suzuka 8 de outubro de 2000 a chuva nao da tregua as curvas 1 e 2 viram espelhos d’agua no cockpit da f1 2000 michael schumacher administra cada respingo no para brisa enquanto vigia mika hakkinen seu rival direto na volta 41 a ultima parada estrategica da ferrari devolve schumacher a liderança — basta controlar o ritmo ate a bandeirada quando o carro vermelho aponta na reta dos boxes jean todt e ross brawn explodem em comemoraçao; rory byrne discreto como sempre emerge das sombras para um abraço rapido aquele fim de semana consagrou nao apenas o fim de um jejum de 21 anos sem o titulo de pilotos para a scuderia mas confirmou byrne como o arquiteto silencioso de uma era de ouro para a ferrari enquanto nomes como adrian newey e gordon murray viraram grife rory byrne manteve sempre a discriçao como marca registrada ele nao precisava aparecer seus carros falavam por ele e falavam alto sete titulos de construtores e seis de pilotos com schumacher entre benetton e ferrari fora a avalanche de gps vencidos um curriculo desses nao se constroi por acaso mas como foi que este projetista um quimico autodidata acabou na formula e se tornou um dos maiores projetistas da historia o começo a historia de rory byrne começa em pretoria na africa do sul onde ele nasceu em 10 de janeiro de 1944 filho de uma geraçao que via na ciencia os caminhos solidos para o futuro byrne formou se em quimica pela university of the witwatersrand em 1965 porem enquanto calibrava tubos de ensaio em joanesburgo sua mente ja fervilhava com curvas velocidades e forças aerodinamicas um sinal de que o universo do automobilismo o atraia mais do que qualquer experiencia de laboratorio no fim dos anos 1960 ele e tres amigos fundaram a auto drag and speed den uma pequena empresa de peças de performance sediada em malvern joanesburgo foi ali entre coletores de escape e carburadores que byrne deu seus primeiros passos como projetista desenhou seu proprio monoposto de formula ford aplicando equaçoes e conceitos aprendidos na faculdade para cada detalhe do chassi em 1972 esse prototipo caseiro ja mostrava competitividade suficiente para brigar pelo titulo sul africano da categoria provando que seu talento ia muito alem de meros calculos em papel esse sucesso inicial o motivou a se mudar para o reino unido em 1973 onde começou a trabalhar na royale uma fabricante de formula ford e formula 3 nos anos seguintes byrne aprendeu tudo o que conseguiu sobre suspensoes chassis e aerodinamica aprimorando sua formaçao autodidata a ponto de desenvolver seu proprio metodo e filosofia de construçao de carros de corrida entre os carros que byrne ajudou a projetar na royale estava o carro de formula ford 2000 que o piloto sul africano rad dougall usou para conquistar o titulo ingles de 1977 dougall era um piloto independente patrocinado por um gentleman driver chamado ted toleman que tinha uma empresa de transporte rodoviario de automoveis vinculado a ford o titulo de dougall inspirou ted toleman a criar sua propria equipe a toleman motorsport e a contratar rory byrne nos dois primeiros anos a equipe usou carros da march e da ralt mas ted toleman logo percebeu que para conquistar o titulo ele precisaria construir seu proprio carro algo completamente diferente do que seus rivais usavam coube a rory byrne a missao de desenhar um monoposto inteiramente novo para a temporada de 1980 ja com alguma quilometragem acumulada da royale aplicou seus principios de compactaçao e integraçao funcional para criar um carro que se mostraria nao apenas competitivo mas tambem dominante batizado tg 280 o carro era relativamente convencional para a epoca — do monocoque de aluminio a aerodinamica baseada no efeito solo seu trunfo contudo estava justamente na experiencia de byrne era rigido leve e confiavel e foi projetado em torno do conjunto do motor hart de dois litros e 310 cv com o cambio hewland f t 200 de cinco marchas o carro dominou a temporada a toleman entrou em 11 das 12 corridas da temporada chegando ao podio em todas elas brian henton venceu tres vezes chegou quatro vezes em segundo e uma vez em terceiro — campanha que lhe rendeu o titulo daquele ano derek warwick conquistou uma