Nossa série relacionando o preço, o peso e a potência dos modelos à venda no Brasil vem fazendo um sucesso muito bacana. E ainda temos muita lenha pra queimar com ela. Depois de falarmos de sedãs médios, SUVs compactos, hatchbacks médios, dos carros com a melhor relação entre peso, potência e preço no geral e também das picapes médias, vamos hoje com um dos segmentos de mercado mais importantes do Brasil, o dos compactos premium.
Antes de mais nada, vale uma looooonga explicação sobre o nome da categoria. Um belo dia, o pessoal dos departamentos de venda das fabricantes viram carros que não se enquadravam mais nos critérios de carro compacto (com entre-eixos até 2,50 m), mas que também não chegavam a médios (com entre-eixos iguais ou maiores do que 2,60 m até 2,80 m). Eles até podem ter sido compactos, mas foram crescendo. Podiam ter mudado de nome, mas ele foi conservado por questões mercadológicas. O VW Golf, por exemplo, nasceu com 2,40 m de entre-eixos!
Diante da dificuldade, alguém veio com a ideia do nome “compacto premium”. O mais correto talvez fosse “compacto plus”, porque era um compacto com mais equipamentos ou mais espaço interno ou os dois. E o nome acabou pegando. Pode acreditar: não fomos nós que inventamos a parada. Espie uma busca simples no Google com o termo para ver o quanto ele se popularizou. New Fiesta e Ka entram, apesar dos 2,49 m de entre-eixos, porque já são tratados como compactos premium. Provavelmente mais por nível de equipamentos que pelo tamanho do entre-eixos.
Mas e o Citroën DS3? E o Fiat 500 Abarth? E a Audi A1? Esses nós podemos chamar de hatchbacks de luxo ou hatchbacks compactos esportivos, mas não são compactos premium. Vão além dessa categoria. De novo a confusão com o “premium”, né? Sim, sabemos que é um nome ruim, mas é o que o mercado escolheu. É um termo correto? Em nossa opinião, não, já que premium tem uma carga semântica que remete a luxo. Mas é algo que virou convenção. E convenção, a princípio, a gente respeita. Se vocês ajudarem, a gente muda a classificação para “compacto plus”. Ou “supercompacto”, mas aí vão achar que é um compacto com motor forte… Ou… Sei lá. Ajudem-nos a inventar um termo mais correto que a gente passa a adotar por aqui. À caixa de comentários, galera!
Esclarecido o nome da categoria, a ideia, para quem acompanha a série desde o princípio, é mostrar os modelos que cobram menos por carrocerias mais leves e motores mais potentes. Com o tempo, talvez criemos também uma levando em conta o torque, o 0 a 100 km/h e vários outros dados, mas, no momento, vamos focar apenas nestes três elementos. Foi o critério que adotamos para todos os modelos à venda no Brasil.
Vale repassar o raciocínio por trás do levantamento, que durou uma semana inteira para ser tabulado. E que nunca termina: sempre tem alguém que aumenta ou até diminui preços. O exemplo positivo, desta vez, veio da GM, que reduziu os preços do Onix. Não admira que ele tenha passado o Fiat Palio em vendas na parcial de vendas deste mês de agosto. Por outro lado, a Fiat subiu seus preços.
Voltando ao levantamento, ele chegou aos 471 modelos e versões que mencionamos no início. São os mais leves e mais baratos de cada carro à venda no Brasil, com cada um dos motores e das carrocerias que eles oferecem. Com os dados de peso, potência e preço de cada um.
Consultamos engenheiros, economistas e contadores atrás da melhor fórmula que juntasse preço, potência e peso e a que eles nos sugeriram foi potência/peso/preço, ou, mais tecnicamente, (potência/peso)/preço. Eis a calculadora que criamos para esta conta:
Imaginamos como exemplo um carro de 200 cv, 1.500 kg e R$ 90.000. O resultado da divisão da potência pelo peso e disso pelo preço dá 14,81 x 10e-7, ou 0,000001481, mas preferimos a forma reduzida. Quanto maior é o número, melhor é o equilíbrio do carro entre os três fatores.
Experimente mudar a potência para 500 cv. Vai dar 37,04 (x 10e-7…). Ótimo! Experimente, agora, diminuir o peso para 900 kg. O resultado será 24,69, se os demais valores continuarem os iniciais. Por fim, diminua o preço para R$ 50.000. O índice pula para 26,67. Percebeu? Pode brincar à vontade com a calculadora acima. Inclusive para ver como se saem os carros que você anda considerando comprar.
A coisa não está fácil para os modelos compactos. Como são a porta de entrada do mercado, eles sentem o baque quando a economia vai mal. Os compactos premium, imediatamente acima na lista, também não têm vida fácil, apesar dos volumes expressivos de vendas que conseguem entregar. A concorrência entre eles também é feroz: só com motores e carrocerias diferentes, temos 23 versões representadas por aqui.
Por fim, fazemos a mesma ressalva presente desde o princípio: o que apresentamos não é nenhuma recomendação de compra ou coisa que o valha. São apenas os resultados matemáticos e democráticos a nosso questionamento inicial. Eles não levam em conta acabamento, comportamento dinâmico, sensação ao dirigir nem itens de série (ou a falta deles). Só a melhor relação entre peso, preço e potência.
De acordo com nossos critérios desta série, os dez primeiros colocados entre os compactos premium, do décimo para o primeiro, são…
10º – Honda Fit DX (21,37)
Todo mundo se queixa do preço dos Honda no Brasil. Nem por isso a marca vende menos, uma proeza que ela atingiu pela fama de robustez que conseguiu construir para seus produtos. Prova disso é o Fit, que ela anda com dificuldade de entregar pela demanda para o HR-V. Mas que ainda vende bem à beça. A versão de entrada, a DX, vem bem pelada, mas é a segunda mais cara desta lista: R$ 51.600. Com câmbio manual, que quase não é vendido no Fit.
