Então, estou aqui de novo, daí nessas horas meu caro leitor você pensa, será a última vez? Que nada, ainda tem muita água pra rolar debaixo desta ponte — fora que ganhei carta branca pra escrever mais sobre minha loucura.
Bom, paramos no momento que eu encosto o carro na oficina de preparações e fico sentado esperando, e esperando e aquela agonia de dirigir o carro. Bom, quase foi assim.
Acontece que uma coisa bacana de escrever num site como o FlatOut, é que a gente espalha nossa doença para o Brasil. Então de repente começou a aparecer nos comentários um monte de gente bacana que viu, que tem ou que sabe de algum ZX parado ou a venda. Então acaba que conseguimos sempre arrebanhar mais membros para nosso grupo do whats de donos de ZX mundo afora. Um ou outro entra em contato dizendo ter visto um ZX parado por aí, ou então alguém querendo saber mais sobre o carro e buscando um para comprar como já aconteceu com o nosso amigo Kaio, que comprou recentemente um ZX através do contato comigo que ele conseguiu conversando nos comentários do post. Bacana né?
Aí está um exemplo de amigos que acabo fazendo porque viram carros parados. Só o Enrico conseguiu tirar foto de três, tentou contato com o dono do azul para que eu pudesse quem sabe comprar, mas ele não quer vender não. O preto está a venda, mas tem problemas. Já está feita a amizade.
Aparece também a galera muito gente boa que passa os locais com carros para desmanche, o que é bom demais, pois muitos deles estão jogados em desmanches sem um anúncio sequer. E eles quase sempre estão longe dos nossos olhos, e com peças que muitas vezes precisamos, daí essa galera vem dar sua contribuição bacana e podemos conseguir imagens assim:
Olha só, carros completos com muita peça difícil de encontrar
E por último e o mais importante nesse post, a galera que quer ajuda, que tem o carro igual e a gente coloca no grupo e que acaba fazendo parte do nosso convívio diário. Temos desde o cara que pegou ZX em dívida e nem sabia que carro era esse, até o cara que quer comprar um igual, ou então alguém que esteja com seu carro parado precisando de auxílios dos nossos mestres do magos do Whats.
Pois bem, num desses posts no FlatOut apareceu o Daniel, morador do Rio de Janeiro pedindo auxilio com seu ZX, isso tudo porque ele parou o carro um dia, foi ver se tinha algo errado no motor, ouviu um barulho de faísca e o carro nunca mais pegou, e nessa a vida dele tava uma droga, porque primeiro ele estava sem poder curtir a máquina, segundo porque era seu único carro e ele dependia dele pra trabalhar e ir pra faculdade, e de ônibus no Rio de Janeiro deve ser osso.
Pois bem, começamos a trocar ideia com ele pra tentar ajudar no grupo, primeiro poderia ser o relê de partida, ou o famoso bitron que fica próximo a caixa da bateria colado na caixa de fusíveis do motor. É um carinha parecido com esse aqui:
Sem ele o motor não dá partida nem a pau, é bem comum apresentar problemas depois de 20 anos de idade por conta da umidade e outros intempéries da vida. Outro problema comum de não dar partida no ZX, são os amplificadores de sinal que ficam colados na longarina do lado do motorista atrás do módulo de injeção, se um deles não estiver funcionando o carro também não pega.
E por último seria o módulo de injeção mesmo, que poderia ou ter travado o código de acesso, visto que este carro possui um teclado aonde deve ser digitado um número de quatro digitos para liberar a partida, ou então ter queimado mesmo.
Bom, o básico de vela, bobina, bateria etc, o Daniel já havia testado, então só sobrou pra ele verificar todos este sintomas e assim tentar trazer à vida este ZX.
O carro então ficou assim, coletor fora para ter acesso aos fios, ele foi checando um a um os conectores, refazendo uns que estavam meio desencapados e trocando as peças que possivelmente estariam com problema. Ele se empenhou, estava decidido fazer o carro funcionar e nada. Nisso o carro estava anunciado no OLX por R$ 4.500, com estes problemas devidamente comunicados. Procuramos por um novo dono no grupo, mas nada, ninguém queria encarar o problema do ZX, e eu dizendo pro povo: “Vai que tá fácil, esse carro não tem problema de motor, isso é elétrica e deve ser uma bobeira”. Mas o povo não me escutou.
Bom, ele testou tudo e nada, tentou procurar mecânicos no RJ, e nada. Ninguém sabia mexer nesse carro, levou o módulo para ver se tinha problemas, mas não tinha, pelo menos o cara disse que o módulo estava funcionando e pra garantir retirou a função de proteção para digitar o código. O Daniel tentou de tudo, até chamou um expert em PSA que sem olhar muito pro carro passou um orçamento de R$ 7.000 pra ajeitar, doido.