vitoria tres segundos lugares tres terceiros lugares e ficou com o vice campeonato foi um feito impressionante para um carro estreante projetado por um quimico em sua estreia como projetista chefe o impacto foi imediato o sucesso do tg280 consolidou a toleman como uma equipe pronta para voos mais altos e o nome de rory byrne começou a circular entre os bastidores da formula 1 mais importante ali ficou claro que byrne nao era apenas um engenheiro competente mas um criador de conceitos vencedores alguem que entendia o carro como um ecossistema onde tudo tinha que conversar — do cambio ao difusor ninguem poderia imaginar mas aquele carro vitorioso de formula 2 era o prenuncio silencioso de uma das carreiras mais vitoriosas da engenharia da f1 moderna um começo dificil na formula 1 depois de dominar a formula 2 com o tg280 ted toleman ganhou confiança para fazer uma manobra tao ambiciosa quanto arriscada disputar a formula 1 e rory byrne foi escalado para liderar essa manobra a ideia era ousada entrar direto na f1 ja com motor turbo algo que so renault e ferrari tinham compreendido amplamente ate entao a toleman apostaria no motor hart 415t um quatro cilindros 1 5 turbo baseada no motor 2 0 da formula 2 com deslocamento reduzido para atender o regulamento e com desempenho teoricamente proximo dos v6 e v8 aspirados mais consagrados o problema e que entre a teoria e a pratica havia um abismo byrne projetou o toleman tg181 com uma proposta interessante mas com muitas limitaçoes — ao menos inicialmente o carro era grande pesado e com uma distribuiçao de massas dificil de acertar sua principal caracteristica era o bico duplo assim formado para acomodar um dos radiadores do motor que tinha propensao ao superaquecimento — lembre se que o hart nasceu como um motor aspirada na teoria uma tentativa de otimizar o arrefecimento com eficiencia aerodinamica na pratica um pesadelo de equilibrio e manutençao [caption id= attachment_383700 align= aligncenter width= 476 ] repare o radiador no bico do carro[/caption] alem disso a falta de tunel de vento proprio e os recursos limitados da equipe fizeram com que o tg181 tivesse um projeto aerodinamico rudimentar o que refletiu no desempenho pifio do carro na temporada de estreia brian henton conseguiu largar somente no gp da italia em monza terminando em ultimo entre os dez carros que concluiram a prova a tres voltas do vencedor alain prost warwick nao teve a mesma sorte tambem alinhou em uma prova o gp de caesars palace em las vegas mas abandonou com uma quebra no cambio depois de 43 voltas no estacionamento do caesars palace hotel/casino para a temporada de 1982 byrne fez atualizaçoes visando a confiabilidade do carro enquanto desenvolvia um chassi completamente novo que se tornaria o tg183 as evoluçoes contudo nao resolveram o principal problema do carro que era o peso excessivo e a falta de potencia warwick se classificou para nove das 16 provas mas so terminou duas o novo piloto da equipe o italiano teo fabi conseguiu largar em seis provas mas nao terminou nenhuma apesar do inicio erratico byrne conseguiu desenvolver um conceito mais ousado e mais competitivo para a temporada seguinte o tg183 que estreou ainda em 1982 ja usava monocoque de fibra de carbono uma novidade trazida pela mclaren em 1981 e que colocou a toleman mais proxima das equipes de ponta ao menos em termos de construçao o carro tambem tinha uma curiosa asa traseira dupla e uma soluçao igualmente questionavel para o problema cronico de arrefecimento do motor hart radiadores embutidos na asa dianteira a eficiencia termica melhorou um pouco mas o tg183 ainda sofria com o turbo hart — fraco em potencia inconstante em entrega e sedento por combustivel alem disso o conjunto gerava um centro de gravidade elevado e problemas cronicos de dirigibilidade especialmente em curvas de baixa velocidade mesmo com a carroceria inovadora e soluçoes tecnicas interessantes os resultados continuaram modestos a toleman estava tentando correr antes de andar o motor hart 415t continuava sendo um calcanhar de aquiles sua potencia era inferior a dos v6 turbo da concorrencia e o consumo seguia elevado — o que obrigava a toleman a