Tem algum programa para este fim de semana? Se não tem, a gente acaba de te arranjar um – uma sessão de cinema nacional. E, como somos o FlatOut, trata-se de um filme nacional sobre carros e corridas: “Os Campeões”, rodado em 1982 e lançado em 1983, que tem como pano de fundo os campeonatos de Fórmula 1600 e da Divisão 3 de 1980.
Talvez você já conheça esta película, que há alguns anos era reprisada de vez em quando no Canal Brasil. O filme conta a história de Mário Queiroz (Armando Bógus), que pilota um Gol da Divisão 3, e Miguel Bragança (Tony Correa), que participa da Fórmula 1600.
Miguel é português, e vem para o Brasil para pilotar na mesma equipe de Mário. Os dois se conhecem por acaso, a caminho do Autódromo de Interlagos: Mário pede a Miguel uma carona para acompanhar o Grande Prêmio do Brasil de 1980. Mário ganha a vida vendendo enciclopédias e há anos tenta sucesso na carreira, enquanto Mário é um rico português que está só de passagem pelo Brasil. Os dois acabam ficando amigos antes mesmo de descobrir que pertencem à mesma equipe, e acabam se metendo em boas confusões dentro e fora da pista.
Se este último trecho ficou parecendo a uma chamada da “Sessão da Tarde”, não é por acaso. “Os Campeões” tem todos os ingredientes de muitos filmes que você cresceu assistindo na TV: personagens leves, orçamento não muito alto e uma história que aposta na clássica trama de superação e conflito entre os protagonistas – tudo temperado com momentos de comédia quase pastelão. Dito isto, pela forma honesta como utiliza o automobilismo como pano de fundo, o filme é uma boa diversão para entusiastas.
Miguel e Mário são pilotos da equipe (ou melhor, escuderia) de Ricardo, onde também trabalham o mecânico Jorge e o piloto Carlos (interpretado por José de Abreu). Depois de conhecer a filha de Ricardo em uma festa, Miguel desperta a ira de Jorge. Carlos também não vai muito com sua cara pois o lusitano “rouba” seu lugar na equipe. Mário, por sua vez, é o grande ídolo do garoto Jim – apelidado assim por causa do piloto britânico Jim Clark –, que o chama de “Concorde” e passa a acompanhá-lo para tudo que é canto.
“Os Campeões” se desenrola de maneira leve, com a rivalidade entre a dupla de amigos e Carlos nas pistas dividindo espaço com momentos de comédia quase pastelão e dramas românticos típicos das produções dos anos 1980. No entanto, isto tudo é apenas um detalhe quando você começa a reparar em todas as referências ao mundo dos carros e das corridas espalhados ao longo de dos pouco mais de 100 minutos do filme.
Para começar, tem os carros. Aparentemente a Volkswagen forneceu uma frota de seus carros para figurar na tela: Miguel dirige um Gol BX, e em diversas cenas há cinco ou seis modelos da Volks, como a Brasilia (que estava em seu último ano de mercado, 1982, quando o filme estava em produção), o próprio Gol e o Passat. Naturalmente, carros de outras marcas também aparecem, ainda que não tenham destaque.
Fora o fato de fazerem piadas e trocadilhos com termos automobilístico a todo momento, também há diversas referências a pilotos e equipes famosas. Na verdade, a primeira cena do filme, gravada em Interlagos, mostra diversos pilotos em breves participações especiais, como Alain Prost, René Arnoux (que venceu o Grande Prêmio do Brasil naquele ano), Nelson Piquet e Emerson Fittipaldi.
As cenas de corrida são autênticas, com carros genuínos da Fórmula 1600 e da Divisão 3, como o Fusca e o Gol. Todos os três usavam o motor Volkswagen arrefecido a ar, com preparação relativamente simples: um aumento na taxa de compressão, carburação dupla e trabalho nos comandos e coletores. Era o bastante para render entre 100 e 130 cv. Naturalmente, a suspensão também era preparada – note o stance dos Gol, por exemplo, com largos pneus slick e molas e amortecedores mais rígidos.
“Os Campeões” foi o primeiro filme de Oberdan Júnior, que interpretou Jim e seguiu carreira na TV, no cinema e como dublador de uma porção de personagens clássicos dos desenhos animados, como Hércules, Tintim, o Leitão (do Ursinho Pooh) e Linus van Pelt (de Peanuts, a turma do Charlie Brown). Foi também o último filme de Armando Bógus, que depois do filme só trabalhou na TV e morreu em 1993.
Pode não ser um dos filmes mais famosos do cinema brasileiro, mas “Os Campeões” certamente tem o que é preciso para prender um fã de automobilismo por pouco mais de uma hora e meia em frente à tela. Aproveite que dá para ver na íntegra!