Fala pessoal! Tô de volta! Pra quem não se lembra da última parte, o carro que havíamos alugado teve o vidro quebrado (e alguns itens furtados) em San Francisco. Para descer a costa foi preciso trocar de carro.
E depois de muito tempo procurando um carro substituto na mesma categoria, a locadora me deu um upgrade e uma chave de um KIA. O atendente disse que era o único carro disponível no momento.
Fui para a garagem sem imaginar qual carro ia pegar! Podia ser desde um Soul até um Sorrento. A escolha foi do atendente, e foi Optima. Sim, com o P. Um KIA Optima cinza chumbo. Esse das fotos.
Um belo carro. Painel bem mais moderno que o do Camry, direção leve no transito e posição de dirigir baixa! Ele seria nosso companheiro por três dias até San Diego com paradas em Monterey e Santa Barbara.
Mas antes de sair da cidade ficamos meio perdidos tentando encontrar um lugar para almoçar e acabamos parando no bairro do Castro. Pra quem não conhece, é o bairro gay de SF, que já é conhecida como uma das cidades mais Gay-friendly do mundo. No bairro absolutamente tudo remete ao universo gay! Bandeiras de arco-íris pra todo lado. Todo lado mesmo. Até a faixa de pedestres é um arco-íris. Mais um lugar bem diferente e interessante da viagem!
O primeiro trecho era de 190 Km, o que, teoricamente se faz em 2h30. Só que “teoricamente” só serve quando você está em uma estrada chata e entediante. Na prática a gente estava na Highway One! As curvas da estrada acompanhavam o litoral e um mar absurdamente azul! Impossível gastar menos de 5 horas!
E foi assim que começou:
A primeira paisagem da estrada. Se a primeira impressão é a que fica, tá explicado o tanto que gostei da viagem!
O mais interessante da estrada era que a todo momento tinha um “acostamento” improvisado, onde você podia encostar o carro e apreciar a vista até cansar. O problema era que não cansava!
E todo acostamento valia a pena! Mas se continuasse parando a cada milha, não chegaríamos nunca à Monterey! Então fizemos um acordo: Só pararíamos onde houvessem dois ou mais carros já parados.
Vi com certa frequência essa placa: (Speed enforcement by aircraft ou “velocidade controlada por aeronave” numa tradução livre)
Ficava olhando pro céu pra ver se ia aparecer um avião com um radar me seguindo, como num filme de perseguição! Mas na verdade até agora não entendi muito bem o intuito. Acho que nem os americanos, por que já vi umas duas teorias nos sites deles! Uma diz que ocasionalmente existem aviões pela área e, caso tenha um veículo acima da velocidade, o policial do avião informa um policial em terra que vai parar o carro e multar. Já outra teoria diz que aeronaves não tripuladas fazem vôos em algumas áreas demarcadas e calculam o tempo que um carro leva para atravessar essa área. Qual é a verdadeira eu não sei, mas não queria pagar pra ver!
Mas a verdade é que nessa estrada ninguém quer correr! Muito pelo contrário! Era muito comum andar abaixo de 40Km/h para apreciar a vista!
Legenda: Apesar de ter mais de dois carros no acostamento não paramos nesse ponto, onde o forte era a prática de kitesurf
O litoral já é espetacular por si só. E o tempo ajudou muito! O céu de brigadeiro ajudou a deixar cada paisagem ainda mais bonita! O sol refletia no mar e dava um efeito muito bacana!
Durante 90% do trajeto não existe nada entre a estrada e o mar. Em alguns momentos ficamos algumas milhas sem vê-lo. Raras as vezes que existia alguma construção no litoral. Neste ponto em específico a ferrovia (desativada) ficava entre a estrada e o litoral.
Rodovia, ferrovia e mar
Chegando mais próximo à cidade de Monterey pude perceber que a cidade tem uma veia gearhead! Várias paradas no caminho tinham referências do meio automobilístico e motociclístico.
Para quem não se lembra (falei na primeira parte – link primeira parte), eu estava chegando na cidade um dia antes da abertura do famoso Concours D`elegance de Pebble beach! E eu sentia o clima do evento mais forte a cada milha.
Os carros que seguiam na mesma direção nossa estavam ficando cada vez mais interessantes!
Sinto cheiro de graxa no ar!
A cidade de Monterey é bem pequena e charmosa. Cheguei a comparar com o que Búzios é para o litoral do Rio de Janeiro. E, da mesma forma, é uma cidade cara. Pra viver, comer, visitar e se hospedar.