correr com tanques maiores e estrategias conservadoras ainda assim com derek warwick ao volante o tg183b conseguiu beliscar pontos em algumas provas warwick marcou quatro pontos ao longo da temporada o suficiente para colocar a toleman a frente de equipes como ligier e osella no mundial de construtores — um feito modesto mas significativo para uma equipe que dois anos antes mal conseguia largar havia um ponto positivo contudo byrne estava ganhando casca cada erro cada abandono e cada quebra o obrigavam a aprender a duras penas as exigencias tecnicas e logisticas da f1 — um universo imensamente mais complexo do que a formula 2 ele começava a formar seu estilo como projetista ousado atento aos detalhes pragmatico e sobretudo obsessivo pela eficiencia aerodinamica ainda que os resultados nao aparecessem na pista internamente rory byrne ja era visto como um tecnico de enorme potencial e logo teria uma chance melhor de provar isso a temporada de 1984 começou como todas as outras para a toleman sem pneus sem dinheiro e sem muita certeza de onde estariam no fim do ano literalmente a equipe perdeu as tres primeiras etapas do campeonato porque rompeu com a pirelli e ainda nao tinha fechado com a michelin — e quando fechou a fornecedora anunciou que deixaria a f1 no fim do ano começava bem uma coisa estava diferente havia um brasileiro no carro numero 19 um estreante magrelo de voz suave olhar fixo e absolutamente obcecado por perfeiçao ayrton senna da silva ele chegava a formula 1 cercado de expectativas — vindo de titulos na formula ford 1600 ford 2000 e um massacre na formula 3 britanica — e havia testado com varias equipes antes de assinar com a toleman ninguem sabia ainda mas esse seria o ano em que rory byrne teria pela primeira vez um piloto capaz de explorar o potencial oculto de seus projetos e isso mudaria tudo [caption id= attachment_383679 align= aligncenter width= 1253 ] senna no tg183 no inicio da temporada de 1984[/caption] o tg184 nao era revolucionario no papel mas representava o apice da evoluçao conceitual iniciada dois anos antes byrne refinou o tg183b ao maximo sidepods mais baixos e integrados redesenho completo da traseira melhor equilibrio de massas e uma carroceria mais compacta a construçao em fibra de carbono era agora mais madura com melhores tolerancias e maior rigidez a torçao mais proxima das grandes o motor hart continuava sendo o elo fraco com seus problemas cronicos de arrefecimento e desgaste byrne ja sabia que nao dava pra brigar com ferrari brabham bmw ou mclaren tag em potencia entao ele apostou na eficiencia aerodinamica e leveza do conjunto [caption id= attachment_383678 align= aligncenter width= 1003 ] rory byrne brian hart e ayrton senna[/caption] a corrida que mudou tudo aconteceu em monaco sexta etapa da temporada chovia o bastante para transformar os muros do principado em armadilhas sobre espelhos d agua era o cenario perfeito para um piloto com sensibilidade acima da media e um carro equilibrado na chuva os carros sao nivelados por baixo e a habilidade do piloto se sobrepoe senna largou em 13º com o tg184 passou carro apos carro com manobras milimetricas e começou a caçar a mclaren de alain prost o toleman mesmo com um motor modesto mostrava um comportamento estavel e preciso no molhado byrne assistia nos boxes fascinado finalmente alguem estava extraindo tudo que o carro podia dar — e mais um pouco quando senna finalmente ultrapassou prost a prova foi encerrada por bandeira vermelha jacky ickx o diretor da prova percebeu que as coisas estavam ficando perigosas no asfalto e encerrou a prova foi um segundo lugar com gosto de vitoria senna provou que era mesmo um piloto promissor e byrne mostrou a todo o mundo o que seus carros eram capazes de fazer quando o motor nao faz diferença e um piloto de primeira esta ao volante ha quem diga que a interrupçao da prova beneficiou alain prost — a teoria da conspiraçao cita um conluio entre os francofonos jacky ickx e o presidente da fisa jean marie balestre para beneficiar prost e o motor porsche no entanto ao analisar o carro de senna apos a corrida byrne e os mecanicos perceberam que a interrupçao da prova beneficiou o brasileiro