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Car Culture

Qual foi o primeiro carro equipado com ar-condicionado?

Hoje quase nenhum carro é posto à venda sem ar-condicionado. Pode conferir os pacotes de opcionas. A maior parte deles já inclui o dispositivo. Na Nissan, o March 1.0 Conforto, versão mais simples do carro, não tem travas nem vídros elétricos, mas vem com o equipamento de climatização. Mas quando será que surgiu esse item hoje tão essencial ao automóvel?

O princípio usado nos condicionadores de ar nasceu, acredite ou não, em 1758, quando Benjamin Franklin e John Hadley descobriram que a evaporação do álcool e de outros líquidos voláteis era capaz de resfriar objetos a ponto de congelar a água. Comprimindo esses vapores, era possível voltar a ter o líquido, reiniciando o processo de resfriamento. Geladeiras também funcionam assim. Por isso tanto elas quando os sistemas de ar-condicionado têm compressores.

Em 1902, Willis Carrier inventa o Aparato de Tratamento de Ar para a gráfica Sackett-Wilhelms Lithographing and Publishing Co., no Brooklyn, em Nova York. A máquina sopra ar sobre espirais frias para controlar a temperatura e a umidade do ambiente, mantendo o papel livre de amassados e alinhado com as tintas. Como outras empresas se interessaram pelo sistema, Carrier cria a Carrier Air Conditioning Company of America.

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As tentativas de climatizar o ar da cabine dos veículos são antigas, especialmente nos lugares frios. Neles, a primeira promessa de um aquecedor, paralelo, veio da Perfection-Spring Service Company, com o Perfection Heater, dos anos 1910. Ele era um sistema que usava uma grade sobre o escape do carro, permitindo que o ar aquecido ali em volta pudesse subir para a habitáculo. Não deu muito certo: com o ar subia também fumaça. E o isolamento acústico ia para as cucuias, caso o pessoal não tivesse morrido intoxicado.

Nos anos 1930, a Nash apresenta o primeiro sistema de ventilação moderno. O engenheiro finlandês Nils Eric Wahlberg, considerado um gênio de sua época (e ele era, de fato) percebe que o deslocamento do veículo reduz a pressão de ar dentro da cabine, o que faz com que ela admita ar externo o tempo todo, especialmente se a vedação for deficiente, o que era uma constante na época.

A solução que ele encontra prova sua genialidade: manter a cabine pressurizada, com pressão interna ligeiramente maior do que a de fora. O ar é admitido sempre pela base do para-brisa, onde a pressão aerodinâmica é mais alta, aquecido, se o tempo estiver frio, e distribuído aos passageiros por meio de ventiladores. Tinha até filtro anti-pólen. Era chamado de Weather Eye e foi lançado comercialmente em 1938.

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Na mesma época, uma empresa de Nova York, cujo nome infelizmente não é mais conhecido, hoje, passou a vender um sistema de ar-condicionado paralelo, que podia, segundo ela, ser instalado em qualquer veículo da época, já com os princípios modernos de resfriamento.

O sistema consistia de um ventilador que captava o ar, de um filtro para remover as impurezas e de serpentinas aquecidas ou resfriadas que cuidava do ar de acordo com a conveniência do momento. O ventilador jogava o ar para a serpentina mais adequada e mandado para a cabine por dutos terminados em grades, como nos sistemas atuais. O compressor era instalado sob o assoalho do veículo e o sistema podia ser controlado do banco traseiro ou do painel de instrumentos.

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O primeiro carro a adotar de fábrica um sistema de ar-condicionado remotamente parecido com os atuais foi o Packar 180, também chamado de One-Eighty, lançado em 4 de novembro de 1939 como modelo 1940. Ele era capaz de filtrar o ar e aquecê-lo, no inverno, assim como o sistema paralelo.

Chamado de Weather Conditioner, o sistema custava US$ 279, ou quase US$ 4.800 em dinheiro de hoje. O carro saía da fábrica da Packard e era levado a uma outra linha de montagem para a instalação do equipamento. As serpentinas, tanto de resfrigeração quanto de aquecimento, eram instaladas no porta-malas, com o compressor na dianteira do carro. Dá para ver como ele funcionava pelo esquema abaixo, que consta do segundo volume da série “A História do Automóvel – A Evolução da Mobilidade”, de José Luiz Vieira.

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Note como o sistema ocupava quase metade do porta-malas, como se pode ver neste vídeo do carro.

A Packard o apresentava não só como um item de conforto, mas também de privacidade, já que era possível ficar com as janelas fechadas o tempo todo.

Como todo pioneiro, o sistema não vendeu bem, já que não havia como controlar o fluxo de ar para a cabine. Há quem diga que, quando os passageiros estavam congelados, o motorista abria o capô para tirar a correia do compressor, mas essa história deve ter mais de divertimento do que de fato. Com isso, a Packard o tirou de linha em 1942.

O item voltaria a ser oferecido apenas em 1953, no Chrysler Imperial. Era o sistema Airtemp, o primeiro a trazer comando no painel. Por meio de apenas um seletor, com as posições Low, Medium e High, ele controlava só a velocidade do ar. Mas foi o Nash Ambassador o primeiro a juntar em uma unidade compacta (montada apenas na dianteira) e acessível os sistemas de aquecimento e refrigeração, tudo com comando no painel e uma embreagem elétrica que desligava o compressor. Era chamado de All-Weather Eye custava apenas US$ 345, uma pechincha comparado aos concorrentes, e se tornou o padrão mundial.

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Foto: Renzo Maia

Ao Brasil, o conforto só chegou em 1966, por conta do Aero-Willys Itamaraty Executivo, pioneiro também no revestimentos de couro para os bancos. O sistema era restrito aos bancos traseiros.

O primeiro sistema digital de ar-condicionado parece ter sido o Climatronic, da Volkswagen, apresentado no Passat no final dos anos 1980. A diferença é o uso de uma central eletrônica para determinar a temperatura, em vez dos comandos manuais. Isso tornou os sistemas de refrigeração muito mais precisos e econômicos.