Para evitar a fadiga financeira, ficamos hospedados (mais uma vez pelo AirBnB) em uma cidade vizinha, chamada SeaSide. A casa que ficamos estava a sete minutos do centro de Monterey. Mais uma vez me impressionei com a forma de vida dos americanos.
Chegando ao local, um bairro de classe média, a proprietária me envia uma mensagem dizendo que não pôde me esperar chegar (eu, inocente, pensei que gastaria 2h na estrada. Gastei 5h.), me passou a senha da porta da casa e pediu para não estacionar na garagem deles, pois já possuíam dois carros. E que carros!
Carros dos nossos anfitriões. Os belíssimos BMW 535 Touring e GMC “Grape Ape”
Depois de descarregar as malas correndo, fomos para o centro da cidade procurar algum movimento automobilístico. Na programação do evento tinha um desfile de micro-cars marcado para a tarde, mas chegamos no final de tarde e ele já tinha se encerrado…
Mas muito mais que carros, a cidade era um espetáculo. O pôr do sol na marina foi um espetáculo a parte.
Mas muito mais que vistas espetaculares, a cidade tinha carros. E que carros! Pra começar, no estacionamento da marina, me deparei com essas macchine:
A mãe de uma lenda, a Ferrari 308 GTB (que foi transformada em 288 GTO) e a belíssima Ferrari 330
Pontiac Trans Am
Saindo da marina fomos ao centro da cidade, onde se encontra uma antiga fábrica de latas para sardinhas. Uma não, várias. A cidade viveu disso durante alguns anos, até que os peixes começaram a desaparecer da região e as fábricas foram fechando, ficando somente o charme dos prédios no centro.
Monterey Canning Company – fábrica de latas de sardinha.
A região é muito interessante e cheia de barzinhos e restaurantes de todos os estilos. Desde os mais chiques e caros até os mais simples, mas ainda sim caros. Ficamos em um dessa segunda opção.
Era um pub bem americano com um show ao vivo sensacional. Um daqueles bares sem turistas, onde você consegue sentir o clima dos nativos. E por isso achei muito bacana! Uma curiosidade é que a banda, durante o intervalo e após o término do show passa nas mesas passando o chapéu e recolhendo grana de quem curtiu o show! Ou seja, não têm cachê, mas recebem de acordo com a reação – e boa vontade — do público! Achei interessante.
Nas ruas ao redor do bairro oque mais se via eram carros espetaculares! Bentleys, Rolls-Royces, Ferraris clássicas, e vários carros que não sei nem descrever quais são…
Diablo (ao vivo ela é ainda mais incrível!), Mutang GT350 e uma bike Psicodélica
A noite já estava mostrando o que nos aguardava na dia seguinte! A agenda era uma exposição de alguns carros que iriam participar do Concours D’elegance em uma cidade depois de Monterey chamada Carmel-by-the-Sea.
No dia seguinte acordamos cedo pois a agenda era apertada! Iríamos conhecer o 17 Mile Drive, que é um trajeto dentro de um condomínio luxuoso com lugares espetaculares, depois iríamos na exposição em Carmel-by-the-Sea e ainda desceríamos 370 Km pela costa até Santa Bárbara, onde dormiríamos.
Você planeja não perder tempo com nada, tomar café onde conseguir, não parar em lugares cheios e otimizar o tempo, mas no meio do caminho surge uma loja de carros como outra qualquer, com os carros expostos ao tempo. A Camila olha pra mim, eu já estou quase encostando o carro, meus olhos brilham, ela diz “Quer…” Antes dela terminar a frase já coloco o cambio em Park e tiro o cinto. “Só uma passadinha!”
Porsches e Stingrays pra começar bem
O que me impressionou foram os preços dos carros. Stingrays por U$9.700 e U$7.800 Porsches (968) por U$9.500 e as Kombis alí atrás eram as mais caras! Entre 11k e 15k! Mas ainda tinha mais! Uma bela Mercedes 450 SL por míseros R$26.000. Tá bom, eu sei que não podemos simplesmente converter, mas não tem como não comparar!
Além da Mercedes encontrei também os interessantíssimos Triumph GT6+ e o Datsun 1600 Fairlady.
O Triumph GT6 é a versão GT do Triumph Spitfire 4, um roadster tipicamente inglês. Ele estava pedindo uma reforma, mas é um carro belo!
Já Datsun 1600 Fairlady é um dos pais da legendaria família Z da Datsun/Nissan! Um carrinho muito simpático e que, mesmo sem entrar nele, passa uma sensação de que é uma delicia de se dirigir!