pois sua suspensao traseira havia sido danificada nas zebras da nouvelle chicane/chicane nova e nao resistiria muito mais voltas caso a corrida continuasse o ano seguiu com altos e baixos senna voltou ao podio duas vezes com um terceiro lugar no gp da gra bretanha em brands hatch e outro no gp de portugal em estoril o motor hart seguia limitando as ambiçoes da equipe mas o tg184 era um carro tecnicamente muito bem nascido e byrne ao lado do engenheiro pat symonds ja era visto como um dos nomes mais criativos da engenharia da f1 — especialmente considerando o que faziam com tao pouco [caption id= attachment_383697 align= aligncenter width= 1340 ] byrne com senna no gp da austria de 1984[/caption] no fim de 1984 ayrton senna partiu para a lotus levando consigo parte do prestigio que ajudou a construir mas para rory byrne aquele ano foi o aviso se colocassem um piloto de ponta e um motor decente em suas maos ele podia bater os gigantes a segunda fase a temporada de 1985 começou como um filme repetido para rory byrne incertezas financeiras problemas logisticos e um carro o tg185 que ele e pat symonds so conseguiram terminar com as peças literalmente em transito para a primeira corrida o carro foi mais uma evoluçao do conceito iniciado com o tg183 o chassi era compacto leve e bastante rigido para os padroes da epoca aerodinamicamente byrne começou a adotar superficies mais limpas e eficientes e ja testava soluçoes como saidas de ar limpas atras dos sidepods para otimizar o fluxo que chegava a asa traseira era visivel que ele estava estudando os caminhos que a f1 dos turbos começava a trilhar — com carros altamente instaveis em aceleraçao e uma dependencia cada vez maior da eficiencia do solo e da traseira ja o motor… sim ainda o hart embora temperamental o hart 415t era valente mas estava em seu limite enquanto renault bmw e porsche no caso da mclaren ultrapassavam os 800 cv em modo de classificaçao a hart so conseguia entregar numeros compativeis em sessoes curtas e com risco de quebra isso tornava cada corrida da toleman um ato de malabarismo entre andar forte e cruzar a linha de chegada a dupla de pilotos tambem nao ajudou senna havia partido e agora quem guiava eram teo fabi e piercarlo ghinzani fabi era tecnicamente correto bom em voltas lançadas chegou a fazer pole em nurburgring mas irregular em ritmo de corrida ghinzani por sua vez nao fez diferença alguma mesmo assim byrne conseguiu entregar um carro que com todos os seus limites era tecnicamente coerente confiavel e com base solida para desenvolvimento o ano foi salvo no apagar das luzes por um movimento inesperado fora das pistas a grife italiana benetton que ja patrocinava a tyrrell alfa romeo e a toleman percebeu que os projetos de byrne eram confiaveis apesar do motor e resolveu comprar a equipe inteira quando o acordo de compra se concretizou no final de 1985 a toleman deixou de existir nascia ali a benetton formula ltd com sede ainda em witney no reino unido mas agora com uma estrutura profissional gestao comercial aporte tecnico e acesso a parceiros de verdade rory byrne foi mantido como chefe de design — uma rara permanencia quando uma equipe muda de maos isso mostra o respeito que ele ja tinha dentro do time e o grau de confiança que a familia benetton depositou nele a era benetton o primeiro carro verdadeiramente benetton de rory byrne foi o b186 um missil de retas e nao e exagero o carro usava o brutal motor bmw m12/13 turbo que em modo de classificaçao chegava a algo proximo de 1 300 cavalos sendo provavelmente o motor mais potente ja usado em um f1 com teo fabi e gerhard berger no volante o b186 era instavel nas curvas dificil de domar em pistas travadas mas avassalador em hockenheim e monza o apice veio na austria onde berger venceu de ponta a ponta — a primeira vitoria da benetton na f1 e a primeira de muitas de byrne como projetista a vitoria expos algo importante byrne sabia construir carros rapidos e confiaveis mesmo quando ainda buscava entender a filosofia de equilibrio aero mecanico com os pneus radiais e motores ultra turboalimentados a benetton logo abandonou a bmw e assinou com a ford cosworth que forneceria motores v6 turbo