Agora que vocês já conhecem a Claudia, chegou a hora de apresentar o projeto que tenho para ela. Ele é bem simples: pretendo apenas deixar minha Vespa mais usável no dia a dia — o que os entendidos chamam de restomod. Qual o estado dela hoje? A parte da ciclística já tá feita. Coloquei amortecedores pressurizados e reguláveis Bitubo e freio a disco hidráulico na dianteira. Ela agora faz curva e freia como uma moto normal (fazer isso como uma moto moderna seria pedir demais). Mas toda a parte mecânica e elétrica permanece original.
O próximo passo é a performance. Quero ter potência suficiente para abrir distância quando alguém colar na minha traseira e pra subir ladeiras íngremes com garupa, sem sofrer.
Pra fazer tudo isso, o problema não é exatamente a mão de obra. A mecânica é simples e existem ótimos tutoriais no Youtube. Tirando uma coisa ou outra, não existem peças de performance no Brasil. Quase tudo tem que vir de fora. Mas pra ser justo, aqui se encontra quase tudo pra fazer uma restauração no padrão original.
Por incrível que pareça, as lojas e oficinas mais legais ficam na Alemanha, não na Itália. A SIP, por exemplo, é a Summit Racing das Vespa. Lá tem tudo que a gente precisa, sonha ou nem sabe que existe. Seja pra envenenar ou pra deixar como tivesse saído da fábrica. Também tem umas oficinas pequenas que são a pura ignorância. Se eu ganhasse na Mega-Sena, provavelmente mandaria a Claudinha pra algumas dessas. A Inglaterra também tem coisas bem interessantes, mas os preços em libras acabam sendo meio proibitivos pra nossa realidade.
Eu tenho consciência que meu projeto nunca terá fim. Mesmo que eu chegue no meu ideal de preparação hoje, amanhã podem lançar coisas mais legais. A Claudia também é um veículo de uso diário, portanto, sempre terá um detalhe a se fazer. Ou eu posso simplesmente surtar e resolver colocar algo como um Chevy 350 Small Block nela. Nunca se sabe.
A imaginação não tem limites, mas dinheiro tem. Então pensei em três cenários, que também servem como etapas.
A parte fácil
A primeira parte do meu projeto é relativamente simples.
Preciso fazer a funilaria em algumas partes da lateral direita (na saia, pedana e paralama). Há alguns meses, indo para o trabalho num dia de chuva, freei pra reduzir a velocidade e na hora perdi o controle. Era uma mancha de óleo que não havia visto. Foi um horror, a Vespa e eu deslizamos e paramos na contra-mão. Sorte que não vinha ninguém.
Também quero colocar a lanterna traseira do modelo europeu, que acho mais bonita, e o banco interiço original. Coisas fáceis de se encontrar na internet ou até por aqui mesmo.
A parte mecânica passa por um engine swap pelo motor da PX200. Essa modificação é comum, muito simples e fácil de fazer. Os pontos de fixação do motor são os mesmos, não exige quase nenhuma adaptação. Só nessa brincadeira, a potência salta dos 7 cv originais pra uns 10 ou 12 cv e o sistema elétrico é atualizado pra 12v (o que vai exigir um novo chicote elétrico). Ou seja, luzes mais fortes e maior facilidade de pegar. Também me livro do platinado, ganho em economia de combustível e o freio traseiro fica um pouco mais forte.
O mais provável
Aqui a coisa começa a ficar mais divertida. A SIP vende o prato feito da potência. É um kit com pistão e cilindro Malossi (pra aumentar a cilindrada pra 210 cm³), cabeçote MMW, escapamento esportivo, discos de embreagem mais parrudos pra aguentar o tranco e umas tranqueirinhas a mais.
Só instalar o pistão, cilindro e cabeçote já dá um ganho bem legal. O pulo do gato tá em abrir as janelas no bloco do motor, que aumenta bastante o fluxo de gases e faz toda a diferença. A Vespinha também vai respirar melhor com um carburador Dell’Orto maior, um filtro de ar esportivo e um coletor dimensionado.
Pra ter tudo sob controle, quero pegar um velocímetro moderno da própria SIP. O visual é bem parecido com o antigo, só que terei conta-giros e temperatura do motor à minha disposição. Assim já dá pra passar dos 15 cv e melhorar bastante o torque sem precisar vender um rim. Mas ainda não é meu cenário ideal.
O que seria ideal
Esse é meu sonho de consumo. Não é nem de longe a preparação mais extrema que existe, mas pras ruas combina muito bem performance e confiabilidade.
Pra complementar as modificações anteriores, começo com um virabrequim Polini de biela mais curta pra aumentar o curso. A Vespinha passa a ter 221 cm³, com um bom aumento no torque. Há duas maneiras de compensar o aumento de curso: uma é subindo o cilindro, que deixa ela mais giradora e nervosa em alta. A outra é levantando só o cabeçote, que prioriza o torque em baixa, com uma curva mais plana. É essa que eu busco, já que o motorzinho dois tempos só mostra seu torque quando tá berrando e ela fica mais civilizada pra cidade.
Outro upgrade bem interessante é colocar a admissão por válvula de palheta, igual nas míticas Yamaha RD350. Até existem kits pra usar peças da própria Viúva Negra, o que facilitaria bastante a vida. A admissão por válvula de palheta melhora bastante a entrada da mistura ar-combustível e evita que haja retorno pro carburador. A queima fica mais eficiente.
Ainda no motor, depois disso tudo a Vespa merece um escape dimensionado de competição, que a própria Sip fabrica. Além de ter um barulho animal e um visual bacana, dá um ganho bem interessante de potência, já que a câmara de expansão em motores dois tempos é no próprio escapamento. Existes opções alemãs e inglesas também. A ver.
Eu não vou esquecer da transmissão. Pra lidar com a força extra, quero pegar um kit de embreagem reforçado. Também existe um kit pra alterar a relação final do câmbio. Quero deixar ele um pouco mais longo, pra compensar o ganho de torque e girar um pouco menos em velocidades altas.
Com tudo isso, estimo que a potência fique entre 20cv-30cv. Isso pra uma moto de uns 90kg! Pra parar tudo isso, acho bom também colocar freio a disco traseiro, da Grimeca.
A cereja do bolo é algo que nem é necessário. Seria algo de puro fetiche e ostentação, na verdade. Mas lá fora existe o bloco novo, reforçado pra preparação, com todas as janelas trabalhadas. Não é algo absurdamente necessário para o projeto, mas seria bem legal ter.
Essa nem é a preparação mais extrema que existe. Entre os entusiastas lá fora, é uma receita relativamente comum. Se fosse pra pirar, existem cilindros e blocos com refrigeração a água, volantes aliviados de competição, kits para aumentar as rodas pra 12”, acionamento hidráulico da embreagem… as possibilidades são infinitas. Mas são todos focados pra competição, acabam sendo meio inviáveis e se usar no dia-a-dia. Além de ser bem mais caros.
No próximo post, vamos ver o quanto eu consegui evoluir no projeto e outras novidades na manda que quero contar pra vocês. Até lá!
Por Marcelo Druck, Project Cars #83