Vocês já conheceram a Cláudia e descobriram as maldades que pretendo fazer com ela. Agora vou contar o que aconteceu nos meses passados entre o último post e o presente. Já adianto que não foi nada do que havia planejado. Ainda bem! A graça da vida é ser imprevisível.
Começando pelo começo, eu tentei consertar a partida. O pedal anda bem estranho, tem que acertar o ponto certo pra ela pegar senão as engrenagens não encaixam. Apesar de ser um ótimo sistema anti-furto, não é muito prático. O pedal descer seco é mais comum do que eu gostaria, assim como escorregar o pé e dar uma canelada no assoalho da Claudia.
Tomei vergonha na cara: encomendei as peças, comprei um torquímetro, consultei meus manuais de reparo e decidi eu mesmo abrir o motor pra fazer o reparo. Num domingo. Não podia ser tão dificil assim.
Claro que era.
Tirar o cabeçote e o pistão foi tranquilo. Já puxar o volante do motor foi o contrário. Achava que era fácil depois de ver meu mecânico fazer isso. Fácil pra ele, pra mim foi impossível. Pelo menos é uma peça notoriamente chata de tirar. Feriu menos o ego.
Assumi a derrota e fui tentar remontar o motor. Primeira coisa que faço? Rasgar a junta do cilindro. Aí foi a semana inteira, ensolarada e perfeita pra andar de moto, remoendo minha própria imbecilidade até ter tempo para comprar outra. Montar o cilindro foi outro parto de elefante. Mas depois que eu descobri que os anépis do pistão tem um lado certo, ficou fácil.
Pelo menos todo o trabalho não foi em vão. Aproveitei pra descarbonizar o pistão e o cabeçote, o que melhorou um pouco a performance. Pelo menos psicologicamente. Pena que esqueci de tirar foto do antes e depois pra vocês verem. Também descobri que alguém, em algum momento dos últimos 34 anos, espanou a rosca do prisioneiro do cilindro no bloco do motor. Mas isso eu fiquei feliz de não tirar foto pra não me irritar.
No final das contas, a boa notícia foi não ter sobrado nenhuma peça ao remontar o motor e não quebrar nada nessa história toda. Mentira, quebrei sim. A lanterna traseira. Me apoiei nela uma hora pra fazer força. Que demência. Aproveitei pra encomendar o modelo europeu, sonho antigo.
Também aprendi a regular o ponto da ignição, que ainda é por platinado. Finalmente. Isso rolou depois que a Claudia morreu e não queria ligar de jeito nenhum, no caminho pro trabalho. Meu mecânico passou as instruções pelo telefone e pude seguir tranquilo.
Outra coisa legal de contar pra vocês é que a Claudinha ganhou uma homenagem, feita pelo mestre Takuma Kitagawa. Depois disso ela funcionou perfeitamente e acho que até melhorou a autonomia. Nada como puxar o saco de uma jovem signora italiana e temperamental.
Enfim, nos últimos tempos o projeto deu uma esfriada e agora estou retomando o ritmo. A vida moderna, sempre ela, mostrou que a prioridade de vida não é gastar os rins em peças e mão de obra. Mas são bons motivos. O maior deles tá no vídeo abaixo.
E o mais legal foi ir do cartório pra festa com escolta da polícia e do embaixador japonês. Prefiro acreditar que não foi coincidência estarmos indo na mesma direção. É óbvio que os batedores da polícia só ostentavam bandeiras do Japão porque minha mulher é nissei. Ninguém vai me convencer do contrário.
No momento que escrevo o texto, acabo de retirar ela do Free Willy, onde passou uns dias resolvendo o problema do pedal de partida. Que, na verdade, era a árvore primária do câmbio. 13º é pra essas coisas.
Para os proximos meses, quero manter a Claudinha funcionando direito, fazer a funilaria, o que imagino que acontecerá por janeiro ou fevereiro e, se der, arrematar um motor de PX200. Também pretendo comprar um capacete novo, já que o atual completou cinco anos.
É isso. Até a próxima!
Por Marcelo Druck, Project Cars #83