e depois v8 aspirados [caption id= attachment_383686 align= aligncenter width= 1022 ] o benetton b188[/caption] o b188 e o b189 guiados por pilotos como thierry boutsen alessandro nannini e emanuele pirro mostraram consistencia pontuavam com frequencia subiam ao podio ocasionalmente e terminavam campeonatos na parte alta do meio do grid nada mau para um time em construçao essa consistencia dos modelos b188 e b189 era o sinal de que rory byrne começava a construir algo mais robusto do que apenas carros rapidos ele desenvolvia uma plataforma tecnica confiavel com um comportamento previsivel em diferentes tipos de pista — algo raro em uma formula 1 ainda em transiçao entre o experimentalismo dos anos 1980 e o rigor de engenharia que marcaria os anos 1990 o segredo estava na obsessao de byrne por progresso incremental ao inves de buscar revoluçoes a cada novo carro ele aplicava liçoes acumuladas com precisao quase matematica [caption id= attachment_383698 align= aligncenter width= 999 ] byrne no gp de portugal de 1988[/caption] o b188 por exemplo trazia soluçoes aerodinamicas mais limpas que seu antecessor e uma distribuiçao de massas mais equilibrada — sinal de que byrne havia aprendido com os excessos do b186 os sidepods foram redesenhados para melhor gerenciamento termico e a suspensao dianteira ganhou ajustes mais refinados o resultado foi um carro mais facil de guiar em pistas de baixa e media velocidade ainda que faltasse aquele algo a mais para brigar com mclaren ferrari e williams [caption id= attachment_383687 align= aligncenter width= 1024 ] o benetton 189[/caption] o b189 que chegou ao segundo semestre de 1989 deu mais um passo adiante era leve agil e fazia bom uso dos pneus pirelli que favoreciam carros com carga aerodinamica traseira bem distribuida — uma caracteristica que byrne tratou como prioridade alessandro nannini o piloto mais tecnico da dupla conquistou a segunda vitoria da historia da benetton no japao em uma corrida caotica apos a batida entre senna e prost mas a vitoria ainda que herdada refletia um carro competitivo no momento certo bem acertado e em ascensao tecnica alias a temporada de 1989 tambem marcou a chegada definitiva de um nome que seria fundamental na era de ouro da equipe ross brawn que assumiu funçoes ligadas a engenharia de pista e operaçoes de corrida entre byrne um engenheiro metodico e avesso aos holofotes e brawn o estrategista cerebral começava a surgir uma parceria sinergica baseada em confiança e competencia mutua [caption id= attachment_383688 align= aligncenter width= 735 ] byrne e brawn na benetton[/caption] com o regulamento de 1989 encerrando a era turbo a formula 1 entrava em uma nova fase e rory byrne estava pronto para ela o motor ford cosworth hb v8 atmosferico substituiu o v6 turbo e passou a ser o coraçao do benetton b190 o carro que estrearia a decada de 1990 com uma combinaçao precisa entre simplicidade funcional e eficiencia aerodinamica [caption id= attachment_383690 align= aligncenter width= 1268 ] o b190[/caption] e e nesse ponto que a trajetoria de byrne da um salto qualitativo com nelson piquet a bordo o b190 tornou se nao apenas competitivo mas vitorioso o carro nao era o mais potente nem o mais aerodinamico mas era extremamente confiavel e equilibrado — caracteristicas que piquet sabia explorar como poucos a dobradinha em suzuka com roberto pupo moreno a primeira da benetton e a ultima do brasil e o triunfo em adelaide ao final do ano foram muito mais do que estatisticas foram declaraçoes de maturidade tecnica o time que ja estava longe de andar apenas no pelotao do meio agora era claramente uma equipe de ponta capaz de lutar pelo titulo [caption id= attachment_383689 align= aligncenter width= 893 ] piquet e moreno no podio do japao[/caption] byrne havia criado um chassi com o qual os engenheiros podiam trabalhar e os pilotos podiam confiar e esse ponto e essencial carros de rory byrne desde os tempos da toleman sempre foram construidos para serem compreendidos eles nao exigiam que o piloto lutasse contra o carro — e sim que o entendesse o moldasse e o explorasse ao limite [caption id= attachment_383691 align= aligncenter width= 1157 ] o