Como ele conseguiu figurar entre os dez mais? Pelo peso relativamente baixo e pela boa potência do 1.5 que o equipa, a segunda maior entre os primeiros colocados. Mas teve carro que se saiu significativamente melhor.
9º – Ford Ka SE 1.0 12V (21,43)
Preço é fundamental nessa lista? Se fosse, o Ka SE 1.0 estaria nas cabeças, não aqui na rabeira. Os R$ 39.390 que a Ford cobra de seu modelo de entrada, compacto premium pelas dimensões e pelo nível de equipamentos, é o terceiro mais baixo entre os dez primeiros colocados. É o que mantém o Ka 1.0 na briga. Apesar de seu 1.0 ser potente, em relação ao dos concorrentes, ele não é exatamente leve, com 1.007 kg. Com isso, sua relação peso/potência é a segunda pior dentre as destes dez carros, com 11,85 kg/cv. Preço, aqui, foi decisivo. Exatamente o contrário do que acontece com o oitavo colocado.
8º – Ford New Fiesta SE 1.6 16V (21,5)
Eis o carro mais caro entre os dez compactos premium mais bem colocados nessa série. O que salva o New Fiesta é o motor mais potente entre seus concorrentes: 128 cv. Apesar de ter 1.105 kg, ele consegue a segunda melhor relação peso/potência desta lista, com 8,63 kg/cv. Se fosse depender de seu preço, R$ 53.890, o New Fiesta talvez nem estivesse por aqui.
7º – Hyundai HB20 Comfort 1.0 12V (21,75)
O HB20 1.0 mais barato, vendido a R$ 38.595, também é o mais barato entre os dez primeiros colocados. E também é o mais leve, com meros 953 kg. Isso compensa a relação peso/potência mais alta da lista, com 11,91 kg/cv, e coloca o Hyundai piracicabano em uma excelente sétima colocação. Pelo menos considerando seu motor pequeno. Teve gente mais potente que não chegou tão longe. Nem entre os dez primeiros.
6º – Ford New Fiesta S 1.5 16V (22,02)
O equilíbrio entre peso, preço e potência na versão S 1.5 do New Fiesta foi maior que o da versão 1.6. O preço, de R$ 46.790, é significativamente mais baixo em relação à potência (a terceira mais alta entre estes dez) e o peso, de 1.087 kg, também não chega a atrapalhar. Um merecido sexto lugar para o New Fiesta.
5º – Chevrolet Onix LT 1.4 8V (23,06)
A redução de preços fez muito pelo Chevrolet Onix. Atual campeão de vendas da marca, ele só está agora entre os dez primeiros modelos que melhor balanceiam preço, peso e potência porque ficou mais barato. Mesmo assim, apenas na versão 1.4, que conta com 106 cv. O preço ficou em R$ 45.150. O peso é de bons 1.018 kg.
4º – Chery Celer (23,1)
Quando se fala em modelos de preço baixo, sempre aparece um chinês. É do jogo: quem quer conquistar mercado precisa apelar para preço. E o do Chery Celer, primeiro chinês fabricado no Brasil, mais especificamente em Jacareí, no interior de São Paulo, é o segundo mais baixo entre os dez primeiros colocados. Seu motor tem uma potência razoável, com 109 cv (é um 1.5), mas ele é pesado à beça: 1.210 kg. Isso joga sua relação peso/potência lá para cima, com 11,1 kg/cv. Era para o Celer ter se dado bem por aqui, mas o chinês gostou da comida brasileira e descuidou da balança.
3º – Renault Sandero Expression 1.6 8V (23,2)
O Sandero 1.0 nem apareceu entre os dez primeiros colocados. Culpa de seu motor. O peso do 1.6, em 1.055 kg, mostra que o Renaut teria chances de ter se classificado melhor se sua versão 1.0 tivesse motor mais forte. Vendido a R$ 43.310, o 1.6 tem preço intermediário entre os extremos desta lista. O motor, com 106 cv, também não o destaca. O peso, no caso do modelo paranaense, é a explicação para a excelente terceira colocação.
2º – Ford Ka SE 1.5 16V (25,08)
O melhor representante da Ford nessa lista é o Ka SE 1.5. A potência de 110 cv, aliada ao peso de apenas 1.018 kg, deu ao carro uma boa relação peso/potência, de 9,25 kg/cv, mas foi o preço, de R$ 43.090, que garantiu que a versão não pesasse a mão na hora da venda. Não é o mais barato da lista, mas é o quarto mais baixo entre os dez. Suficiente para o segundo lugar do compacto premium mundial desenvolvido no Brasil. Mas faltou potência para chegar na primeira posição.
1º – Hyundai HB20 Comfort Plus 1.6 16V (27,1)
O Hyundai HB20 também pesa pouco com o motor 1.6. São apenas 1.000 kg, mas aliados a um motor de 128 cv, a maior potência entre os dez primeiros colocados desta lista. Ainda que o preço seja salgado, R$ 47.235, a relação peso/potência de 7,81 kg/cv não deu chance a nenhum dos concorrentes. Ainda que tenha volante leve demais em altas velocidades, o HB20 1.6 é o compacto premium que melhor equilibra peso, potência e preço.
Para ver a posição de todos os compactos premium que entraram nesse ranking (as versões mais leves e mais baratas para cada motor oferecido na linha), confira a tabela abaixo: