A Saleen é uma das fabricantes de “supercarros alternativos” mais bacanas que existem. Tudo começou lá em 2000 com o Saleen S7, que tinha um V8 Windsor 351 (5,7 litros) naturalmente aspirado de 558 cv ou com dois turbos e 758 cv. Era um dos carros mais velozes do mundo, também: a versão naturalmente aspirada era capaz de acelerar de zero a 100 km/h em 3,3 segundos, com velocidade máxima de 350 km/h. E, segundo a Saleen, a versão biturbo, que foi produzida até 2009, era capaz de chegar aos 100 km/h em 2,8 segundos, com máxima de 399 km/h.
Estou falando todos estes números para te ajudar a lembrar o que era a Saleen: uma fabricante de supercarros à moda americana para brigar com os europeus – algo parecido com o que a Hennessey é hoje. Enquanto desenvolvia o Saleen S7, a marca também ajudou a Ford no desenvolvimento do Ford GT, releitura do clássico vencedor de Le Mans entre 1966 e 1969.
Foi a Saleen quem aperfeiçoou o motor usado na F250 SVT Lightning para ser colocado no supercarro retrô. E você provavelmente não vai achar quem não goste do Ford GT, que foi produzido entre 2004 e 2006.
Agora, mais de dez anos depois – e após um período conturbado, atuando apenas como preparadora, sobre o qual vamos falar mais adiante – a Saleen está de volta com um modelo totalmente inédito: o S1, um supercarro “compacto” que pretende romper com a noção de que superesportivos precisam ser grandes e atingir números obscenos em aceleração e velocidade máxima. Não é uma premissa muito original (não é mesmo, Ferrari?). Eles querem fazer um supercarro mais acessível, divertido e prático.
Steve Saleen e o S1
Olhando para o S1, que foi apresentado ontem (30) no Salão de Los Angeles, conseguimos enxergar alguns traços do atual Corvette na dianteira, perfil e formas gerais dos McLaren mais recentes, como o 12C, e um pouco do Porsche 911 na traseira. Estes foram os primeiros nomes que vieram à mente ao olhar para o S1 – você poderá pensar em outras referências, mas o fato é que não dá para elogiar o S1 por sua originalidade. Dito isto, é um carro bonito, não? Não ficaríamos com vergonha se nos vissem ao volante de um desses. Ponto para eles.
Segundo a Saleen, o S1 usa uma estrutura de alumínio com painéis da carroceria de fibra de carbono, e com isto consegue o peso relativamente baixo de 1.220 kg. É bem menos, por exemplo, que o Ford Focus RS, um dos hot hatches mais divertidos da atualidade, que pesa 1.557 kg e é movido por um motor Ecoboost de 2,3 litros com turbo, intercooler e 355 cv.
Citamos o Ford Focus RS por uma razão simples: o Saleen S1, até onde se sabia, teria um quatro-cilindros turbo de origem Ford, o que levou muitos a especularem se não seria o motor Ecoboost. No Salão de Los Angeles a Saleen disse que não: o motor é projeto próprio, desloca 2,5 litros e entrega 450 cv. Normalmente, quando uma fabricante menor diz que projetou seu próprio motor, quer dizer que este motor é derivado de outro já existente, porém com modificações significativas. É prática comum, não condenamos, e achamos que o motor do Saleen S1 pode muito bem ser um Ecoboost modificado. Esperamos que a Saleen esclareça a origem do motor em breve.
Ao menos eles dão números. Bons números: segundo a Saleen, o S1 será capaz de acelerar de zero a 100 km/h em 3,5 segundos, cumprir o quarto-de-milha em 11 segundos e chegar à velocidade máxima de 290 km/h. Na boa? Parece mais plausível que o Tesla Roadster. Eles também dizem que o S1 terá suspensão por braços sobrepostos na dianteira e na traseira e pneus Continental ExtremeContact, e que graças a este conjunto consegue gerar até 1,2G de aceleração lateral no skidpad.
Foto: Road and Track
É inegável que, visualmente, o Saleen S1 impressiona. Como dissemos, é um carro bonito, ainda que não muito original, e parece bem feito. O interior tem um quê futurista e acabamento em dois tons com visual minimalista e funcional. Agradável, pode-se até dizer.
O preço? US$ 100.000 – cerca de R$ 328.000 em conversão direta. A Saleen, confiante, já estava aceitando encomendas no evento ontem, mediante um depósito de US$ 1.000. Eles dizem que a produção começa já no ano que vem, em sua fábrica na cidade de Corona, Califórnia. Então, depois (não disseram exatamente quando), a produção será transferida para a China, e levada adiante pela Jiangsu Saleen Automotive Technology, uma joint-venture formada pela Saleen e a Jiangsu em 2009. Nesta fábrica chinesa serão fabricados outros modelos da Saleen, que ainda deverão ser anunciados.
Por mais que este plano soe consistente, enxergamos pelo menos dois problemas: a aceitação do público americano de um supercarro projetado nos EUA, mas fabricado na China; e o histórico recente da Saleen nos EUA, onde diversos processos por conta de atrasos na entrega de automóveis foram registrados contra a empresa, não ajuda.
Além disso, se você for dar uma olhada agora no site da Saleen, vai topar com a orgulhosa apresentação da… linha 2015! Sim, os caras não atualizam seu site há dois anos! Os carros mostrados lá, versões modificadas do Ford Mustang, do Chevrolet Camaro, do Dodge Challenger e do Tesla Model S, são alguns dos responsáveis por vários destes processos contra a Saleen.
Por outro lado, já faz algum tempo que imagens de exemplares de pré-produção rodando na China circulam por aí há algum tempo, e no mínimo ajudam a dar credibilidade ao novo supercarro.