Certas coisas que acontecem no mundo dos carro nos revoltam, e hoje temos mais uma coisa revoltante para mostrar a vocês. Olhe a foto acima rapidamente, sem prestar muita atenção. É um Mustang bacaninha, com carroceria azul, dianteira levemente customizada e conversível – um carro tipicamente americano. Só que… não.
Repare no desenho do para-brisa, no entre-eixos curto, nos santantônios atrás da cabine… é um Mustang de dois lugares, apenas. Mas não, não é uma versão conversível do “Shorty”, o Mustang de dois lugares que a Ford nunca produziu. Na real, esse carro sequer é um Mustang. É um Mazda MX-5 Miata!
Não é a primeira vez que a gente topa com um carro mais moderno transformado em um Mustang clássico. Em uma das últimas vezes que a gente viu, um Nissan GT-R recebeu a carroceria de um Mustang 1969 modificada, e até que ficou interessante (especialmente com um V8 3.8 biturbo de 552 cv e tração nas quatro rodas). Só que desta vez não temos o apelo da potência.
O carro parece bem feito. De alguma maneira, os responsáveis por esta conversão conseguiram uma execução impecável. Tente achar algum gap estranho, alguma linha perdida, alguma coisa sobrando ou faltando (fora alguns cm de entre-eixos) e você não vai encontrar. Quem quer que tenha sido o responsável por esta obra, anunciada no site americano Auto Trader, fez um trabalho caprichado.
Mas afinal, quem foi?
O pessoal do Jalopnik encontrou a resposta em uma matéria de 2007 (onze anos atrás, caso você não estivesse se sentindo velho o suficiente) no site Mustang 360°. Quem fez este carro foi um homem chamado Bill Carnes, de St. Augustine, na Flórida. Carnes é um experiente restaurador de carros clássicos que começou sua carreira recuperando exemplares do Shelby Cobra original que haviam sido danificados durante a importação do Reino Unido para os EUA (afinal, o Cobra era um roadster inglês com coração americano). Depois, ele passou para o Mustang de primeira geração, seu carro favorito.
Foi quando Bill se deu conta de que gostaria de um carro com o estilo clássico do Mustang, porém sem a necessidade de restaurar um Mustang antigo, com todo o trabalho, tempo e dinheiro que costumam estar envolvidos em tal empreitada. Aproveitando que já existiam empresas que fabricavam painéis de carroceria novos para o Mustang, como a Dynacorn (que é, inclusive, licenciada pela Ford), Bill só precisava de uma boa base.
Ele escolheu o Miata por ser um carro barato e fácil de encontrar nos EUA. E, segundo ele, as dimensões gerais não se afastavam muito. Será mesmo? Vejamos: o Miata de primeira geração tinha 3.950 mm de comprimento, 1.675 mm de largura e 2.265 mm de entre-eixos. O Mustang conversível de 1965 tinha 4.613 mm de comprimento, 1.732 mm de largura e 2.743 mm de entre-eixos.
Pois então: na real a diferença é visível, especialmente no entre-eixos (até porque o Mustang 1965 era um 2+2, enquanto o Miata de primeira geração era um roadster de dois lugares), e é por isso que as proporções são tão estranhas. O Mustang-Miata (batizado por Bill como “M1stang”, por alguma razão) parece um brinquedo.
O caso é que não demorou para que Bill encontrasse um sócio e começasse a vender carros parecidos com o seu. Ele dizia na época que, apesar das adaptações na lata (que se concentram especialmente nos para-lamas e nas portas), a cirurgia era relativamente simples e que dispensava até mesmo a drenagem dos fluidos – apenas a bateria era removida por questão de segurança. Todos os sensores continuavam funcionando, assim como todos os equipamentos, incluindo airbags.
O visual do para-brisa, mais inclinado e arredondado, e a capota retrátil do Miata causam a mesma estranheza que o entre-eixos mais curto, porém há algumas questões que devemos considerar: hoje em dia, um Miata de primeira geração já é quase um clássico, mas em 2007 ele ainda era só um carro um pouco mais velho e ninguém se importava muito em preservá-lo. Já o Mustang doador… bem, este nunca existiu, pois os painéis da carroceria são novos, de melhor qualidade que os originais dos anos 60, e nenhum clássico foi destruído para dar vida a este pequeno frankenstein. Para-choques, faróis e lanternas são peças paralelas. O carro continua sendo um conversível pequeno com motor 1.8 longitudinal, câmbio manual, tração traseira e suspensão independente nas quatro rodas. Parece algo maior e mais antigo, mas ainda deve ser divertidíssimo de guiar.
Na época, Bill chegou a entrar em contato com a Ford, a fim de conseguir autorização para construir suas “réplicas”, e conseguiu. Ou seja: nem mesmo a Ford achou a ideia tão ruim assim. De acordo com a matéria no Mustang 360°, Bill entregava um carro por mês em 2007.
Agora, não é um carro para todo mundo. Especialmente considerando que o carro está à venda por US$ 9.800, o equivalente a cerca de R$ 32.000 em conversão direta. O exemplar azul das fotos foi feito com base em um Miata 1997, que no mercado americano costuma custar até US$ 6.000 em bom estado e totalmente original. Já um Mustang 1965 todo restaurado não sai por menos de US$ 30.000. Se é um bom negócio, depende do gosto do freguês: se ele quer um Mustang mas só tem grana para um Miata, pode até dar certo.