sabe aquela multa que voce levou a 68 km/h em um trecho de rodovia com limite de 60 km/h como voce ja deve imaginar nao e esse o tipo de excesso que causa milhares de acidentes tragicos todos os anos — embora as autoridades as estatisticas oficiais e a imprensa afirmem com veemencia que a velocidade mata os motoristas que dirigem rapido sao assassinos em potencial e os radares sao um mal necessario [gt40 content rule= 1 widget= 1 ] sera que nao estamos fazendo uma conclusao simplista demais sera que a culpa e mesmo da velocidade e andar a 68 km/h em uma rodovia te torna um psicopata sobre rodas pesquisando mais a respeito voce descobrira velocidade natural nao e conversa de pe de chumbo e que alguns limites de velocidade sao artificialmente baixos e podem ate aumentar os riscos de acidente para começar preciso deixar claro que nao acho que deveriamos dirigir como maniacos em disparada por qualquer lugar nem que velocidades altas nao sao perigosas mas nao e raro encontrar por ai uma rua avenida ou rodovia com um limite que parece baixo demais para os padroes modernos de segurança veja por exemplo esse trecho rodoviario abaixo na rodovia regis bittencourt sp 230/br 116 em cajati/sp agora compare o com este na rodovia governador carvalho pinto sp 70 em sao jose dos campos/sp nos dois casos temos uma via em area rural com pista dupla separada por canteiro central e acostamento a direita — tecnicamente identicas portanto mas a primeira tem o limite de 80 km/h reduzido para 60 km/h em um trecho mais sinuoso a frente enquanto a outra tem o limite de velocidade mais alto do pais 120 km/h e e reduzido para 60 km/h em em uma curva mais acentuada alguns quilometros adiante — onde ha um radar pronto para flagrar os motoristas que tem carros modernos e sao capazes de fazer curvas a 70 km/h por que dois trechos tao semelhantes tem velocidades tao diferentes por que uma delas permite que se viaje em velocidades do seculo 21 enquanto a outra mantem os limites da epoca em que nao havia duas pistas para entender melhor vamos ver algo que muita gente queria saber mas nao tinha para quem perguntar como sao definidos os limites de velocidade o ponto de partida para a definiçao do limite da via e a observaçao da velocidade operacional a velocidade operacional e a velocidade abaixo da qual circulam 85% dos motoristas quando condicionados apenas pelos elementos do ambiente viario sem limites impostos um exemplo e que acontece no estacionamento dos shoppings onde se dirige naturalmente devagar mesmo sem placas de limite sem fiscalizaçao e sem estar procurando uma vaga ali os elementos que condicionam o comportamento do motorista sao os pedestres crianças carros indo e vindo pelos corredores e entrando e saindo das vagas ao perceber esses elementos o motorista adota instintivamente um comportamento defensivo e assim anda em velocidade baixa ficou claro entao vamos em frente com a velocidade operacional definida seguem se entao estudos de engenharia sobre o sistema viario e o ambiente do trafego que analisam o volume de trafego de veiculos pedestres e ciclistas; as condiçoes geograficas e climaticas da regiao; a largura da via e do acostamento; a funçao/proposito da via as condiçoes de visibilidade baseadas em fenomenos naturais recorrentes e no relevo que define as curvas verticais e horizontais interseçoes confluencias e acessos de veiculos alem de zonas de risco como escolas e areas de alta densidade populacional e ate mesmo os padroes de segurança estabelecidos por lei para os automoveis esses estudos determinarao se os limites podem ser superiores a velocidade operacional da via ou devem ser inferiores por questoes de segurança o metodo da velocidade operacional e mais aplicado na europa enquanto australia e eua usam os estudos de engenharia e ate fatores como reduçao da demanda por combustivel e nivel de emissoes — o caso mais conhecido aconteceu em 1973 quando o congresso americano determinou o limite de 55 mph 89 km/h como medida de economia de combustivel diante da crise do petroleo e no brasil como sao definidos os limites bem nao temos um metodo padronizado e os metodos adotados nao sao muito transparentes muito menos atualizados veja o que a especialista lucia maria brandao mestre em engenharia de transportes pela escola politecnica da universidade de sao paulo falou sobre os limites no brasil em uma entrevista ao site da fabricante de equipamentos de fiscalizaçao perkons no brasil nao ha um metodo consagrado para definiçao do limite de velocidade de circulaçao viaria … infelizmente cada orgao de transito com circunscriçao sobre a via define os limites de velocidades sem criterio previo e nao ha nenhum orgao que va aferir se o limite de velocidade de circulaçao estabelecido para cada