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Car Culture

Project Goldfish: quando a BMW quase produziu um Série 7 com motor V16

O que é mais legal do que um sedã alemão com motor V8 e câmbio manual de seis marchas? Óbvio: um sedã alemão com motor V16 e câmbio manual de seis marchas! E este carro existiu mesmo, ainda que jamais tenha deixado a fase de protótipo. Conheça o BMW 767i, ou “Project Goldfish”.
No tempo em que os nomes alfanuméricos dos BMW realmente significavam alguma coisa, o 767i era um BMW série 7 com motor V16 de 6,7 litros com injeção eletrônica — só que ele nunca foi produzido em série. O ano era 1987, e o Série 7 estava na geração E32 (a segunda, vendida de 1986 a 1994. Foi quando Karlhienz Lange, Hanns-Peter Weisbarth e Adolf Fischer — os três homens que também seriam responsáveis pelo BMW Série 8, decidiram criar uma versão do Série 7 com motor de 16 cilindros.

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O ponto de partida foi o motor V12 de cinco litros M70, que já equipava algumas versões do Série 7 (e, mais tarde, grand tourer Série 8) e, com algumas modificações e o nome de S70, foi parar até no cofre revestido de ouro do McLaren F1. A ideia era explorar todas as possibilidades além do motor M70. Foi ali que nasceu o projeto Secret Seven, que consistiu basicamente em colocar mais quatro cilindros no M70.

Em menos de seis meses, a equipe tinha um V16 pronto para ser produzido. Em essência, era o mesmo motor: todas as medidas (diâmetro de pistões, comprimento de bielas, taxa de compressão, comando de válvulas, etc) eram idênticas  — ele só tinha quatro cilindros a mais. Testado no dinamômetro na véspera de Natal de 1987, o motor entregou números impressionantes: 413 cv a 5.200 rpm e 63,7 mkgf de torque! Para se ter uma ideia, eram 100 cv a mais do que o V12.

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Um detalhe bacana: o motor era gerenciado por dois módulos eletrônicos Bosch, e cada um deles cuidava de uma bancada de cilindros — na prática, era como se o carro tivesse dois motores de oito cilindros em linha trabalhando em sincronia

O V16 era 30 centímetros mais longo do que o V12, o que não deixou espaço para o sistema de arrefecimento que, normalmente, ficaria na frente do motor. A solução foi colocar o radiador na parte de trás do carro! Note a grade para ventilação entre as lanternas e as entradas de ar nas laterais traseiras:

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O carro era chamado internamente de “Goldfish”, por causa da cor do protótipo (que para nós está mais para “Brownfish”, só que este não é um nome muito bom). O protótipo já estava pronto para se transformar em um carro de produção e a BMW até considerou lançar o “Super 7”, mas o carro ainda precisava ser aprovado pela diretoria da marca. Sem surpreender ninguém, a bancada de executivos achou o projeto ambicioso demais e o vetou.

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Como aconteceu com o Z3 com motor V12 do qual falamos recentemente, o Project Goldfish foi levado para a garagem secreta da divisão Motorsport pouco depois de ficar pronto — e lá permanece desde então. O carro por ser visto a partir dos 3:30 do vídeo abaixo:

Pensando em retrospecto, era uma ideia que fazia muito mais sentido na época do que hoje — o downsizing está cada vez mais presente na indústria automotiva, e carros que usavam grandes motores aspirados estão se rendendo a motores menores e sobrealimentados.

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Para dar um exemplo sem sair da BMW, o M5 abandonou o V10 de cinco litros e 507 cv da geração anterior para contar com a força de um V8 biturbo de 4,4 litros e 560 cv e o M3 abandonou o V8 4.0 aspirado em favor de um seis-em-linha 3.0, também biturbo. Sendo assim, não contaríamos com um sedã de 16 cilindros bávaro para os próximos anos.

O que, sinceramente, é uma pena: o novo Série 7  (que deverá ser apresentado no Salão de Genebra em março) ficaria incrível com um V16 no cofre, temos certeza.

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