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Avaliações Car Culture

Rota obrigatória para entusiastas: a Estrada dos Romeiros e o Mercedes-Benz CLA45 AMG

Todos precisamos de uma válvula de escape. O momento para si. A noite do seu livro, a sua hora tocando o seu instrumento musical, a sua pedalada no parque, a esticada na rede inebriada pelo perfume da grama molhada, aquela tarde arremessado no sofá jogando games ou assistindo séries e comendo tranqueiras.

Os apaixonados por carros possuem esta válvula materializada sobre quatro rodas. A terapia varia de acordo com o paciente. Lavagem e enceramento da carroceria, DIY acompanhado de mãos sujas e cortadas, encontros de posto de gasolina, restauração, preparação, customização, colecionar, acelerar. Mas o auge de tudo é colocar o bicho na estrada e fazer valer a função que os automóveis cada vez menos conseguem cumprir durante a semana: dar asas à sua liberdade. Não é o destino, é a viagem. Como na vida.

Opções para voar estão se tornando raras, mas a apenas 50 quilômetros de São Paulo existe uma pequena entrada escondida que te leva para uma rota muito especial: a Estrada dos Romeiros. Montanhas, campos e florestas, o rio Tietê e uma estreita e longa tira de asfalto que serpenteia por tudo isso. Fugir para estas colinas não soa como uma alternativa adorável para este feriadão?

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O carro: Mercedes-Benz CLA45 AMG

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Para apresentá-los à Estrada dos Romeiros, escolhi a porta de entrada para o universo dos AMG – que não poderia ser mais violenta. Motor 2.0 com turbo de duplo fluxo gerando até 1,79 bar de pressão, 360 cv e, wait for it, 45,8 mkgf de torque – o equivalente a um V8 5.0 aspirado de poucos anos atrás. Mais: câmbio de dupla embreagem e sete marchas, tração nas quatro rodas, suspensão e freios redimensionados, 1.585 kg, zero a 100 km/h em 4,6 s, máxima de 250 km/h limitada eletronicamente.

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O CLA45 AMG pode não ter o ronco abrutalhado de muscle car dos V8 de virabrequim de plano cruzado dos seus irmãos maiores – como o SLK55, C63, E63, CLS63 ou o S63 –, mas assim que você dá a partida no motor e é recebido por um despertar sonoramente ríspido seguido de marcha lenta grossa e anasalada, que mais lembra uma moto speed do que um automóvel, é impossível evitar o sorriso de canto. Ele tem personalidade própria: se recusa a ser uma cópia em miniatura dos seus irmãos e se envereda por outro caminho, mais moderno, mais informal, mais rebelde.

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Claro, sua personalidade forte se traduz em qualidades e em defeitos. Seu design conceitual foi tão bem sucedido que influenciou as novas gerações dos Classe S, E e C. Sua cabine foi influenciada pelo superesportivo SLS AMG, tanto na silhueta do painel quanto nas saídas de ventilação em forma de turbina. E os bancos dianteiros de encosto inteiriço dão um toque de esportividade à la Porsche 911 que fazem você se sentir em algo diferenciado.

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Por outro lado, ainda que o acabamento seja muito bom, ele não está no nível dos AMG em termos de materiais, o que nos faz pensar que a recíproca não seja verdadeira: ele é um excelente AMG para um iniciante neste universo, mas talvez não seja para os iniciados. Quem está acostumado com os Mercedes-Benz high end vai sentir falta de mais emborrachamento nos plásticos, de mais apresentações de materiais nobres (madeira, alumínio, fibra de carbono) e de um ou outro elemento cromado, em vez de pintado de prata. E talvez se incomode bastante com a lataria aparente na fresta da porta, que é o tipo de cuidado que nós, graxeiros, consideramos bobagem, mas que são fundamentais aos compradores de um automóvel deste nível.

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O CLA45 AMG tem tração nas quatro rodas, ainda que o sistema não possa ser considerado integral: em linha reta, o Mercedes-Benz mantém a tração nas rodas dianteiras e somente em curvas e nos momentos em que os pneus da frente estão no limite da aderência longitudinal é que as embreagens de acionamento eletroidráulico do diferencial traseiro entram em ação, acoplando e recebendo até 50% do torque do motor. Na programação Sport essa distribuição acontece com maior proporção, deixando a dinâmica mais neutra. Ambos os diferenciais são do tipo aberto e o bloqueio é induzido pelo acionamento individual das pinças de freio, evitando a patinagem das rodas.

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Este acionamento individual das pinças de freio também servem para causar o torque vectoring, deixando o carro com uma atitude mais agressiva nas entradas de curva e fazendo os pneus traseiros escorregarem de leve. Contudo, de forma geral a calibragem dinâmica do Mercedes-Benz CLA45 AMG é sutilmente dianteira e a carga de suspensão apresenta boa complacência, o que é perfeito para encarar estradas sinuosas e imperfeitas como esta que encaramos com segurança – mas para um autódromo não é exatamente a melhor solução.

