Talvez você seja o tipo de cara que curte lavar o próprio carro e, às vezes, dá uma passada no lava-rápido – é barato e economiza tempo. Se a $ituação for um pouco melhor, pode até ser que você leve seu carro para um detailer automotivo de tempos em tempos, onde ele será limpo por fora e por dentro com produtos de qualidade e muito capricho. É um investimento um pouco maior, mas seu carro merece. O carro de todo mundo merece.
Mas você pagaria o equivalente a R$ 30 mil por um serviço de detailing? E que tal, então, pagar quase R$ 500 mil? Pois saiba que há quem pague. E há uma boa razão.
“Se você tem um carro que custa £ 500 mil, então vale a pena pagar alguns milhares de libras em uma limpeza”. É como pensa o britânico Gurcharn Sahota, de Derbyshire, no coração da Inglaterra. Ele cobra £ 7.200 por uma limpeza completa, o que dá cerca de R$ 30,5 mil em conversão direta. Mas ele garante que vale a pena.
Gucharn fundou sua empresa de detailing, a Elite Detailing and Protection (EDP), há cerca de dez anos na garagem da casa de seus pais. Interessado por automóveis desde a infância, Sahota costumava lavar os carros dos pais, vizinhos e amigos de graça quando era adolescente, apenas porque curtia fazê-lo. Então, aos 25 anos, ele decidiu transformar o hobby em uma profissão. Bem, tem dado certo.
Hoje em dia, a EDP não fica mais em uma garagem, e sim em um showroom no centro de Londres. Não é para menos: depois de aparecer em algumas reportagens em 2010, Sahota ficou famoso por seus serviços e passou a ser procurado por muita gente. Claro, o nível do seu trabalho também é grande parte do motivo.
Um serviço de lavagem e polimento típico da EDP começa com uma luva de lã e água com sabão, como de costume, em um trabalho que pode levar dezenas de horas. Então, utilizando um microscópico digital, Sahota examina cada centímetro quadrado da pintura em busca das menores imperfeições. Então, utilizando uma barra de argila, ele parte para eliminá-las. É um processo que pode durar até 250 horas, dependendo do estado da pintura. Para finalizar, Sahota usa uma cera que custa impressionantes £ 8.200 (R$ 34 mil, aproximadamente) por tubo. Por tubo!
Atualmente, a Elite Detailing é uma das mais famosas empresas de detailing do planeta, com clientes que são verdadeiras celebridades – ainda que Sahota prefira não revelar seus nomes. No entanto, sua conta no Instagram é cheia de fotos dos carros que por lá passam. E estamos falando de alguns dos automóveis mais caros, raros e exclusivos do planeta, como o Koenigsegg Agera S, o Bugatti Veyron e o Porsche 918 Spyder.
Agora, se você acha que pagar R$ 30 mil por uma lavagem é absurdo… que tal pagar R$ 420 mil?
Sim, isto é possível. Quer dizer, se você tiver £ 100 mil (o equivalente a cerca de R$ 420 mil) para lavar seu carro na Ultimate Shine, companhia de detailing que fica em Fife, na Escócia.
De acordo com seu site, a Ultimate Shine trata com a mesma dedicação “um Fiat 500 ou uma Ferrari”. No entanto, ninguém pagaria £ 100 mil para lavar um compacto que parte £ 11 mil (R$ 46,5 mil, em conversão direta), não é? Por isto, o público-alvo da companhia são colecionadores de altíssimo nível, que mantém seus carros guardados em ambientes climatizados e protegidos da ação do tempo e querem mantê-los impecáveis.
“Por este preço, eu atendo em qualquer lugar do planeta. Normalmente lido com colecionadores sérios, que guardam seus carros em showrooms com temperatura controlada, então viajo para onde quer que eles estejam”, conta Paul Wilkins, o dono da Ultimate Shine. Pensando bem, isto seria o mínimo.
O processo começa com uma lavagem para descontaminar a carroceria e as rodas e, novamente, um microscópio é utilizado para detectar imperfeições invisíveis a olho nu. Em seguida, vem o polimento para acabar com tais imperfeições, e uma segunda limpeza com um agente alcoólico que remove qualquer resquício de óleo. Por fim, chega a hora de encerar – utilizando uma cera de carnaúba especial que, de acordo com a companhia, vem de uma localidade secreta aqui no Brasil e custa £ 65 mil (quase R$ 280 mil!) por pote, e há tipos diferentes adequados para cada estação do ano.
Wilkins também diz que seu trabalho dura quanto tempo ele achar necessário para que o carro fique perfeito. Sendo assim, ele prefere trabalhar com carros de coleção que não rodem muito, pois pode passar mais de mais de um mês limpando um único automóvel. Dito isto, caso necessário, a Ultimate Shine oferece até mesmo um carro reserva para que o dono não fique a pé enquanto seu brinquedo não fica pronto.
É claro que a Elite Detailing e a Ultimate Shine não são as únicas companhias de detailing premium que existem. Elas também estão presentes em outros lugares do mundo, e a AMMO NYC, de Nova York, é uma delas. Recentemente, os caras publicaram um vídeo mostrando o processo de detailing de um McLaren F1 GTR – versão de corrida do McLaren F1 que do qual só existem nove exemplares. O trabalho levou 138 horas, divididas em quase duas semanas.
O vídeo é interessante porque mostra que a demora não se dá pela complexidade do trabalho, que é relativamente simples (lavar o carro, remover alguns painéis da carroceria, limpar o que estiver por baixo, polir e encerar), e sim pelo cuidado com que tudo precisa ser feito. Por exemplo, em vez de tirar o pó com um aspirador ou compressor de ar, eles usam pincéis e escovas, varrendo manualmente cada centímetro do carro e utilizando aparelhos só para alcançar áreas difíceis.
Cada parafuso, porca e arruela que precisa ser removido é etiquetado e colocado junto com o componente ao qual pertence. É preciso escolher com cuidado, também, os materiais e produtos que serão utilizados, pois isto varia dependendo do estado do carro, da pintura utilizada e com a quantidade de correções que precisarão ser feitas (manchas, riscos e marcas do tempo).
Além disso, há uma coisa que ainda não mencionamos: o fator de risco envolvido. O McLaren F1 GTR é um modelo histórico de valor quase inestimável. Na hora de cobrar por um serviço como este, o detailer não está apenas levando em conta o custo da mão-de-obra e dos materiais utilizados, mas também o risco envolvido: se algo der errado (um componente for perdido ou quebrado na desmontagem, ou algum dano à carroceria for constatado), o prejuízo é muito alto.