Olá, amigos do Flatout! Hoje vamos falar de uma prova extremamente interessante, desafiadora e ao mesmo tempo perigosa – a subida de montanha!
Assim como a maioria dos leitores aqui, sou fascinado por corridas e sempre achei o Rally um dos eventos mais desafiadores para máquinas e pilotos, devido ao alto grau de riscos envolvidos, ao pouco (ou nenhum) espaço para erros. Não sei explicar direito, não é algo racional, mas esse tipo de emoção sempre me atraiu e por algumas vezes deixei de me inscrever em provas de subida de montanha por achar que ainda era muito “verde” ao volante – obviamente não sou sequer um “protótipo de piloto”, porém participo de provas de automobilismo amador (Track days, Hot laps, time attacks) há alguns anos e achei que era hora de tentar uma subida.
O fato é que surgiu uma oportunidade de acelerar nesse tipo de prova em Nov/2015, em Serra Negra-SP, é claro que me inscrevi! Trata-se de um trecho de serra de 4,5km com 24 curvas, uma mais fechada do que a outra, porém devidamente fechado e sinalizado. O evento era dividido em 4 categorias: Clássicos, Racecars, Supercars e Importados. Entrei na categoria Racecars, devido ao Pangaré ainda não possuir 25 anos de idade.
Antes do evento, verifiquei todo o carro, mangueiras, conexões, fluidos, etc, etc, etc… Tudo em ordem, parti para a estrada. Peguei muita chuva no caminho, mas havia previsão do tempo abrir antes do almoço. Chegando ao local do evento, desci o carro da carretinha, fiz todo o processo de cadastramento e briefing e fomos para a “subida de reconhecimento” – que não era cronometrada.
Aqui vale uma observação; você acha que o treco tem seus riscos até estar lá e ver pessoalmente – aí você tem certeza! São muitas árvores, barrancos, curvas que mudam o raio, entre outros. Obviamente você não vai conseguir decorar todas as 24 curvas ou o traçado ideal na primeira subida, portanto procurei prestar atenção nos pontos de maior perigo e não atrasar frenagens.
Muito bem; subida de reconhecimento ok, coração batendo forte, vamos para a primeira subida cronometrada! De forma resumida, posso dizer que procurei respeitar os limites, tomei o máximo de cuidado possível, cheguei a engatar a 4ª marcha somente em um ponto do trajeto e consegui chegar ao final com muita adrenalina correndo nas veias e um bom tempo de subida (2min54seg). Foi uma experiência fantástica, eletrizante, diferente da sensação de acelerar em um autódromo.
Para a segunda subida, fui pensando nos trechos em que eu poderia evitar os erros da primeira, especialmente na parte inicial, que é “menos curva” (note no vídeo comparativo das duas subidas que eu saio bem mais forte nessa segunda). O cuidado e respeito pela estrada permaneceu o mesmo, porém a 4 ou 5 curvas do final, perdi a traseira do carro em um “S” de alta velocidade e acabei conhecendo um dos barrancos da estrada, onde bati e na sequência o carro virou – felizmente os equipamentos de segurança disponíveis (banco concha – com suporte bem feito, cinto de 4 pontos e capacete) me ajudaram a não ter ferimentos de qualquer espécie, saí do carro pela janela e pude verificar o estrago. Mas acima de tudo isso, tive mais sorte do que juízo!
Aqui está o vídeo comparando as duas subidas e uma foto do carro depois da “arte”…
Desvirando o Pangaré:
Bom, falarei sobre isso em seguida, mas de qualquer forma ainda fiquei com o melhor tempo do dia na categoria Racecar e fiz muitos amigos nesse dia!
Lições aprendidas (ainda bem que não da pior forma)
Se você acompanha o meu PC desde o início, sabe que a instalação da rollcage é algo que está nos planos há tempos; sei da sua importância, prezo pela segurança, mas assumo que foi um erro não ter feito a instalação antes. É claro que ninguém quer rodar, bater, tomar susto, mas automobilismo é assim e se você sai para acelerar tem que estar preparado para esse tipo de coisa.