trecho de via e seguro para seus cidadaos como lucia mencionou nao ha apenas um metodo e quase sempre os limites aplicados sao os valores padrao dispostos como referencia no codigo de transito brasileiro de acordo com o tipo da via — 110 km/h para rodovias 60 km/h para estradas 80 km/h para vias rapidas 20 km/h para vias locais etc — sem muita clareza sobre os criterios adotados a ausencia de um orgao que verifique a adequaçao dos limites tambem resulta em algo que vem acontecendo com alguma frequencia ultimamente a reduçao dos limites em nome de uma suposta segurança a reduçao dos limites quase sempre vem acompanhada de radares eletronicos — nunca de fiscalizaçao ostensiva por agentes de carne e osso muito mais eficientes por serem capazes de flagrar infraçoes que os radares nao conseguem assim temos um numero de multas cada vez maior e consequentemente recordes de arrecadaçao mas nenhuma melhoria significativa na segurança viaria em geral pior a fiscalizaçao por radares tornou se tao presente que as pessoas estao parando de encarar outros fatores de alto risco como algo perigoso o motorista anda no limite mas nao larga o celular e ignora o ciclista a direita tem como melhorar a segurança talvez voce esteja louco para rolar a tela ate os comentarios e dizer que a industria da multa e alimentada pela materia prima composta de motoristas infratores em parte sim mas veja o que diz a engenheira lucia na mesma entrevista mencionada nos paragrafos acima se a velocidade estabelecida para uma via que nao apresenta condicionantes de entorno que exijam sua reduçao for menor que a velocidade operacional certamente havera muitas infraçoes e acidentes mas nesse caso de fato nao ha um mau comportamento dos motoristas e uma liberalidade do responsavel pela via em limitar a velocidade muito abaixo que a velocidade operacional que e considerada segura em palavras faceis ela quis dizer que se nao houver nada que exija a reduçao da velocidade operacional como uma escola ou faixa para bikes e o limite imposto for mais baixo que ela ha mais chances de haver infraçoes e ate acidentes nesse trecho as infraçoes se devem a velocidade operacional combinada a um comportamento padrao de motoristas observado por varios estudos como este do departamento de estradas de british columbia no canada que indica que os motoristas trafegam a velocidade em que consideram seguras mesmo que haja limites de velocidade impostos — sejam eles maiores ou menores que a velocidade considerada razoavel mas por que alguem iria impor um limite de velocidade muito abaixo da velocidade operacional se isso resulta em infraçoes e acidentes talvez este exemplo ajude a clarear as coisas veja este trecho da rodovia raposo tavares sp 270 proximo ao km 41 trata se de uma descida que termina em curva onde as mudanças de faixa sao proibidas mas com acostamento guard rail uma longa subida adiante e um radar convenientemente instalado na saida da curva o ponto de reaceleraçao para encarar a subida se a ideia e prevenir acidentes o que deve ser baixa e a velocidade de entrada na curva nao a de saida mais alem sera mesmo que os carros modernos a frota brasileira tem idade media de oito anos nao conseguem vencer uma curva dessa a 80 km/h agora compare com esta outra descida na rodovia floriano rodrigues pinheiro sp 125 em campos do jordao/sp o mesmo limite de velocidade mas condiçoes diferentes nao ha guard rails atras da vegetaçao ha um barranco de 50 metros nao ha faixa dupla para a descida nao ha mureta separando os sentidos opostos e a descida continua por cerca de 20 km tambem nao ha radares para garantir que todos dirijam dentro dos limites de segurança sera que estes dois trechos tem a mesma velocidade operacional e as mesmas condiçoes de entorno para ter o mesmo limite de velocidade por que so uma delas a mais movimentada tem um radar para garantir a velocidade segura quando a velocidade se torna um fator de risco respondendo de modo direto quando ela e inadequada as condiçoes de transito estamos acostumados a falar sempre em excesso de velocidade o que da a impressao de que somente as altas velocidades sao perigosas mas voce nao precisa estar acima dos limites para ter uma situaçao de risco — e por isso que nosso codigo de transito preve uma velocidade minima para cada tipo de via como vimos mais acima quando o limite imposto for baixo demais para as condiçoes e nao houver fiscalizaçao ostensiva a maioria dos motoristas viajara em velocidades superiores ao limite enquanto alguns poucos irao respeitar o limite — por obediencia as leis ou por achar que aquela e a velocidade natural para sua viagem o risco contudo nao e a infraçao dos limites e sim as diferenças de velocidade resultantes desse comportamento observado imagine uma