b191 com piquet e moreno dois brasileiros em uma equipe estrangeira[/caption] com o b191 no ano seguinte byrne começou a dar forma a filosofia que definiria sua obra prima na ferrari anos depois aerodinamica limpa centro de gravidade baixo controle termico eficiente e foco em traçao [caption id= attachment_383692 align= aligncenter width= 1134 ] o benetton b191[/caption] o carro estreou com piquet mas terminaria o ano com um novo nome que mudaria tudo michael schumacher que veio da jordan direto para o cockpit da benetton substituindo roberto moreno e ja na sua segunda corrida pelo time venceria em spa francorchamps com um carro que ele ainda mal conhecia — mas que oferecia a confiança necessaria para ir ao limite com naturalidade [caption id= attachment_383693 align= aligncenter width= 720 ] piquet e schumacher ao fundo[/caption] era o inicio da era benetton schumacher byrne brawn a engrenagem estava montada e o mundo da f1 ainda preso as glorias de williams mclaren e ferrari ainda nao sabia mas o centro de gravidade da formula 1 estava prestes a mudar o dominio se havia alguma duvida de que a benetton era uma força em ascensao 1992 tratou de silencia la o novo carro o b192 talvez tenha sido o primeiro da equipe a traduzir com fidelidade a identidade tecnica de rory byrne era um chassi refinado com dimensoes compactas distribuiçao de massas precisa e uma aerodinamica que embora menos sofisticada que a da dominante williams fw14b fazia uso inteligente do que o regulamento permitia o ford hb v8 embora inferior ao v10 renault era leve e bem integrado ao carro mais do que potencia bruta byrne buscava equilibrio e conseguiu schumacher em sua primeira temporada completa ja demonstrava que era um piloto diferente cerebral tecnico e implacavel sua vitoria em spa com uma leitura magistral da pista molhada e do comportamento dos pneus foi uma demonstraçao de maturidade que deixou o paddock em alerta e byrne estava la anotando tudo 1993 trouxe o b193 que incorporava sistemas eletronicos mais avançados — ainda que em menor grau que a williams de prost o carro ja usava suspensao ativa controle de traçao e cambio semi automatico mas todos esses sistemas eram fruto de uma engenharia mais conservadora do que a da concorrencia isso nao impediu schumacher de conquistar uma vitoria epica em estoril e varios podios colocando a benetton em um claro segundo escalao — a frente da mclaren e atras apenas da williams renault [caption id= attachment_383695 align= aligncenter width= 1024 ] schumacher no b193[/caption] mas foi em 1994 que tudo mudou o carro daquele ano o b194 foi o projeto mais controverso da carreira de rory byrne equipado com o ultimo estagio evolutivo do ford v8 o b194 nasceu com um conceito muito claro ser simples rigido leve e estavel em tempos de transiçao — com a proibiçao dos auxilios eletronicos — a benetton apostou na velha engenharia bom chassi peso reduzido e comportamento previsivel [caption id= attachment_383696 align= aligncenter width= 900 ] verstappen no b194[/caption] o problema o carro parecia bom demais schumacher venceu seis das sete primeiras corridas com um dominio que ninguem esperava logo surgiram suspeitas teria o b194 sistemas ilegais ocultos como controle de traçao disfarçado ou freios com vetorizaçao de torque a fia jamais provou nada — embora tenha apreendido o carro em imola e levantado suspeitas sobre o software byrne fiel ao seu estilo reservado nunca falou publicamente sobre o tema com detalhes o que se sabe e que o b194 tinha um chassi extremamente eficiente com uma traseira plantada traçao forte e frente obediente schumacher pilotava como se tivesse traçao total — e isso por si so ja era o suficiente para alimentar boatos a temporada marcada pela tragedia da morte de senna terminou com um titulo suado e controverso para schumacher mas nos bastidores era o coroamento do trabalho silencioso de rory byrne pela primeira vez um carro que ele projetou era campeao mundial o b195 de 1995 veio para consolidar agora com motor renault v10 — o mesmo usado pela williams — o carro era mais longo mais estavel e ainda mais bem resolvido do ponto de vista aerodinamico byrne aumentou a eficiencia do