Digo que não aprendi da pior forma, pois os danos foram mínimos, somente algumas chapas amassadas e vidros quebrados, não aconteceu nada comigo nem com a estrutura (leia-se alinhamento) ou mecânica do carro. Cada um tem suas crenças, eu encaro esse episódio como um grande aprendizado e como um aviso, do tipo: “cara, deixa de ser preguiçoso e faz logo o que você sabe faz tempo que tem que fazer nesse carro pra continuar brincando de forma segura”!
E é com esse pensamento que iniciei a fase de “upgrades” no Pangaré, ou se preferirem podem chamar de “fase 2”.
Mas antes de mostrar a reconstrução, vale olhar para o estado em que o carro ficou, amassado principalmente na lateral esquerda e no teto – muita gente no evento olhou para o carro e disse que era para jogar fora a carroceria e montar a mecânica em outro carro.
Mas eu tenho um certo apego nesse Pangaré velho e assimilei a missão de colocá-lo de volta à ativa!
Teto amassado e o amigo Milton Rubinho dando uma força para ajeitar o carro na carretinha
Visão dos danos mais severos na lateral
Metendo a mão na massa
Aproveitei as minhas férias para iniciar os trabalhos no carro, afinal sempre gostei de fazer o que posso no carro ou pelo menos acompanhar de perto o que não posso. É o caso da funilaria – não tenho muita prática, ferramentas ou habilidade para reparar uma carroceria, portanto procurei o serviço especializado para tal (funileiro). Mas é claro que alguma coisa ou outra a gente mesmo acaba pondo a mão – Fizemos a recuperação das partes danificadas e já aproveitei para deixar os paralamas e caixas de rodas mais largos, modo roots, lixadeira comendo solta!
E para os mais exigentes/atentos, nessa altura do campeonato devem estar pensando sobre os potenciais riscos, problemas que a recuperação da carroceria pode trazer – e vocês estão certos! Obviamente pensei nisso, é claro que eu não confiaria mais na estrutura original das colunas, no teto que amassou… Por isso resolvi voltar à geometria correta, literalmente colocar as coisas no devido lugar, para depois trabalhar no “esqueleto” novo do Pangaré, a nossa querida rollcage – ela garantirá a integridade do carro e a minha, em caso de nova colisão.
Teto e colunas A com as marcas do tombo…
Parte da lateral removida para recuperar
Lateral “de volta” ao lugar e foi colocada apenas uma porta velha para verificar a geometria inicial
Alicate + lixadeira = diversão garantida!
Mesmo trabalho na lateral traseira
Aliás, vale dizer que essa ideia de “alargar” um pouco o carro já estava na minha cabeça há um bom tempo, mas sempre batia aquela preguiça do tipo “ahh… mas é um trabalho danado mexer nisso agora…”
Pois é, agora já não tinha mais desculpas para deixar de fazer isso, então resolvi fazer do jeito que eu bolei, na própria carroceria, como o pessoal diz: “na lata”! E foi assim, na lixadeira, solda, martelo e acabamento na massa – fiquei muito satisfeito com o resultado!
“Fender flare” já soldado e com primeiro ajuste na massa plástica
“Jeitão” da lateral com o novo formato – ainda sem acabamento
E após cerca de 1 mês do início dos trabalhos, concluímos a primeira parte – a preparação para a rollcage.
Recuperação OK – hora de deixar tudo alinhado para soldar os tubos da rollcage
“Fender flares” já alinhados, fundo aplicado na pintura e início da desmontagem do interior
Desmontando o interior e aproveitando para remover o que não for necessário
Um novo e reforçado esqueleto
Já ouvi e vi muita gente falando em rollcage, ou no clássico “amarrar o carro” para conseguir melhor estabilidade, mais chão; sim, é claro que buscamos sempre o melhor em performance, mas não podemos nos esquecer da principal função desse monte de aço dentro do carro: segurança!
