Enquanto vemos fabricantes de automóveis gringas completando e ultrapassando os 100 anos de idade, a indústria automotiva brasileira é relativamente jovem — no último dia 15 de maio, completamos 60 anos anos produzindo automóveis no Brasil. Qual é o carro mais marcante nessas seis décadas?
Os primeiros veículos montados no Brasil, em regime CKD (Completely Knocked Down, no qual os carros são apenas montados na fábrica, com todos os componentes importados), datam de 1919: o Ford Modelo T começou a ser montado em São Paulo pela Ford naquele ano. Dali em diante vários outros modelos foram produzidos por aqui seguindo o mesmo modelo de produção — até mesmo o Fusca foi um deles.
Como falamos neste post, dezenas de evidências apontam que o primeiro veículo realmente produzido no Brasil, isto é, com chapas estampadas localmente e vários outros componentes produzidos aqui, foi o pequeno Romi-Isetta — versão brasileira do Iso Isetta, um simpático minicarro italiano que nasceu em 1953 e, em pouco tempo, espalhou-se por outros países, fabricado sob licença por diferentes marcas, como a BMW na Alemanha e no Reino Unido.
A Romi, fabricante de ferramentas sediada em Santa Bárbara d’Oeste/SP, viu naquele veículo pequeno, prático e econômico uma boa oportunidade para explorar um novo nicho. A Iso licenciou a produção do Isetta para a Romi em 1955 e o carro, que usava um motor bicilíndrico de dois tempos, teve 3.000 unidades fabricadas entre 1956 e 1961.
A data oficial, 15 de maio, tem a ver com a fundação da Anfavea, ainda em 1956. A entidade contava, então, com 8 associados – Ford, General Motors, VEMAG, Mercedes-Benz, Volkswagen, Willys Overland, International Harvester e Brasmotor. Na época, a indústria automobilística empregava 9,8 mil pessoas, produzia 30,5 mil veículos no Brasil, comercializava quase 31 mil e não exportava nenhum deles. Hoje, são 32 as fabricantes associadas. Nas últimas seis décadas, mais de 78 milhões de veículos já saíram das fábricas brasileiras.
Com tudo isto dito, a gente poderia escolher o Romi-Isetta como sugestão da casa para responder a esta pergunta, mas não vamos fazê-lo. Em vez disso, decidimos por algo mais brasileiro — não apenas fabricado e vendido, mas também projetado aqui: o VW Gol.
Sim, a Volks anda há alguns anos sendo amada e odiada em igual proporção pelos entusiastas, mas é indiscutível o fato de que o Gol é um dos carros que melhor representam a indústria automotiva brasileira. A famosa Goleta nasceu da necessidade do mercado brasileiro por um carro mais sofisticado e moderno que o Fusca ou a Brasília, mas menor e mais barato que o Passat.
Utilizando sua plataforma encurtada e modificada com componentes do VW Polo europeu, o Gol ganhou primeiro o motor boxer refrigerado a ar do Fusca — que, por si só, é uma herança dos primeiros anos da indústria automotiva brasileira, mesmo mais de 20 anos depois —, mas com o passar do tempo teve seu projeto revisto e até virou hot hatch. Na verdade, a plataforma original sobreviveu até 2014, com o fim do Gol “G4”.
Bem à brasileira, o Gol é um carro longevo que foi aperfeiçoado com o tempo — por exemplo, quem diria que aquele carro quadradinho com jeito de Scirocco e motor de Fusca seria pioneiro no uso da injeção eletrônica, com o GTi de 1988; ou que em 1995 ele ganharia motor alemão com cabeçote de 16 válvulas para chegar ao nível dos hot hatches europeus? Por isso, nada mais justo que escolhê-lo para dar o pontapé inicial à nossa lista! Ah, e aproveite para ler toda a história da primeira geração aqui!
Agora, preste atenção: é importante que o carro não seja apenas produzido, mas também projetado no Brasil. Ficou claro? Então vamos lá: qual é o carro mais marcante desses 60 anos de indústria automotiva brasileira?