Não é pegadinha nem um título caça-cliques: o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e a Polícia Rodoviária Federal (PRF) vão aumentar o limite de velocidade em quatro rodovias federais — todas elas localizadas no Rio Grande do Sul. Mesmo assim, é um sopro de bom-senso nesses tempos de vilanização dos carros e da velocidade.
As rodovias em questão são as BR 158, 285, 290 e 472 que terão seus limites aumentados de 80 km/h para 110 km/h. Os motivos para o aumento? Algo que já comentamos por aqui no FlatOut: a velocidade operacional/natural da via. A PRF e o Dnit chegaram à conclusão de que o aumento de velocidade não irá aumentar o número de acidentes pois, na prática, muitos veículos já trafegam a 110 km/h e as rodovias estão em boas condições. Os limites permanecerão os mesmos apenas em áreas onde há necessidade de velocidades moderadas, como zonas urbanas, curvas acentuadas e cruzamentos.
Como explicamos anteriormente neste post, toda rodovia tem uma velocidade operacional/natural, que é a velocidade na qual 85% dos motoristas praticam quando condicionados apenas pelos elementos do ambiente viário, sem limites impostos (ou sem fiscalização visível, em alguns casos).
A iniciativa de discutir os limites de velocidade partiu justamente após a observação desta velocidade operacional. Durante uma operação da PRF que multou mais de 40.000 veículos, os agentes notaram que em certos lugares seria possível aumentar a velocidade, enquanto em outros pontos o limite deveria ser reduzido. Segundo o superintendente da PRF no Rio Grande do Sul em entrevista ao jornal Zero Hora, a corporação constatou que os acidentes não ocorrem devido à velocidade praticada pelos motoristas.
O número elevado de multas da operação se deve justamente ao limite imposto muito abaixo da velocidade operacional (o limite é 80 km/h, a velocidade praticada é 110 km/h). Isso pode ser explicado pela entrevista da engenheira Lúcia Maria Brandão, Mestre em Engenharia de Transportes pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, ao site da fabricante de equipamentos de fiscalização Perkons:
Se a velocidade estabelecida para uma via […] for menor que a velocidade operacional, certamente haverá muitas infrações e acidentes. Mas nesse caso não há um mau comportamento dos motoristas. É uma liberalidade do responsável pela via em limitar a velocidade muito abaixo que a velocidade operacional, que é considerada segura.”
A intenção do aumento dos limites, segundo a PRF, é não apenas reduzir o número de multas (o que deve ter causado uma grande polêmica na região), mas também torná-los mais coerentes com as condições atuais das vias e dos carros. O aumento dos limites, contudo, depende também da readequação da sinalização e da estrutura das vias, que devem ter faixas mais largas e superelevação nas curvas, que é a inclinação positiva para compensar a força centrífuga gerada em velocidades mais altas.
As alterações estão previstas para antes do início do verão, quando começa a temporada de viagens de fim de ano. Embora as mudanças sejam limitadas à essas quatro rodovias no Rio Grande do Sul — ao menos inicialmente — ao menos é um sinal de que as autoridades responsáveis estão começando a levar em consideração a modernização da frota brasileira e usando o bom-senso para impor limites de velocidade mais realistas e realmente seguros e eficazes.
[ Foto: Diego Vara/Agência RBS (foto final) ]