Dados os recentes acontecimentos com o Pangaré, resolvi investir em uma estrutura reforçada, com melhor amarração do que o usual (famoso “mínimo do anexo J da FIA”). Não me entendam mal! Os carros de categorias de base são muito bons, homologados, funcionam para o que foram projetados – mas vocês já viram a diferença para uma estrutura de carro de rally, não é mesmo? É claro que existem reforços proporcionais aos riscos.
Como o meu carro é um “brinquedo de gente grande” e eu não corro em nenhuma categoria, não preciso atender regulamento e não tenho que ficar economizando cada grama de peso que puder. Resolvi montar algo bem reforçado para ter mais segurança em provas como a Subida de montanha, por exemplo (motivos óbvios… J). A meta aqui foi desenvolver um projeto sem exageros, mas sabidamente acima do “peso mínimo possível”.
Defini a estrutura que eu queria e deixei o carro para soldar os tubos, pois infelizmente não tive tempo de montar eu mesmo… Mas essa vontade eu vou matar quando montar o outro projeto que estou preparando, mas isso é assunto para outro post e/ou outro PC.
Tubos soldados: reforço nas portas, amarração com as torres dianteiras
O famoso “X” visto por trás
Preparação para pintura dos tubos
Visão traseira – é possível enxergar quase todos os tubos
Toques finais (ou quase isso…)
Após longos dois meses longe das pistas, não vou negar que minha ansiedade para colocar o carro de volta em ação era enorme! Resolvi então apenas jogar um fundo na carroceria, “empoeirar” por dentro e deixar para depois os detalhes. E foi isso mesmo, deixei a direção com o funileiro e falei pra ele se divertir, só pedi para pintar de branco por dentro e de laranja os tubos.
Na semana que antecedeu o Hot Lap Limeira de fevereiro, foi feito o trabalho e o carro ficou no estilo “Mad Max”, vou te falar que até gostei do visual!! Mas em breve farei o acabamento, estou decidindo se pinto o carro ou se adesivo ele todo, com uma arte própria que já está na minha cabeça há algum tempo… Quero deixar a cor básica original ou próxima dela, afinal o Pangaré continua o mesmo cavalo velho de sempre, só que agora com alguns upgrades.
Já comprei as janelas em policarbonato, falta apenas terminar a estética externa para então instalar o conjunto e poder correr na chuva! J
Work in progress…
Quase pronto para remontagem interna
Layout provisório, ainda sem pintura, faróis, janelas…
Chega de enrolação e vamos para a pista!
No dia 21/02 participei do 31º Hot Lap Limeira, onde finalmente pude matar a saudade do Pangaré acelerando, com os amigos, na fantástica atmosfera que somente um “dia de pista” pode te oferecer!
O meu maior receio era o carro andar e frear reto, estável, sem soltar nenhuma peça pelo caminho – e ele não apenas cumpriu com todas essas premissas, como ainda garantiu a volta mais rápida do dia e voltou para casa são e salvo!
Quem me conhece, quem acompanha a história desse carro sabe que ele é muito mais que um simples pedaço de metal e plástico; há quem diga que automóveis tem alma, tem personalidade própria. Se isso é verdade, posso garantir a vocês que o Pangaré está feliz em retornar! Deixo aqui algumas fotos tiradas no evento pelo Rafael Micheski da Revista TrackDay:
Os planos agora são de andar, começar a mexer na suspensão, ajustar, andar mais, continuar encontrando velhos e novos amigos pelo Brasil afora, sempre buscando a diversão com segurança e um novo capítulo para escrever nesse livro de histórias que é um “track car”.
Um grande abraço a todos e até a próxima!
Por Leo Ceregatti, Project Cars #94