Não perca o vídeo no fim deste post, no qual comento algumas das principais características deste belo esportivo.

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O começo: da Castelo até Pirapora do bom Jesus

Tecnicamente, a Estrada dos Romeiros começa em Carapicuíba (município vizinho a Osasco), já na saída 26 da Rodovia Castelo Branco. Mas a rota que recomendamos é outra: siga na Castelo até o quilômetro 48 e pegue uma saída quase escondida, em direção a Pirapora do Bom Jesus, um pequeno município de apenas 15 mil habitantes que fica às margens do Rio Tietê. A razão está aí embaixo: a pequena estrada municipal (tem só 9 km) que interliga estes dois pontos é um espetáculo, tanto para os olhos quanto para os pneus. Até porque o trecho realmente interessante da Estrada dos Romeiros começa depois de Pirapora…

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Fique atento: no quilômetro 48 há um posto de gasolina. Por mais bizarro que seja, você precisa pegar o acesso ao posto para topar com a saída da foto acima.

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Lá no fundo é possível ver a rodovia. A estrada municipal começa quente, com um trecho sinuoso em subida digno de uma prova de hillclimb.

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Fique atento à baixa visibilidade devido ao mato alto e aos morros que emolduram a pista.

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Ao longo dos nove quilômetros há ao menos três entroncamentos com outras estradinhas locais. O trecho da foto acima, no cume da primeira subida, é o primeiro deles. Fique atento e reduza a velocidade.

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Logo depois você começa a descer em direção ao vale. Embora haja vários “esses” emocionantes em descida, fique atento ao asfalto: como há uma pedreira na região, os caminhões acabaram danificando o asfalto, afundando-o em alguns locais. Por sinal, esta é outra dica: cuidado com os caminhões e com carros os ultrapassando no contrafluxo.

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Quase todas as curvas são contornadas em segunda ou em terceira marcha. Como elas são intercaladas com alguns trechos de aceleração em descida, tome cuidado com os freios. Outra dica: não encare a Estrada dos Romeiros se o seu carro não estiver absolutamente em ótimas condições mecânicas. Com tantas subidas e a tentação de cavocar o pedal da direita, não é difícil fazer o ponteiro de temperatura do sistema de arrefecimento subir…

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Neste trecho já estamos voltando a subir, superando o vale. A vista é excepcional…

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…como esta foto não nos deixa mentir. Neste trecho em específico, estamos no topo do vale. Creio que este seja o ponto mais alto de toda a viagem.

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A referência do fim da estrada é este pequeno portal. Logo depois dele, mantenha-se à esquerda no entroncamento, seguindo para Pirapora do Bom Jesus.

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Ao passar pelo posto de gasolina (ao fundo da foto acima), vire à esquerda e atravesse o riacho. Riacho uma ova: este é o Rio Tietê, meu caro!

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Daqui em diante você parte em direção à Estrada dos Romeiros. Caso queira dar uma paradinha, há um mirante à direita, logo depois do começo desta subida. Antes da estrada você segue por uma avenida (fique atento às lombadas sem pintura!) que deságua em outra. Esta vai se alargando aos poucos, as casas vão sumindo, e quando você se dá conta, já está na Estrada dos Romeiros.

 

De Pirapora a Cabreúva: Estrada dos Romeiros

A referência para o começo da Estrada dos Romeiros é um forte cotovelo para a esquerda em subida, que pode ser visto na imagem abaixo, acima da primeira referência SP-312. Este segundo trecho é o mais longo e o que apresenta maior variações de paisagens, de tipos de curva e de perigos.

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Entre Pirapora do Bom Jesus e Cabreúva há cerca de 23 quilômetros e meio. Como pode ser visto no mapa, metade deste trecho você fará acompanhado do Rio Tietê, mas ele só fica visível lá pelo sexto quilômetro.

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O primeiro trecho desta rota começa num platô, com curvas velozes e asfalto bom. Tome bastante cuidado com ocasionais ciclistas e romeiros que fazem suas peregrinações no acostamento ou à beira da estrada.

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O mapa abaixo não nos deixa mentir: curvas a rodo!

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Nos aproximávamos das sete da noite quando eu e o fotógrafo Fabio Aro chegamos ao fim deste platô inicial. Graças ao horário de verão, fomos abençoados por um por do sol cinematográfico, que resultaram nas fotografias abaixo. Amplie sem dó!

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Começando o mergulho em direção à floresta. Em alguns momentos você verá o Rio Tietê à sua esquerda.

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A luz do fim da tarde penetrando as copas das árvores dá um espetáculo de luz e sombra, mas também reserva os seus perigos ao ocultar os defeitos no asfalto.