assoalho revisou o design dos sidepods e redesenhou a suspensao traseira para melhorar o uso dos pneus goodyear o resultado foi avassalador nove vitorias dominio tecnico e tatico e o titulo mundial de construtores e pilotos com sobras mais do que um bom carro a benetton tinha um sistema — e esse sistema se chamava rory byrne ross brawn e michael schumacher tres peças de um mesmo mecanismo operando com perfeiçao depois disso o mundo sabia rory byrne nao era apenas um bom engenheiro era um mestre e seu proximo desafio seria o maior de todos ressuscitar a ferrari uma nova ferrari quando michael schumacher anunciou sua transferencia para a ferrari ao final de 1995 o paddock achou que ele estava maluco a scuderia vinha de mais de uma decada de frustraçoes carros temperamentais e decisoes erraticas nem mesmo john barnard havia conseguido domar o caos de maranello mas schumacher sabia o que estava fazendo na bagagem ele nao levou apenas seu talento levou ross brawn e claro rory byrne byrne chegou a ferrari no fim de 1996 ainda como consultor enquanto john barnard encerrava seu ciclo mas o sul africano nao demorou a assumir as redeas do departamento tecnico o projeto f310 com seu bico achatado e distribuiçao de peso duvidosa era uma colcha de retalhos de ideias e limitaçoes byrne entrou com um bisturi — e com paciencia ao contrario de outros projetistas ele nao buscava revolucionar queria entender absorver e corrigir e foi isso que fez o f310b de 1997 foi o primeiro ferrari com assinatura parcial de byrne o carro ainda carregava soluçoes herdadas de barnard mas ganhou nova suspensao melhor integraçao entre chassi e motor e sobretudo coerencia aerodinamica resultado cinco vitorias e uma briga real pelo titulo perdida apenas na ultima corrida mas a mensagem estava dada a ferrari tinha saido do coma tecnico [caption id= attachment_383769 align= aligncenter width= 1920 ] a ferrari f310b[/caption] em 1998 com o f300 byrne finalmente assinava um projeto proprio do zero e o carro ja mostrava sua marca registrada equilibrio mais do que exuberancia enquanto a mclaren mp4/13 de newey era um foguete aerodinamico o f300 era solido confiavel bem acertado o diferencial era a constancia com 6 vitorias e o titulo de construtores escapando por apenas 3 pontos a ferrari mostrava que estava na trilha certa e byrne sabia ainda nao era o momento do salto [caption id= attachment_383770 align= aligncenter width= 1983 ] ferrari f300[/caption] o f399 em 1999 era o refinamento absoluto motor ferrari v10 em plena forma chassi leve e facil de acertar e pneus bridgestone perfeitamente casados com o carro mesmo com schumacher fora por parte da temporada apos o acidente em silverstone a ferrari foi campea de construtores pela primeira vez em 16 anos e mais importante o projeto havia mostrado maturidade tecnica era o prologo da era de ouro [caption id= attachment_383771 align= aligncenter width= 1222 ] ferrari f399[/caption] entao veio o ano 2000 o f1 2000 que carregava o nome do novo milenio foi o ponto de virada rory byrne concentrou esforços em compactar o conjunto reduzindo o centro de gravidade melhorando a distribuiçao de massas e trazendo um carro mais responsivo nas saidas de curva a suspensao dianteira foi redesenhada e o assoalho ganhou nova geometria para melhorar a pressao aerodinamica traseira tudo com uma filosofia clara nao o carro mais rapido em todas as pistas mas o mais completo ao longo do campeonato a mclaren ainda era veloz mas o f1 2000 era constante e isso bastou para quebrar o jejum de 21 anos sem titulo de pilotos [caption id= attachment_383774 align= aligncenter width= 1190 ] schumacher barrichello e badoer na apresentaçao do f1 2000[/caption] o resto virou historia f2001 f2002 f2003 ga e f2004 uma sequencia de carros que pareceram inalcançaveis o auge talvez tenha sido o f2002 um projeto quase perfeito byrne apostou em um novo posicionamento do cambio super compacto e leve um entre eixos mais eficiente e uma aerodinamica completamente refinada o carro era tao superior que a ferrari adiou sua estreia para garantir confiabilidade — e mesmo assim dominou a temporada vencendo 15 das 17 corridas o f2004 seu canto do cisne