Você já deve ter visto alguém se referindo a um tom de vermelho vivo como “vermelho Ferrari”. A marca de Maranello e a cor têm uma ligação histórica que se transformou em marca registrada. Mas nem toda Ferrari tem que ser vermelha. Phil Bachman sabe disso e, em sua coleção de Ferrari, só entram carros amarelos — ou quase isto.
Phil Bachman é um dos maiores colecionadores de Ferrari do mundo — e um dos mais exigentes. Para entrar em sua coleção, cada carro precisa atender a um destes dois requisitos: 1) ser amarelo e 2) ser o último de sua série.
Quando Jeremy Clarkson foi comprar sua Ferrari 355 GTS, ele entrou na concessionária dizendo que 85% dos que compram sua primeira Ferrari levam um carro vermelho. Mas ele não seria um deles, e encomendaria uma 355 verde. Na última hora, ele mudou de ideia.
Contudo, Phil Bachman teve muito mais força de vontade. Em 1967, ele abriu uma concessionária GM. Ao longo dos anos ele acumulou vários carros da marca, especialmente os esportivos da Pontiac e alguns Corvette. Mas em 1984 ele descobriu sua paixão por Ferrari, e sua primeira foi uma 308 GTS Quattrovalvole amarela. Desde então, todo carro novo que ele comprasse teria que ser amarelo se a cor estivesse disponível.
Bachman também não é do tipo que mantém seus carros em uma garagem hermeticamente fechada e climatizada por toda a enternidade — seus carros ficam com ele, mas todos são levados para passear regularmente — na medida do possível. A 308 GTS foi o carro que levou a esposa de Bachman ao hospital para ter seu primeiro filho, que quase nasceu dentro do carro. Em sua garagem no Tennessee — que parece só mais um prédio na cidade, com seu enorme portão cinza — está uma seleção dos maiores sucessos da Ferrari — de uma Tipo 166 com seu pequeno motor V12 de dois litros, até uma Ferrari Enzo, passando por F40, F430 Scuderia, Dino, 512 BBi e FXX.
Mesmo quando não são amarelos, quase sempre seus carros são especiais por outra razão. Ele também tem uma predileção pelo último exemplar de uma determinada série — seja de produção normal ou edição limitada. Por exemplo, embora sua Berlinetta Boxer não seja amarela, ela foi a última a sair da fábrica — com uma carta da Ferrari para provar. Já suas duas F430 Scuderia, além de serem amarelas, foram os dois últimos exemplares a serem importados para os EUA. Sua F40 não é amarela nem é a última de nada mas, bem, é uma F40, não é?
Bachman, sua mulher, seu filho e três itens de sua coleção
Como um dos clientes mais fiéis da Ferrari, Bachman também recebe tratamento diferenciado. Cada nova encomenda significa uma visita à sede da Ferrari, em Maranello. Lá, ele escolhe cada detalhe de acabamento e personalização direto na fonte, com quem cuida de tudo — e muitos dos responsáveis por colocar Ferraris no mundo são grandes amigos seus. E isto inclui gente importante, como Simone Schedoni, que fabrica malas e kits de bagagem para a Ferrari desde os anos 70, e Armando Luppi, restaurador de interiores da companhia. E eles o ajudam quando precisa restaurar um carro ou encomendar algum item exclusivo.
Por exemplo, foi graças a seus contatos dentro da Ferrari que ele conseguiu uma Enzo personalizada, com um emblema com a assinatura de Enzo Ferrari na traseira, laterais inferiores pintadas na cor da carroceria (em vez de preto, como nos outros exemplares) e os autógrafos do pessoal envolvido na fabricação de seu carro no porta-lamas. “Para Phil, o melhor”, diz a dedicatória. Você precisa ser realmente alguém muito influente para a Ferrari te tratar como um amigo, e não apenas como cliente.
Como já dissemos, Bachman não é do tipo que acumula garage queens e, sempre que pode, leva um de seus carros para um passeio. Contudo, isto não significa que eles não estejam impecáveis ou que rodem muito: a Ferrari Daytona 1973 de sua coleção, por exemplo, tem pouco menos de 700 km marcados no hodômetro, e de tempos em tempos recebe a visita de outro fã de Ferrari que a utiliza como guia para sua própria restauração. E sua primeita Ferrari, a 308 GTS, ainda está com ele, e perfeitamente preservada.
Devido a seu cuidado com as Ferrari, Bachman foi nomeado membro do Advisory Council for the Preservation of Ferrari Automobiles — uma organização que se reúne anualmente para definir o que é aceitável em uma Ferrari para exposição.
Sendo assim, talvez chamá-lo de “o homem que só coleciona Ferraris amarelas” não faça jus a sua condição — ele é bem mais do que isto.
[ Sugestão do post: Fernando ]