Qual era o seu carro quando você tinha 20 e poucos anos? Há grandes chances de ser um usado (ou velho mesmo), com algumas coisas para fazer — ou talvez um popular zero-quilômetro. Talvez até seja um carro mais bacana, maior e mais potente — de qualquer forma, não importa muito. É bem provável que ele não tenha sido um Lamborghini, uma Ferrari e nem um Bentley.
A menos que você seja um destes estudantes universitários chineses. Filhos dos novos bilionários da China, eles foram mandados para os EUA por suas famílias “em busca de melhores condições de vida”. Na prática, essas “melhores condições de vida” significa ir para a faculdade de dia e curtir a vida adoidado com seus supercarros e exóticos de luxo na ensolarada Califórnia. Este vídeo é um breve mergulho no mundo deles — um mergulho interessante, mas também um pouco triste.
Feito pelos caras do Vocativ (que já foram a Dubai dar uma olhada nos supercarros da polícia), o vídeo acompanha alguns jovens chineses em uma típica noite californiana. Depois da faculdade, eles vão para casa, se arrumam e saem para encontrar os amigos, tirar fotos e passear ao volante de suas máquinas — Lamborghini Aventador, Ferrari 458 e California, McLaren 650S e Bentley Continental — só para citar alguns.
Eles não usam estes carros para ir para a universidade — quando questionados a respeito, sempre afirmam ter outro carro. Afinal, existe hora e lugar para ostentar, não é?
A ideia vai contra a imagem ocidental que a maioria das pessoas têm da China — um país que sofre com a superpopulação, com as marcas de um regime de governo totalitário e que tem toda a sua economia baseada na produção de eletrônicos.
A verdade, porém, é bem mais complexa: a China é um dos países de maior desigualdade social do mundo (a taxa de distribuição de renda entre os mais ricos e os mais pobres é de 25:1) e, embora a elite da sociedade tenha condições de vida muito melhores, o governo opressor faz com que as famílias que têm condições mandem os jovens para os EUA, onde eles podem estudar (alguns são pós-graduados) e… gastar o dinheiro dos pais com supercarros.
É preciso lembrar, contudo, que eles poderiam fazer o mesmo sem sair de seu país. Isso por que o crescimento econômico (ainda que desigual) da China estimulou diversas fabricantes de supercarros a atuar com força no país, com representações oficiais dedicadas e até edições especiais exclusivas (como o Pagani Zonda que mostramos ainda hoje, Lamborghini Murciélago LP 670-4 SuperVeloce China Limited Edition e Bugatti Veyron Vitesse Lang Lang). Além disso, há marcas que estão praticamente mortas no resto do mundo mas andam muito bem no mercado chinês, como a Buick.
Agora, um detalhe: este vídeo jamais chegaria à China se dependesse do governo chinês — boa parte dos sites ocidentais têm seu acesso restrito ou bloqueado no país, e isto inclui o YouTube, onde o vídeo feito pelo Vocativ já acumula mais de 500 mil visualizações. Contudo, isto não impediu que alguém copiasse o vídeo e o publicasse em sites chineses como o Tencent — e, assim, mais de 80 milhões de chineses já viram o que seus jovens e abastados conterrâneos fazem nas noites californianas.
O Vocativ diz que, apesar do roubo de conteúdo, “não se importa” com o alcance do vídeo entre os chineses, que aparentemente não têm outra maneira de saber o que acontece no resto do mundo se não for pelos noticiários ou sites locais — que precisam ter seu conteúdo aprovado pelo governo. Os jovens chineses acabam buscando inspiração em seus conterrâneos mais ricos.