Eu aqui em Santa Catarina tentei arrumar alguém que pudesse ajudar o Daniel, contato com um, nada, com outro disse que ia lá, nada e até o Fábio de um dos grupos se dispôs a ir, mas quando ele chegou lá, o Lexia dele deu pau e ele não conseguiu ver nada. Obrigado Fábio. Agora ele já deve ter corrigido o Lexia e se alguém precisar de um mecânico PSA das antigas me avisa que eu passo o contato dele.
Aí chegou num estágio crítico, o Daniel foi demitido e agora a casa caiu de vez. Então eu conversei com ele, fiz uma proposta indecorosa, e disse quero uma resposta, uma resposta hoje João, opa, frase errada. Fiz uma proposta e o Daniel aceitou.
Corri atrás de frete para trazer o carro pra cá, um amigo meu lojista de carros aqui na cidade me passou um contato de frete de retorno, justo o que eu precisava, dá-lhe pau neste guinchinho marco veio.
Carro embarcado, agora era pra contar pra minha esposa a m*** que eu tinha feito. Porque não sei se você lembra meu caro leitor, eu já tinha comprado quatro ZX, esse seria o quinto. E sem funcionar, seria o caos. De noite comecei a contar a história do Daniel, e tal e tal, e daí ela foi ficando vermelha de raiva e soltou os cachorros. Porque além de ser o quinto ZX já não tinha mais vaga nenhuma pra colocar carro aqui em casa, toda a minha frente da rua ocupada. Eu estava ferrado. Resultado: ela ficou três dias sem conversar comigo, mal trocava palavras. Fiquei mal viu? Pensei que tinha me ferrado de vez.
Fui buscar o carro então em um posto na BR. E lá estava ele em cima da cegonha.
Descarregamos o carro, colocamos no guincho e leva pra Weber, pra internar mais um ZX.
Meu pensamento era, o carro vai ficar lá por umas duas ou três semanas lá até achar o problema e quem sabe poderei curtir um pouco a máquina. Quando o carro chegou na Weber o Bruno olhou, tentou bater, olhou e disse, cara, esse carro está fácil, vou arrumar rapidinho. Daí entra duas coisas importantes, primeiro o fato de eu ter várias peças de sobra pra colocar pra testar, além do meu ZX prata já estar ali, eu ainda tinha uma porrada de peça dos meus carros doadores, então seria fácil substituir para testar o problema. Segundo lugar, um mecânico experiente nessas maconhas francesas dos anos 90 que já sabe mais ou menos o caminho que tomar porque já apanhou muito na cara desses carros, rs, e ter a Weber aqui na minha cidade é muita sorte. Olha só um pouco das maconhas que andam desfilando por aqui.
O Bruno e o Dener, seu sócio debulharam em cima do carro e foi questão de honra botar o bicho pra funcionar, e não é que conseguiram? Em uma semana identificaram todos os problemas do carro, daí mais uma semana pra polir o bicho e realizar alguns testes e o resultado foi que em duas semanas eu estava andando de ZX pela primeira vez na vida.
O problema basicamente do carro foi que ele teve um curto que queimou uma parte do módulo. O cara que arrumou o módulo para o Daniel ou foi mentiroso e safado, ou então não identificou a parte queimada, porque segundo uma galera dos grupos PSA, esse módulo tem a parte de ignição que não dá pra testar em bancada, se não estiver conectada ao carro por exemplo e a um lexia, ele não vai apresentar o problema. Qual dos dois casos é nós não sabemos. Além disso, quando queimou o módulo, alguns sensores foram pro pau, tivemos que trocar posição de borboleta, sensores de temperatura e mais uma porrada de coisa que deu defeito no carro. Tinha uma bobina com problema, foi trocado tudo e estava eu então andando de ZX a primeira vez na vida e com o carro todo lindão.
Bom, eu estava felizão de andar de ZX, antes eu tinha comprado o carro somente por uma questão estética, de beleza, de paixão de adolescência, mas agora não, agora eu estava apaixonado pela posição de dirigir, pelo conforto do banco concha com regulagem, pela suspensão esportiva parecendo um kart que faz curva feito um cão, o ronco grave, que carro, que máquina, eu estava emaconhado total, felicidade sem fim.
