão traseira lembrava bastante a do Chevette. O Volvo usa eixo rígido com barra transversal ligada a braços oscilantes, amortecedores montados sobre eles e barra Panhard. No Chevette, a mola vai sobre o braço; no Volvo, fica na barra transversal. Foi aí que contei com a ajuda do meu pai logo no início.

Plano na cabeça, peças de Chevette na mão… hora de colocar em prática!

A parte mais fácil foi “espetar” o diferencial de Chevette no lugar. Fizemos suportes para encaixar as demais peças do Volvo. Como o diferencial era mais largo, precisei usar espaçadores. O carro já tinha freio a disco na traseira e, para não mexer nas pontas de eixo, optei por discos de BMW 316. As pinças de freio originais foram mantidas, e para o freio de mão hidráulico usamos pinças de Uno. Calma que vai piorar.

Removemos toda a mecânica e cortamos parte do quadro para encaixar o câmbio de Chevette. Desenvolvemos uma flange para fixar o motor nele, com ajuda da Displatec na embreagem: fizeram um disco que casou com o platô do Volvo, usando um disco que encaixa no eixo do Chevette. O rolamento foi de Opala, ajudando no curso. Meu pai sugeriu melhorar o conforto da embreagem com acionamento hidráulico, então adaptamos cilindros da L200.

Para o desempenho, optei por manter “baixo custo”. A ideia é usar o carro como porta de entrada no esporte, então vou explorar os limites dentro de um budget apertado.

O motor B18FT (derivado do Renault F3P, usado no R19) recebeu modificações da Volvo para comportar turbo — com consultoria da Porsche no desenvolvimento. É pequeno, 1.7L, mas conta com intercooler, jet cooler e um trocador de calor água/óleo. Originalmente tinha 120 cv.

Com ajuda de amigos, consegui uma turbina de DS3 e planejo rodar com 1 kg de pressão, mantendo o intercooler original. Usei bicos Green Giant 42 lbs, bomba externa de Mercedes 12 bar (já que troquei o tanque) e a expectativa é chegar a uns 200 cv na gasolina, pelo menos inicialmente.

O projeto ganhou força porque não estou sozinho. Além do apoio do meu pai e do meu irmão, tive ajuda de amigos que doaram peças, como a turbina e o banco concha. Nos fins de semana, sempre tem alguém para dar aquela força especial. Isso transforma o projeto em algo que vai muito além de mim.

Para a direção, quis evitar sistema hidráulico (trauma com vazamentos e falta de espaço). Inspirei-me num projeto do meu irmão e adaptei a coluna elétrica do Nissan Kicks. A caixa original não servia mais, porque o câmbio ocupava o espaço. Optamos pela caixa do Opala, ligada a uma barra que interliga as rodas. Para isso, invertemos as mangas de eixo, o que gerou problemas de geometria.

O carro chegou a rodar e até foi apresentado em um evento da rede CEDESP. Mas logo apareceram as primeiras dores de cabeça: o tal do ângulo Ackerman simplesmente não existia. Com a inversão das mangas, o carro ficou com anti-Ackerman — a roda externa esterçava muito mais que a interna, e em vez de virar, o carro arrastava.

A solução foi ajustar a ligação da barra de direção, zerando o ângulo indesejado. Só que a caixa do Opala não ajudava: perto do centro a direção era lenta, mas bastava sair um pouco que virava de repente. Para drift, onde precisão é ouro, isso era inviável. A solução foi trocar pela caixa de Santana, que usa cremalheira e mantém o “feeling” adequado.

Agora falta pouco para realmente começar os treinos: reforçar o cardã alongado, soldar o diferencial e terminar a linha do freio de mão hidráulico. Depois disso, a próxima etapa será a suspensão — por enquanto, exceto pelas molas traseiras, ainda é tudo original.

No interior, nada de luxo. Só o básico, banco concha e um detalhe: o Psyduck no painel. Não sei quase nada de Pokémon, mas a expressão dele representa bem a minha cara cada vez que mexo no Tijolinho.

No fim das contas, eu até poderia listar motivos racionais para o projeto: baixo peso relativo, motor bem construído, dimensões favoráveis. Mas a verdade é que tudo se resume a mostrar algo diferente. Apesar das limitações — estruturais, financeiras ou de qualquer outro tipo —, o que realmente importa é a vontade de fazer o sonho acontecer.

Agradeço imensamente a oportunidade de compartilhar esse projeto e contar com sua atenção.

If in doubt, Flatout!