multidao de pessoas caminhando na mesma velocidade quando repentinamente uma delas para a multidao atropela a pessoa que parou nao e mesmo agora substitua pessoas por carros e o conceito ficara mais claro quem explica isso e o estudo publicado por david solomon em 1964 nos eua conhecido como crash risk curve que pesquisou a relaçao entre a velocidade media e os indices de colisoes solomon observou mais de 10 000 carros e seus motoristas e como as condiçoes de veiculo via e outros motoristas afetam as chances de acidentes ele descobriu que a probabilidade de se envolver em um acidente em relaçao a velocidade forma um grafico em u no qual as velocidades mais proximas do ponto medio velocidade media sao aquelas onde ha menos chances de acidentes quanto mais as velocidades se afastam deste ponto medio — seja para cima ou para baixo — maior o risco de acidentes note que a variaçao de 20 mph abaixo do ponto medio zero tem mais chances de acidentes do que uma variaçao de 20 mph acima do ponto medio colocando em pratica se em uma rodovia com velocidade media operacional de 85 km/h for estabelecido um limite de 50 km/h as pessoas continuarao dirigindo a 85 km/h a menos que haja fiscalizaçao e quem trafegar a 50 km/h ele se tornara um elemento de risco para aqueles que transitam a 85 km/h pois ele estara muito abaixo da velocidade media da via foi por isso que quase tive um ataque cardiaco quando na via dutra o motorista a minha frente reduziu para 20 km/h por nao ter entendido a sinalizaçao do novo acesso a cidade se um carro a 100 km/h nos acertasse em cheio a culpa seria do excesso de velocidade da mesma forma uma moto trafegando a 60 km/h no corredor de carros parados ou a 30 km/h tem mais chances de se envolver em um acidente do que andando em comboio a 30 km/h ou a 70 km/h mesmo estando dentro dos limites de velocidade voce ficaria surpreso ao saber que 41% das 42 000 mortes anuais no transito brasileiro sao resultantes de acidentes com motocicletas nao estou dizendo que andar devagar e perigoso nem pregando que devemos acelerar o maximo possivel o que pretendo aqui e esclarecer que nem todos os limites impostos estao corretos e nem sempre a reduçao dos limites traz segurança o enfoque da segurança deve estar na adequaçao dos limites a velocidade operacional como mostra mais uma vez a engenheira lucia brandao na mesma entrevista a perkons assim tendo em vista a importancia da velocidade operacional para a definiçao da velocidade regulamentar limite para a via … e importante identificar como as caracteristicas gerais da geometria viaria afetam a velocidade operacional … esta identificaçao contribui para o estabelecimento de velocidades limites mais realistas e que possam assim ser mais naturalmente obedecidas pelos usuarios e com isso reduzir o numero e a severidade dos acidentes em rodovias causados pelo fator velocidade o que acontece quando voce aumenta o limite de velocidade bem pode parecer fora de logica para muita gente mas em certos casos aumentar o limite de velocidade e a coisa mais segura a se fazer se voce pegar o estudo parker publicado nos eua pela federal highway administration em 1997 com o titulo os efeitos do aumento e da reduçao dos limites de velocidade em trechos rodoviarios selecionados no qual os limites foram aumentados e reduzidos em todo o territorio americano e teve uma amostragem de 1 6 milhao de carros a velocidade dos carros nao teve grande variaçao mais uma vez a velocidade operacional dando as caras mas os acidentes aumentaram quando os limites foram reduzidos e diminuiram 11 3% onde eles foram aumentados como resolver o problema entao ja reparou o comportamento dos motoristas diante de um posto da policia rodoviaria se voce quer que as pessoas reduzam a velocidade e preciso fazer com que elas percebam a necessidade de reduzir a velocidade — seja com uma viatura policial proxima a pista seja com elementos viarios que induzem a reduçao de velocidade o problema e que quando isso acontece as pessoas reduzem a velocidade e isso nao gera arrecadaçao alem disso em vez de investir em efetivo como se diz no jargao policial os governos preferem comprar gadgets como pardais e lombadas eletronicas que fazem uma fiscalizaçao incompleta e acabam levando muitos departamentos de transito a um sucateamento funcional pela defasagem do numero de funcionarios quem tem menos de 25 anos nunca viu uma cena dessa a culpa tambem e nossa a maioria dos condutores brasileiros nao sabe identificar condiçoes adversas que exigem a reduçao da velocidade ou seja nao sabemos a hora de tirar o pe isso e resultado de dois fatores o primeiro e a fiscalizaçao punitiva como substituta da orientaçao das autoridades a fiscalizaçao tem finalidade educativa e reforça as referencias de