foi um show tecnico redesenho de suspensao traseira nova integraçao entre motor e cambio freios mais eficientes e um chassi que parecia moldado para os pneus bridgestone o carro era tao bom que michael schumacher venceu 13 corridas em um so ano um recorde que so cairia quase duas decadas depois o mestre nos bastidores quando rory byrne anunciou que deixaria o cargo de projetista chefe da ferrari ao fim de 2004 muita gente achou que ele sumiria do mapa mas quem conhece byrne sabia que sua saida nao seria um corte e sim uma transiçao aos 60 anos ele queria mais tempo na africa do sul perto da familia perto do mar mas a engenharia ainda chamava e a ferrari claro nao o deixaria ir tao facil em 2005 rory passou oficialmente o bastao para aldo costa mas permaneceu como consultor tecnico senior seu papel nao era mais desenhar carros diretamente mas oferecer direçao conceitual validar ideias e revisar fundamentos tecnicos era a figura silenciosa que aparecia pouco nas cameras mas que seguia moldando a espinha dorsal dos projetos da scuderia essa colaboraçao foi crucial para manter a ferrari competitiva ate o fim da era schumacher o titulo de 2007 conquistado por kimi raikkonen com o f2007 — que ainda carregava muito da filosofia byrne brawn — foi tambem uma especie de ultimo eco da era dourada [caption id= attachment_383776 align= aligncenter width= 1221 ] byrne em 2007[/caption] depois disso a formula 1 passou por transformaçoes profundas motores hibridos aerodinamica ativa orçamentos crescentes e claro a ascensao de novas potencias como red bull e mercedes a ferrari enfrentou altos e baixos byrne agora em maranello apenas ocasionalmente oferecia conselhos pontuais revisava conceitos aerodinamicos e dava suporte a engenharia quando solicitado mas o foco era outro formaçao de base reforço estrutural planejamento de longo prazo em 2013 apos um longo periodo de estagnaçao tecnica luca di montezemolo e stefano domenicali pediram que byrne voltasse com mais frequencia a ferrari sabia que precisava recuperar coerencia de projeto especialmente no periodo de transiçao para a era hibrida que começaria em 2014 byrne aceitou — sempre como consultor mas mais presente revisando projetos em fase inicial e ajudando a equipe a repensar conceitos ele tambem se envolveu na reorganizaçao do departamento tecnico apos as saidas de costa e fry a ferrari nao voltou ao topo de imediato mas a presença de byrne nos bastidores manteve viva a chama da logica e da estabilidade tecnica entao veio 2020 e com ele o escandalo envolvendo o motor da ferrari de 2019 — investigado e restringido pela fia em um acordo confidencial a equipe mergulhou em um novo periodo de reconstruçao e foi ai que mattia binotto entao chefe de equipe chamou rory de volta ao front tecnico byrne passou a atuar diretamente no projeto do carro de 2022 o primeiro sob o novo regulamento tecnico de efeito solo com seu historico em carros de chao plano nos anos 1980 ele era a pessoa perfeita para ajudar a ferrari a entender e explorar o potencial do novo conceito aerodinamico mesmo em seus 70 e poucos anos byrne mergulhou em simulaçoes revisoes de tunel de vento e filosofia de projeto o resultado foi o ferrari f1 75 um carro competitivo e promissor que liderou o inicio da temporada de 2022 antes de perder terreno para a red bull mas o merito era claro byrne ajudou a recolocar a scuderia no caminho certo reforçando a importancia de uma base tecnica solida simples e funcional — como sempre foi seu estilo rory byrne nunca foi um engenheiro de manchetes sua força estava na coerencia tecnica na habilidade de ver o conjunto de entregar carros que funcionavam bem em qualquer condiçao com qualquer motor e com pilotos de diferentes estilos seus numeros impressionam sete titulos mundiais de pilotos sete titulos de construtores mais de 70 vitorias como projetista principal mas mais do que isso byrne deixa um legado de engenharia silenciosa precisa e absolutamente eficaz e mesmo hoje quando fala pouco e aparece menos ainda seu nome ainda reverbera nos corredores de maranello — como o do homem que ensinou a ferrari a vencer de novo
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