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Os morros forrados de vegetação, bem como as copas das árvores se projetando sobre a estrada estreita ampliam muito a sensação de velocidade. À esquerda, na clareira, está o Tietê.

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Aqui a descida já terminou e estamos no nível do rio, que passa a ser visível – quando a floresta permite.

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Tome muito cuidado com as pontes. Há três ou quatro delas neste trecho, elas são estreitas e duas em especial ficam logo depois de curvas fechadas. Atenção redobrada!

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Como você viu no mapa, em dado momento a Estrada dos Romeiros se afasta do Rio Tietê e você só voltará a vê-lo depois de Cabreúva. É o momento da foto acima, quando o asfalto se volta para as montanhas, campos…

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…e florestas, que agora ficam mais distantes no horizonte.

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Quando você entrar em Cabreúva, fique muito atento à placa acima: você precisa sair à direita, caso contrário, irá parar no centro da cidade e perderá o acesso para a continuação da estrada.

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Se você fez tudo direitinho, à sua esquerda haverá um córrego. Não tem muito como errar: você vai seguir nesta avenida por cerca de um quilômetro e virar à direita quando vir a placa “Itu / Estrada Parque”.

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Conexão Cabreúva-Itu: a Estrada-Parque

A Estrada-Parque de Itu na verdade é a própria Estrada dos Romeiros, apenas rebatizada por ser uma reserva. Estre trecho tem 16 quilômetros. Perto do fim existe a Fazenda do Chocolate, local que oferece passeios a cavalo, caminhadas por trilhas, lagos ornamentais, mini-zoológico e, como o nome diz, tem produção artesanal de chocolates.

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O trecho final da viagem é também o mais bonito: o rio te acompanha durante quase toda a totalidade do trajeto. Note que o asfalto não é exatamente perfeito, ainda que…

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…as curvas fluidas façam o seu pé direito ficar naturalmente mais pesado. Fique atento aos grampos cegos à direita: em ao menos dois deles você será obrigado a virar mais de 90º o volante – ou tomará um banho no rio!

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Este trecho final oferece pouca visibilidade e quase nenhum local seguro para ultrapassagens. Se você encontrar alguém lento à frente, não se afobe. Tenha paciência para não dar chance de sofrer um acidente grave com o contra-fluxo.

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Quando você estiver se aproximando do fim, haverá uma longa reta na qual as ultrapassagens são permitidas.

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Finish!!! Quando você passar por este arco de madeira, você chegou ao fim da Estrada dos Romeiros. Ela termina praticamente em cima da Rodovia Dom Gabriel Paulino Bueno Couto (estrada Itu-Jundiaí), que pode te levar tanto para Itu (que fica a menos de 2 quilômetros dali) quanto para a Rodovia dos Bandeirantes (entroncamento em Jundiaí), te trazendo de volta para São Paulo.

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Logo depois do arco de madeira, você vira à esquerda e atravessa esta ponte forrada de aranhas enormes em suas colunas.

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Quando eu e o Fabio Aro chegamos neste local, já passava das nove da noite. O que significava que teríamos de fazer a árdua tarefa de voltar à noite…

Não perca o vídeo abaixo, no qual mostro um pouco mais de um terço desta viagem na íntegra: você verá o acesso do km 48 da Castelo, a montanhosa estrada municipal e a passagem por Pirapora do Bom Jesus. E boa sorte em sua road trip!

[ Fotos: Fabio Aro ]


 

Ficha Técnica: Mercedes-Benz CLA45 AMG

Motor: quatro cilindros em linha, transversal, 1.991 cm³, 16V, cabeçote com duplo comando de válvulas variável, injeção direta, gasolina, turbo

Potência: 360 cv a 6.000 rpm

Torque: 45,8 mkgf entre 2.250 e 5.500 rpm

Transmissão: automatizada de dupla embreagem, sete marchas, tração nas quatro rodas sob demanda

Suspensão: Dianteira do tipo McPherson e traseira do tipo four-link

Freios: Discos ventilados nas quatro rodas

Pneus: Dunlop Sport Maxx RT 235/35 R19

Dimensões: 4,69 m de comprimento, 1,78 m de largura, 1,41 m de altura e 2,70 m de entre-eixos

Peso: 1.585 kg

Itens de série: faróis tipo bi-xenônio, lanternas de LED, teto solar panorâmico, controle de largada, volante multifuncional, ar-condicionado digital, bancos e volante com regulagens de distância e altura, revestimento de couro, sete airbags, freios ABS com EBD e função Hold, controles eletrônicos de estabilidade e de tração, sistema multimídia com GPS, assistente de partida em subida, controlador automático de velocidade, assistente para saída em rampas, sistema de estacionamento automático com câmeras (Park Assist), sistema de escapes Sport Exhaust

Garantia: dois anos

Preço: R$ 298.900 (fevereiro de 2015)