certo e errado — as leis nesse caso o outro e a falta de qualidade do processo de habilitaçao e treinamento dos condutores no brasil que segundo especialistas nao e suficiente para formar bons motoristas e motociclistas existe uma relaçao direta entre a qualidade da formaçao dos condutores e o numero de acidentes fatais no reino unido onde a taxa de mortes no transito e a menor por 100 00 habitantes por exemplo o candidato a motorista precisa passar por cinco tipos diferentes de testes que vao da legislaçao de transito a identificaçao de fatores de risco no transito na dinamarca um dos paises com a menor taxa de mortalidade por bilhao de quilometros rodados os candidatos precisam ser aprovados em um teste de controle do carro em condiçoes adversas como gelo sobre a pista alem de tudo isso ha a questao da noçao de impunidade e a falta de severidade das leis em casos de acidentes fatais causados por imprudencia o caso do ex deputado fernando ribas carli filho e emblematico ele estava embriagado e causou a morte de dois jovens ao colidir seu passat variant a 190 km/h contra o honda fit das vitimas isso aconteceu em 2009 e ate hoje o julgamento nao aconteceu nao e apenas a velocidade outro reflexo da formaçao dos condutores e que 30% dos acidentes fatais nos paises desenvolvidos tem relaçao com a velocidade inadequada e no brasil chega a 50% certo considerando que 42 000 pessoas morrem por ano no transito brasileiro se hipoteticamente nenhum acidente tivesse a velocidade inadequada como fator de risco ainda teriamos 21 000 mortes por ano numero suficiente para manter o brasil no top ten de mortes no transito assim nao e preciso base estatistica tecnica ou academica para concluir que ha outros fatores de risco tao letais quanto acelerar demais no lugar errado segundo uma pesquisa recente do ministerio da saude 21% dos acidentes de transito no brasil estao relacionados ao consumo excessivo de alcool e quaisquer outras substancias que afetam o sistema nervoso central que provoca alteraçao da percepçao e por sua vez afeta o senso de julgamento e a capacidade de reaçao do motorista [youtube id= z2mf8dtwwd8 width= 620 height= 330 ] sim a embriaguez pode levar o motorista a acelerar a uma velocidade inadequada e se envolver em um acidente mas nesse caso teria sido a velocidade ou a incapacidade do motorista de dominar o carro resultante do consumo de alcool ele nao poderia por exemplo furar um semaforo vermelho ou passar reto em uma curva outro fator que agrava as estatisticas do transito brasileiro e um assunto polemico a segurança dos carros no começo deste ano a associated press publicou um estudo que apontava a falta de segurança dos carros brasileiros como um dos principais responsaveis pelos indices de fatalidades no transito embora a nossa frota seja relativamente nova com idade media de oito anos a segurança deles e obsoleta airbags e abs serao obrigatorios somente no proximo ano e os testes de impacto da latinncap mostraram que a estrutura enfraquecida pela economia em escala proporcionada pela reduçao de pontos de solda em alguns modelos tambem nao e das melhores poderia estar ai a diferença de 20% do numero total de mortes por velocidade inadequada em relaçao aos paises desenvolvidos talvez mas e dificil precisar pois o brasil nao tem estatisticas oficiais a respeito o resultado com fiscalizaçao deficiente falta de educaçao e preparaçao adequada e leis ultrapassadas passiveis de des interpretaçoes sobram brechas para livrar a cara dos verdadeiros criminosos motorizados enquanto o cidadao que esta viajando em segurança com a familia e punido por um excesso declarado pela arbitrariedade e flagrado por uma maquina burra [youtube id= y2hkbqmqmbw width= 620 height= 330 ] como vimos culpar a velocidade pela falta de segurança no transito tem ajudado mais os cofres publicos do que as vidas publicas obviamente e preciso fiscalizar os abusos mas acima de tudo e preciso levar o transito como um todo mais a serio — e isso vale tanto para as autoridades quanto para os cidadaos em vez de copiar apenas a tendencia de reduçao de velocidade dos paises desenvolvidos por que nao nos concentramos tambem em importar a segurança nos carros a qualidade da formaçao de condutores e modelos mais eficazes de convivio pacifico entre diferentes tipos de transporte [youtube id= 3wte5 _gcdq width= 620 height= 330 ] [fotos latinncap google street view anfavea marc s garage archives] leia tambem — como o excesso de fiscalizaçao eletronica pode estimular mais infraçoes — voce sabia que a fiscalizaçao de transito nem sempre esta certa — cinco mitos sobre as reduçoes de limites de velocidade — mais da metade das rodovias brasileiras estao mal conservadas
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