E minha mulher nesse período? Bom aconteceu que, uma semana após a compra do ZX, a empresa me mandou um email dizendo que era para vendermos nosso carro, porque ela nos daria um carro de aluguel. Então pra quem se lembra, aqui em casa era sempre o carro da mulher, o meu carro, o carro de rolo, o ZX e mais a sucata. E agora mais esse ZX. Com a empresa me dando um carro eu vendi o meu carro e também vendi o carro de rolo pra ganhar $$$, e prometi para ela que iria parar um pouco com esses rolos de carro, visto que é algo que eu faço sempre depois do trabalho, à noite, pois sempre tem algo pra arrumar e faço em casa, ou então tem o carro pra mostrar para algum comprador à noite, e isso consome o tempo da família. Com todas essas coisas rolando consegui limpar um pouco a barra aqui em casa.
Então, voltando ao carro, foi uma compra totalmente no escuro e por um valor bacana, fora isso eu não compraria esse carro se ele tivesse um valor normal de mercado pra ZX. Digo isso porque sou chato demais, além da conta, além de louco sou chato pacas e admito isso. Primeiro porque não sou muito fã dessa cor de carro não, segundo porque a placa é totalmente sem sentido, viu? Mas eu curto placas que tenham coincidências, números iguais, letras com sentido, e essa daqui é nada com nada. Fora as frescuras, o carro também tinha uma série de probleminhas chatos de arrumar, e que devido a minha falta de tempo ultimamente iria complicar minha vida. E eu sei que iria levar tempo pra que eu arrumasse tudo. Enfim. Mas agora era meu e eu tinha que dar um jeito.
A lista de coisas para arrumar era grande, tinha lanternas trincadas, acabamentos quebrados, moldura do painel quebrada, difusor central quebrado, alarme com mau funcionamento, teto solar sem funcionar, vídeo do passageiro sem funcionar, além do fato que o carro tinha ficado manco em média. Quando eu dava uma puxada mais forte, uma acelerada mesmo, o carro só desenvolvia depois de 4.500 rpm. Parece que ligava um turbo no carro, e ele te jogava contra o banco, mas até essa rotação o carro ia meio amarrado.
Bom, segue dois vídeos só pra não perder o costume.
Esqueci de falar, a empresa avisou que eu teria que esperar mais ou menos dois meses até o carro alugado chegar. Mas como vendi meu carro logo na primeira semana depois do email que eles mandaram e na sequência vendi o carro de rolo, sobrou o ZX para uso diário. Usar um clássico assim no dia-a-dia?
O bacana de usar um carro esportivo todo dia são as aceleradas, o ronco grave, as pessoas olhando atravessado e se perguntando, que carro é esse? Vi algumas atravessadas de pescoço na rua, principalmente pelo fato de não se ter registro deste carro na minha cidade, eu possivelmente tenho os dois únicos Coupês de Joinville. Já vi uns dois ou três Furios mas só. Coupé, nenhum.
O carro estava se comportando muito bem, como viajo a cidades próximas, peguei bastante BR com ele e nada de superaquecimento, ficar parado na rua, nada. Um dia parei aqui em casa e o carro não quis mais pegar, pensei pronto, ferrou, chamei o pessoal da Weber que prontamente veio aqui me auxiliar e que acabou descobrindo que o conector da bobina estava meio solto sem passar corrente, foi só colocar umas presilhas e pronto. Tudo ok de novo. A única coisa ruim do dia-a-dia é o consumo, se eu fosse usar o carro para ir ao trabalho e voltar nem ligaria, mas como rodo em torno de 600 km por semana, o negócio ficou um pouco puxado. Mas era provisório e eu estava me divertindo. E mesmo com o carro manco dá pra dar uma puxadas legais nele, principalmente entre 4.500 e 7.000 rpm.
Com a vinda do ZX, montamos um grupo aqui em Joinville para rodar nas madrugadas de sábado. Tem só homem casado com filhos e filhas que não têm muito tempo durante a semana. De 15 em 15 dias, mais ou menos, a gente se encontra em um posto num sábado a noite perto da meia-noite, e vamos dar umas voltas de carro pela cidade vazia. Parecemos adolescentes. Mas é bacana, pois nossas mulheres e famílias estão dormindo e assim não estamos sendo omissos com eles. Aqui o ZZ no posto e nossa primeira foto com três integrantes. Já estamos com sete no grupo e crescendo.
Daí o colega aí de casa pensa: bom, agora tudo certo, o ZX dele está na preparadora mexendo na elétrica, ele finalmente comprou um ZX andando pra ser feliz, está curtindo o carro e vai sossegar por um tempo com essa doença louca que ele tem. Será mesmo?
Por André Lenz, Project Cars #417