Outras lendas que estavam por lá eram a belíssima Mercedes 190 SL, versão mais barata e menos potente da lenda 300SL e o magnífico Porsche 959 trocando os calçados.
Duas lendas dos anos 1980
Saindo de lá fomos direto para o condomínio onde acontece o encontro. Na entrada recebemos um folheto com todos os pontos de interesse e os horários dos eventos que aconteciam durante toda a semana.
Paramos em um local onde estavam expostos vários supercarros atuais. Lexus, Ferraris, Porsches, McLaren, Pagani entre outros. A LaFerrari é coisa de outro mundo! Espetacular! Porsche 918 marca texto como se precisasse pra chamar atenção. Pagani Huayra (sempre tenho que ler antes de escrever isso). Que carro! Um exagero por si só! Ele é absurdamente exagerado e igualmente fascinante.
Complicado foi na hora de ir embora encontrar dois carros igual o seu… Tive que apertar o alarme pra descobrir qual era minha!
Lá perto também tinham alguns clássicos. Como o agressivo De Tomaso Mangusta! Que carro diferente e intenso!
Uma elegante Ferrari 250 GT coupe também deu o ar de sua graça!
Na hora de ir embora surgiu um Lexus LFA trazido pelo manobrista. Duas mulheres entraram no carro e eu fiquei a postos para filmar o ronco do motor. Depois de uns 10 minutos do manobrista explicando para a motorista como funcionava tudo no carro, ela liga e sai. Eu com a câmera nas mãos torcendo por um burnout ou uma acelerada! Pela velocidade que ela saiu, ela deve ter colocado o cambio em Drive e deixado o carro ir. Decepção…
Fomos dar mais uma volta no condomínio. Se existe paraíso na terra, foi lá que os criadores foram morar. O lugar é bonito pra todo lugar que você olha! Areia branca, mar cheio de cores, vegetação fascinante! Parada imperdível para quem tiver a oportunidade de descer a costa!
Descendo mais um pouquinho, em um dos Point Views do caminho tinha um belo Plymouth Superbird pedindo para ser fotografado! Um mito.
Dali pra frente seria só continuar descendo o condomínio até chegar ao evento. Mas se teve uma coisa que aprendi na viagem foi: Nunca diga que vai ser rapidinho quando se trata de Costa da Califórnia.
Paramos diversas vezes para apreciar vistas e fotografar. As praias de lá são um espetáculo a parte, a vegetação também, coisa de louco! Em uma das paradas conseguimos ver baleias! Isso estando em terra firme! Sensacional!
Dentro do condomínio o transito estava tranquilo, apesar do grande movimento para o evento. Por causa do aumento do fluxo existiam alguns guardinhas fazendo o controle do tráfego. Em um cruzamento uma guarda pediu para eu esperar e eu parei. Depois de algum tempo parou uma Grand Cherokee antiga atrás de mim. Depois de uns 5 segundos, do nada, a mulher arranca o carro e bate na minha traseira! Acredito que ela deva ter se distraído e soltado o freio, fazendo com que o carro acelerasse e batesse contra o meu.
Logo que ela bateu a guarda pediu para seguirmos. Eu, como de costume, encostei logo depois do cruzamento para ver o prejuízo e conversar com a moça. A única moça que consegui conversar foi a minha namorada! A motorista da Cherokee arrancou rápido e fugiu! Putz! Mais um carro danificado, apesar de não ter sido quase nada, o carro era alugado, podia dar problema!
Chamei a guarda e perguntei o que eu deveria fazer. Ela me indicou procurar polícia, que não fica dentro do condomínio. Ok. Durante nossa conversa a guarda parou uma Ferrari F50. Pedi licença e fui até o carro pegar minha câmera! Afinal, ela é o mito da infância de 8 em cada 10 adolecentes/crianças dos anos 90! Detalhe para a placa (EPICWIN)
Logo depois encontramos um guarda da polícia que disse que não havia nada a se fazer. Somente procurar a locadora para reportar o acontecido. Fui até a Hertz da cidade e eles estavam sem nenhum carro, não que eu quisesse trocar, mas eles trocariam caso tivesse algum disponível. Preenchi o relatório do incidente e segui viagem!
Bom… Estou ansioso para contar sobre os carros que vi na exposição, mas esta parte já ficou muito grande! Ficará para a próxima! Vejo vocês na quarta e talvez última parte!
Por Carlos Casadei, Project Cars #278